Nelson Freire
Texto
Nelson José Pinto Freire (Boa Esperança, Minas Gerais, 1944 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2021). Pianista. Importante nome da música erudita nacional, destaca-se pela longeva carreira iniciada nos primeiros anos de sua infância e colabora com a divulgação de importantes compositores nacionais no exterior.
Começa a estudar piano aos três anos, imitando a irmã, 14 anos mais velha. Na cidade de Varginha, é aluno do músico uruguaio Fernandez (1897-1948), que aconselha a família a mudar-se para o Rio de Janeiro. Faz a primeira aparição pública no Teatro Municipal de São João del Rey, em 1950, antes de completar seis anos, com um repertório que inclui grandes nomes da música clássica mundial. Pouco depois, chega ao Rio, para estudar com Lúcia Branco e Nise Obino (1918-1995). Em 1956, faz concurso para tocar com a Orquestra Sinfônica Brasileira e é selecionado para solar no Concerto K. 271 em mi bemol maior, de Mozart (1756-1791). No mesmo ano, dá recital solo no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
O músico obtém notoriedade nacional em 1957, quando participa do 1º Concurso Internacional de Piano do Rio de Janeiro. Com foco em Chopin (1810-1849), a competição é acompanhada com interesse pela mídia. Juscelino Kubitschek (1902-1976), presidente da República, promete comparecer à prova final e oferecer um prêmio à melhor interpretação de música brasileira. Aos 12 anos, Nelson Freire é o mais jovem entre os candidatos e se classifica entre os 12 finalistas para tocar o Concerto para piano n. 5 Imperador, de Beethoven (1770-1827), com a Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
A partir de sua apresentação, conquista também o reconhecimento público do presidente Juscelino Kubitschek, que lhe concede uma bolsa de estudos para aperfeiçoamento no exterior. Ainda como consequência de sua participação no concurso, Freire grava seu primeiro disco, com seis obras de Chopin, incluindo itens ambiciosos como a Balada n. 4 e o Scherzo n. 1.
Com o apoio recebido, embarca para a Europa em 1959, com a finalidade de ter aulas, em Viena, com Bruno Seidlhofer (1905-1982), mestre de importantes músicos, como Friedrich Gulda (1930-2000). Na capital austríaca, estabelece amizade com a pianista argentina Martha Argerich (1941).
O pianismo de Guiomar Novaes (1894-1979), com quem mantém uma longa amizade, se torna uma das principais referências estéticas de Freire que, em homenagem a ela, inclui em seus concertos, como bis, a transcrição para piano solo que o italiano Giovanni Sgambati fez da melodia para flauta da ópera Orfeo ed Euridice, de Gluck (1714-1787).
A carreira internacional de Nelson Freire tem início em 1964, com o primeiro lugar no Concurso Internacional de Piano Vianna da Motta, em Lisboa, e a obtenção, em Londres, das medalhas de ouro Dinu Lipatti e Harriet Cohen.
A partir de então, o pianista faz uma série de gravações orquestrais para o selo Sony/CBS com o maestro alemão Rudolf Kempe (1910-1976) e a Filarmônica de Munique, e se apresenta em importantes salas de concerto da Europa e dos Estados Unidos.
Em 1968, Freire e Martha fazem sua primeira aparição como duo, no Queen Elizabeth Hall, em Londres. Desde então, gravam itens como a Suíte n. 2, de Rachmaninov (1873-1943), La Valse, de Ravel (1875-1937), e o Concerto para dois pianos, percussão e orquestra, de Bartók (1881-1945). Em 2009 fazem um recital no prestigioso Festival de Salzburgo, na Áustria, gravado ao vivo e lançado em disco pela Deutsche Grammophon.
Em 1972, recebe o Prêmio Edison, na Holanda, por sua gravação dos 24 Prelúdios, de Chopin, para o selo Sony/CBS. Comendador da Ordem do Rio Branco desde 1991, Freire é condecorado Commandeur des Arts et des Lettres pelo governo francês, em 2007.
Em 1999 é o único músico brasileiro a compor o Great Pianists of the 20th Century [Grandes Pianistas do Século XX], projeto fonográfico da gravadora Philips, que se anuncia como uma grande enciclopédia em disco do piano ao longo do século. Seu volume, n. 29, inclui registros ao vivo e de estúdio, feitos entre 1967 e 1984, e centrados no repertório do Romantismo como Schumann (1810-1856), Chopin e Brahms (1833-1897).
O lançamento dá novo impulso à sua carreira fonográfica e o pianista assina contrato de exclusividade com a gravadora Decca. Seguem-se álbuns dedicados a importantes compositores incluindo ainda, em 2012, o disco Brasileiro – Villa-Lobos & Friends [Brasileiro – Villa-Lobos e Amigos], com obras de compositores nacionais como Villa-Lobos (1887-1959), Camargo Guarnieri (1907-1993) e Francisco Mignone (1897-1986). Em 2003, é retratado no documentário Nelson Freire, do diretor João Moreira Salles (1962). Em 2006, seu disco com os dois concertos para piano de Brahms, com a Orquestra Gewandhaus, de Leipzig, e regência de Riccardo Chailly (1953), conquista prêmios como o Diapason d'Or e Grand Prix de l'Academie Charles Cros, além do Gramophone de melhor álbum do ano.
Esteticamente, Nelson Freire é visto como uma ligação entre o presente e a “era de ouro” do piano, com especial influência de artistas como Guiomar Novaes e Friedrich Gulda. Sua técnica ao tocar piano não exclui virtuosismo técnico, mas parece priorizar o cuidado com a produção sonora e a “beleza” do som, bem como o caráter “poético” e cantável das linhas melódicas. Suas apresentações reafirmam a música erudita como norte de seu repertório, sem fazer concessões ao crossover ou à música popular.
Músico de importante carreira no Brasil e no exterior, Nelson Freire dedica-se ao piano durante toda sua trajetória, tornando-se um dos mais importantes nomes da música erudita brasileira.
Obras 4
Fontes de pesquisa 5
- ARDOIN, John. A Hurricane of Pianistic Power. Texto do encarte do CD Great Pianists of the 20th Century – Nelson Freire. Reino Unido: Philips Classics, 1999. 2 CDs (154 min). ADD.
- CRUZ, Gilda Oswaldo. Texto de encarte do CD Ritos de Passagem – Nelson Freire, 1957. Áustria: Sanctus Recordings, 2011. 1 CD (51 min). ADD.
- MARCONDES, Marcos Antônio. Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed., rev. ampl. São Paulo: Art Editora, 1998.
- Nelson Freire, um dos mais talentosos pianistas do mundo, morre no Rio aos 77 anos. g1 Rio, Rio de Janeiro, 01 nov. 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/11/01/morre-nelson-freire.ghtml. Acesso em: 01 nov. 2021.
- SAMPAIO, João Luiz. Nelson Freire volta ao palco em que fez seu primeiro concerto em MG. O Estado de São Paulo, São Paulo, 02 jul. 2012. Caderno 2.
Como citar
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NELSON Freire.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa747/nelson-freire. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7