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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Associação de Artes Visuais Novas Tendências

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 24.05.2024
09.12.1963 Brasil / São Paulo / São Paulo
1965
A Associação de Artes Visuais Novas Tendências nasce em 1963. É uma entidade sem fins lucrativos  formada por artistas de diversas vertentes construtivas, com o objetivo de debater e fazer circular a arte de vanguarda.

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A Associação de Artes Visuais Novas Tendências nasce em 1963. É uma entidade sem fins lucrativos  formada por artistas de diversas vertentes construtivas, com o objetivo de debater e fazer circular a arte de vanguarda.

O início das atividades é marcado pela abertura da Galeria Novas Tendências, com a Coletiva Inaugural I. A Galeria NT, sede da associação, torna-se ponto de encontro dos artistas e impulsiona a organização de exposições.

Gerida como espécie de cooperativa, a Associação é mantida pelos fundadores com a venda das obras expostas. A Coletiva Inaugural I é composta por apenas uma obra de cada um dos fundadores: Alberto Aliberti (1935-1994), Alfredo Volpi (1896-1988), Caetano Fraccaroli (1911-1987), Hermelindo Fiaminghi (1920-2004), Judith Lauand (1922), Féjer (1923-1989), Lothar Charoux (1912-1987), Luiz Sacilotto (1924-2003), Maurício Nogueira Lima (1930-1999), Mona Gorovitz (1937) e Waldemar Cordeiro (1925-1973). O projeto gráfico do catálogo e o logotipo são desenvolvidos por Willys de Castro (1926-1988) e Hércules Barsotti (1914-2010).

A NT afirma o compromisso de abranger uma pluralidade de pesquisas, opondo-se ao enquadramento arbitrário de seus artistas em um movimento. O descompromisso com uma diretriz específica pode ser notado pela presença de artistas que, na década de 1950, pertencem a grupos distintos. São eles o Ruptura (Cordeiro, Sacilotto, Fiaminghi, Charoux, Lauand e Nogueira Lima) e o Neoconcreto (Willys e Barsotti). Há, também, artistas independentes como Volpi, Aliberti e Gorovitz.

Tomada como manifesto, a apresentação do catálogo da Coletiva Inaugural I anuncia os principais objetivos da entidade:

NT não pertence a um grupo, nem visa uniformizar opiniões. NT é uma condição aberta aos artistas que, no âmbito de uma natureza comunicativa direta, autônoma e substantiva, contribuem para a delineação de novas poéticas. NT, portanto, não subscreverá eventuais tentativas de englobar anonimamente seus expositores em mais um 'ismo'. Diversamente, é partindo da simultaneidade de pesquisas, sensibilidade individual e opiniões de cada artista, que se poderá ter uma visão real das contradições – dialeticamente falando – que caracterizam a situação presente da arte de vanguarda. NT pretende, outrossim, oferecer ao público a informação adequada e qualificada nacional e internacional de ideias que tenham relação com as novas tendências da arte de vanguarda[1].

Apesar da rejeição a uma poética específica, muitas formas de organização ocupam no cerne das discussões sobre arte na sociedade no período. Os artistas da NT ficam atentos aos grupos cinéticos internacionais, como o N, de Pádua (1960); o T, de Milão (1959-1964); o Groupe de Recherche d’Art Visuel (Grav), de Paris (1961); o Grupo Zero, de Düsseldorf  (1958); e o grupo Nouvelle Tendance, de Zagreb (1961). Diferentemente desses grupos, a trajetória da NT mostra-se, a princípio, preocupada em atenuar necessidades práticas. Entre elas, garantir meios para a circular suas produções e criar estratégias para contornar a precariedade do meio artístico e seu mercado. No contexto dos anos de 1960, a expressão “novas tendências” alude a movimentos sem liderança, geralmente à margem dos circuitos mercadológicos. Com liberdade maior do que a das grandes galerias, a NT possibilita a exposição de obras ou estudos que, por questões comerciais, enfrentam dificuldades para serem exibidos.

Grande parte de seus sócios preocupa-se com a revisão do concretismo no circuito artístico, que se volta para as pesquisas figurativas e informais. A arte concreta aparece nas obras e em textos do catálogo da Coletiva Inaugural como o centro irradiador do debate. Fraccaroli afirma sua posição: “expressão concreta: forma, cor e movimento: denominador entre passado e presente”. Já Waldemar Cordeiro decreta a obsolescência do concretismo histórico, criador de esquemas: “ou passamos a considerar a arte concreta do ponto de vista do desenvolvimento histórico da sua natureza comunicativa autônoma e direta, [...] ou diversamente, a arte concreta na acepção histórica pertence ao passado e terminou a sua existência”. Em meio às investigações que o levam à produção dos popcretos, o artista chega a afirmar que “a forma como processo construtivo e o papel ativo do espectador na arte atual de vanguarda dão o tiro de misericórdia na poética do objeto único”. Poucos dias após a inauguração da galeria, Cordeiro desentende-se com outros expositores e retira da mostra o trabalho Aleatório.

Entre 1963 e 1965, a Galeria NT realiza diversas exposições. Entre elas, a coletiva, inaugurada a 27 de abril de 1964, que apresenta artistas ligados à abstração informal: Arnaldo Ferrari (1906-1974), Décio Vieira (1922-1988), Geraldo Jürgensen (1923-1993), Heinz Kühn (1908-1987), João José da SilvaJoão Luiz Chaves (1924-2014), Maria Bonomi (1935), Maria Helena Motta Paes (1937-2005), Rubem Ludolf (1932-2010), Silvano Vescovi (1929), Tomie Ohtake (1913-2015) e Valdeir Maciel (1937).

A crise que se segue ao golpe de 1964 é um dos agravantes para o fechamento da Associação em 1965. Segundo depoimento de Hermelindo Fiaminghi, em 1966, a sede da NT é vendida para a empresa Xerox do Brasil. Com a venda, são quitadas as dívidas[2].

Em 1966, Willys de Castro, em depoimento ao crítico Mário Pedrosa (1900-1981), responde questões sobre a Associação. Willys refere-se à NT, em âmbito internacional, como um movimento composto de nuances construtivas variadas, que emergem em diversas obras ao mesmo tempo[3].

Naquele período, muitos artistas da Associação investigam as relações entre a obra de arte e o “observador-fruidor”, como Willys chama o público. A posição ativa do observador e a autossuficiência dos elementos formais da obra são dimensões importantes das produções ligadas à Associação de Artes Visuais Novas Tendências. Ao caracterizar as obras da Associação, a crítica especializada  considera ambas.

Notas
[1] Cf. catálogo: ASSOCIAÇÃO de Artes Visuais Novas Tendências: coletiva inaugural. São Paulo: Galeria NT, 1963.
[2] CABRAL, Isabella e AMARAL REZENDE, M. A. Hermelindo Fiaminghi. São Paulo: Edusp, 1998, p. 86.
[3] Segundo o artista, em geral: “a obra NT tende a ser completa em si mesma, possuindo uma plenitude inequívoca no seu isolamento autorreferencial, embora o seu relacionamento físico com o mundo circundante quase sempre se torne parte do jogo de sua fruição”. In: CONDURU, Roberto. Willys de Castro. São Paulo: Cosac & Naify, 2005. p. 158.

Exposições 5

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Fontes de pesquisa 9

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  • ALVARADO, Daisy Valle Machado Peccinini de. Figurações Brasil anos 60: neofigurações fantásticas e neo-surrealismo, novo realismo e nova objetividade brasileira. São Paulo: Itaú Cultural / Edusp, 1999.
  • ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna: do iluminismo aos movimentos contemporâneos. Tradução Denise Bottmann, Frederico Carotti. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
  • ASSOCIAÇÃO de Artes Visuais Novas Tendências: coletiva inaugural. São Paulo: Galeria NT, Garfitéc, 1963.
  • Associação de Arte Visuais Novas Tendências: coletiva inaugural. São Paulo. Galeria NT. 1963.
  • BOTTALLO, Marilúcia. A mediação cultural e a construção de uma vanguarda institucional: o caso da arte construtiva brasileira. Tese (Doutorado em Cultura e Informação) – Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.
  • PONTUAL, Roberto. Arte brasileira contemporânea: Coleção Gilberto Chateaubriand. Tradução Florence Eleanor Irvin, John Knox. Rio de Janeiro: Edições Jornal do Brasil, 1976.
  • WILDER, Gabriela Suzana. Waldemar Cordeiro: pintor vanguardista, difusor, critico de arte, teórico e líder do movimento concretista nas artes plásticas em São Paulo, na década de 50. 1982. 294f. - Dissertação (Mestrado) - Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo - ECA/USP, 1982.
  • ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1.
  • ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1.

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