Insley Pacheco

Retrato de jovem não-identificada, 1880
Insley Pacheco
Albúmen e cartão de visita
Texto
Joaquim José Pacheco (Cabeceiras de Basto, Portugal ca. 1830 - Rio de Janeiro RJ 1912). Fotógrafo, pintor, desenhista. No fim da década de 1840, em Fortaleza, aprende daguerreotipia e começa a trabalhar como retratista com o fotógrafo irlandês Frederick Walter (18-- - 18--), responsável pela introdução do invento no Ceará. Pacheco viaja para Nova York provavelmente entre 1849 e 1851, torna-se aprendiz de Mathew Brady (ca. 1823 - 1896) e assistente dos daguerreotipistas H. E. Insley e Jeremias Gurney. De volta ao Brasil, atua em Fortaleza e Sobral, Ceará, e no Recife e, por volta de 1855, transfere-se para o Rio de Janeiro. Nessa cidade, adota o nome Joaquim Insley Pacheco e abre um estúdio no qual oferece daguerreótipos, fotos sobre papel, vidro e marfim, retratos a óleo e fotopintura. Torna-se um dos mais requisitados retratistas da corte imperial. Por volta de 1860, recebe os títulos de Fotógrafo da Casa Imperial e de Cavaleiro da Ordem de Cristo de Portugal. Na mesma época, inaugura os estúdios Pacheco e Irmão Ambrotypistas da Augusta Caza Imperial em Salvador e São Luís. Interessado em pintura de paisagem e, possivelmente, para aprimorar suas fotopinturas, estuda com os artistas François René Moreaux (1807 - 1860), Karl Linde (ca.1830 - 1873) e Arsênio da Silva (1833 - 1883). De 1885 a 1897, seu estúdio na capital do império passa a chamar-se Joaquim Insley Pacheco e Filho. Entre 1859 e 1873, é premiado em diversas Exposições Gerais de Belas Artes da Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, e em mostras no Brasil e no exterior.
Análise
Insley Pacheco é considerado um dos mais importantes e bem-sucedidos fotógrafos que atuam no Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX - imagens com o nome de seus estúdios são comuns nos álbuns de família desse período. É também um profissional muito requisitado pela corte imperial. É procurado, sobretudo, para a realização de retratos e pelo seu trabalho com fotopintura.
Os retratos feitos nos estúdios de Pacheco1 seguem o padrão desenvolvido pelo fotógrafo francês André Adolphe-Eugène Disdéri (1819 - 1889), o criador do carte-de-visite, imagem que na época se torna moda em todo o mundo. As poses representadas nesses cartões se pautam nos modelos consagrados pela pintura renascentista: bustos, rostos em perfil, em diagonal ou imagens de corpo inteiro destacando a indumentária e adereços. Estas últimas mostram o retratado diante de um fundo neutro, rodeado por colunas, balaústres, cadeiras e mesas, ou se apoiando nesses elementos, que servem também para criar um ambiente de prosperidade. Como conseqüência dessa padronização, as diversas coleções de cartes-de-visite oitocentistas nivelam diferenças culturais e revelam, principalmente, o desejo dos retratados de se ajustarem ao modelo social representado pela burguesia parisiense. Nessas imagens, colonos, aristocratas e comerciantes parecem integrar uma única civilização burguesa em ascensão.
Mesmo que a tecnologia fotográfica, nos anos 1860, já permita exposições relativamente rápidas, persistem poses rígidas como parte da construção de uma imagem de austeridade. Segundo a pesquisadora Maria Inez Turazzi, a pose e seu ritual simbólico são uma exigência de cunho social, mais do que uma imposição técnica.2
No Brasil, o imperador dom Pedro II (1825 - 1891) é um grande incentivador da fotografia. Ele próprio um amador e cliente de diversos estúdios, é também o mais importante colecionador de imagens fotográficas oitocentistas no país. Aos que se destacam nessa área, dom Pedro II concede o título de Fotógrafo da Casa Imperial, o que autoriza o profissional a utilizar as armas imperiais na fachada de seu estabelecimento.
Além de ser contemplado com esse título, Insley Pacheco é premiado em diversas exposições nacionais. Assim como outros fotógrafos, ele faz bom uso publicitário dessas condecorações, o que o auxilia no aumento da clientela, motivo de grandes disputas entre os profissionais.
Logo após o golpe da maioridade, em 1840, a imagem de dom Pedro II aparece em pinturas e gravuras ao lado de emblemas clássicos e de matérias-primas comercializadas pelo país, como café, cana-de-açúcar e frutas tropicais. Quando a fotografia passa a fazer parte do acervo do império, esses retratos ganham austeridade e dom Pedro II começa a ser visto com roupas civis e sempre rodeado de livros, para acentuar seu apreço pelas artes e pelas ciências.
A partir dos anos 1860, o imperador se deixa retratar com vestimentas que o confundem com seus súditos ou com políticos. Numa foto realizada pelo estabelecimento de Pacheco, em torno de 1866, dom Pedro II aparece à vontade, olhando distraidamente para fora do quadro, com as pernas cruzadas e o corpo inclinado, apoiando-se com o cotovelo e o antebraço numa coluna. Pacheco é responsável também por um dos retratos mais significativos do monarca brasileiro. Trata-se de um retrato mostrando-o, aos 58 anos, sentado num estúdio rodeado de plantas nativas.
Nessa época, o Brasil já é visto como uma nação de futuro promissor, e a crença nesse potencial reside, sobretudo, na abundância de suas riquezas naturais. Por isso, o retrato do imperador no cenário tropical, de 1883, corresponde à idéia de um país civilizado e ao mesmo tempo exótico. Além disso, chama a atenção para a importância simbólica que a natureza, nessa época, conquista na iconografia oficial.
Entre os retratos da família imperial produzidos nos estúdios de Pacheco, alguns destoam dos padrões de retratos adotados no período. Um exemplo é a foto da imperatriz dona Teresa Cristina (1822 - 1889) acompanhada das princesas Isabel (1846 - 1921) e Leopoldina (1847 - 1871) e seus netos, realizada por volta de 1868. Nessa imagem, as roupas, o chapéu e a maneira como as mulheres seguram seus filhos pelas mãos mostram uma cena prosaica que em nada lembra o ritual e a imponência que se esperaria de um retrato de nobres.
Notas
1. É importante destacar que os estúdios fotográficos do século XIX muitas vezes empregavam diversos assistentes e que, embora as fotografias levassem a inscrição do nome do fotógrafo ou da empresa que as produziu, nem sempre é possível aferir a autoria das imagens.
2. TURAZZI, Maria Inez. Poses e Trejeitos: a fotografia e as exposições na era do espetáculo - 1839/1889. Rio de Janeiro: Rocco, 1995. p. 16.
Obras 19
Exposições 41
Fontes de pesquisa 26
- BRAGA, Theodoro. Artistas pintores no Brasil. São Paulo: São Paulo Editora, 1942.
- CHIARELLI, Tadeu. Para ter algum merecimento: Victor Meirelles e a fotografia. Boletim n. 01, ano 2, São Paulo: Grupo de Estudos do Centro de Pesquisa em Arte e Fotografia da ECA/USP, 2006.
- DICIONÁRIO brasileiro de artistas plásticos. Organização Carlos Cavalcanti e Walmir Ayala. Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1973-1980. 4v. (Dicionários especializados, 5).
- DUQUE, Gonzaga. A Arte brasileira: pintura e esculptura. Rio de Janeiro: H. Lombaerts & C., 1888. 254 p.
- DUQUE, Gonzaga. Contemporâneos: pintores e esculptores. Rio de Janeiro: Tipografia Benedicto de Souza, 1929.
- FERREZ, Gilberto. A fotografia no Brasil: 1840- 1900. Prefácio Pedro Karp Vasquez. 2. ed. Rio de Janeiro: Funarte, 1985. 248 p. (História da fotografia no Brasil, 1).
- FERREZ, Gilberto; NAEF, Weston J. Pioneer photographers of Brazil: 1840 - 1920. New York: The Center for Inter-American Relations, 1976.
- FREIRE, Laudelino. A arte da pintura no Brasil. Revista do Instituto Histórico e Geographico Brasileiro, Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, p. 777-811, 1917. Número especial.
- FREIRE, Laudelino. Um século de pintura: apontamentos para a história da pintura no Brasil de 1816-1916. Rio de Janeiro: Fontana, 1983.
- FREYRE, Gilberto; PONCE DE LEON, Fernando; VASQUEZ, Pedro Karp. O retrato brasileiro: fotografias da Coleção Francisco Rodrigues, 1840-1920. Rio de Janeiro: Funarte. Fundação Joaquim Nabuco, 1983.
- GESUALDO, Vicente, Historia de la fotografía en América. Desde Alaska hasta Tierra del Fuego en el siglo XIX. Buenos Aires: Editorial Sui Generis, 1990.
- GUIMARÃES, Argeu. História da artes plásticas no Brasil. Revista do Instituto Histórico e Geographico Brasileiro, Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, p. 403-497, 1930. Número especial.
- KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.
- KOSSOY, Boris. Origens e expansão da fotografia no Brasil: século XIX. Prefácio Boris Kossoy. Rio de Janeiro: Funarte, 1980. 128 p.
- LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
- MARÇAL, Joaquim (org.). A coleção do imperador: fotografia brasileira e estrangeira no século XIX. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 1997. 71 p.
- MEIRELLES, Victor. Relatório da II Exposição Nacional de 1866. Boletim n. 01, ano 2. São Paulo: Grupo de Estudos do Centro de Pesquisa em Arte e Fotografia da ECA/USP, 2006.
- MORAES FILHO, Mello. Artistas do meu tempo: seguidos de um estudo sobre Laurindo Rebello. Rio de Janeiro: H. Garnier - Livreiro-Editor, 1904. Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, São Paulo, [s.d.]. Disponível em: https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/4149. Acesso em: 24 out. 2021.
- MOURA, Carlos Eugênio Marcondes de; LEMOS, Carlos A. C. ; AMARAL, Aracy A; BERNARDET, Jean-Claude (orgs.). Retratos quase inocentes. São Paulo: Nobel, 1983.
- RETRATOS modernos. Tradução Carlos Luís Brown Scavarda. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2005. 240 p., il. p&b.
- RUBENS, Carlos. Pequena história das artes plásticas no Brasil. São Paulo: Editora Nacional, 1941. (Brasiliana. Série 5ª: biblioteca pedagógica brasileira, 198).
- TURAZZI, Maria Inez. Poses e trejeitos: a fotografia e as exposições na era do espetáculo: 1839/1889. Rio de Janeiro: Funarte. Rocco, 1995. 309 p. (Coleção Luz & Reflexão, 4).
- VASQUEZ, Pedro Karp. A fotografia no Império. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002. 72 p., il. p&b.
- VASQUEZ, Pedro Karp. Dom Pedro II e a fotografia no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho: Companhia Internacional de Seguros: Ed. Index, 1985.
- VASQUEZ, Pedro Karp. Mestres da fotografia no Brasil: Coleção Gilberto Ferrez. Tradução Bill Gallagher. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 1995.
- ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
INSLEY Pacheco.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa21635/insley-pacheco. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7