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Enciclopédia Itaú Cultural
Cinema

Neville D'Almeida

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 10.05.2024
1941 Brasil / Minas Gerais / Belo Horizonte
Neville Duarte de Almeida (Belo Horizonte, Minas Gerais, 1941). Diretor cinematográfico. A gênese de sua produção cinematográfica é analisada pela historiografia com base na dualidade entre o cinema novo e o cinema marginal. Nessa categorização, o diretor mineiro é identificado com o grupo de cineastas marginais, experimentais ou udigrudis, que ...

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Neville Duarte de Almeida (Belo Horizonte, Minas Gerais, 1941). Diretor cinematográfico. A gênese de sua produção cinematográfica é analisada pela historiografia com base na dualidade entre o cinema novo e o cinema marginal. Nessa categorização, o diretor mineiro é identificado com o grupo de cineastas marginais, experimentais ou udigrudis, que iniciam suas carreiras entre as décadas de 1960 e 1970.

Sua inserção na arte cinematográfica se desenha em Belo Horizonte, quando se torna um cinéfilo que começa a produzir filmes. Na juventude, acompanha a crítica mineira de cinema e frequenta as sessões do Centro de Estudos Cinematográficos de Belo Horizonte, onde inicia sua formação.

Em meados dos anos de 1960, parte para os Estados Unidos para trabalhar como guia turístico e estudar cinema no New York College. Em 1966, dirige seu primeiro curta-metragem, O bem-aventurado, premiado no Festival de Cinema Amador JB-Mesbla. Ainda em Nova York, faz assistência de direção para Nelson Pereira dos Santos (1928-2018), em Fome de amor (1967).

Seu primeiro longa-metragem é Jardim de guerra (1968), com argumento de Jorge Mautner (1941) e fotografia de Dib Lutfi (1936-2016). O filme é interditado pela censura logo após a promulgação do Ato Institucional nº 5 (AI-5) e permanece inédito no Brasil por cerca de cinco anos. Mesmo perseguido pela censura, é apresentado no Festival de Cannes, em 1969, e desperta o interesse de cineastas e críticos internacionais, como Agnès Varda (1928-2019) e Robert Benayoun (1926-1996), que destacam a sua poética ao tratar de tabus sociais, abordando temas delicados para uma sociedade conservadora sob o regime militar – sexo, violência, drogas, feminismo. Segundo o crítico Jairo Ferreira (1945-2003), o filme é político sem falar de política. Seu projeto seguinte, o polêmico Piranhas do asfalto (1970), reforça sua identificação com o chamado cinema marginal.

Devido à perseguição política a seus filmes e à falta de amparo por parte da crítica e do meio cinematográfico, exila-se em Londres. Lá, realiza Mangue bangue (1970) e The night cats (1971), mas novamente enfrenta problemas com a censura local. Em 1973, faz pesquisas sobre o Super-8, produzindo diversos curtas-metragens. No ano seguinte, dirige Na gira de umbanda e inicia os trabalhos para a adaptação do conto de Nelson Rodrigues (1912-1980), “A dama do lotação”.

Em meados da década de 1970, o cinema brasileiro vive um momento de grande euforia, devido à atuação da Embrafilme. Assim como outros cineastas brasileiros, Neville dá uma guinada em suas produções, que então buscam alcançar um público mais amplo. Essa transformação de diretor marginal a diretor de grandes produções desperta curiosidade e expectativa na crítica especializada.

A dama do lotação (1978) é a primeira adaptação das crônicas de A vida como ela é… (1961), de Nelson Rodrigues. Coproduzido pela Embrafilme e com Sônia Braga (1950) como protagonista, o filme circula em 80 cinemas brasileiros, alcançando representativa bilheteria. O filme apresenta qualidade técnica e o apelo erótico é assumido pelo diretor como estratégia para discutir a condição feminina na trama. Isso justifica, em parte, a análise do crítico Jean-Claude Bernardet (1936), que afirma se tratar de uma pornochanchada invertida. Essa interpretação, contudo, não é consenso entre os críticos.

Mais tarde, adapta outra obra do dramaturgo carioca, Os 7 gatinhos (1980). Na obra, o diretor explora temas recorrentes na obra de Rodrigues – sexo, violência, prostituição e morte – com base nas relações de uma família suburbana, moralmente corrompida. Para o crítico Ismail Xavier (1947), as adaptações feitas por Neville e outros cineastas das obras de Nelson Rodrigues, entre os anos de 1978 e 1983, têm o traço comum da busca do público e o erotismo no patamar da vulgarização. O filme é duramente criticado no Festival de Gramado.

Rio Babilônia (1982), uma de suas obras mais polêmicas e também seu último trabalho com financiamento da Embrafilme, é um mosaico da cidade do Rio de Janeiro e das relações tensas entre seus tipos sociais – traficantes, turistas, políticos e prostitutas. O filme motiva vários debates na sociedade, apesar dos cortes feitos pela censura.

Durante os anos do Cinema da Retomada1, realiza um remake de Matou a Família e Foi ao Cinema (originalmente de 1991), de Julio Bressane (1946), cineasta ativo do cinema marginal. Em 1997, dirige Navalha na carne, adaptação da obra de Plínio Marcos (1935-1999). Apesar das expectativas em torno de seu lançamento, o filme não agrada à crítica e tem repercussão de público aquém do esperado.

Ao longo da carreira, em busca de equilíbrio entre qualidade técnica, experimentalismo artístico e comunicação com o público, Neville D’Almeida nem sempre tem êxito. O excessivo apelo sexual, apresentado como questionamento de valores morais, transforma-se em estratégia mercadológica. São várias as polêmicas em torno de sua filmografia, mas todas revelam a força transgressora e criativa do diretor.

Nota
1.
Fala-se de Cinema da Retomada para se referir a produções do cinema brasileiro a partir de 1995, em relação aos filmes que se beneficiam dos recursos e incentivos possibilitados pelo Prêmio Resgate do Cinema Brasileiro e, posteriormente, pela Lei do Audiovisual, instituídos pela Secretaria para o Desenvolvimento do Audiovisual, criada em 1992, no governo do presidente Itamar Franco (1930-2011).

Obras 1

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Exposições 24

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Fontes de pesquisa 10

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  • AUTRAN, Arthur. Os descaminhos do cinema: observação para uma trajetória do cinema marginal. Paupéria: revista de cinema, São Paulo, v. 1, n. 1, ago. 1991. p. 21-3
  • CINEMAIS. Metáfora, censura, política e pornochanchada. Cinemais, Rio de Janeiro, n. 28, mar./abr. 2001. p. 71-90
  • CINEMATECA Brasileira (Org). Coleção de recortes de jornais e revistas sobre Neville D'Almeida, 1976-1978.
  • FILME Cultura. E agora, Neville. Filme Cultura, Rio de Janeiro, n. 54, maio 2011. p. 83-84
  • FILME Cultura. O som, os diretores. Filme Cultura, Rio de Janeiro, v. 14, n. 37, jan./mar. 1981. p. 18-23
  • FREIRE, Rafael de Luna. Navalha na tela: Plínio Marcos e o cinema brasileiro. Rio de Janeiro: Tela Brasilis, 2008.
  • NAGIB, Lúcia. O cinema da retomada: depoimentos de 90 cineastas dos anos 90. São Paulo: Editora 34, 2002.
  • RAMOS, Fernão Pessoa; MIRANDA, Luiz Felipe (Orgs). Enciclopédia do cinema brasileiro. São Paulo: Senac, 2000.
  • RODRIGUES, João Carlos. A dama do lotação: o produto e seu lançamento no mercado. Filme Cultura, Rio de Janeiro, n. 52, out. 2010. p. 43-46
  • XAVIER, Ismail. O olhar e a cena: melodrama, Hollywood, cinema novo, Nelson Rodrigues. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.

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