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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Grupo de Teatro Província

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 11.02.2015
1970 Brasil / Rio Grande do Sul / Porto Alegre
Criado em 1970, a partir das discussões de um grupo de professores e alunos do Departamento de Arte Dramática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o Grupo de Teatro Província destaca-se pela experimentação cênica e pela proposta de trabalho coletivo.

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Histórico
Criado em 1970, a partir das discussões de um grupo de professores e alunos do Departamento de Arte Dramática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o Grupo de Teatro Província destaca-se pela experimentação cênica e pela proposta de trabalho coletivo.

Do núcleo fundador, fazem parte o filósofo Gerd Bornheim, ex-diretor do Centro de Arte Dramática (CAD), aposentado compulsoriamente pelo Ato Institucional nº 5, em 1969, e seu sucessor no cargo, o diretor Luiz Paulo Vasconcellos. Além deles, participam as professoras Lygia Vianna Barbosa e Maria Helena Lopes, e vários alunos, entre os quais Luiz Arthur Nunes, Carlos Carvalho e Graça Nunes.

O Grupo Província inicia suas atividades com as peças Olho Vivo e Língua Presa, de Peter Shaffer, com direção de Luiz Paulo Vasconcellos, no salão do Centro Social Israelita. O surgimento do Teatro de Câmara, construído pela Prefeitura de Porto Alegre para amenizar a histórica falta de casas de espetáculos na cidade, contribui para o desenvolvimento do grupo, que se apresenta seguidamente no novo espaço.

O Baile dos Ladrões, de Jean Anouilh, com direção de Carlos Carvalho, provoca a primeira divisão, já que o alto valor dos direitos autorais e a falta de público da montagem geram uma crise financeira no grupo. Membros do núcleo original se afastam e outros alunos do Departamento de Arte Dramática se integram, como Beto Ruas, Suzana Saldanha, Haydée Porto, Nara Kaisermann e o casal Arines e Izabel Ibias. O trabalho Tendências do Teatro Contemporâneo define a nova linha de atuação do Província, voltada à experimentação cênica. O curso-espetáculo é dividido em três módulos, correspondentes aos métodos de Stanislavski, Brecht e Grotowski, dirigidos cada um por um encenador.

Na montagem seguinte, Era uma Vez uma Família Muito Família... Era uma Vez uma Família que Disse Não, com texto e direção coletivos, o Província radicaliza sua pesquisa, ao colocar o público no palco, interagindo com os atores. Luiz Arthur Nunes passa a ser o principal nome do grupo.

O caminho seguido pelo Grupo de Teatro Província coloca-o em oposição ao Teatro de Arena de Porto Alegre - TAPA, que desenvolve um trabalho político de contestação ao regime militar, encenando peças de autores proibidos como Plínio Marcos e Oduvaldo Vianna Filho.

As atuações dos dois grupos acende a recorrente discussão entre forma e conteúdo. Segundo Luiz Paulo Vasconcellos, "se a ação do Arena incidia mais sobre a política, às vezes até em detrimento da estética, a ação do Província apontava para uma estética que às vezes beirava o esteticismo".1

Luiz Arthur Nunes concorda que o Província tinha certamente uma proposta experimental de linguagem cênica, "mas havia um tipo de engajamento também, não explicitamente na questão política 'da hora', mas na tentativa de traduzir uma visão crítica em relação à sociedade, aos costumes, comportamentos".2

Em Fuenteovejuna, de Lope de Vega, o grupo retoma a proposta de utilizar um texto dramático, mas o resultado é frustrante. Esta Noite Arranque a Máscara da Face e Improvise, dirigida por Luiz Arthur Nunes, inicia uma nova fase do Província, na qual as situações dramáticas continuam a ser definidas pelo grupo, mas as criações passam a ter um diretor que concentra as decisões relativas ao espetáculo. Seus integrantes reúnem-se em torno de um gravador e conversam despretensiosamente sobre o tema "família". Da gravação, surge o roteiro, que Nunes define desta forma: "O espetáculo se propõe a retratar a caretice da classe média. [...] Mais do que retratar queremos denunciar a estreiteza da cuca dessas pessoas, sua intolerância, seu ridículo".3

A experiência repete-se com Brecht em Câmara, que reúne trechos de peças do dramaturgo alemão, selecionados por Maria Helena Lopes e Luiz Arthur Nunes, como Terror e Miséria do 3º Reich, Poemas e Canções, Galileu Galilei e O Senhor Puntila e Seu Criado Matti. Maria Helena Lopes dirige a peça. A seguir, Haydée Porto dirige O Noviço, de Martins Pena.

As montagens tornam-se mais esparsas, e o grupo cria seu último grande sucesso em 1976: Sarau das 9 às 11, com roteiro de Caio Fernando Abreu e Luiz Arthur Nunes.

Sem Nunes, que decide criar seu próprio grupo, Os Teatreiros, o Província ainda se reúne para dois novos espetáculos - Pequenas Histórias do Bicho Homem, com o conjunto musical Hálito de Funcho, em 1978, e Trajetória, no ano seguinte.

Para Luiz Paulo Vasconcellos, os espetáculos da fase áurea do Província "revelavam a preocupação na experimentação formal, o que levou o grupo a se transformar num laboratório de investigação, cujo resultado certamente ampliou os horizontes tanto da experimentação cênica, quanto da própria estética do espetáculo local".4

Outro aspecto destacado na trajetória do Província é a ampliação do público para os espetáculos teatrais em Porto Alegre. Segundo Suzana Kilpp, "o Província foi o primeiro e talvez o mais importante grupo daquele período na formação desse público [...]. Sempre havia espaço para ele, e tinha boa receptividade da platéia, com a qual procurava estabelecer uma relação mais informal, alterando o espaço físico do teatro, aproximando-se fisicamente das pessoas, tentando envolvê-las num clima de afetuosidade e participação quase cúmplice".5

Notas
1. VASCONCELLOS, Luiz Paulo. Anotações para uma história do teatro gaúcho. In: Sete Palcos. Lisboa: Associação Portuguesa para o Intercâmbio Teatral, 1988, p. 37.

2. GUIMARAENS, Rafael. Teatro de Arena: palco de resistência. Porto Alegre: Libretos, 2007, p. 88.

3. ESSA noite arranque a máscara da face e improvise. Zero Hora, Porto Alegre, 10 mar. 1973.

4. VASCONCELLOS, Op. cit..

5. KILPP, Suzana. Os cacos do Teatro - Porto Alegre anos 70. Porto Alegre: Unidade Editorial, 1996, p. 56.

Espetáculos 22

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Fontes de pesquisa 3

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  • GUIMARAENS, Rafael. Teatro de Arena: palco de resistência. Porto Alegre: Libretos, 2007.
  • KILPP, Suzana. Os Cacos do Teatro: Porto Alegre, anos 70. Porto Alegre: Unidade Editorial, 1996.
  • VASCONCELLOS, Luiz Paulo. Anotações para uma história do teatro gaúcho. In: Sete Palcos. Lisboa: Associação Português para o Intercâmbio Teatral, 1988.

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