Glauco De Divitiis
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Glauco De Divitiis (São Paulo, São Paulo, 1927 - idem, 2021). Ator, diretor. Intérprete de teatro, participa de montagens de autores clássicos e modernos. Colabora com diversos grupos de teatro no interior paulista dirigindo e atuando por ocasião dos festivais estaduais de teatro amador.
Manifesta seu interesse pelo teatro em 1947 ao ingressar no curso ministrado por Maria Lourdes Costa no Instituto Cultural Brasil-URSS. Junto com colegas do curso, como Paulo Autran (1922-2007) e Madalena Nicol (1919-1996), forma o grupo Os Artistas Amadores em 1948, que estreia com a peça Esquina Perigosa (1948) de J. B. Priestley, dirigida por Nicol. As atividades teatrais são realizadas durante a formação em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e o início de carreira como delegado da Polícia Civil do Estado de São Paulo.
Participa ativamente de diferentes coletivos que traziam noções modernas do teatro no século XX, como o Grupo de Teatro Experimental (GTE), de Alfredo Mesquita (1907-1986), e o Grupo Universitário de Teatro (GUT), de Décio de Almeida Prado (1917-2000). Entre 1948 e 1950, atua em numerosos espetáculos. Pela interpretação em O Baile dos Ladrões (1948), dirigido por Almeida Prado, recebe suas primeiras críticas que reconhecem sua qualidade expressiva.
Atua como profissional no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) já em 1948, ano de fundação do grupo. A vivência no TBC põe Divitiis em contato com as poéticas dos encenadores europeus que trazem as noções do teatro em voga em países como Itália, além de propor métodos de composição de personagens com as ideias do diretor e teórico russo Constantin Stanislavski (1863-1938). São destaques suas performances em peças como A Importância de Ser Prudente, de Oscar Wilde (1854-1900), Do Mundo Nada Se Leva (1950) e O Anjo de Pedra (1950), todas com direção de Luciano Salce (1922-1989).
Dirigido por de Ruggero Jacobbi (1920-1981), atua em A Ronda dos Malandros (1950) de John Gay (1685-1732). A interpretação repercurte de maneira elogiosa entre a crítica que destaca seu jogo fisionômico e o uso da voz caricata. Seu último trabalho no TBC é em O Homem da Flor na Boca, texto do dramaturgo italiano Luigi Pirandello (1867-1936) com direção do polonês Zbigniew Ziembinski (1908-1978). Abandona o teatro em seguida pelo desgaste gerado pela jornada de trabalho burocrática conflitante com a carreira artística, além de desentendimentos do artista com a direção administrativa do grupo.
Retorna ao teatro em 1960, se reunindo com outros dissidentes do TBC na companhia Teatro Cacilda Becker a convite da artista. A primeira peça que encena em sua curta temporada na companhia, Morte e Vida Severina, dirigida por Clemente Portella, não gera bom retorno de público, mas sua performance é destaque para a crítica. No ano seguinte integra o elenco de outras duas obras: Raízes, dirigida por Antônio Abujamra (1932– 2015), e Rinocerontes, sob direção de Walmor Chagas (1930-2013).
Encerra sua carreira profissional no teatro em 1962 e passa a se dedicar ao trabalho de delegado no interior do estado de São Paulo. Volta ao teatro amador no final da década de 1960, ganhando reconhecimento regional no IV Festival de Teatro Amador do Estado de São Paulo (1966), em Ribeirão Preto, onde recebe os prêmios de primeiro lugar de direção, cenografia e iluminação, além de melhor peça e menção honrosa de atuação na encenação de Oração para uma Negra de William Faulkner (1896-1962). Outro destaque no teatro amador paulista foi George Dandin, de Molière (1622-1673), que Glauco traduz, adapta e dirige, ganhando o prêmio de melhor diretor no VI Festival de Teatro Amador do Estado de São Paulo.
Explora o teatro de forma acadêmica em 1982, obtendo título de Mestre pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP). Com a dissertação Os Limites Educacionais do Teatro, reflete sobre as relações existentes entre a atividade educativa e a atividade dramática. Define o que chama de “teatro verdadeiro”, em oposição ao teatro desligado de sua função subversiva.
Glauco transita pelo palco de maneira acadêmica e artística, profissional e amadora. Sua carreira é marcada pela comunhão com o teatro amador universitário, alimentando a expressão cultural juvenil paulista. Enquanto ator, firma-se pela técnica de expressão corporal, não ficando dependente da palavra para sustentar a ação.
Espetáculos 14
Fontes de pesquisa 20
- A ESTREIA de “O Baile dos ladrões”. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 6 nov. 1948. Palcos e Circos, p. 4. Disponível em: https://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/19481106-22538-nac-0004-999-4-not/busca/glauco. Acesso em: 11 out. 2022.
- A IMPORTÂNCIA de ser prudente. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 7 jul. 1950. Palcos e Circos, p. 6. Disponível em: https://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/19500707-23052-nac-0006-999-6-not/busca/IMPORT%C3%82NCIA+SER+PRUDENTE. Acesso em: 11 out. 2022.
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- DIVITIIS, Glauco De. Crítica do festival teatral “Festa do Clima”. Jornal São Carlos, São Carlos, 1967.
- DIVITIIS, Glauco De. O Homem do Teatro. Jornal São Carlos, São Carlos, 1967.
- DIVITIIS, Glauco. Os limites educacionais do teatro. 1982. [132 f.]. Dissertação (Mestrado em Filosofia da Educação) – Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1982.
- DO MUNDO nada se leva. São Paulo: Teatro Brasileiro de Comédia, 1950. 1 programa do espetáculo realizado em 18 out. 1950.
- ESQUINA perigosa. São Paulo: Os Artistas Amadores, 1948. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro Municipal em 16 dez. 1948.
- LEITE, M. L. M. 50 anos do Grupo Universitário de Teatro. Revista USP, [S.l.], n. 18, p. 170-175, 1993. DOI: 10.11606/issn.2316-9036.v0i18p170-175. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/26013. Acesso em: 11 out. 2022.
- LICIA, Nydia (Org.). Teatro Brasileiro de Comédia: eu vivi o TBC. São Paulo: Imprensa Oficial, 2007. (Coleção Aplauso Teatro Brasil).
- MORTE e Vida Severina. São Paulo: Teatro Cacilda Becker, 1960. 1 programa do espetáculo realizado em 3 nov. 1960.
- O ANJO de pedra. São Paulo: Teatro Brasileiro de Comédia, 1950. 1 programa do espetáculo realizado em 16 ago. 1950.
- O BAILE dos ladrões. São Paulo: Grupo Universitário de Teatro, 1948. 1 programa do espetáculo realizado em 4 nov. 1948.
- OS FILHOS de Eduardo. São Paulo: Teatro Brasileiro de Comédia, 1950. 1 programa do espetáculo realizado em 14 mar. 1950.
- RAÍZES. São Paulo: Teatro Cacilda Becker, 1961. 1 programa do espetáculo realizado em 29 maio 1961.
- RINOCERONTES. São Paulo: Teatro Cacilda Becker, 1961. 1 programa do espetáculo realizado em 1 dez. 1961.
- RONDA dos malandros. São Paulo: Teatro Brasileiro de Comédia, 1950. 1 programa do espetáculo realizado em 17 mai. 1950.
- SHAH, Cristina Figueira. Papel dos Institutos Culturais Brasil-URSS na Expansão Cultural Soviética no Brasil. Revista X, [S.l.], v. 15, n. 6, p. 735-753, 2020. ISSN 1980-0614. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/revistax/article/view/76873/42239. Acesso em: 11 out. 2022.
- SORIA, Júlian de Divitiis. Envio de materiais do artista Glauco De Divitiis [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por enciclopedia@itaucultural.org.br em 22 set. 2022.
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GLAUCO De Divitiis.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa399493/glauco-de-divitiis. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7