Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Cinema

Alô! Alô! Carnaval.

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 01.09.2023
1936
Alô! Alô! Carnaval, com direção de Adhemar Gonzaga (1901-1978), é o terceiro filme da parceria entre a Waldow e a Cinédia. Os outros dois são Alô! Alô! Brasil e Estudantes, ambos de 1935. Aproveitando-se da popularidade dos cantores, a Cinédia adapta os padrões da comédia musical americana. Assim, afasta-se de seu projeto primeiro, tal como expr...

Texto

Abrir módulo

Histórico
Alô! Alô! Carnaval, com direção de Adhemar Gonzaga (1901-1978), é o terceiro filme da parceria entre a Waldow e a Cinédia. Os outros dois são Alô! Alô! Brasil e Estudantes, ambos de 1935. Aproveitando-se da popularidade dos cantores, a Cinédia adapta os padrões da comédia musical americana. Assim, afasta-se de seu projeto primeiro, tal como expresso na revista Cinearte, de produzir filmes dramáticos em ambientes luxuosos e pautados pelo culto ao star system.

O ambiente é propício para os números musicais, apenas três meses depois do lançamento de Estudantes, a dupla de produtores Wallace Downey e Adhemar Gonzaga inicia as filmagens de Alô! Alô! Carnaval. O filme segue a fórmula e une uma história simples e números musicais dos artistas mais populares do período. Desta vez, Downey cede a direção a Gonzaga, que amplia a produção, transformando-a na principal comédia musical do cinema brasileiro de então. O elenco é numeroso e os cenários são enriquecidos por figuras abstratas e desenhos de motivos musicais, como notas e instrumentos, de autoria dos cartunistas J. Carlos (1884-1950) e Emilio Casalegno. Mais uma vez, a dupla de compositores Braguinha (1907-2006) e Alberto Ribeiro é responsável pelo enredo, que se passa em um grande cassino. O longa metragem narra a história de dois malandros [Barbosa Júnior e Pinto Filho] com intenções de montar uma revista musical, mas encontram a resistência de um rico empresário [Jaime Costa (1897-1967)], que sonha em contratar uma cantora francesa. Na última hora, a atração acertada pelo empresário não chega da Europa e ele se vê obrigado a aceitar o espetáculo dos dois malandros. 

Com as aventuras dos autores da revista musical, desenrola-se a série de apresentações, com 23 composições. Duas paródias se destacam: na primeira, Jaime Costa, travestido de mulher e dublado por Francisco Alves (1898-1952), canta o Sonho de Amor, de Franz Liszt. Luís Barbosa faz uma paródia da ópera O Guarani, de Carlos Gomes (1836-1896), com a Canção do Aventureiro. Braguinha compõe nove músicas, uma em parceria com Heloísa Helena - o samba Bom Tempo, interpretado pela cantora - e oito com seu parceiro Alberto Ribeiro: Seu Libório, com Luís Barbosa; Maria, Acorda que É Dia, com Joel, Gaúcho e Dulce Weyting; Manhãs de Sol, com Francisco Alves; Piratas da Areia e Muito Riso e Pouco Siso, ambas com Dircinha Batista; Cadê Mimi e Fra Diavolo no Carnaval, marchas com Mário Reis (1907-1981); e Cantoras do Rádio, com Carmen e Aurora Miranda, canção e cena que se tornam as mais célebres do filme. Carlos Martinez e Lamartine Babo (1904-1963) participam da penúltima e da última música. Palpite Infeliz, música de Noel Rosa (1910-1937), também está programada, mas sua intérprete, Aracy de Almeida, recusa o papel de lavadeira que estende roupa em varal. Além dos cantores mencionados, participam do elenco as Irmãs Pagãs, Almirante (1908-1980), Lamartine Babo, Jorge Murad, César Ladeira (?-1969), Silva Filho, Jaime Ferreira e Nina Miranda.

O número musical com Carmen Miranda interpretando Querido Adão (Benedito Lacerda e Osvaldo Santiago) merece destaque pela singularidade no conjunto e, principalmente, por anunciar o tipo que a tornaria célebre. Carmen é apresentada com um figurino arrojado, um palazzo pijama com babados que ressaltam e ampliam os movimentos dos braços. O visual de luxo, inspirado no musical norte-americano, compõe o tipo extravagante e alegre que imortaliza a artista. O gingado, os braços a acompanhar a cadência da música, os olhos zombeteiros e o grande sorriso formam um conjunto que contagia a atmosfera e exige da câmera uma movimentação mais ágil para que o dinamismo da figura e a rapidez dos gestos sejam captados. A câmera, estática durante quase todo o filme, esboça pequenos travellings para acompanhar o deslocamento constante de Carmen. A inspiração no filme musical de Hollywood é evidente, mas a simplicidade da concepção do espetáculo (com poucos recursos de montagem, reduzido número de dançarinos, sem coreografias elaboradas) e a pequena diversidade de ângulos e cenários explicitam o descompasso com a referência norte-americana, cujo principal representante é o diretor Busby Berkeley. Entretanto, no número musical de Carmen, a grande expressividade de seu gestual faz esquecer as limitações técnicas e sublinha a ironia dos versos cantados, tornando o número o ponto alto do filme.

A recepção da obra é carregada de euforia. O escritor Raymundo Magalhães Júnior  (1907-1981) o define como "[...] o melhor filme-revista até aqui produzido no Brasil e aquele em que o som se apresenta mais puro e a fotografia mais luminosa".1 Em coluna da Folha da Manhã, o tom positivo permanece: "[O filme] Tem boa gravação, bons cenários, um guarda-roupa que não é dos piores e um desempenho que podia quase escapar à crítica".2

Alô! Alô! Carnaval, assim como parte dos filmes musicais, é lançado às vésperas do carnaval, tradição que se mantém até os anos 1960. Estreia em 15 de janeiro de 1936 no Rio de Janeiro, no Cine Alhambra e, em São Paulo, é lançado em 3 de fevereiro. Sucesso de público, permanece em cartaz por 97 dias.

Reconstituindo o filme em 1974, o próprio Gonzaga retira algumas piadas por considerá-las datadas, e altera a montagem, ressaltando o papel de Carmen Miranda no fim. Em 1936, o filme termina com Francisco Alves, a grande estrela da época. Em nova reconstituição, em 2001, coordenada por Alice Gonzaga, filha de Adhemar, algumas cenas que em 1974 foram excluídas são retomadas, e Carmen Miranda permanece no final.

Notas
1. MAGALHÃES JÚNIOR, Raymundo. A Noite, Rio de Janeiro, 17 jan. 1936.
2. Fiteiro. Folha da Manhã, São Paulo, 15 de  fevereiro de 1936.

Fontes de pesquisa 10

Abrir módulo
  • AUGUSTO, Sérgio. Este Mundo é um Pandeiro. São Paulo: Companhia das letras, 1989.
  • CASTRO, Ruy. Carmen: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
  • CATANI, Afrânio Mendes e SOUZA, José Inácio Melo. A Chanchada no Cinema Brasileiro. São Paulo: Brasiliense, 1983.
  • CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL. Cinédia 75 Anos. São Paulo, 2006.
  • FERREIRA, Suzana Cristina de Souza. Cinema Carioca nos Anos 30 e 40: os filmes musicais na tela da cidade. São Paulo, Annablume, 2003.
  • GOMES, Paulo Emilio Sales. Cinema: trajetória no subdesenvolvimento. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.
  • GONZAGA, Alice. 50 Anos de Cinédia. Rio de Janeiro, Record, 1987.
  • RAMOS, Lécio Augusto. Adhemar Gonzaga. In: MIRANDA, Luiz Felipe e RAMOS, Fernão (orgs.). A chanchada e o cinema carioca (1930-1955). In: RAMOS, Fernão (org.). História do Cinema Brasileiro. São Paulo: Art Editora, 1987.
  • SEVERIANO, Jairo. Yes, Nós Temos Braguinha. Rio de Janeiro: Funarte/Martins Fontes, 1987.
  • XAVIER, Ismail. Sétima Arte: um culto moderno. São Paulo: Perspectiva, 1978.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: