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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Irene Brietzke

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
07.12.1944 Brasil / Rio Grande do Sul / Porto Alegre
Irene Beatriz de Mattos Brietzke (Porto Alegre RS 1944). Atriz, diretora e professora. Dirige o grupo Teatro Vivo, com o qual pesquisa o teatro brechtiano e o teatro brasileiro contemporâneo.

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Biografia
Irene Beatriz de Mattos Brietzke (Porto Alegre RS 1944). Atriz, diretora e professora. Dirige o grupo Teatro Vivo, com o qual pesquisa o teatro brechtiano e o teatro brasileiro contemporâneo.

Estreia como atriz em 1966, na montagem de Quatro Pessoas Passam enquanto as Lentilhas Cozinham, de Stuart Walker, peça para o público infantil traduzida por Cláudio Heemann, com direção de Ivo Bender e Maria de Lourdes Agnostopoulos. Um ano depois, ingressa no Centro de Arte Dramática da Universidade do Rio Grande do Sul (CAD/URGS) para fazer o curso de teatro. A primeira experiência como atriz na instituição é a participação em Dona Rosita, a Solteira, de Federico García Lorca, em 1967, com direção de Maria Helena Lopes, professora de interpretação. Em 1969, participa de A Ópera dos Três Vinténs, de Bertolt Brecht e Kurt Weill, montagem assinada por Luiz Paulo Vasconcellos, em que Irene Brietzke tem o primeiro contato com o teatro musical e o teatro de Brecht.

No último ano de escola, 1971, interpreta Clitemnestra em Agamenon, de Ésquilo, também dirigida por Luiz Paulo Vasconcellos, e dirige, como trabalho de fim de curso, A Cantora Careca, de Eugène Ionesco. Após graduar-se em letras e direção teatral pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e pós-graduar-se em teatro, em 1973, na Universidade de Denver, nos Estados Unidos, torna-se professora de direção teatral e interpretação do Departamento de Arte Dramática (DAD) do Instituto de Artes da UFRGS, em 1976.

A opção de dedicar-se ao trabalho de direção teatral se dá em 1978, quando cria com alguns alunos do DAD a montagem e a direção de O Casamento do Pequeno Burguês, de Bertolt Brecht. Com essa peça, conquista seu primeiro Troféu Açorianos de melhor direção. Em 1979, funda, ao lado de Denize Barella, o Teatro Vivo e encena, com esse grupo, um roteiro seu, Frankie, Frankie, Frankenstein, inspirado na obra de Mary Shelley, e cumpre com esse trabalho elogiadas temporadas em outros estados brasileiros, na 3ª edição do Projeto Mambembão. Nesse ano, dirige o espetáculo para o público infantil Praça de Retalhos, de Carlos Meceni. Em 1980, dirige Salão Grená, roteiro seu sobre canções de Brecht e Weill, montagem em que também trabalha como atriz. Esse é o primeiro de uma série de espetáculos brechtianos montados pelo grupo. Ao definir o teatro como um jogo ficcional, segundo a diretora, "consideramos que a função do ator é agir como outra pessoa diante do público. Ele se faz passar por outro com a conivência do espectador. É como se o espectador esquecesse que está enganando a si próprio. Talvez melhor fosse dizer que é no teatro que sentimos o prazer da convivência com seres artificialmente construídos. [...] Neste ponto entra a grande contribuição de Brecht para o trabalho do ator: com seu 'efeito de estranhamento' ele levou o ator a indicar, através de uma ruptura de jogo, que a manobra não o engana e que ele pode prestar um depoimento pessoal sobre a personagem ou a situação que está representando".1

A década de 1980 é o período de maior produção como diretora, com montagens de grande sucesso de crítica e público, como afirma o jornalista Décio Presser, em matéria publicada por ocasião do aniversário do grupo: "Em quinze anos, o Teatro Vivo, dirigido por Irene Brietzke, encenou 16 espetáculos, a maioria deles menção obrigatória na história do teatro gaúcho".2 Entre as montagens destacam-se Happy End, de Bertolt Brecht, Kurt Weill e Elisabeth Hauptmann, em 1981; O Rei da Vela, de Oswald de Andrade, em 1982; No Natal a Gente Vem te Buscar, de Naum Alves de Souza, em 1983; uma nova montagem de O Casamento do Pequeno Burguês, em 1984; e A Aurora da Minha Vida, de Naum Alves de Souza, em 1985, em que também atua.

Ao mesmo tempo que é um período particularmente criativo para a diretora, Brietzke constata um retrocesso na produção gaúcha, já que "foi na década de 1980 que o Teatro de Porto Alegre começou a desenvolver um estilo próprio de encenação, imposto por um conjunto de circunstâncias. Este novo estilo pressupõe a criação cênica a partir do quase nada. [...] Os elencos foram em geral se reduzindo. As produções de dez, doze ou quinze atores foram cedendo lugar às de dois, três ou quatro. E menos atores pressupõem menos figurino. No setor de cenografia aparecem também transformações. Fomos deixando de lado os cenários teatrais e assimilando cada vez mais a idéia de ambientação cênica ou a simples utilização de elementos cênicos".3

Após dirigir Parentes entre Parênteses, de Flávio de Souza, em 1986, encena as duas montagens consideradas o ponto alto de sua carreira de diretora: Peer Gynt, de Henrik Ibsen, em 1987, e Mahagonny, de Brecht e Weill, em 1988. Sobre este trabalho, escreve o crítico e jornalista Cláudio Heemann: "Mahagonny talvez seja a metáfora mais contundente usada por Brecht para atacar o capitalismo. E Irene Brietzke conseguiu passar esta mensagem sem maiores sutilezas. Dá uma violenta estocada nos sentimentos burgueses da platéia".4

Em maio de 1990, participa, como convidada especial, do Colóquio sobre Teatro Brasileiro e Alemão, programação paralela ao 27° Festival Internacional de Teatro de Berlim, promovido pela Casa das Culturas do Mundo e pelo Instituto Goethe. Nesse ano, recebe o Prêmio Quero-Quero de melhor atriz por Onde Estão os Meus Óculos?, de Karl Valentin, dirigido por Miriam Amaral. Recebe, em 1992, o Prêmio Sated e o Prêmio Açorianos de melhor atriz por sua atuação em Ana Stein Compra uma Calça e Vai Jantar Comigo, de Thomas Bernhard. Retorna à Alemanha em 1993, para realizar pesquisa no Brecht Archiv, em Berlim, com vistas à encenação de Um Homem É um Homem, que monta em Porto Alegre no ano seguinte, em comemoração dos 15 anos do Teatro Vivo.

Em 1995, participa, como convidada, do Seminário Latino-Americano de Teatro, organizado pelo Ministério da Cultura Mexicano, em Oaxaca, e se apresenta no Teatro San Martín, de Buenos Aires, com a peça New York, New York, de Marlene Streeruwitz. Dirige os espetáculos para público infantil O Menino Maluquinho, de Ziraldo, em 1995; e Biba, Dudu, Molenga e Chorona, texto seu, em 1996.

É curadora do Festival Porto Alegre Em Cena, em 1996 e 1997, e dirige a abertura oficial do Carnaval de Rua de Porto Alegre, em 1998, com uma escola de samba com 2 mil integrantes, formada por artistas, personalidades da cidade e carnavalescos. Ainda em 1998, dirige o espetáculo que encerra a série de montagens brechtianas, Noite Brecht, roteiro de canções de Brecht e Weill, também apresentado na cidade de Montevidéu, no ano seguinte.

Em 2000, dirige Trem-Bala, de Martha Medeiros, e, a convite do governo do Rio Grande do Sul, dirige o espetáculo Rio Grande do Sul em Música e Dança, um grande mosaico especialmente montado para sete apresentações na Expo 2000, em Hannover, na Alemanha. Encerra sua carreira de diretora em 2002, com Almas Gêmeas, de Martha Medeiros, e passa a dedicar-se ao cinema e à televisão. Irene Brietzke atua em filmes como O Homem que Copiava, em 2002, e Saneamento Básico - o Filme, em 2006, ambos de Jorge Furtado; e em séries de TV como Fantasias de uma Dona de Casa - 1ª e 2ª temporadas, dirigidas por Ana Azevedo, em 2008 e 2009.

Irene Brietzke é uma das mais destacadas diretoras da cena gaúcha. Entre os prêmios mais importantes que recebe estão o Qorpo Santo, em 1990, entregue em sessão solene da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, por sua contribuição à história cultural da cidade; o Na-Amat, em 1991, da organização internacional As Pioneiras; o Ieacen, em 1998, por seu relevante empenho no desenvolvimento do teatro no Estado do Rio Grande do Sul; e o Prêmio Joaquim Felizardo, em 2009, da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Além desses, recebe 22 prêmios individuais e nove coletivos por seus trabalhos em teatro.

Sua relevância sobre a produção teatral gaúcha nas décadas finais do século XX pode ser sintetizada pela forma como a encenadora trouxe à tona o teatro de Brecht, mesmo quando as encenações não têm como base os textos do dramaturgo alemão. Para o pesquisador Humberto Vieira, "Brietzke afirma ser uma diretora brechtiana, seja pelo seu gosto pelo efeito, pelo impacto provocado racionalmente sobre a platéia, seja por sua paixão pela música e pelo uso cênico dado a ela, mas principalmente porque dentro do que ela considera o cerne do trabalho de Brecht, e que suas declarações e posições demonstram, ela sempre lhe foi fiel, pois para Brietzke, ser fiel é 'não traí-lo no cerne, no miolo, no centro da ferida' ".5

Notas
1. SPRITZER, Mirna. A formação do ator: um diálogo de ações. Porto Alegre: Editora Mediação, 2003. p. 7.

2. PRESSER, Décio. Grupo afirma o teatro há 15 anos. Correio do Povo, Porto Alegre, 2 fev. 1994.

3. BRIETZKE, Irene. A estética da miséria. In: Teatro gaúcho: anos 90. Cadernos Porto & Vírgula, vol. 2. Porto Alegre: Secretaria Municipal de Cultura, 1993.

4. HEEMANN, Cláudio. Metáfora do capitalismo selvagem. Zero Hora, Porto Alegre, 21 maio 1988.

5. VIEIRA, Carlos Humberto Vasconcellos. Fragmentos brietzkianos: estudo da cena nas montagens brechtianas de Irene Brietzke.  Porto Alegre: PPGAC/UFRGS, 2008. (Dissertação de mestrado).  p. 120.

Espetáculos 67

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Fontes de pesquisa 11

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  • ALABARSE, Luciano (org.). Alguns diretores & muita conversa: entrevistas com diretores de teatro que trabalham em Porto Alegre. Porto Alegre: Secretaria Municipal da Cultura, 2000.
  • BADER, Wolfgang (org.). Brecht no Brasil: experiências e influências. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
  • BARBOSA, Luiz Carlos. Homenagem aos pais em Mahagonny. Diário do Sul, Porto Alegre, 13 e 14 de agosto de 1988. Caderno de Cultura, p. 7.
  • BRIETZKE, Irene. A Estética da Miséria. In: Teatro Gaúcho Anos 90 - Cadernos Ponto & Virgula. Porto Alegre: Secretaria Municipal de Cultura, 1993.
  • HEEMANN, Cláudio. Metáfora do capitalismo selvagem. Zero Hora. Porto Alegre, 21 de maio de 1988.
  • HEEMANN, Cláudio. O excelente rei da vela. Zero Hora, Porto Alegre, 18 de maio de 1982. Segundo Caderno. p. 5.
  • HOHLFELDT, Antonio. De volta aos tempos de Valentin. Jornal RS, Porto Alegre, 6 e 7 de outubro de 1990. p. 24.
  • HOHLFELDT, Antônio e VASCONCELLOS, Luiz Paulo. Teatro Gaúcho Contemporâneo. In: Cadernos de Cultura Gaúcha. Porto Alegre: Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, 1976.
  • HOHLFELDT, Antônio. Gynt, a esperança de Ibsen. Diário do Sul, Porto Alegre, 14 e 15 de março de 1987. Caderno de Cultura, p. 14.
  • HOHLFELDT, Antônio. Um importante espetáculo. Correio do Povo, Porto Alegre, 29 de outubro de 1983. Teatro/Crítica.
  • PRIKLADNICKI, Fábio. Irene Brietzke: teatro sem utopias. In: Revista Aplauso, n. 72. Porto Alegre: Via Design, 2006.

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