Paulo Thiago
Texto
Paulo Thiago Ferreira Paes de Oliveira (Aimorés, Minas Gerais, 1945 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2021). Cineasta, documentarista, roteirista, produtor. Diretor de longas-metragens ficcionais e documentais reconhecidos, tem uma carreira marcada por adaptações de obras literárias nacionais. Em sua longa trajetória no audiovisual também produz diversos filmes e tem atuação como presidente da Associação Brasileira de Cineastas (Abraci).
Ainda na infância muda-se para o Rio de Janeiro, onde posteriormente cursa Economia e Sociologia Política na Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio). No entanto, desde sua juventude desenvolve paixão pela literatura nacional e pelo cinema, frequentando sessões na cinemateca do Museu de Arte Moderna (MAM) e nos cinemas cariocas tradicionais.
Nos anos 1960, ainda na universidade, realiza seus primeiros filmes em formato de curta-metragens. Entre eles, destaca-se seu primeiro documentário, A Criação Literária de João Guimarães Rosa (1969), que já revela seu interesse pelo diálogo entre produção cinematográfica e o universo da literatura brasileira.
No ano seguinte, produz seu primeiro longa-metragem Os Senhores da Terra (1970), uma ficção rodada na sua cidade natal e com forte influência da estética do Cinema Novo e da literatura de cordel. Retratando a realidade do coronelismo na região como analogia ao contexto da ditadura militar no país, o filme recebe o prêmio da crítica internacional em festival na antiga Tchecoslováquia e tem circulação em importantes festivais internacionais, marcando o sucesso do cineasta iniciante.
Seu longa seguinte, Sagarana, o Duelo (1973), é baseado no quarto conto de Sagarana (1946), obra de Guimarães Rosa (1908-1967), sendo o representante brasileiro no Festival de Berlim de 1974 e eleito como um dos filmes do ano pelo Jornal do Brasil. Nota-se o diálogo com a estética dos faroestes hollywoodianos e uma experimentação narrativa que busca transpor a escrita criativa de Guimarães para a linguagem cinematográfica, incorporando os neologismos nas falas e os “tipos” dos personagens rosianos.
Deslocando-se do universo rural mineiro de suas primeiras realizações, dirige Soledade - A bagaceira (1976), uma adaptação da obra de José Américo de Almeida (1887-1980) ambientada no universo dos engenhos canavieiros na Paraíba; e A Batalha dos Guararapes (1978), superprodução com milhares de figurantes para encenar a batalha histórica durante a ocupação holandesa em Pernambuco. Este último alcança a marca de 1,5 milhão de espectadores no país e tem a presença do ator José Wilker (1946-2014) como protagonista.
Em 1981, funda sua própria produtora audiovisual e passa a atuar como produtor de filmes de outros realizadores parceiros, como no caso de Engraçadinha (1981), de Haroldo Marinho Barbosa (1944-2013) e O Bom Burguês (1983), de Oswaldo Caldeira (1943).
Retorna à direção com Águia na Cabeça (1983), um dos seus maiores sucessos em que busca experimentar outras linguagens com a proposta de um thriller urbano carioca com influências do Cinema Noir¹. Na mesma época, preside a Associação Brasileira de Cineastas (Abraci), entre 1985 e 1987, organização com a qual colabora desde sua fundação com o objetivo de fortalecer o cinema brasileiro e defender os direitos autorais dos realizadores.
Na década de 1990, realiza seus filmes de maior destaque: Jorge, um Brasileiro (1989), adaptação da obra de Oswaldo França Jr. (1936-1989); Vagas para moças de fino trato (1993), baseada na peça homônima de Alcione Araújo (1945-2012); e Policarpo Quaresma - Herói do Brasil (1998), adaptação da obra-prima de Lima Barreto (1881-1922) com uma elogiada atuação de Paulo José (1937-2021) e levando o prêmio de direção Festival Latino-Americano de Trieste, na Itália.
Já no início dos anos 2000, Paulo Thiago dedica-se à obra de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) com dois longa-metragens. Em Poeta de Sete Faces (2001) experimenta a criação de um “documentário poético”, como sugere a pesquisadora Tamiris Batista Leite, dividido em três partes que correspondem às distintas fases da produção do autor mineiro e incorporando sua poesia nas escolhas de montagem e desenvolvimento narrativo do filme. Em seguida, dirige O Vestido (2003) que tem sua história inspirada pelo poema “Caso do Vestido”, publicado em 1945 por Drummond.
Volta ao documentário com Coisa mais linda: história e casos da Bossa Nova (2005), que tem os compositores e musicistas Roberto Menescal (1937) e Carlos Lyra (1939) como protagonistas para contar a história do fenômeno da Bossa Nova em um tom intimista de conversa sobre os acontecimentos e processos de criação do grupo, além de entrevistas com grandes nomes do movimento. Curiosamente, o próprio Paulo Thiago acompanhou o início da Bossa Nova em sua adolescência, sendo aluno de violão de Menescal e conhecendo vários de seus membros participantes.
Na fase final de sua carreira, mais uma vez adapta uma obra literária na comédia Doidas e Santas (2017), baseada no best-seller homônimo de Martha Medeiros (1961). Já em seu último filme, A Última Chance (2019), inspira-se na vida do consagrado lutador de MMA Fábio Leão, que também foi tema do seu documentário Fábio Leão - entre o crime e o ringue (2013), realizado alguns anos antes.
Com uma trajetória de cinco décadas de atuação entre a direção de longas e curta-metragens e a produção de diversos filmes de outros realizadores, Paulo Thiago tem expressiva atuação no cinema. É reconhecido por sua versatilidade ao adotar linguagens distintas em cada uma de suas obras, além de sua íntima relação com a literatura brasileira que se materializa tanto nas adaptações como na homenagem a autores em seus filmes.
NOTAS:
1 - Cinema Noir é um estilo cinematográfico marcado por filmes do gênero policial produzidos, principalmente, entre os anos 1940 e 1960 nos Estados Unidos. O estilo é caracterizado por histórias ambientadas em “submundos” urbanos, com personagens de caráter dúbio e a utilização de uma iluminação fortemente contrastada com sombras e gradientes de cinza construindo uma atmosfera de suspense.
Fontes de pesquisa 7
- CABRAL, Danilo Cezar. O que é um filme noir?. Superinteressante. Mundo Estranho. 14 fev. 2020. Disponível em: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-e-um-filme-noir/. Acesso em 26 out. 2022
- CINEMATECA Brasileira - Filmografia: base de dados. Disponível em: http://bases.cinemateca.gov.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=FILMOGRAFIA&lang=p. Acesso em 20 out. 2022.
- FOLHA ONLINE. Filme brasileiro "Policarpo Quaresma", de 98, é lançado em Paris. Folha de São Paulo. Ilustrada. 27 nov. 2002. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u29038.shtml. Acesso em 20 out. 2022
- LEITE, Tamiris Batista. Guimarães Rosa à luz de uma transposição cinematográfica. Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade Estadual Paulista, São José do Rio Preto, p.191, 2011. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/99109/leite_tb_me_sjrp.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em 20 out. 2022
- MUSEU da TV, Rádio e Cinema. Biografias. Paulo Thiago. Disponível em: https://www.museudatv.com.br/biografia/paulo-thiago/. Acesso em 20 out. 2022.
- Morre, aos 75 anos, o cineasta Paulo Thiago. G1 Rio, Rio de Janeiro, 05 jun. 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/06/05/morre-no-rio-o-cineasta-paulo-thiago.ghtml. Acesso em: 07 jun. 2021.
- ORMOND, Andrea. 'Doidas e Santas' se retroalimenta das produções 'para mulheres'. Folha de São Paulo. Ilustrada. 24 ago. 2017. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/08/1912320-doidas-e-santas-se-retroalimenta-das-producoes-para-mulheres.shtml. Acesso em 25 out. 2022.
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PAULO Thiago.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa460070/paulo-thiago. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7