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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Manguebeat

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 05.01.2021
Manguebeat é um termo que identifica a agitação cultural em Recife, Pernambuco, no começo dos anos 1990, a partir, sobretudo, do trabalho das bandas Chico Science & Nação Zumbi e Mundo Livre S/A. É impreciso, no entanto, associar a expressão apenas a um gênero musical. A cena que movimenta a capital pernambucana no período é caracterizada, desde...

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Manguebeat é um termo que identifica a agitação cultural em Recife, Pernambuco, no começo dos anos 1990, a partir, sobretudo, do trabalho das bandas Chico Science & Nação Zumbi e Mundo Livre S/A. É impreciso, no entanto, associar a expressão apenas a um gênero musical. A cena que movimenta a capital pernambucana no período é caracterizada, desde sua origem, pela diversidade de estilos. Seus principais articuladores também rejeitam tratar o manguebeat como movimento e preferem usar as palavras “cena” e “cooperativa cultural” para identificar os acontecimentos do período.

A ideia da diversidade é uma bandeira que se levanta desde o release distribuído à imprensa, em 1991, conhecido como Primeiro Manifesto Mangue, assinado por Fred Zero Quatro (1962), integrante do Mundo Livre S/A. O texto, intitulado Caranguejos com Cérebro, consta no encarte do álbum Da Lama ao Caos (1994), com pequenas alterações, exaltando a imagem de uma antena parabólica enfiada na lama como um símbolo da cena.

No manifesto, Fred Zero Quatro desenvolve a ideia e estabelece metáforas com a diversidade natural do ecossistema, onde há “troca de matéria orgânica” entre as águas doce e salgada e “estima-se que duas mil espécies de micro-organismos e animais invertebrados e vertebrados estejam associados” à sua vegetação. São duas imagens que sintetizam o momento de efervescência musical no Recife: o mangue aponta para a diversidade de estilos que convivem na cena, e a parabólica enfiada na lama serve de alegoria para a conexão entre ritmos tradicionais com uma linguagem pop e contemporânea.

Chico Science & Nação Zumbi gravam dois discos – Da Lama ao Caos (1994), e Afrociberdelia (1996) – em que um novo som é apresentado à música brasileira. O estilo vocal de Chico Science (1966-1997) é uma original mistura do rap americano com a embolada e o rap nordestinos; a guitarra de Lúcio Maia (1971) remete tanto ao peso do heavy metal como às levadas suingadas de soul e funk; o baixo de Dengue não esconde claras influências dos ritmos jamaicanos, como dub e reggae; e os tambores são elementos que remetem a ritmos locais como maracatu, coco[1] e ciranda.

O Mundo Livre S/A é uma banda de rock, com muita influência do punk, mas que lida claramente com referências da música brasileira e com o estilo de composição de Jorge Ben (1942). A primeira geração associada ao manguebeat ainda envolve nomes como Devotos do Ódio (punk rock), Faces do Subúrbio (rap), Comadre Fulôzinha e Mestre Ambrósio (relacionadas com uma abordagem contemporânea de ritmos regionais como ciranda, baião, maracatu, coco). Ao mesmo tempo que abre espaço para essa nova geração, a cena é fundamental para dar maior visibilidade a mestres veteranos da música local, como Lia de Itamaracá (1944), Mestre Salu (1945-2008) e Selma do Coco (1930-2015).

A cena musical é marcada por letras que refletem sobre o cotidiano recifense e trabalham com as imagens do cenário geográfico da cidade (lama, pontes, mangue, caranguejo etc.) em metáforas associadas à diversidade sonora que caracteriza sua musicalidade.

Além dos integrantes de Chico Science & Nação Zumbi e do Mundo Livre S/A, o jornalista Renato Lins, o webdesigner H.D. Mabuse e o designer DJ Dolores (1966) são personagens importantes nas discussões em torno dos conceitos do manguebeat.

O manguebeat fomenta a produção musical na cidade e no estado, que se expande em trabalhos lançados posteriormente por artistas como Otto (1968), DJ Dolores, Siba (1969), e Banda Eddie. Festivais como Abril Pro Rock e Rec Beat são fundamentais para projetar esses artistas. No cinema, a estética também se manifesta, principalmente pelo filme Baile Perfumado (1996), com direção de Lírio Ferreira (1965) e Paulo Caldas (1964). A direção musical do filme é feita pelo guitarrista Paulo Rafael (1955), e conta com parceria de Chico Science, Fred Zero Quatro e outros integrantes do manguebeat na composição de sua trilha sonora, desenhando, mais uma vez, o caráter coletivo do movimento.

No começo dos anos 1990, o manguebeat movimenta culturalmente o Recife. A diversidade musical é uma intenção clara, bem como uma necessidade de criar uma estética original e pop em sincronia com a tradição rítmica local. A produção musical que se impõe na cidade a partir do sucesso de Chico Science & Nação Zumbi e Mundo Livre S/A comporta ainda artistas de rock, rap, maracatu e ciranda. 

 

Nota

1. Dança típica das regiões Norte e Nordeste do Brasil, em que os cantadores tiram versos em roda, acompanhados de palmas e instrumentos de percussão como pandeiro, bombos e ganzá. Cf.: COCO. In: DICIONÁRIO Cravo Albin de Música Popular Brasileira. Rio de Janeiro, Instituto Cultural Cravo Albin, [s.d.].

Fontes de pesquisa 4

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  • CALÁBRIA, Lorena. O livro do disco – Chico Science & Nação Zumbi – Da Lama ao Caos. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.
  • COCO. In: DICIONÁRIO Cravo Albin de Música Popular Brasileira. Rio de Janeiro, Instituto Cultural Cravo Albin, [s.d.]. Disponível em: https://dicionariompb.com.br/coco/dados-artisticos. Acesso em: 4 jan. 2021.
  • TELLES, José. Do frevo ao manguebeat. São Paulo: Editora 34, 2000.
  • VARGAS, Heron. Hibridismos musicais de Chico Science & Nação Zumbi. São Paulo: Ateliê Editorial, 2007.

Como citar

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