Karl Heinz Bergmiller
Texto
Biografia
Karl Heinz Bergmiller (Bad Tolz, Alemanha, 1928) Designer e professor. De 1951 a 1953 estuda na primeira turma da Hochschule Für Gestaltung [Escola Superior da Forma] de Ulm, na Alemanha. Entre 1956 e 1958 trabalha com seu professor, o designer e arquiteto suíço Max Bill (1908-1994). Solicita bolsa de estudos ao governo brasileiro e se instala em São Paulo em 1959, onde trabalha no forminform, primeiro escritório de design gráfico do país fundado pelos designers Alexandre Wollner (1928-2018), Geraldo de Barros (1923-1998), Ruben Martins (1928-1968) e Walter Macedo. Desenvolve projetos para a Indústria D.F. Vasconcelos, a Ibesa, a Unilabor e outras. Em 1961, vence o concurso Nacional para Desenhos de Móveis Contemporâneos promovido pela empresa Ambiente com um sofá desenvolvido em parceria com o designer e arquiteto Joaquim Guedes (1932-2008). No início dos anos 1960 funda, com outros designers, a Associação Brasileira de Desenho Industrial (Abdi). Após sair da forminform, trabalha com o designer João Carlos Cauduro (1935), com quem desenvolve, entre outros produtos, o mobiliário para a Universidade de São Paulo (USP). Em 1963, muda-se para o Rio de Janeiro e funda, junto com os designers Alexandre Wollner, Aloisio Magalhães (1927-1982) e o alemão Goebel Weyne (1933- 2012), a Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi), onde leciona projeto de produtos e metodologia visual até 1998. Na mesma época, abre a empresa Bergmiller desenvolvimento de produtos industriais. Em 1967, cria o mobiliário para o anexo do Palácio do Itamaraty, em Brasília. Além disso, projeta televisores para a empresa Telefunken e começa a trabalhar na Escriba, fábrica de móveis de escritório fundada por José Serber. Em 1968, passa a coordenar o Instituto de Desenho Industrial no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (IDI-MAM/RJ) junto com o designer Goebel Weyne. No Instituto promove, no mesmo ano, a primeira exposição de desenho industrial na Bienal Internacional de Design do Rio de Janeiro. Além disso, ganha em 1968 o prêmio Abreu Sodré do concurso de mobiliário escolar. No ano de 1974, elabora uma pesquisa para embalagem de exportação. O trabalho resulta no Manual Para Planejamento de Embalagens e em exposições e cursos realizados em diversas cidades brasileiras. Também realiza no IDI-MAM/RJ projeto de padronização do mobiliário escolar brasileiro idealizado para o Ministério da Educação e executado em 1984. Em 1998, participa da exposição Design, Método e Industrialismo no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro e de São Paulo. Ao longo da carreira, participa de diversos júris internacionais de design, como o If Design Award, em Hannover, Alemanha. Desde 2002, atua como consultor da empresa Aberflex. Em 2011, recebe o Prêmio Cultura do Estado do Rio de Janeiro.
Análise
Karl Heinz Bergmiller é um dos pioneiros do desenho industrial no Brasil. Instala-se no país no final dos anos 1950, cumpre papel importante no cenário do design brasileiro nos anos 1960 e 1970.
Passa seus primeiros anos em São Paulo, onde desenvolve mobiliário para empresas e trabalha no Forminform, primeiro escritório de design do país. Em seguida, Bergmiller se muda para o Rio de Janeiro e começa, em 1963, a lecionar na recém-fundada Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi). Inspirada na Escola Superior da Forma, em Ulm, Alemanha, onde Bergmiller faz sua formação, a Esdi é a primeira instituição de ensino superior de design da América Latina. O designer passa a trabalhar na escola lecionando metodologia visual e projeto de produto. Em 1970, recorre aos estudos de medicina para implantar no curso a ergonomia, disciplina que pensa a relação do trabalhador com a máquina a fim de evitar acidentes e fornecer melhores condições de trabalho.
Paralelamente à atividade de professor, trabalha para o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), criando materiais para as exposições. No final dos anos 1960, elabora um sistema expositivo modular, precursor dos sistemas de exposições atuais. Composto por painéis em forma de L, U ou Z, o conjunto de peças funciona como um jogo de montar. Pensados para ficarem sempre no salão de exposições do MAM/RJ, os painéis nunca são estocados ou empilhados, mas mudam de layout conforme a exposição. Com o sistema de montagem industrial, em que cada equipe desenvolve etapa específica (fixação dos painéis, trabalho com ferragens, colocação dos quadros e identificação das obras), o conjunto de peças é repensado em 1978: além de novos elementos que aprimoram o sistema, como cubos em que são expostas esculturas, Bergmiller desenvolve um manual de instruções com detalhes de cada etapa do trabalho.
Na mesma época, passa a coordenar o Instituto de Desenho Industrial do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (IDI- MAM/RJ), inaugurado em 1970, e trabalha na elaboração e execução da 1a Bienal Internacional de Design no Rio de Janeiro. Realizada pelo MAM/RJ, em parceria com o Ministério das Relações Exteriores, a exposição reúne trabalhos de diversos países e é o primeiro evento brasileiro que expõe objetos como capas de livros, móveis de escritório, sofás etc. Para a primeira edição da Bienal, em 1968, Bergmiller encomenda um vídeo exibido durante a mostra. O material apresenta cenas cotidianas como a de um homem que se corta ao fazer a barba. Sua intenção é criticar a falta de um bom design no dia a dia. Além de produzir o evento, Bergmiller participa dele expondo sua linha de móveis escolares. Em 1970 o evento se repete, sendo levado também a São Paulo, onde recebe elogios do crítico e historiador da arte Pietro Maria Bardi (1900-1999). Faz parte da segunda edição da Bienal a exposição Imagem Empresarial e Talher Contemporâneo, realizada por Bergmiller. Preocupado com o desenvolvimento do design brasileiro, expõe talheres, uniformes, cardápios e manuais de identidade visual usados em aeronaves de países estrangeiros e elabora o slogan “Jogue fora o talher da sua avó!”. Seu objetivo é mostrar a pluralidade de objetos criados por um programador visual e pensar num trabalho de design brasileiro que alie o bom gosto à produção industrial.
Nos anos 1970, o Brasil apresenta bom desenvolvimento econômico e passa a ter chances de competir com seus produtos no mercado internacional. O Ministério da Indústria e do Comércio solicita a participação do IDI-MAM/RJ no projeto de incremento das exportações. Os manuais realizados por Bergmiller têm como objetivo estabelecer padrões para as novas indústrias. É o exemplo do Manual para Planejamento de Embalagens, que visa a racionalização e normatização dos invólucros produzidos pelos fabricantes brasileiros. A historiadora Ethel Leon (1951) destaca outro manual do designer pensado para as escolas brasileiras, Móvel Escolar e Móvel Pré-escolar, no qual Bergmiller fornece cinco modelos diferentes de conjuntos de móveis para a sala de aula, levando em conta regiões do Brasil em que os alunos se sentam no chão. Para Leon, essa preocupação de Bergmiller desmente a crítica feita aos designers formados em Ulm, que pensariam em um desenho universal sem considerar as particularidades de cada país.
Nesse contexto de crescimento econômico e fortalecimento da indústria, é fundada a Escriba, empresa de móveis voltados para escritórios para a qual Bergmiller realiza diversos projetos entre 1967 e 1999. Entre eles está cadeira C3, desenhada em 1980. Com estrutura de alumínio, a peça pode ter o assento de madeira, tecido ou vinil. O desenho simples permite variações: é possível adicionar à cadeira uma prancheta e um cesto inferior que a transforma em móvel escolar. Também há a possibilidade de substituir as pernas da cadeira individual por peça maior, capaz de sustentar diversos assentos enfileirados, transformando-a em espécie de sofá. O encosto das cadeiras individuais é vazado, permitindo que sejam empilhadas sem ocupar muito espaço. A simplicidade do desenho está presente em outros projetos, como o da poltrona par, feita em 1983, cujo assento dobrável permite melhor uso do espaço em auditórios, salas de conferência etc.
Para o designer Pedro Luiz Pereira Souza (1945), o trabalho de Bergmiller se desenvolve num tempo de afirmação e construção de uma competência brasileira em áreas técnicas e pode ser apontado como um modelo de excelência nesse aspecto".1
Nota
1. Depoimento do designer Pedro Luiz Pereira de Souza. Disponível em: < http://www.esdi.uerj.br/sinal/ev_plps-khb.html >. Acesso em: 31 ago. 2015.
Exposições 1
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26/9/2006 - 10/12/2006
Fontes de pesquisa 6
- BRAGA, Marcos da Costa; TEDESCO BERTASO, Maria Stella. Sistemas expositivos projetados por Bergmiller. O caso MAM/RJ. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design. Disponível em: < http://blogs.anhembi.br/congressodesign/anais/artigos/70122.pdf >. Acesso em: 31 ago. 2015.
- Karl Heinz Bergmiller - Esdianos. ESDI - Escola Superior em Desenho Indutrial da UERJ. Disponível em: < http://www.esdi.uerj.br/esdianos/282/karl-heinz-bergmiller>. Acesso em: 07 dez. 2011
- LEON, Ethel. Design brasileiro: quem fez, quem faz. Rio de Janeiro: Viana & Mosley, 2005.
- LEON, Ethel. Design em Exposição: o design do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1968-1978), na Federação das Indústrias de São Paulo (1978-1984) e no Museu da Casa Brasileira (1986-2002). 193f. Tese (Doutorado em História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP). São Paulo: 2012.
- SOUZA, Pedro Luiz Pereira. Depoimento do designer e professor da Esdi Pedro Luiz Pereira de Souza sobre Karl Heinz Bergmiller,em homenagem aos 80 anos de nascimento de Bergmiller. Disponível em: < http://www.esdi.uerj.br/sinal/ev_plps-khb.html >. Acesso em: 31 ago. 2015.
- SOUZA, Pedro Luiz Pereira. Esdi: Biografia de uma Ideia. Rio de Janeiro: Uerj, 1996.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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KARL Heinz Bergmiller.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa492550/karl-heinz-bergmiller. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7