forminform
Texto
Histórico
Um dos primeiros escritórios de design no Brasil, o forminform é criado em 1958, em São Paulo, pelos artistas Geraldo de Barros (1923-1998) e Ruben Martins (1929-1968), em parceria com o administrador e publicitário Walter Macedo. Em seguida, Alexandre Wollner (1928), recém-chegado da Alemanha, depois de ter estudado na Hochschule für Gestaltung (HfG) [Escola Superior da Forma], associa-se ao grupo. Em 1959, o desenhista industrial alemão Karl Heinz Bergmiller (1928), ex-colega de Wollner na escola de Ulm, passa a trabalhar no forminform após transferir-se para a capital paulista, atraído pelo plano econômico desenvolvimentista do presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek (1902-1976). O escritório conta também com a colaboração do designer Ludovico Martino (1933-2011), do poeta Décio Pignatari (1927-2012) e do fotógrafo German Lorca (1922).
No segundo pós-guerra, pela primeira vez na história do Brasil, os lucros da produção industrial superam os da economia agrícola. Eleito em 1956, Juscelino Kubitschek lança o Plano Nacional de Desenvolvimento, conhecido como Plano de Metas, cujo lema é fazer o país crescer "cinquenta anos em cinco". Os pontos principais do programa são o estímulo à expansão industrial - com destaque para o setor de base - e a construção da nova capital, Brasília, que pretende estimular o desenvolvimento econômico e urbano no interior do país. Nessa época, a produção industrial cresce cerca de 80%, impulsionada pela abertura da economia ao capital estrangeiro, implantação da indústria automobilística em São Paulo e construção de estradas e hidrelétricas.
Ainda assim, no fim dos anos 1950, não há uma cultura empresarial voltada para investimentos na área de criação de produtos no Brasil, pois praticamente toda produção nacional é adaptada de modelos internacionais. Apesar do engajamento de artistas e intelectuais no sentido de aproximar arte e indústria, como indica a criação do curso de desenho industrial do Instituto de Arte Contemporânea (IAC) do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), o trabalho do desenhista industrial é pouco conhecido. As marcas são elaboradas por artistas plásticos e arquitetos, sendo aplicadas quase que exclusivamente em cartazes e anúncios publicitários.
Além de se beneficiar do projeto nacional desenvolvimentista, o forminform atua no sentido de esclarecer o meio empresarial brasileiro a respeito da atividade profissional do desenhista industrial. São promovidas palestras explicando a metodologia de trabalho do escritório e seu posicionamento a favor de uma estética funcionalista, na qual a forma do produto deve adequar-se à função. Nas circulares distribuídas aos clientes, a forminform combate o adorno e o estilo decorativo. Em um dos folhetos de divulgação, cujo texto se assemelha a um manifesto, como se segue: "O bom objeto deve expulsar o mau objeto do mercado. [...] Criamos objetos que o homem precisa e pode usar. Nós entendemos o ornamento e toda arte de adição decorativa como diminuição da capacidade do objeto e de sua qualidade estética"1. O slogan patenteado do escritório preconiza "a boa forma vende mais". Nos primeiros dois anos de atividade, são reunidos artistas voltados para os ideais da arte construtiva, vertente modernista surgida nas primeiras décadas do século XX. Na década de 1950, Barros e Wollner integram o movimento de arte concreta em São Paulo, enquanto Martins trabalha como artista plástico em Salvador, frequentando o ateliê de Mario Cravo Júnior (1923), na capital baiana. Barros e Martins também trabalham na fábrica de móveis Unilabor. O primeiro escritório forminform funciona na loja de móveis Unilabor, no centro de São Paulo, sem vínculo comercial com a loja. Em 1958, pouco depois da chegada de Wollner, instala-se em espaço próprio.
O forminform é a primeira oportunidade de Wollner e Bergmiller aplicar os ensinamentos da Escola Superior da Forma no Brasil, sobretudo a noção de design como atividade voltada à criação de produtos e não apenas aos meios visuais. Além disso, a escola alemã privilegia projetos de signos visuais que dispensam o nome do produto, procedimento inaugurado pelo forminform no Brasil. Seus projetos caracterizam-se pelas formas simplificadas e austeridade. São desenvolvidas marcas, embalagens e anúncios para a Sardinhas Coqueiro, a empresa de elevadores Atlas, a indústria de embalagens Ibesa e a tecelagem Argos. Também é feita a reforma gráfica do jornal carioca Correio da Manhã, entre outros trabalhos.
Segundo depoimento de Wollner, o escritório volta-se gradativamente para a área da publicidade, o que ocasiona, no fim de 1959, seu afastamento e o de Barros2. Martins e Macedo mantêm a sociedade e a ideia inicial de oferecer projetos de comunicação visual e desenho industrial. Porém, ao longo da década de 1960, o escritório é adequado à atuação e metodologia própria de Ruben Martins, caracterizando uma segunda fase. Neste período, o forminform é responsável por uma série de projetos que envolvem marcas, embalagens, campanhas publicitárias, sinalização, capas de disco, uniformes, catálogos e estandes de eventos, entre outros. Martins é responsável pela conquista de clientes como Bozzano, Casa Almeida & Irmãos, laboratório farmacêutico Procienx e Rede de Hotéis Tropical. O escritório trabalha com a identidade visual e a comunicação dos produtos e serviços dos clientes. Macedo deixa a sociedade em 1963 e Martins se responsabiliza totalmente pelo escritório.
Martins instala um laboratório fotográfico facilitando o processo de criação do designer. Também fomenta o ofício do design, ministrando palestras para o empresariado e formando novos profissionais. O processo de adaptação do staff se faz com exercícios práticos aplicados e orientados por ele. Dentre os profissionais que passam pelo escritório estão João Carlos Cauduro (1935) e Emilie Chamie (1927-2000). Chamie "afirmou em depoimento que ficara dois meses riscando papel antes de Ruben Martins passar um trabalho"3.
O escritório também tem participação na criação da Associação Brasileira de Desenho Industrial (Abdi), primeira do gênero no país, em 1963. Muitas de suas reuniões são articuladas no forminform. Em 1966, Martins funda o Grupo de Criação Publicitária, com Eduardo Riedel. A nova empresa utiliza os conhecimentos em metodologia, planejamento, pesquisa e operação do forminform para abordar o mercado publicitário. Seus primeiros clientes são aqueles já estabelecidos no escritório, como a Bozzano e a Procienx. A iniciativa pretende ampliar o campo de atuação do forminform.
Em 1968, com Martins doente, o forminform entra em declínio, já que a sua operação e atuação estavam bastante atreladas à figura do designer. Após sua morte, em setembro de 1968, sua viúva, Marília Martins, muda a razão social e permanece em atividade até 1973, como Comunicação Visual Ruben Martins, em sociedade com Paulo Jorge Pedreira, que trabalhara no forminform. Em 1986, a designer Fernanda Martins, filha de Ruben, abre em São Paulo o escritório forminform, em homenagem ao pai.
Notas
1 WOLLNER, Alexandre. Design visual 50 anos. São Paulo: Cosac & Naify, 2003, p. 127.
2 WOLLNER, op. cit.
3 SABO, André Lacroce. Ruben Martins: trajetória e análise da marca Rede de Hotéis Tropical. Dissertação de mestrado defendida na FAU/USP, São Paulo, 2011. p. 49.
Fontes de pesquisa 5
- LEON, Ethel. Design brasileiro: quem fez, quem faz. Rio de Janeiro: Viana & Mosley, 2005.
- MELO, Chico Homem de (org.). O design gráfico brasileiro: anos 60. São Paulo: Cosac & Naify, 2006.
- SABO, André Lacroce. Ruben Martins: trajetória e análise da marca Rede de Hotéis Tropical. Dissertação de mestrado defendida na FAU/USP, São Paulo, 2011.
- WOLLNER, Alexandre. Alexandre Wollner e a formação do design moderno no Brasil: depoimentos sobre o design visual brasileiro. São Paulo: Cosac & Naify, 2005.
- WOLLNER, Alexandre. Design visual 50 anos. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.
Como citar
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FORMINFORM.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/instituicao481678/forminform. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7