Joel Pontes
Texto
Joel Albuquerque Pontes (Caruaru, Pernambuco, 1926 - Recife, Pernambuco, 1977). Crítico teatral, ensaísta e professor. Integra vários grupos de teatro como ator e diretor, entre as décadas de 1940 e 1960. A partir do fim dos anos 1950, dedica-se à crítica teatral, ao ensaísmo, ao magistério e à pesquisa acadêmica. Incursiona pelo estudo da dramaturgia brasileira e estrangeira e da história do teatro moderno em Pernambuco.
Muda-se para o Recife em 1941, e forma-se em direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em 1948. Nesse ano, assume o cargo de diretor do teatro da Rádio Jornal do Commercio, em que permanece até 1954, quando passa a ser o diretor do teatro da Rádio Tamandaré. Conclui o bacharelado em filosofia, em 1956, pela UFPE, e obtém a licenciatura nesse curso, em 1958.
Em 1946, passa a integrar, como ator, o Teatro do Estudante de Pernambuco (TEP) -, participando da primeira montagem do grupo, O Segredo, de Ramón J. Sender; em 1947, atua em A Sapateira Prodigiosa, de Federico García Lorca, e no ano seguinte, em A Casa de Rosmer, de Henrik Ibsen, todas com direção de Hermilo Borba Filho. Em 1952, é dirigido pelo colombiano Enrique Buenaventura, em Três Cavalheiros a Rigor, de Hermilo Borba Filho. Trabalha também no Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP), em 1958 e 1959, e no Teatro Popular do Nordeste (TPN), em 1960 e 1961.
Com Hermilo Borba Filho, Ariano Suassuna, José Carlos Cavalcanti Borges e Graça Mello, entre outros, funda o Curso de Arte Dramática da Escola de Belas Artes da UFPE, onde é professor da disciplina de história da literatura dramática.
Paralelamente ao teatro, Joel Pontes se dedica à crítica literária, de 1947 a 1958, no Diario de Pernambuco, e de 1958 a 1959, no Jornal do Commercio, colaborando também em jornais de São Paulo, Minas Gerais e outros estados. A partir de 1959, além do Curso de Arte Dramática da escola, assume a disciplina de literatura portuguesa no Instituto de Letras da UFPE, dedicando a esse assunto numerosos estudos e ensaios, publicados em livros e em periódicos nacionais e internacionais. Escreve crítica teatral, diariamente, na coluna Diário Artístico do Diario de Pernambuco, de 1960 a 1963, e no jornal Última Hora, entre 1963 e 1964.
Como crítico teatral, prima em colocar em evidência o texto dramático como ponto central de sua análise. Os demais elementos do espetáculo são relevados em função da coerência estilística da encenação, que não deve sobrepujar o texto. Atento às condições de produção e às propostas estéticas e ideológicas dos grupos, seus princípios de análise do espetáculo se norteiam pela busca do equilíbrio entre a estética e a função social da arte. Quando se detém na análise do elenco, tem, quase sempre, uma aguçada percepção do desempenho de cada um, mesmo que, por vezes, possa dar um close reading na atuação de um intérprete em particular.
Mostra, em sua trajetória como crítico literário e teatral, grande poder de síntese, aliado a sua erudição. Essas marcas estão presentes, por exemplo, em O Teatro Moderno em Pernambuco, lançado em 1966, no qual faz balanço do movimento teatral do estado, em particular do Recife, dos anos 1930 aos anos 1960. Nesse livro, Pontes analisa os principais grupos pernambucanos, amadores e profissionais, como o Grupo Gente Nossa (GGN), o TAP, o TEP, o Teatro Adolescente do Recife (TAR), o Teatro de Cultura Popular (TCP) e o TPN, além de realizar um estudo introdutório e panorâmico dos dramaturgos pernambucanos mais expressivos, como Aldomar Conrado, Ariano Suassuna, Hermilo Borba Filho, Aristóteles Soares, Isaac Gondim Filho, José Carlos Cavalcanti Borges, Luiz Marinho e José de Moraes Pinho.
Em 1965, Joel Pontes viaja aos Estados Unidos, para trabalhar como visiting lecturer, na Universidade do Texas, em Austin, sendo promovido, logo em seguida, a visiting associate professor. Permanece nesse país até 1969, trabalhando também na New York University, entre 1967 e 1968, em Nova York, e na Tulane University, de 1968 a 1969, em New Orleans. Leciona, sobretudo, literatura portuguesa e brasileira e procura promover não só a literatura brasileira, mas também a dramaturgia brasileira, por meio de seminários, eventos, clubes e leituras dramáticas.
Publica, em 1970, Ensaios do Visitante, livro que reúne artigos produzidos durante sua temporada nos Estados Unidos. Entre esses estudos, destacam-se Da Catequese ao Barroco, longo ensaio sobre as origens do teatro no Brasil entre os séculos XVI e XVII, em que ressalta a importância da figura do padre José de Anchieta; Teatro, Abril de 66 e Teatro, um pouco depois. Nesses dois ensaios, faz um balanço da dramaturgia contemporânea, de meados dos anos 1960. Analisa o repertório do Teatro de Arena, de São Paulo, do Grupo Opinião, do Rio de Janeiro, e a produção de dramaturgos como Jorge Andrade, Nelson Rodrigues, Ariano Suassuna, Dias Gomes, além de Gianfrancesco Guarnieri, autor de Eles Não Usam Black-Tie, uma peça lírica - aos seus olhos. Relembra a montagem pelo TCP de Julgamento em Novo Sol, de Augusto Boal, Modesto Carone, Hamilton Trevisan e Nelson Xavier, em 1962, e realiza um estudo sobre a dramaturgia de Plínio Marcos - Plínio Marcos, Dramaturgo da Violência -, em que confirma as qualidades estéticas e políticas de Navalha na Carne e Dois Perdidos numa Noite Suja. Recebe, por esse livro, o 1º Prêmio de Crítica da Academia Pernambucana de Letras, em 1971.
Em fevereiro de 1977, obtém o título de livre-docente em letras, pela UFPE, com tese sobre o teatro de José de Anchieta, publicada no ano seguinte pelo Serviço Nacional de Teatro (SNT). Joel Pontes falece em novembro de 1977.
Hermilo Borba Filho, na contracapa de Ensaios do Visitante, relembra sua amizade desde o dia em que Joel Pontes assiste, em 1945, a sua palestra Teatro, Arte do Povo, no Gabinete Português de Leitura. Esboça breve perfil do desdobramento dessa amizade intelectual, assevera que Pontes se destaca na tarefa de um escritor comprometido com o Brasil, sua literatura e seu teatro, e afirma: "Seu trabalho de pesquisa e erudição é dos mais importantes e basta ler os ensaios para se reconhecer que estamos frente a frente a um homem cuja vida é dedicada ao magistério e à literatura: professor e escritor".1
Notas
1. BORBA FILHO, Hermilo. In: PONTES, Joel. Ensaio do Visitante. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 1970. [Contracapa do livro].
Espetáculos 8
Fontes de pesquisa 15
- BACCARELLI, Milton J. Trocando a Máscara... - 20 anos de Teatro em Pernambuco. Recife: Fundarpe, 1994.
- BORBA FILHO, Hermilo. [Contracapa do Livro]. In: PONTES, Joel. Ensaio do visitante. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 1970.
- CARVALHEIRA, Luiz Maurício. Palavra e gesto: nem tudo se volatiza (Prefácio). In: PONTES, Joel. O teatro moderno em Pernambuco. 2. ed. Recife: Fundarpe, 1990, p. 5-9.
- CARVALHEIRA, Luiz Maurício. Por um teatro do povo e da terra - Hermilo Borba Filho e o Teatro do Estudante de Pernambuco. Prefácio Maximiniano Campos. Recife: Fundarpe, 1984. 248 p.
- FREYRE, Gilberto. Diario de Pernambuco, 23 jan. 1955. Apud: ______. [Orelha do Livro]. In: PONTES, Joel. O aprendiz de crítica. 1º Volume. Recife: Departamento de Documentação e Cultura da Prefeitura Municipal do Recife, 1955.
- MACIEL, Luiz Carlos. O Teatro moderno em Pernambuco. Revista Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, n. 9/10, p. 342-344, set./nov. 1966.
- MAIOR, Gabriela Martin Souto. In Memoriam de Joel Pontes. Separata de Clio - Revista do Curso de Mestrado em História da UFPE, ano 2, 1978.
- PONTES, Joel. O aprendiz de crítica. 1º Volume. Recife: Departamento de Documentação e Cultura da Prefeitura Municipal do Recife, 1955. 256 p.
- ______. Armadilha para um homem só. Diario de Pernambuco, Recife, p. 3, 14 abr. 1963.
- ______. Ensaios do visitante. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 1970. 220 p.
- ______. O aprendiz de crítica. (1955-1959) 2º Volume. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1960. 333 p.
- ______. O pagador de promessas (3). Diario de Pernambuco, Recife, p. 3, 17 out. 1961.
- ______. O teatro moderno em Pernambuco. Prefácio de Luiz Maurício Carvalheira. 2. ed. Recife: Fundarpe, 1990. 163 p.
- ______. O teatro moderno em Pernambuco. São Paulo: Desa, 1966. 157 p.
- ______. Um sábado em 30 (3). Diario de Pernambuco, Recife, p. 1, 18 jul. 1963.
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JOEL Pontes.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa511078/joel-pontes. Acesso em: 04 de maio de 2025.
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