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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Ednardo

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 14.03.2022
17.04.1945 Brasil / Ceará / Fortaleza
José Ednardo Soares Costa Souza (Fortaleza, Ceará, 1945). Compositor, cantor e violonista. É um dos principais músicos da geração cearense descoberta pela música popular brasileira (MPB) nos anos 1970, que inclui Belchior (1946–2017) e Fagner (1949). Sua obra se destaca por uma combinação original de elementos rurais e urbanos, uma mescla de inf...

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José Ednardo Soares Costa Souza (Fortaleza, Ceará, 1945). Compositor, cantor e violonista. É um dos principais músicos da geração cearense descoberta pela música popular brasileira (MPB) nos anos 1970, que inclui Belchior (1946–2017) e Fagner (1949). Sua obra se destaca por uma combinação original de elementos rurais e urbanos, uma mescla de influência de ritmos nordestinos com o folk rock.

Ednardo estuda piano com professores particulares dos dez aos 15 anos e aprende a tocar violão sozinho a partir dos 23. Gradua-se em química pela Universidade Federal do Ceará. Em 1969, forma uma turma com outros músicos cearenses que se reúne normalmente no Bar do Anísio, no bairro do Mucuripe, em Fortaleza.

No começo dos anos 1970, muda-se para São Paulo na tentativa de ganhar mais visibilidade com sua música. Em sua casa, na zona oeste da cidade, acontecem saraus nos quais estabelece contatos importantes para sua futura projeção no mercado fonográfico. O produtor Julio Lerner (1939-2007), por exemplo, o leva a uma participação no programa Panorama, da TV Cultura. O radialista Walter Silva (1933-2009) o apresenta aos executivos da gravadora Continental, pela qual lança seu primeiro disco, Ednardo e o Pessoal do Ceará (1973), uma coletânea com quatro faixas interpretadas por Ednardo.

As letras de Ednardo no álbum tratam constantemente do êxodo para o sul e da saudade de seu estado natal. Em “Ingazeiras”, ele escreve: “o sul, a sorte, a estrada me seduz, é ouro, é pó, é ouro em pó que reluz”. Na canção “Terral”, o cantor localiza geograficamente sua origem, em Fortaleza: “eu venho das dunas brancas / de onde eu queria ficar / deitando os olhos cansados / por onde a vista alcançar”. Os versos ainda citam a Praia do Futuro, um dos cartões postais da cidade, o céu “sem chaminés ou fumaças”, e a categórica frase “eu sou do Ceará”.

“Beira-Mar” traça caminho semelhante. Ele canta: “na beira-mar, entre luzes que lhe escondem / só sorrisos me respondem / que eu me perco de você / que eu me perco de você”. Em outro trecho, diz a letra: “viva o som, velocidade / forte praia, minha cidade / só o meu grito nega aos quatro ventos / a verdade que eu não quero ver”. A beira-mar não é uma qualquer: é, especificamente, a de Fortaleza, personagem dos versos que se mistura com uma história de amor. Aqui, o arranjo traz um elemento interessante: a influência da soul music americana na segunda parte, com o balanço, a linha de baixo e os arranjos de metais típicos ao gênero. A canção é lançada originalmente em compacto de vinil, em 1972, pela cantora Eliana Pittman (1945).

Além de suas letras remeterem constantemente às paisagens de Fortaleza, sua musicalidade trabalha com um estilo autoral de canção, muito baseada em sua levada ao violão, com referências de ritmos do nordeste como baião e maracatu. O primeiro disco solo, O Romance do Pavão Mysteriozo (1974), afirma o estilo do compositor, com canções de estrutura folk rock que incorporam influências dos ritmos nordestinos. O repertório traz uma versão de “Palo Seco”, de Belchior. A interpretação de Ednardo é marcada por uma guitarra com característica roqueira, tocada por Heraldo do Monte (1935), um dos arranjadores do disco junto com Hareton Salvanini (1945-2006), e Isidoro “Bolão” Longano (1925-2005).

A mudança de cidade ainda é um assunto recorrente nas letras. “Avião de Papel”, por exemplo, aborda o sentimento de uma mãe que estimula a partida do filho: “vai, meu filho, vai / que Deus lhe dê boa sorte / fortuna e felicidade”. “Água Grande” trata explicitamente da chegada a São Paulo: “da primeira vez que eu vi São Paulo / da primeira vez que eu vim, São Paulo / fiquei um tempão parado / esperando que o povo passasse”.

O grande sucesso do repertório é “Pavão Misterioso”, que dois anos depois é tema de abertura da novela Saramandaia, da Rede Globo. A canção é inspirada em um cordel cuja autoria é disputada entre os violeiros José Camelo de Mello (1885-1964) e José Melchiades Ferreira (1869-1933). Trata-se de um clássico da literatura popular nordestina, lançado na década de 1920, que narra a aventura de um rapaz que rapta uma condessa na Grécia e foge nas asas de um pavão. Ednardo usa de uma metáfora para fazer um protesto contra a ditadura militar (1964-1985)1, que a censura da época não percebe. Segundo ele, a letra trata de um mecanismo que faz as pessoas voarem e fugirem daquela realidade. Um trecho da letra diz: “me poupe do vexame / de morrer tão moço / muita coisa ainda / quero olhar”. A composição faz grande sucesso e colabora para a visibilidade de outros artistas, contemporâneos e conterrâneos seus.

Ednardo não consegue repetir o êxito comercial de “Pavão Misterioso”, mas afirma ao longo dos anos 1970 um estilo autoral com mais quatro discos lançados: Berro (1976), O Azul e o Encarnado (1977), Cauim (1978) e Ednardo (1979). A entidade cearense permanece onipresente nas letras. Em “Longarinas”, um dos destaques de Berro, ele canta: “faz muito tempo / que eu não vejo / o verde daquele mar quebrar”. Na década de 1980, lança mais quatro discos. Depois, permanece um longo período sem gravar até que lança Única Pessoa (2000), com canções de compositores de todas as regiões do Brasil. Em 2002, lança uma versão de O Pessoal do Ceará, desta vez em parceria com Amelinha (1950) e Belchior.

Ednardo incorpora em suas composições a paisagem de Fortaleza e a musicalidade de ritmos nordestinos. Sua obra é um importante elemento na construção de uma identidade nordestina na MPB na década de 1970 e uma voz importante da resistência cultural durante o período da ditadura militar no Brasil.

Nota

1. Também denominada de ditadura civil-militar por parte da historiografia com o objetivo de enfatizar a participação e apoio de setores da sociedade civil, como o empresariado e parte da imprensa, no golpe de 1964 e no regime que se instaura até o ano de 1985.

Obras 32

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