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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Flores

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 26.06.2021
A pintura de flores é um dos aspectos essenciais do gênero natureza-morta. Em determidadas épocas separa-se muito dificilmente de outros aspectos desse gênero, aparecendo em pinturas de frutas e jardins. Nota-se que os mais antigos pintores de natureza-morta na Espanha e na Itália são em geral designados;"pintores de frutas e de flores". Sobretu...

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A pintura de flores é um dos aspectos essenciais do gênero natureza-morta. Em determidadas épocas separa-se muito dificilmente de outros aspectos desse gênero, aparecendo em pinturas de frutas e jardins. Nota-se que os mais antigos pintores de natureza-morta na Espanha e na Itália são em geral designados;"pintores de frutas e de flores". Sobretudo entre meados do século XVI e início século XVII, em especial Flandres, Bégica, e na Itália , a pintura de flores desenvolve autonomia, definindo-se como um subgênero que é representado quase sem modificações até o século XIX.

É difícil estabelecer a posição ocupada pela representação de flores na arte da Antiguidade. Dos exemplares conhecidos, destaca-se a pintura de grotescos da Domus Áurea, de Nero, em Roma, Descobertos no fim do século XV, esses ornamentos desempenham papel determinante na formação de uma pintura independente de flores e frutas no Renascimento. Na Idade Média as flores têm lugar tanto na arte religiosa quanto na profana, mas sempre com valor simbólico. Na primeira, aparecem, por exemplo, em formas de buquê nas cenas religiosas. Nas pinturas do Ciclo de Maria, nas representações da anunciação, os lírios aludem à pureza e nobreza da personagem principal no início do século XV. No universo das Vanitas, as flores simbolizam a brevidade da vida humana e a futilidade dos bens materiais. No caso da arte profana, aparecem como alegoria da juventude, da terra, da dialética, da verdade etc. Ainda na época medieval, servem como simples motivos decorativos, cujo estilo é encontrado nas chamadas tapeçarias mille fleurs nos séculos XV e XVI, em que há vastas superfícies cobertas por flores e seus entrelaçamentos.

A primeira pintura de cavalete do gênero é realizada pelo pintor italiano Giovanni da Udine (1487-1564) com influência dos grotescos. A partir de 1550 e 1560 a pintura de flores conhece uma popularidade, tributária, principalmente, pela demanda de uma clientela aristocrática que exige dos artistas um refinado senso de cor e originalidade para produzir efeitos novos e incomuns. Mas é por volta de 1600 que ocorre a grande voga de pinturas de flores, sobretudo em Flandres. Um dos maiores pintores de flores dessa região é Jan Brueghel (1568-1625), que se liberta da visão naturalista anterior para tratar o assunto de forma puramente pictórica. Um aspecto interessante de sua produção são as guirlandas de flores feitas para decorar um motivo central, cristão ou mitológico, pintado por outros, como Rubens (1577-1640). Em si, esse motivo criado por Brueghel, e imitado por várias gerações de artistas, retoma o uso simbólico da flor: a homenagem.

Na mesma época, na França, a pintura de flores é vítima da hierarquia de gêneros imposta pela academia. Até 1640 é dependente das fórmulas flamengas: composição arcaica, perspectiva plongée e a colocação de objetos claramente isolados uns dos outros. No entanto, os franceses clareiam a composição, que resulta mais sobriedade. Mas a metade do século XVII vê nascer uma revolução na natureza-morta, que de simples e íntima passa a ser rica e decorativa. Jean-Baptiste Monnoyer (1636-1699), na França, e Mário de Fiori (ca.1603-1673), na Itália, são os nomes mais destacados do gênero no período.

Na segunda metade do século XVIII, a pintura de flores reveste-se de aspectos diferentes. A paixão do século pela representação do real com o máximo de exatidão e verossimilhança faz-se sentir também nesse subgênero. O pintor naturalista de flores mais célebre da época é Pierre Joseph Redouté (1759-1840), que se especializa em reproduções fiéis, "científicas", das flores mais raras e belas do jardim de história natural para a coleção de velinos do rei. A sensibilidade dá lugar à precisão na reprodução da natureza. Fora da França, o pintor italiano Francesco Guardi (1712-1793) coloca suas flores ao ar livre, liberando-as da penumbra dos ateliês do norte. A vivacidade de sua pincelada e a transparência de suas cores anunciam as liberdades pictóricas do século seguinte e fazem-no o maior pintor italiano de flores.

No século XIX os especialistas no gênero são pouco numerosos. Destaca-se o nome do pintor francês Henri Fantin-Latour (1836-1904). Por alguns anos, ele pinta quase que exclusivamente flores. Em geral, estas aparecem dispostas em recipientes simples de vidro sobre um fundo cinza delicadamente trabalhado a sugerir uma certa atmosfera. Com o advento da pintura moderna, a pintura de flores deixa de ser um gênero para integrar de modo particular as poéticas de alguns artistas. Entre os impressionismo, Éduard Manet (1832-1883) e Pierre Auguste Renoir (1841-1919) são os que mais utilizam esse motivo. Vincent van Gogh (1853-1890) pinta flores e buquês. Já no século XX, Henri Matisse (1869-1954) é um dos artistas que mais explora esse campo, pintando vasos ou utilizando a figura da flor como padrão decorativo. Nota-se ainda o importante papel gráfico desempenhado por motivos florais na art nouveau.

No Brasil, a pintura de flores se desenvolve dentro do gênero natureza-morta com o estabelecimento da Academia Imperial de Belas Artes (Aiba), no Rio de Janeiro. Agostinho da Motta (1824-1878), professor da Aiba e um dos pioneiros do gênero, dedicou-se à pintura de flores e frutas com enorme sucesso na época. Um dos pintores preferidos da imperatriz Teresa Cristina, realiza a seu pedido aquarelas representando espécimes de nossa flora que seriam remetidas a parentes na itália. Sobre ele, escreve Gonzaga Duque (1863-1911): "Na paisagem e em natureza morta (flores e frutos) Agostinho da Motta não tem com quem possa sofrer confronto [...]"; seu temperamento "não lhe permitiu ser criador e arrojado, mas brando, manso e delicado, e por isso a feição mais tenra e suavemente poética que existia na natureza brasileira, ele apanhou e traduziu como ninguém".1 Ainda no século XIX, Reis Carvalho (1800-1872), que morre ignorado, dedicou-se à pintura de flores, num estilo em que se tornou notável pela fidelidade à natureza. Estevão Silva (ca.1844-1891), um dos principais pintores de natureza-morta da segunda metade do século, notabiliza-se mais como pintor de frutos do que de flores, apesar de ter produzido algo no gênero. Seu companheiro de ateliê, João Batista Pagani (1856-1891), é quem se destaca no estudo de flores.

No século XX, ainda no contexto da academia, a pintura de flores se notabiliza pelo pincel de Marques Júnior (1887-1960). Trata-se de um pintor refinado e de grande técnica, cujos trabalhos são marcados pela segurança do toque, pela sensibilidade colorística, delicada e sutil, e graça. No âmbito da pintura moderna, as flores têm destaque nas obras de Di Cavalcanti (1897-1976) e Guignard (1896-1962). No primeiro, as pinturas de vasos de flores parecem encarnar, igualmente como no caso de outros temas com que trabalha, a idéia de brasilidade mostrada pelo colorido intenso de cores tropicais. Guignard representa um caso especial na história da arte brasileira no que diz respeito à pintura de flores: seja em vasos, seja soltas no espaço, seja como elemento decorativo e ornamental, elas estão presentes em toda sua trajetória. Os buquês em geral são bem cheios e variados, pintados sobre fundos que parecem continuar a riqueza do motivo, transformando o tema principal, nos melhores trabalhos, numa espécie de padronagem de cores ou formas que se dissemina pelo espaço.

Notas

1 DUQUE, Gonzaga. A Arte brasileira. Campinas: Mercado de Letras, 1995. p.131.

Fontes de pesquisa 6

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  • BÉNÉZIT, Emmanuel-Charles. Dictionnaire critique et documentaire des peintres, sculpteurs dessinateurs et qraveurs: de tous les temps et de tous les pays par un groupe d´écrivains spécialistes français et étrangers. Nova edição revista e corrigida. Paris: Grund, 1976. 10 v.
  • CAMPOFIORITO, Quirino. História da pintura brasileira no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983.
  • DUQUE, Gonzaga. A arte brasileira: pintura e esculptura. Introdução Tadeu Chiarelli. Campinas: Mercado de Letras, 1995. (Arte: ensaios e documentos).
  • MURRAY, L.; MURRAY, P. Dictionnary of Art & Artists. England: Penguin Books, 1986.
  • NÉRAUDAU, J-Pierre (org.). Dictionnaire d'Histoire de L´Art. Paris: PUF, 1985.
  • READ, H.; STANGOS, N. Dicionário da Arte e dos Artistas Plásticos. Lisboa: Edições 70, 1989.

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