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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Teatro Vivo

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 24.10.2016
02.02.1979 Brasil / Rio Grande do Sul / Porto Alegre
Um dos mais representativos grupos de teatro de Porto Alegre nos anos 1980 e 1990,  o Teatro Vivo é responsável pela montagem de espetáculos que são referência na história das artes cênicas no Rio Grande do Sul. O grupo tem gosto especial pelo humor e pela música, e também se destaca por pesquisar a fundo a obra de Bertolt Brecht e desenvolver u...

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Histórico
Um dos mais representativos grupos de teatro de Porto Alegre nos anos 1980 e 1990,  o Teatro Vivo é responsável pela montagem de espetáculos que são referência na história das artes cênicas no Rio Grande do Sul. O grupo tem gosto especial pelo humor e pela música, e também se destaca por pesquisar a fundo a obra de Bertolt Brecht e desenvolver uma maneira própria de interpretar os textos do dramaturgo alemão.

Criado por Irene Brietzke e Denize Barella, o Teatro Vivo apresenta sua primeira peça, Praça de Retalhos, de Carlos Meceni, em 1979. Ainda no ano de fundação, monta Frankie, Frankie, Frankenstein, espetáculo mudo livremente inspirado na novela de Mary Shelley, primeiro grande sucesso do grupo, que passa a contar com Mirna Spritzer como sócia efetiva. Essa montagem é escolhida para participar da terceira edição do Projeto Mambembão, promovido pelo Serviço Nacional de Teatro - SNT, que viabiliza temporadas da peça em São Paulo e no Rio de Janeiro, locais onde é muito bem acolhida pelo público e pela crítica. Na época, como poucos grupos conseguem deslocar-se para a Região Sudeste do Brasil, essa participação repercute positivamente entre os membros do Teatro Vivo e os move à continuação do trabalho. Uma de suas particularidades é estruturar-se de forma a garantir remuneração aos integrantes, questão de honra para os produtores e uma novidade para a vida teatral porto-alegrense.

O espetáculo seguinte é Salão Grená, de 1980, um roteiro de canções de Brecht e Kurt Weill, primeiro da citada série de trabalhos com a obra do dramaturgo alemão, que no decorrer da trajetória do grupo são intercalados com espetáculos de outros autores que propõem a mesma inquietação e questionamento próprios do universo brechtiano. A leitura particular do Teatro Vivo da obra de Brecht torna-se a base da estética do grupo, um modo de pensar o teatro e sua inserção transformadora. Esse tratamento compreende, entre outros aspectos, o teatro como espaço para a diversão, em que a música cantada por um ator deve ser trabalhada de forma diferente da que seria feita por um cantor e, sobretudo, que o estranhamento não pressuponha frieza do ator.

Realiza, em 1982, a montagem de O Rei da Vela, outro premiado sucesso. Cláudio Heemann analisa: "Irene Brietzke reduziu o texto original. Fez uma peça de um só ato, concentrando as intenções básicas. Transformou a composição de Oswald num roteiro, esbelto e direto, fiel à própria medula sem falsear o pensamento e as colocações do autor. Na medida certa do simbólico e racional, debochado e assustador, lúdico e penetrante."1 

O Teatro Vivo encena duas peças de Naum Alves de Souza: A Aurora da Minha Vida e No Natal a Gente Vem Te Buscar. Ambos os textos permitem ao grupo um novo olhar sobre seu estilo interpretativo, como afirma Antonio Hohlfeldt: "A produção de No Natal... pelo Teatro Vivo constituía-se num desafio a um dos melhores grupos teatrais da cidade, mas que, ao longo de seis anos de existência, fizera única e exclusivamente comédias. Para quem assistiu ao espetáculo, contudo, fica claro que o desafio foi vencido, e às vezes até mesmo de maneira surpreendente".2 Essas incursões do grupo pelo teatro mais realista de Naum foram também muito bem recebidas pelo público, como reforça a jornalista Evelyn Berg: "Comovente, movente, chorante, amargo, profundo, real são alguns dos adjetivos que se pode usar para definir a encenação gaúcha de No Natal a Gente Vem Te Buscar [...] vale conhecer mais este trabalho bem-sucedido de direção de Irene Brietzke. E vale, sobretudo, assistir a uma das mais fortes criações de personagem dos nossos palcos: a solteirona feita por Mirna Spritzer é definitiva".3

Em 1987, o grupo monta Peer Gynt, de Henrik Ibsen, espetáculo que destoa do clima de ironia e deboche que caracteriza as montagens anteriores, mas que marca a crescente profissionalização de suas encenações, como destaca Hohlfeldt: "Para a carreira da diretora e do próprio grupo, parece-me altamente significativa a tentativa do salto: é a maturidade a que se propõe o Teatro Vivo. Para tanto, deve-se destacar, especialmente, a pesquisa verdadeiramente semiológica que a direção buscou, isto é, a tradução em nível sensorial dos referenciais apresentados pelo texto, e dos quais a imagem da vida como um círculo é o central".4 Uma particularidade do espetáculo é trazer uma mulher no papel de Peer Gynt - Denize Barella em premiada atuação -, estratégia utilizada novamente por Irene Brietzke ao montar Um Homem É um Homem, de Brecht, com atrizes em todos os papéis masculinos da peça, típica ousadia que caracteriza o estilo do Teatro Vivo.

Entre as montagens brechtianas, uma das que mais se destacam é Mahagonny, de 1988, um sonho acalentado pelo Teatro Vivo por muitos anos. Como é comum nas montagens do grupo, na adaptação são incluídas músicas de outras peças de Brecht, e o texto é reduzido até ficar com um terço da duração original. O sucesso da peça é apontado pelo jornalista Luiz Carlos Barbosa: "O espetáculo se desenvolve de forma dinâmica. Em alguns momentos provoca boas gargalhadas, mas há passagens em que predomina o meio riso. No interior de uma cena engraçada se interpõe, por exemplo, uma ou outra sutileza corrosiva, algo que decorre de ambigüidade vocabular e do subtexto que os atores exploram com desenvoltura".5

Em dois momentos de sua trajetória, o Teatro Vivo opta por trabalhar com diretores convidados. Na primeira vez, o grupo é dirigido por Luiz Arthur Nunes em um elogiado melodrama, escrito pelo diretor em parceria com Caio Fernando Abreu, A Maldição do Vale Negro, em 1986, que é a busca de um resgate crítico do gênero por meio de um exercício de metalinguística. Na segunda, em Onde Estão os Meus Óculos?, dirigida por Miriam Amaral, em 1990, uma colagem de esquetes do cômico Karl Valentin, o perspicaz alemão inspirador de Brecht. Irene Brietzke participa da montagem em atuação premiada pelo Quero-Quero e elogiada pela crítica, como mostra Hohlfeldt: "Há quanto tempo não víamos Irene Brietzke em cena? Pois se não bastassem outros méritos da encenação de Onde Estão os Meus Óculos, só este motivo teria justificado a montagem".6

A mistura de teatro de qualidade, pesquisa de linguagem e sucesso comercial garante ao Teatro Vivo uma permanência na história do teatro gaúcho e a conquista de mais de 30 prêmios, locais e nacionais. Ele soube passar para o palco as inquietações do momento político em que se insere, um Brasil que vive sob o signo da ditadura militar, que impõe limites claros ao que podia ser dito ou feito pela sociedade civil. As montagens do grupo são plenas de metáforas e alegorias que visam driblar os censores e propiciar ao público uma válvula de escape, reflexão e divertimento.

Notas

1. HEEMANN, Cláudio. O excelente rei da vela. Zero Hora, Porto Alegre, 18 de maio de 1982. Segundo Caderno. p. 5.

2. HOHLFELDT, Antonio. Um importante espetáculo. Correio do Povo, Porto Alegre, 29 de outubro de 1983. Teatro/Crítica.

3. BERG, Evelyn. Olha que eles vêm te buscar. Zero Hora. Porto Alegre, 23 de outubro de 1983. Segundo Caderno. p. 3.

4. HOHLFELDT, Antonio. Gynt, a esperança de Ibsen. Diário do Sul, Porto Alegre, 14 e 15 de março de 1987. Caderno de Cultura, p. 14.

5. BARBOSA, Luiz Carlos. Homenagem aos pais em Mahagonny. Diário do Sul, Porto Alegre, 13 e 14 de agosto de 1988. Caderno de Cultura, p. 7.

6. HOHLFELDT, Antonio. De volta aos tempos de Valentin. Jornal RS, Porto Alegre, p. 24, 6 e 7 de outubro de 1990.

Espetáculos 25

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Fontes de pesquisa 11

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  • ALABARSE, Luciano(org.). Alguns diretores & muita conversa. Porto Alegre: Secretaria Municipal da Cultura, 2000.
  • BADER, Wolfgang(org.). Brecht no Brasil: experiências e influências. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
  • BARBOSA, Luiz Carlos. Homenagem aos pais em Mahagonny. Diário do Sul, Porto Alegre, 13 e 14 de agosto de 1988. Caderno de Cultura, p. 7.
  • BERG, Evelyn. Olha que eles vêm te buscar. Zero Hora. Porto Alegre, 23 de outubro de 1983. Segundo Caderno. p. 3.
  • BRIETZKE, Irene. A Estética da Miséria. In: Teatro Gaúcho Anos 90 - Cadernos Ponto & Virgula. Porto Alegre: Secretaria Municipal de Cultura, 1993.
  • HEEMANN, Cláudio. O excelente rei da vela. Zero Hora, Porto Alegre, 18 de maio de 1982. Segundo Caderno. p. 5.
  • HOHLFELDT, Antonio. De volta aos tempos de Valentin. Jornal RS, Porto Alegre, p. 24, 6 e 7 de outubro de 1990.
  • HOHLFELDT, Antônio e VASCONCELLOS, Luiz Paulo. Teatro Gaúcho Contemporâneo. In: Cadernos de Cultura Gaúcha. Porto Alegre: Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, 1976.
  • HOHLFELDT, Antônio. Gynt, a esperança de Ibsen. Diário do Sul, Porto Alegre, 14 e 15 de março de 1987. Caderno de Cultura, p. 14.
  • HOHLFELDT, Antônio. Um importante espetáculo. Correio do Povo, Porto Alegre, 29 de outubro de 1983. Teatro/Crítica.
  • PRIKLADNICKI, Fábio. Irene Brietzke: teatro sem utopias. In: Revista Aplauso, n. 72. Porto Alegre: Via Design, 2006.

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