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Enciclopédia Itaú Cultural

Cinédia

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 15.01.2021
1930 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
1950 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Cinédia é um estúdio de cinema ativo nos anos 1930 e 1940, com uma produção de quase mil curtas-metragens e 93 longas, sendo 56 produções próprias, na maioria dramas populares e comédias musicais. É considerada a primeira tentativa de industrializar a produção cinematográfica no Brasil. 

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Cinédia é um estúdio de cinema ativo nos anos 1930 e 1940, com uma produção de quase mil curtas-metragens e 93 longas, sendo 56 produções próprias, na maioria dramas populares e comédias musicais. É considerada a primeira tentativa de industrializar a produção cinematográfica no Brasil. 

Nos anos 1920, a produção nacional é artesanal e focada principalmente em cinejornais e documentários, mas começa a surgir o interesse pelos “posados”, como eram conhecidos os filmes de ficção. Aparecem pelo país focos de criação cinematográfica, e a crítica se intensifica.

Parte desse debate se dá por meio da revista Cinearte, criada em 1926 pelo intelectual Mário Behring (1876-1933) e pelo cineasta e jornalista Adhemar Gonzaga (1901-1978). Ao lado de cineastas como Humberto Mauro (1897-1983) e Carmem Santos (1904-1952), Gonzaga almeja criar uma indústria de cinema. Em 1930, empenha sua herança para fundar no Rio de Janeiro a Cinédia, primeiro estúdio do Brasil com equipamentos importados de alta qualidade, inspirado no modelo de produção hollywoodiano.

Gonzaga deseja edificar o “verdadeiro cinema brasileiro”, criando uma arte nova e legítima, apresentando ao mundo as “grandiosidades” do Brasil. Quer combater o colonialismo cultural num país onde o público prefere filmes estrangeiros, especialmente norte-americanos. Acredita que fazendo bons filmes, as pessoas vão encher os cinemas para ver películas brasileiras.

O começo é animador. Gonzaga reúne talentos como Humberto Mauro e Otávio Gabus Mendes (1906-1946). Mauro dirige o primeiro filme da companhia, Lábios sem Beijos (1930), um drama cheio de paixões, ciúmes e mal-entendidos envolvendo uma jovem rica, o rapaz que a conquista e a irmã dela.

Em 1931, a Cinédia lança Limite, único filme do diretor de cinema Mário Peixoto (1908-1992), que faz um retrato existencial de três personagens num barco à deriva, que sentem que suas vidas chegaram ao limite. Título mudo de quase duas horas, sem apelo comercial, não rende dividendos imediatos à produtora. Mas depois vira cult, a ponto de se tornar líder do ranking dos cem melhores filmes brasileiros de todos os tempos da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine).

Anos depois, a companhia lança outro drama popular de Humberto Mauro, Ganga Bruta (1933), uma história trágica e cheia de intrigas, em que o protagonista mata a mulher na noite de núpcias ao descobrir que ela não é virgem. O filme fracassa na época, em termos de público e crítica, mas posteriormente se torna clássico e também entra na lista da Abraccine. Ganga Bruta é idealizado para ser mudo, mas os planos mudam durante a produção e são inseridas vozes gravadas. O cinema falado ganha popularidade na época, o que obriga a Cinédia a repensar sua estratégia. 

Outra concessão ocorre no gênero das produções, pois para poder financiar títulos “sérios”, a empresa percebe que o jeito é lançar também filmes carnavalescos, que geram mais lucros às produtoras. Gonzaga se rende ao filme sonoro e à cultura popular carioca, produzindo e dirigindo películas como Alô, Alô Carnaval (1936), um grande encontro de astros musicais como Carmen Miranda (1909-1955), Aurora Miranda (1915-2005) e Almirante (1908-1980), num documento completo sobre a música popular brasileira (MPB) dos anos 1930. 

Com as comédias musicais, as pessoas começam a prestigiar filmes brasileiros no cinema, para ver o rosto dos artistas que costumam escutar no rádio e na vitrola. Nesse tipo de filme, o atrativo não é a narração de uma trama, mas a apresentação de cantores, com seus sucessos musicais mais recentes, e de comediantes. O gênero é considerado o antecessor da chanchada.

Nessa toada, a Cinédia lidera a produção cinematográfica no Rio de Janeiro e no Brasil na década de 1930. Mas a situação se complica. Pureza (1941), do diretor de cinema português Chianca de Garcia (1898-1983), é uma produção ambiciosa, estrelada pelo ator Procópio Ferreira (1898-1979) e com inúmeros cenários recriados em estúdio, como uma estação de trem. Esse título esgota os recursos da companhia, que interrompe as produções momentaneamente.

A Cinédia enfrenta diversas crises pontuais e uma dificuldade crônica com a distribuição dos filmes. Apesar do sucesso das comédias musicais, o que garante a sustentabilidade da empresa por duas décadas são os documentários encomendados pelo governo e as produções rápidas e baratas.

Mas o que fica para a posteridade são os longas de ficção, como o melodrama O Ébrio (1946), em que Gilda de Abreu (1904-1979) dirige seu marido, o ator Vicente Celestino (1894-1968), na saga de um homem do interior desamparado que chega à cidade e vira cantor de sucesso. Embora a crítica aponte excesso de sentimentalismo e falta de profundidade dramática, é o maior sucesso do cinema brasileiro nos anos 1940, superando qualquer película dos Estados Unidos, e é até hoje uma das maiores bilheterias do país.

O Ébrio estimula a Cinédia a investir em títulos para consumo popular. Mas o filme seguinte de Gilda de Abreu, Pinguinho de Gente (1949), sobre uma menina pobre que sonha com uma boneca que a mãe não pode lhe dar, tem péssima recepção do público, o que agrava a crise da produtora, obrigando Gonzaga a fechar as portas definitivamente em 1951. 

Com ampla produção em duas décadas de atividade, a Cinédia representa um sonho industrial de qualidade, um ideal de modernidade e nacionalismo, um projeto pioneiro que deixa um legado importante para o cinema brasileiro.

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