Araci Esteves
Texto
Biografia
Araci Esteves de Oliveira Soares (Osório RS 1939). Atriz. Uma das intérpretes mais ecléticas do teatro gaúcho. Inicia sua trajetória no âmbito do teatro político dos anos 1960, quando participa da fundação do Grupo de Teatro Independente, do qual se origina o Teatro de Arena de Porto Alegre. Do teatro de grupo, Araci Esteves parte em busca de novas parcerias artísticas e constrói uma carreira de projeção nacional e internacional.
Em 1951, Araci Esteves se estabelece em Porto Alegre, estuda com a professora de teatro Olga Reverbel e participa do Teatro Infantil Permanente do Instituto de Educação - TIPIE, grupo de teatro da Escola Normal que frequenta.
Ingressa no Curso de Arte Dramática da Universidade do Rio Grande do Sul - CAD/URGS em 1963, e atua em diversas montagens acadêmicas, tendo como professores Gerd Bornheim, Fausto Fuser e Lúcia Mello. Conclui sua formação no CAD em 1965, num momento delicado da cena porto-alegrense, reflexo da lacuna deixada pela extinção do Teatro de Equipe, em 1962. Ante essa situação, duas alternativas apresentam-se aos atores dispostos a viver de teatro: partir para o eixo Rio-São Paulo ou lutar pelo reconhecimento do teatro profissional local. Decidida a permanecer em Porto Alegre, Araci Esteves, em parceria com os ex-colegas do CAD Jairo de Andrade, Alba Rosa e Edwiga Falej, cria o Grupo de Teatro Independente - GTI, projeto inspirado no trabalho do Teatro de Arena e Teatro Oficina, de São Paulo, e do Grupo Opinião, do Rio de Janeiro.
O GTI se consolida com a instalação de sua sede nos altos do viaduto da avenida Borges de Medeiros, local que, posteriormente, abriga as dependências do Teatro de Arena de Porto Alegre - TAPA. No decorrer de 1966, Araci Esteves participa do chamado "batismo de fogo" do GTI, momento de intensa militância do grupo (que chega a apresentar 6 espetáculos em apenas 12 meses) em temporadas na capital e em diversos municípios do Rio Grande do Sul. Mas logo o crescente interesse por novas experiências como atriz e o desejo de filiar-se a propostas de outros artistas levam Araci Esteves a desligar-se do grupo.
Ainda na década de 1960, ela trabalha com alguns expoentes do teatro local, entre os quais se destaca o jovem diretor, também egresso do CAD, Miguel Grant, realizador de experimentos cênicos que ampliam sensivelmente a sua visão de teatro. Num estágio no Rio de Janeiro, Araci Esteves atua sob a direção de nomes expressivos no cenário nacional, como Flávio Rangel e Silnei Siqueira. No início da década de 1970, a convite da Companhia de Comédias, tem oportunidade de trabalhar com Dercy Gonçalves, no espetáculo A Dama das Camélias, em temporada de três meses na Europa. Para Araci, então iniciante, a possibilidade de atuar com uma profissional como Dercy Gonçalves, constitui uma escola de improvisação teatral.
Finda a temporada com a Companhia de Comédias, Araci Esteves permanece mais um ano na Europa. No retorno a Porto Alegre, conhece o escritor, ator e diretor de teatro Carlos Carvalho, com quem se casa, em 1973, e vive uma parceria intelectual e artística que perdura até a morte dele, em 1985.
Da segunda metade da década de 1970 até o início dos anos 1980, a dupla Araci Esteves e Carlos Carvalho torna-se especialmente produtiva, em virtude da relação que estabelece com o diretor Luiz Paulo Vasconcellos, a atriz Sandra Dani e os atores Sérgio Silva (também produtor, cenógrafo e figurinista) e Bira Valdez. Embora não se configurem como um grupo institucionalizado, esses artistas pautam-se pelo prazer do convívio e pela constante experimentação de formas teatrais. E os espetáculos que criam têm reconhecida qualidade técnica e estética. Entre seus principais trabalhos estão: Boneca Teresa ou Canção de Amor e Morte de Gelsi e Valdinete, 1975, dirigido por Luiz Paulo Vasconcellos, cujo texto é escrito por Carlos Carvalho concomitantemente aos ensaios; e Champagne para Mãe Tuda, 1984, de autoria de Carlos Carvalho e direção de Luiz Paulo Vasconcellos, que tem Araci Esteves como protagonista, num papel criado especialmente para ela. A respeito de sua interpretação como Mãe Tuda, o crítico de teatro Cláudio Heemann comenta: "Araci Esteves está triunfalmente 'bettedaviana' e domina o espetáculo de ponta a ponta. Energia, extravagância, deboche e vulgaridade estão muito bem projetados".1
Outra atuação memorável da atriz dá-se em O Rei da Vela, de Oswald de Andrade (1890 - 1954), com direção de Irene Brietzke. Segundo Cláudio Heemann, o melhor espetáculo do ano de 1982, sobretudo pelo brilhantismo do elenco, "a começar por Araci Esteves (seu melhor papel?)".2
Notas
1. HEEMANN, Cláudio. Doze anos na primeira fila. Críticas de teatro selecionadas pelo autor. Porto Alegre: Alcance, 2006, p. 145.
2. Op. cit., p. 111.
Espetáculos 38
Fontes de pesquisa 3
- GUIMARAENS, Rafael. Teatro de Arena: palco de resistência. Porto Alegre: Libretos, 2007.
- HEEMANN, Cláudio. Doze anos na primeira fila. Críticas de teatro selecionadas pelo autor. Porto Alegre: Alcance, 2006.
- Rio Grande do Sul. Secretaria de Educação e Cultura. Subsecretaria de Cultura. Instituto Estadual do Livro. Carlos José Gomes de Carvalho. Porto Alegre, IEL, 1986. Autores gaúchos/IEL, 12.
Como citar
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ARACI Esteves.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa510809/araci-esteves. Acesso em: 05 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7