Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Os Comediantes da Cidade

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 11.02.2015
1961 Brasil / Rio Grande do Sul / Porto Alegre
1968 Brasil / Rio Grande do Sul / Porto Alegre
Os Comediantes da Cidade surge em 1961, preenchendo o vácuo deixado pela extinção de grupos importantes da década de 1950, como o Teatro de Equipe e o Teatro do Estudante do Rio Grande do Sul, e se mantém em atividade até o fim da década de 1960, com modificações em sua composição.

Texto

Abrir módulo

Histórico
Os Comediantes da Cidade surge em 1961, preenchendo o vácuo deixado pela extinção de grupos importantes da década de 1950, como o Teatro de Equipe e o Teatro do Estudante do Rio Grande do Sul, e se mantém em atividade até o fim da década de 1960, com modificações em sua composição.

Integrado, em sua maioria, por alunos do Curso de Arte Dramática da Universidade do Rio Grande do Sul - CAD/URGS,1 o grupo estreia com a montagem de A Bilha Quebrada, do autor alemão Kleist, vencedora do 4º Festival Nacional de Teatro de Estudantes, organizado por Paschoal Carlos Magno e realizado em Porto Alegre, no fim de 1961. Da formação inicial, fazem parte Linneu Dias, Gerd Bornheim, Cláudio Heemann, Lilian Lemmertz, Yeta Moreira, Armando Piazza Filho, Lygia Vianna Barbosa, Jenny Job, Ilo Bandeira e Vinícius Salvatori.

O diretor Linneu Dias explica a escolha do nome: "A expressão ficou como um eco perdido, subconsciente, de leituras sobre o teatro francês do século XVII. Molière chamava com desdém a troupe do Hôtel de Bourgogne de les comediants de la ville. Esqueci o desdém e pareceu-me que não havia nada mais bonito do que ser comediante da cidade, ou seja, o ator em seu meio".2

Sobre as circunstâncias do surgimento do grupo, o jornalista Ruy Carlos Ostermann escreve: "Esta, de Os Comediantes da Cidade, é uma nova tentativa de criar um grupo teatral com atividade normal no Rio Grande do Sul. Tem contra si todas as experiências anteriores, frustradas por uma multidão de motivos e principalmente anuladas, é a opinião de muitos homens ligados ao teatro porto-alegrense, por uma falsa objetivação da nossa realidade cultural [...]. A solução é uma só: o pleno exame das nossas condições culturais (e nisto entraria em uma boa dose, da constatação da insensibilidade dos quadros governamentais) e uma verdadeira tomada de posição. Assim como fazem corajosa e elogiavelmente Os Comediantes da Cidade, deixando para trás os pessimistas".3

Logo no início de suas atividades, Os Comediantes da Cidade perde dois artistas importantes. Linneu Dias e Lilian Lemmertz mudam-se para São Paulo, onde ela, a convite de Walmor Chagas e Cacilda Becker, estreia no teatro profissional em Onde Canta o Sabiá. O jovem Olavo Saldanha, discípulo de Gerd Bornheim, assume a direção dos espetáculos do grupo na montagem de A História do Zoológico, de Edward Albee, na qual também atua, ao lado de Vinícius Salvatori.

No ano do golpe militar, em 1964, Gerd Bornheim sugere encenar As Feiticeiras de Salém, de Arthur Miller, escrito em meio às perseguições políticas promovidas pela Comissão de Atividades Antiamericanas do senador Joseph McCarthy. Conforme aponta o crítico de arte da Folha da Tarde Walter Galvani, a peça "trata da caça às bruxas dos anos finais do século XVII na Nova Inglaterra por motivos religiosos, uma fábula aplicada à mesma perseguição aos comunistas ocorrida nos Estados Unidos nos anos 1950. Gerd Bornheim diabolicamente pinçara o drama e o atualizara na encenação veloz e dinâmica do discípulo Olavo Saldanha para os tempos que se viviam no Brasil".4

Balada, Beijo e Balanço, espetáculo montado com base nos textos de Théodore de Banville, Prosper Mérimée e Martins Pena, rende a Olavo Saldanha o prêmio de diretor mais criativo do ano de 1965 no concurso Os Melhores do Teatro, promovido pela Revista do Globo, que considera peças locais e montagens de outros estados encenadas em Porto Alegre. Pelo mesmo espetáculo, Enio Carvalho ganha o título de melhor ator. José Celso Martinez Corrêa é considerado melhor diretor por Pequenos Burgueses.

No mesmo ano, Os Comediantes da Cidade apresenta A Moratória, de Jorge Andrade, no Theatro São Pedro, com a participação da atriz e jornalista Ivette Brandalise, ex-integrante do Teatro de Equipe. Segundo Galvani, "partindo de um excelente cenário de Enio Lippmann, que aplicou a ideia do diretor Gilberto Vigna, de colocar o 'tempo presente' na esquerda baixa do palco e o 'passado' à direita, contrariando a rubrica do autor [...]".5

Os Comediantes sofre nova perda com a mudança de Olavo Saldanha para São Paulo, que se integra ao Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Em 1966, realiza uma homenagem aos 350 anos da morte de Miguel de Cervantes. O espetáculo Vire Louco como o Mundo, realizado no Teatro Álvaro Moreyra, antiga sede do Teatro de Equipe, reúne quatro comédias - A Guarda Cuidadosa, Os Faladores, O Juiz dos Divórcios e O Teatro das Maravilhas - do criador de Dom Quixote, em um texto contínuo.

Nos últimos dois anos, o grupo é dirigido por Miguel Brant, jovem realizador egresso do CAD/URGS. O último espetáculo da companhia é O Patinho Torto, comédia de Coelho Neto, apresentado em 1968. O encerramento das atividades de Os Comediantes da Cidade coincide com o surgimento de novos grupos na cena teatral de Porto Alegre, especialmente o Teatro de Arena de Porto Alegre (TAPA), o Aldeia 2 e o Grupo de Teatro Província.

Os Comediantes se caracteriza pela montagem de textos clássicos da dramaturgia norte-americana e europeia, sem deixar, contudo, de se interessar pela moderna dramaturgia brasileira.

Notas
1. CAD. Curso de nível médio, vinculado à Faculdade de Filosofia, mas em fase de transição para tornar-se o Departamento de Arte Dramática (DAD), que faculta aos ingressantes desse período a obtenção do diploma de bacharel, mediante complementação curricular.

2. RUGENDAS, Rogério. Na cidade, os atores. Revista do Globo, Porto Alegre, 1963.

3. OSTERMANN, Ruy Carlos. Os comediantes darão à cidade o seu teatro. Correio do Povo, Porto Alegre, 28 abr. 1963.

4. GALVANI, Walter. Disponível em: [http://www.waltergalvani.com.br].

5. __________. A Moratória, um grande texto. Folha da Tarde, Porto Alegre, 22 set. 1965.

Espetáculos 7

Abrir módulo

Fontes de pesquisa 4

Abrir módulo
  • GALVANI, Walter. A Moratória, Um Grande Texto. Folha da Tarde, Porto Alegre, 22 set. 1965.
  • GALVANI, Walter. Disponível em: [http://www.waltergalvani.com.br].
  • OSTERMANN, Ruy Carlos. Os Comediantes Darão à Cidade o Seu Teatro. Correio do Povo, Porto Alegre, 28 abr. 1963.
  • RUGENDAS, Rogério. Na cidade, os atores. Revista do Globo, Porto Alegre, 1963.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: