Renato Magalhães Gouvêa
Texto
Renato Magalhães Gouvêa (São Paulo, São Paulo, 1929). Galerista, marchand, produtor de cinema. Com trânsito privilegiado na sociedade paulistana e no cenário das artes, atua como uma ponte entre os artistas e o mercado de artes eatua como uma ponte entre os artistas e o mercado de artes e transforma o leilão no principal evento do mercado de artes no Brasil.
Ao longo de sua trajetória, Gouvêa se associa a artistas e críticos relevantes da história brasileira, como os italianos Pietro Maria Bardi (1900-1999) e Lina Bo Bardi (1914-1992), Flávio de Carvalho (1899-1973), Anita Malfatti (1889-1964) e Tarsila do Amaral (1886-1973), ao mesmo tempo que auxilia na formação de algumas das principais coleções de arte do Brasil, sendo igualmente próximo de dezenas de grandes colecionadores, como Ricardo Brennand (1927-2020), Olavo Setúbal (1923-2008), Valentim Diniz (1913-2008) e Joseph Safra (1938-2020)
A capacidade de Gouvêa de realizar essa ponte decorre parcialmente de sua origem oligárquica. Neto de Mario Tavares (1874-1958), político e presidente do Partido Republicano Paulista, e descendente de uma tradicional família paulistana. Também é bisneto de José Ezequiel Freire (1850-1891), jornalista e crítico de arte, redator do Correio Paulistano e colaborador de A Província de São Paulo. Com acesso à elite paulistana, se torna a principal ligação entre os colecionadores de arte e os artistas, especialmente no período entre a década de 1960 até o final da década de 1990.
O contato com o universo das artes começa de maneira mais intensa na década de 1950, quando Gouvêa se faz presente nas conversas que o crítico de arte Sergio Milliet (1898-1966) realiza no famoso Paribar, ponto de encontro da intelectualidade paulistana, no centro da cidade.
Em 1957, Gouvêa assume o cargo de administrador-geral da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e inicia um projeto de união desta com o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp). O plano não se concretiza e Gouvêa deixa a FAAP, passando a trabalhar no MASP, juntamente com Pietro Maria Bardi. A partir daí, ambos trabalham juntos na organização e aquisição de obras para o museu, marcando a entrada definitiva de Gouvêa no mercado de artes brasileiro.
Em 1963, ele conhece o cineasta Luiz Sérgio Person (1936-1976) e aceita um convite para produzir o filme São Paulo Sociedade Anônima (1965). O clássico retrata o período desenvolvimentista do final da década de 1950, com a história de um jovem ambicioso de classe média e sua crise de identidade em meio ao cenário paulistano de industrialização e sua estética intensamente urbana. Gouvêa administra o filme de maneira metódica e disciplinada, criando um parâmetro para a gestão e produção dos filmes brasileiros, mantendo os custos dentro do orçamento e agendando com disciplina o calendário de filmagem. Coordena a contratação de técnicos, organiza sessões de assinaturas dos contratos e estabelece pagamentos semanais aos atores e membros da equipe. Profissionaliza o figurino, planejando as cenas, de modo que cada personagem é definido por meio do vestuário. Antecipa a função de relações públicas e assessoria de imprensa, abastecendo os jornalistas com fotos e textos e realizando coletivas e coquetéis nos locais onde cenas eram filmadas. De acordo com professor Ninho Moraes, era uma tentativa de quebrar o padrão de produção do cinema no Brasil, sem planejamento empresarial e baseado no improviso.
Nos anos seguintes, Gouvêa inicia diversas parcerias que conectam os universos da arte, da decoração e do design, como a associação com o designer Sergio Rodrigues (1927-2014), na loja Oca, em uma época em que este já é conhecido mundialmente por criar uma identidade brasileira no design.
Essas experiências servem de preparação para o início de sua carreira como marchand na segunda metade da década de 1960. A partir daí, Gouvêa articula ao máximo sua rede, incluindo dezenas de artistas, galeristas e intelectuais que ele aproxima da elite paulistana. Além dos já citados, relaciona-se com artistas como Hermilio Borba Filho (1917-1976), Osman Lins (1924-1978) e Claudia Andujar (1931).
Além de amigo pessoal dos artistas, transita com a mesma desenvoltura nos privilegiados e restritos círculos sociais que constituem o mercado de arte brasileiro, de galeristas a grandes colecionadores. É relevante mencionar esse trânsito, já que contribui para a consolidação do mercado de arte. Durante as décadas seguintes, é visto pela mídia como um dos homens mais competentes do mercado de arte de São Paulo.
É criador do conceito de “escritório de arte”. Como explica Lúcia Rebouças, Gouvêa “combina o trabalho de advogado ao de marchand e leiloeiro, passando a dar assistência direta aos clientes, assessorando-os não só sobre o que comprar, mas sobre a qualidade da obra a ser comprada, valor de mercado e garantias de compras”1.
Em 1979, organiza seu primeiro leilão, estabelecendo um marco no mercado brasileiro de arte. A entrada de Gouvêa revoluciona o setor e “garante ao mercado interno liquidez nos negócios”, relata a Folha de S. Paulo. Com atividade mais concentrada nas décadas de 1980 e 1990, Gouvêa realiza aproximadamente uma centena de leilões e exposições.
Em quase 50 anos de intensa atividade cultural, Gouvêa se estabelece como uma peça essencial na história do mercado de arte brasileiro. Ele orienta, organiza e influencia o cenário de galerias e leilões, tornando-se nesse período a principal ponte entre colecionadores de arte e os artistas.
Notas
1. REBOUÇAS, Lucia. O “doutor” Renato, pioneiro no mercado de arte do Brasil. Gazeta Mercantil, São Paulo, 25 out. 1996. Caderno Memo, p. 1.
Exposições 2
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21/9/2009 - 29/11/2009
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7/3/2015 - 10/5/2015
Fontes de pesquisa 5
- COM os leilões, o mercado de arte está em alta. Folha de S.Paulo, 5 de maio de 1985. Ilustrada, página 82.
- KRUSE, Olney. Olney Kruse entrevista o Marchand Renato Magalhães Gouveia. Diário do Comércio e Indústria, São Paulo, 18 a 24 mai. 1996. Shopping News, p. 31.
- MORAES, Ninho. Radiografia de um filme: São Paulo Sociedade Anônima, de Luis Sérgio Person. 1. ed. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010. v. 1000. 576p.
- REBOUÇAS, Lucia. O “doutor” Renato, pioneiro no mercado de arte do Brasil. Gazeta Mercantil, São Paulo, 25 out. 1996. Caderno Memo, p. 1 e 3.
- SERGIO RODRIGUES. Site Oficial do Artista. Rio de Janeiro, 2001. Disponível em: http://www.sergiorodrigues.com.br. Acesso em: 30 abr. 2020.
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RENATO Magalhães Gouvêa.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa1643/renato-magalhaes-gouvea. Acesso em: 06 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7