Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Insley Pacheco

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 24.10.2021
1830 Portugal
1912 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro

Retrato de jovem não-identificada, 1880
Insley Pacheco
Albúmen e cartão de visita

Joaquim José Pacheco (Cabeceiras de Basto, Portugal ca. 1830 - Rio de Janeiro RJ 1912). Fotógrafo, pintor, desenhista. No fim da década de 1840, em Fortaleza, aprende daguerreotipia e começa a trabalhar como retratista com o fotógrafo irlandês Frederick Walter (18-- - 18--), responsável pela introdução do invento no Ceará. Pacheco viaja para Nov...

Texto

Abrir módulo

Joaquim José Pacheco (Cabeceiras de Basto, Portugal ca. 1830 - Rio de Janeiro RJ 1912). Fotógrafo, pintor, desenhista. No fim da década de 1840, em Fortaleza, aprende daguerreotipia e começa a trabalhar como retratista com o fotógrafo irlandês Frederick Walter (18-- - 18--), responsável pela introdução do invento no Ceará. Pacheco viaja para Nova York provavelmente entre 1849 e 1851, torna-se aprendiz de Mathew Brady (ca. 1823 - 1896) e assistente dos daguerreotipistas H. E. Insley e Jeremias Gurney. De volta ao Brasil, atua em Fortaleza e Sobral, Ceará, e no Recife e, por volta de 1855, transfere-se para o Rio de Janeiro. Nessa cidade, adota o nome Joaquim Insley Pacheco e abre um estúdio no qual oferece daguerreótipos, fotos sobre papel, vidro e marfim, retratos a óleo e fotopintura. Torna-se um dos mais requisitados retratistas da corte imperial. Por volta de 1860, recebe os títulos de Fotógrafo da Casa Imperial e de Cavaleiro da Ordem de Cristo de Portugal. Na mesma época, inaugura os estúdios Pacheco e Irmão Ambrotypistas da Augusta Caza Imperial em Salvador e São Luís. Interessado em pintura de paisagem e, possivelmente, para aprimorar suas fotopinturas, estuda com os artistas François René Moreaux (1807 - 1860), Karl Linde (ca.1830 - 1873) e Arsênio da Silva (1833 - 1883). De 1885 a 1897, seu estúdio na capital do império passa a chamar-se Joaquim Insley Pacheco e Filho. Entre 1859 e 1873, é premiado em diversas Exposições Gerais de Belas Artes da Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, e em mostras no Brasil e no exterior.

Análise

Insley Pacheco é considerado um dos mais importantes e bem-sucedidos fotógrafos que atuam no Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX - imagens com o nome de seus estúdios são comuns nos álbuns de família desse período. É também um profissional muito requisitado pela corte imperial. É procurado, sobretudo, para a realização de retratos e pelo seu trabalho com fotopintura.

Os retratos feitos nos estúdios de Pacheco1 seguem o padrão desenvolvido pelo fotógrafo francês André Adolphe-Eugène Disdéri (1819 - 1889), o criador do carte-de-visite, imagem que na época se torna moda em todo o mundo. As poses representadas nesses cartões se pautam nos modelos consagrados pela pintura renascentista: bustos, rostos em perfil, em diagonal ou imagens de corpo inteiro destacando a indumentária e adereços. Estas últimas mostram o retratado diante de um fundo neutro, rodeado por colunas, balaústres, cadeiras e mesas, ou se apoiando nesses elementos, que servem também para criar um ambiente de prosperidade. Como conseqüência dessa padronização, as diversas coleções de cartes-de-visite oitocentistas nivelam diferenças culturais e revelam, principalmente, o desejo dos retratados de se ajustarem ao modelo social representado pela burguesia parisiense. Nessas imagens, colonos, aristocratas e comerciantes parecem integrar uma única civilização burguesa em ascensão.

Mesmo que a tecnologia fotográfica, nos anos 1860, já permita exposições relativamente rápidas, persistem poses rígidas como parte da construção de uma imagem de austeridade. Segundo a pesquisadora Maria Inez Turazzi, a pose e seu ritual simbólico são uma exigência de cunho social, mais do que uma imposição técnica.2

No Brasil, o imperador dom Pedro II (1825 - 1891) é um grande incentivador da fotografia. Ele próprio um amador e cliente de diversos estúdios, é também o mais importante colecionador de imagens fotográficas oitocentistas no país. Aos que se destacam nessa área, dom Pedro II concede o título de Fotógrafo da Casa Imperial, o que autoriza o profissional a utilizar as armas imperiais na fachada de seu estabelecimento.

Além de ser contemplado com esse título, Insley Pacheco é premiado em diversas exposições nacionais. Assim como outros fotógrafos, ele faz bom uso publicitário dessas condecorações, o que o auxilia no aumento da clientela, motivo de grandes disputas entre os profissionais.

Logo após o golpe da maioridade, em 1840, a imagem de dom Pedro II aparece em pinturas e gravuras ao lado de emblemas clássicos e de matérias-primas comercializadas pelo país, como café, cana-de-açúcar e frutas tropicais. Quando a fotografia passa a fazer parte do acervo do império, esses retratos ganham austeridade e dom Pedro II começa a ser visto com roupas civis e sempre rodeado de livros, para acentuar seu apreço pelas artes e pelas ciências.

A partir dos anos 1860, o imperador se deixa retratar com vestimentas que o confundem com seus súditos ou com políticos. Numa foto realizada pelo estabelecimento de Pacheco, em torno de 1866, dom Pedro II aparece à vontade, olhando distraidamente para fora do quadro, com as pernas cruzadas e o corpo inclinado, apoiando-se com o cotovelo e o antebraço numa coluna. Pacheco é responsável também por um dos retratos mais significativos do monarca brasileiro. Trata-se de um retrato mostrando-o, aos 58 anos, sentado num estúdio rodeado de plantas nativas.

Nessa época, o Brasil já é visto como uma nação de futuro promissor, e a crença nesse potencial reside, sobretudo, na abundância de suas riquezas naturais. Por isso, o retrato do imperador no cenário tropical, de 1883, corresponde à idéia de um país civilizado e ao mesmo tempo exótico. Além disso, chama a atenção para a importância simbólica que a natureza, nessa época, conquista na iconografia oficial.

Entre os retratos da família imperial produzidos nos estúdios de Pacheco, alguns destoam dos padrões de retratos adotados no período. Um exemplo é a foto da imperatriz dona Teresa Cristina (1822 - 1889) acompanhada das princesas Isabel (1846 - 1921) e Leopoldina (1847 - 1871) e seus netos, realizada por volta de 1868. Nessa imagem, as roupas, o chapéu e a maneira como as mulheres seguram seus filhos pelas mãos mostram uma cena prosaica que em nada lembra o ritual e a imponência que se esperaria de um retrato de nobres.

Notas

1. É importante destacar que os estúdios fotográficos do século XIX muitas vezes empregavam diversos assistentes e que, embora as fotografias levassem a inscrição do nome do fotógrafo ou da empresa que as produziu, nem sempre é possível aferir a autoria das imagens.
2. TURAZZI, Maria Inez. Poses e Trejeitos: a fotografia e as exposições na era do espetáculo - 1839/1889. Rio de Janeiro: Rocco, 1995. p. 16.

Obras 19

Abrir módulo

Exposições 41

Abrir módulo

Fontes de pesquisa 26

Abrir módulo
  • BRAGA, Theodoro. Artistas pintores no Brasil. São Paulo: São Paulo Editora, 1942.
  • CHIARELLI, Tadeu. Para ter algum merecimento: Victor Meirelles e a fotografia. Boletim n. 01, ano 2, São Paulo: Grupo de Estudos do Centro de Pesquisa em Arte e Fotografia da ECA/USP, 2006.
  • DICIONÁRIO brasileiro de artistas plásticos. Organização Carlos Cavalcanti e Walmir Ayala. Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1973-1980. 4v. (Dicionários especializados, 5).
  • DUQUE, Gonzaga. A Arte brasileira: pintura e esculptura. Rio de Janeiro: H. Lombaerts & C., 1888. 254 p.
  • DUQUE, Gonzaga. Contemporâneos: pintores e esculptores. Rio de Janeiro: Tipografia Benedicto de Souza, 1929.
  • FERREZ, Gilberto. A fotografia no Brasil: 1840- 1900. Prefácio Pedro Karp Vasquez. 2. ed. Rio de Janeiro: Funarte, 1985. 248 p. (História da fotografia no Brasil, 1).
  • FERREZ, Gilberto; NAEF, Weston J. Pioneer photographers of Brazil: 1840 - 1920. New York: The Center for Inter-American Relations, 1976.
  • FREIRE, Laudelino. A arte da pintura no Brasil. Revista do Instituto Histórico e Geographico Brasileiro, Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, p. 777-811, 1917. Número especial.
  • FREIRE, Laudelino. Um século de pintura: apontamentos para a história da pintura no Brasil de 1816-1916. Rio de Janeiro: Fontana, 1983.
  • FREYRE, Gilberto; PONCE DE LEON, Fernando; VASQUEZ, Pedro Karp. O retrato brasileiro: fotografias da Coleção Francisco Rodrigues, 1840-1920. Rio de Janeiro: Funarte. Fundação Joaquim Nabuco, 1983.
  • GESUALDO, Vicente, Historia de la fotografía en América. Desde Alaska hasta Tierra del Fuego en el siglo XIX. Buenos Aires: Editorial Sui Generis, 1990.
  • GUIMARÃES, Argeu. História da artes plásticas no Brasil. Revista do Instituto Histórico e Geographico Brasileiro, Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, p. 403-497, 1930. Número especial.
  • KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.
  • KOSSOY, Boris. Origens e expansão da fotografia no Brasil: século XIX. Prefácio Boris Kossoy. Rio de Janeiro: Funarte, 1980. 128 p.
  • LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
  • MARÇAL, Joaquim (org.). A coleção do imperador: fotografia brasileira e estrangeira no século XIX. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 1997. 71 p.
  • MEIRELLES, Victor. Relatório da II Exposição Nacional de 1866. Boletim n. 01, ano 2. São Paulo: Grupo de Estudos do Centro de Pesquisa em Arte e Fotografia da ECA/USP, 2006.
  • MORAES FILHO, Mello. Artistas do meu tempo: seguidos de um estudo sobre Laurindo Rebello. Rio de Janeiro: H. Garnier - Livreiro-Editor, 1904. Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, São Paulo, [s.d.]. Disponível em: https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/4149. Acesso em: 24 out. 2021.
  • MOURA, Carlos Eugênio Marcondes de; LEMOS, Carlos A. C. ; AMARAL, Aracy A; BERNARDET, Jean-Claude (orgs.). Retratos quase inocentes. São Paulo: Nobel, 1983.
  • RETRATOS modernos. Tradução Carlos Luís Brown Scavarda. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2005. 240 p., il. p&b.
  • RUBENS, Carlos. Pequena história das artes plásticas no Brasil. São Paulo: Editora Nacional, 1941. (Brasiliana. Série 5ª: biblioteca pedagógica brasileira, 198).
  • TURAZZI, Maria Inez. Poses e trejeitos: a fotografia e as exposições na era do espetáculo: 1839/1889. Rio de Janeiro: Funarte. Rocco, 1995. 309 p. (Coleção Luz & Reflexão, 4).
  • VASQUEZ, Pedro Karp. A fotografia no Império. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002. 72 p., il. p&b.
  • VASQUEZ, Pedro Karp. Dom Pedro II e a fotografia no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho: Companhia Internacional de Seguros: Ed. Index, 1985.
  • VASQUEZ, Pedro Karp. Mestres da fotografia no Brasil: Coleção Gilberto Ferrez. Tradução Bill Gallagher. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 1995.
  • ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: