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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Mirna Spritzer

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
1957 Brasil / Rio Grande do Sul / Porto Alegre
Mirna Spritzer (Porto Alegre RS 1957). Atriz, professora e pesquisadora. Sua experiência profissional vincula-se à trajetória do Teatro Vivo, grupo do qual participa como sócia efetiva. Parte importante da formação como atriz é adquirida no processo colaborativo desenvolvido no teatro de grupo. Como característica do seu trabalho de atuação dest...

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Biografia
Mirna Spritzer (Porto Alegre RS 1957). Atriz, professora e pesquisadora. Sua experiência profissional vincula-se à trajetória do Teatro Vivo, grupo do qual participa como sócia efetiva. Parte importante da formação como atriz é adquirida no processo colaborativo desenvolvido no teatro de grupo. Como característica do seu trabalho de atuação destaca-se a desenvoltura com que interpreta personagens de diferentes gêneros, em especial os do teatro de Bertolt Brecht.

Em 1976, ingressa no curso de arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Estreia no teatro em 1977, na peça Um Edifício Chamado 200, de Paulo Pontes, pelo Grêmio Dramático Açores, grupo porto-alegrense constituído com o objetivo de incentivar o teatro amador por meio de produções que reúnem pessoas sem experiência teatral e artistas com relativa bagagem, como no caso do diretor da peça, João Pedro Gil, e do ator Odilon Lopez, cuja presença confere peso ao elenco formado por estreantes. No mesmo ano, Mirna começa a estudar no Departamento de Arte Dramática (DAD) da UFRGS, sem se desligar da arquitetura.

A segunda oportunidade como atriz vem logo a seguir, em 1978, quando é convidada a participar da montagem de Ivone e Sua Família, de Tânia Faillace. O diretor da peça, Luciano Alabarse, entrega a personagem-título a quatro atrizes, entre elas, a iniciante Mirna Spritzer. As quatro se alternam para simbolizar diferentes facetas da protagonista: uma mulher em crise, "em busca de sua unidade, de sua de integração social".1

No curso de teatro, Mirna Spritzer experimenta diferentes linhas de trabalho e estabelece relações especialmente marcantes para sua vida profissional, entre elas a parceria com a professora e diretora de teatro Irene Brietzke e com os colegas Denize Barella e Antônio Carlos Brunet, responsáveis, com outros jovens atores, também estudantes do DAD, pela criação do grupo amador Teatro da Terra, em 1978. Numa época em que o teatro local luta para se manter, diante da falta de apoio governamental, do esvaziamento de público e da evasão de muitos dos seus expoentes, que deixam Porto Alegre para tentar carreira em São Paulo ou no Rio de Janeiro, a proposta do grupo é fazer teatro com "os pés fincados no chão",2 preocupado com a realidade local e voltado para a problemática social. O Teatro da Terra inaugura suas atividades em 1978, com a peça O Casamento do Pequeno Burguês, de Bertolt Brecht, dirigida por Irene Brietzke e apresentada no Teatro do DAD. O espetáculo repercute no circuito local e recebe diversos troféus do Prêmio Açorianos de Teatro da Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre, mas o grupo logo se dispersa.

Mirna Spritzer acaba por abandonar o curso de arquitetura e passa a dedicar-se integralmente ao teatro. Ainda no decorrer da graduação, suas atividades na área ampliam-se quando é contratada para lecionar a disciplina de teatro para estudantes de ensino fundamental e médio no Colégio Israelita Brasileiro e no Colégio Americano.

Em 1979, associa-se ao grupo Teatro Vivo, recém-constituído por Irene Brietzke, Denise Barella e Antônio Carlos Brunet, para a montagem do espetáculo Frankie, Frankie, Frankenstein, adaptado do clássico de Mary Shelley, com direção de Irene Brietzke. "Nosso Frankenstein é a tentativa de colocar em cena muitas semelhanças que encontramos numa antiga história 'dita' de terror com a nossa realidade ou com o sistema que a gente vive. O que queremos dizer é que a violência e o terror não estão apenas num castelo longínquo na Transilvânia".3 O reconhecimento da qualidade estética de Frankie, Frankie, Frankenstein rende ao Teatro Vivo o convite do Serviço Nacional de Teatro (SNT) para integrar o Projeto Mambembão, que inclui apresentações em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde a peça é recebida com entusiasmo pelo público e pela crítica. Na opinião do crítico Macksen Luiz, o espetáculo sustenta-se pelo "elenco que encarna bem os tipos grotescos, com destaque especial para Mirna Spritzer, que como a senhora Frankenstein revela um temperamento cômico e uma movimentação corporal de alto nível".4 Na cerimônia de entrega do Prêmio Açorianos, o Teatro Vivo recebe um troféu especial pelo trabalho de equipe.

Até 1982, ano em que conclui o curso de bacharelado em interpretação teatral pelo DAD, Mirna Spritzer participa de diversos espetáculos do Teatro Vivo, entre eles Salão Grená, em 1980, dirigido por Irene Brietzke, composto por poemas de Bertolt Brecht e música de Kurt Weill, e que requer dos atores especial preparação vocal no "dizer" as canções com a carga emocional exigida pela encenação; Happy End, de Brecht, em 1981, assinado por Irene Brietzke e com direção musical de Celso Loureiro Chaves; e O Rei da Vela, de Oswald de Andrade, dirigido por Irene Brietzke em 1982.

O crescimento profissional de Mirna Spritzer como atriz é concomitante à evolução do trabalho do Teatro Vivo. Ela integra o elenco das produções mais relevantes do grupo, a exemplo de No Natal a Gente Vem Te Buscar, de Naum Alves de Souza, dirigido por Irene Brietzke, em 1983. A montagem apresenta interpretação mais emocional e psicológica em relação ao trabalho do grupo. O crítico Cláudio Heemann comenta: "Mirna Spritzer saiu-se muito bem na figura da solteirona, recebendo uma oportunidade que há muito tempo seus bons desempenhos estavam pedindo".5 Outro reflexo da sua maturidade profissional é a atuação em A Maldição do Vale Negro, em 1986, melodrama folhetinesco escrito por Caio Fernando Abreu e Luiz Arthur Nunes, que é também o diretor do espetáculo. Cláudio Heemann destaca as qualidades da montagem, tais como a orquestração e as escolhas da direção, o cuidado visual nos cenários, figurinos e adereços de Alziro Azevedo, e a habilidade do elenco; quanto ao desempenho de Mirna Spritzer no papel da frágil heroína, ele observa: "Ela parece a típica órfã-na-tempestade dos primeiros anos do cinema mudo. Uma heroína à maneira de Lílian Bish, que ela faz com elaborada composição".6 No rol de suas personagens marcantes, destaca-se, também, a viúva Leocádia Begbick, do espetáculo Mahagonny, outra encenação brechtiana de Irene Brietzke, com direção musical de Cida Moreira, que rende à atriz as duas principais premiações do teatro gaúcho de 1988: o Prêmio Quero-Quero, concedido pelo Sindicato dos Artistas e Técnicos de Espetáculos de Diversões do Rio Grande do Sul (Sated/RS), e o Prêmio Açorianos de Teatro.

Em 1986, assume o cargo de professora do DAD e passa a atuar na formação de atores, diretores e professores de teatro. Seu trabalho na UFRGS ganha novos contornos em 1993, a partir das atividades da pesquisa O Trabalho do Ator Voltado para um Veículo Radiofônico, com a constituição do Núcleo de Peças Radiofônicas de Porto Alegre. O trabalho do núcleo dá origem a diversas publicações e produções, entre elas, o programa semanal de radioteatro da Rádio da UFRGS, de 1998 a 2007, e peças teatrais, tais como Programa de Família e A Família Sujo, ambas em 2002, realizadas com o grupo musical Cuidado que Mancha, que possibilitam a ela exercitar-se na função de diretora.

Uma publicação sobre a trajetória de importantes mulheres de teatro em atividade no Brasil reconhece Mirna Spritzer como uma artista múltipla, fascinada pelo exercício da interpretação e que, "embora se dedique a dissecar o que move os atores na invenção do ato de representar, busca preservar um certo mistério em torno de seu próprio processo de criação".7

Notas
1. Ivone e sua família, que estréia hoje no Arena, a fuga através da fantasia. Folha da Manhã, Porto Alegre, 19 abr. 1978.

2. Teatro da Terra estréia hoje mostrando atualidade de Brecht. Folha da Tarde, Porto Alegre, 18 nov. 1978.

3. Frankenstein chega na próxima sexta-feira, no palco do Câmara. Folha da Tarde, Porto Alegre, 29 set. 1979.

4. LUIZ, Macksen. A doentia alegria de brincar. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 11 jan. 1980. Caderno B, p. 7.

5. HEEMANN, Cláudio. O Teatro Vivo com o cuidado habitual. Zero Hora, Porto Alegre, 14 set. 1983.

6. ________________. "A Maldição...", melodrama divertido. Zero Hora, Porto Alegre, 23 maio 1986.

7. Eixo Sul-Minas. Revista Arte e Conhecimento, Nova Lima: Tema Editorial, n. 1, set. 2008.

Espetáculos 16

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Fontes de pesquisa 8

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  • Eixo Sul-Minas. Revista Arte e Conhecimento, Nova Lima: Tema Editorial, n. 1, set. 2008.
  • Frankenstein chega na próxima sexta-feira, no palco do Câmara. Folha da Tarde, Porto Alegre, 29 set. 1979.
  • HEEMANN, Cláudio. O Teatro Vivo com o cuidado habitual. Zero Hora, Porto Alegre, 14 set. 1983.
  • Ivone e sua família, que estréia hoje no Arena, a fuga através da fantasia. Folha da Manhã, Porto Alegre, 19 abr. 1978.
  • LUIZ, Macksen. A doentia alegria de brincar. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 11 jan. 1980. Caderno B, p. 7.
  • Programa do espetáculo - Teus Desejos em fragmentos - 2006. Não catalogado
  • Teatro da Terra estréia hoje mostrando atualidade de Brecht. Folha da Tarde, Porto Alegre, 18 nov. 1978.
  • ________________. "A Maldição...", melodrama divertido. Zero Hora, Porto Alegre, 23 maio 1986.

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