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Enciclopédia Itaú Cultural
Cinema

Luiz Sergio Person

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 23.08.2024
12.02.1936 Brasil / São Paulo / São Paulo
07.01.1976 Brasil / São Paulo / São Paulo
Foto de Autoria desconhecida/Acervo da Família Person

Luiz Sergio Person, 1962
Luiz Sergio Person

Luiz Sergio Person (São Paulo, São Paulo, 1936 – idem, 1976). Diretor de cinema e teatro, roteirista, produtor e ator. Composta de diversas facetas, a obra de Person revela, conforme ele declara1, seu apreço por um cinema que misture a “parte sociológica com a artística”, desde que dentro de uma linguagem que não seja hermética demais nem dispen...

Texto

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Luiz Sergio Person (São Paulo, São Paulo, 1936 – idem, 1976). Diretor de cinema e teatro, roteirista, produtor e ator. Composta de diversas facetas, a obra de Person revela, conforme ele declara1, seu apreço por um cinema que misture a “parte sociológica com a artística”, desde que dentro de uma linguagem que não seja hermética demais nem dispense a acolhida do público.

Em 1951, cursa interpretação no Centro de Estudos Cinematográficos de São Paulo. Ingressa, em 1954, na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), mas não conclui o curso. A partir de 1955, dedica-se ao teatro amador. Em 1956, é acolhido como ator na companhia teatral de Odilon Azevedo (1904-1966), pela qual interpreta as peças Vamos Brincar de Amor (1955) e O Complexo do Champanhe (1956).

Em 1957, atua e dirige teleteatros nas TVs Tupi e Record e dirige no cinema a chanchada Um Marido para Três Mulheres, lançada apenas dez anos depois como Marido Barra Limpa. Esse filme o introduz no acanhado meio cinematográfico paulista da década de 1950. 

A obra de Person é influenciada por seus estudos de cinema na Itália, no Centro Sperimentale di Cinematografia (CSC), a partir de 1961. Lá, dirige o curta-metragem Al Ladro (1962), que ganha o prêmio de qualidade do governo italiano, e atua como assistente de direção no filme Anni Ruggenti (1962), do diretor de cinema italiano Luigi Zampa (1905-1991). Em 1963, realiza o curta L'Ottimista Sorridente em 16 mm, seu trabalho de formatura no CSC. 

Em seus filmes mais aclamados, Person defende o cinema como “prolongamento da vida” e encontra no moderno neorrealismo italiano dos anos 1960 a linguagem apropriada às suas interrogações existenciais, sociais e políticas. 

São Paulo Sociedade Anônima (1965), considerado pela crítica um dos melhores filmes brasileiros de todos os tempos, é quase um retrato autobiográfico que remete ao tempo em que Person, de volta ao Brasil, afasta-se do meio artístico para assumir a diretoria comercial da empresa de sua família. Nessa obra, ele consegue unir observação crítica da realidade, empenho estético e profundidade psicológica na concepção dos personagens. Assim, articula um testemunho racional e emocional sobre os mecanismos que conduzem um membro da classe média brasileira ao conformismo, no contexto do desenvolvimento econômico de São Paulo impulsionado pela indústria automobilística.

Embora o filme seja relacionado ao Cinema Novo, essa aproximação não o agrada, pois o personagem central do filme não é o herói positivo da revolução social que o Cinema Novo preconiza. Person interpreta a sociedade na sua repercussão sobre o indivíduo e não nas proposições coletivas idealizadas. Trata-se aqui do sujeito que se descobre engrenagem da máquina econômica da qual não consegue se libertar, pois a reproduz nos atos cotidianos e sentimentais, no egoísmo, na objetividade financeira, na submissão a uma ordem burguesa remodelada, mas não humanizada, por novos comportamentos.

O Caso dos Irmãos Naves (1967) traz a marca do cinema político do diretor italiano Francesco Rosi (1922-2015). O filme reconstitui o erro judiciário de Araguari, no qual os irmãos Joaquim e Sebastião são condenados por um crime que não cometeram, em pleno período da constituição do Estado Novo, no final da década de 1930. O ponto de partida é o livro escrito pelo advogado de defesa, em que descreve a truculência de um delegado, tenente da Força Pública, que, ao torturar barbaramente os irmãos e seus familiares, instala o medo e consegue forjar uma falsa confissão dos incriminados.

Narrado em forma de reportagem, na tentativa de superar a ficção, mas sem se prender ao documentário, o filme determina corajosamente um paralelo daqueles fatos com a época de sua realização. Nessa alegoria histórica, o golpe militar de 1964, do mesmo modo que a ditadura de Getúlio Vargas, consolida-se por meio da repressão, da delação e da arbitrariedade. Isso possibilita que a figura de um subordinado, o delegado no filme, torne-se intimidatória pelas particularidades sádicas e por estar sob a proteção de uma política maior, que autoriza o descumprimento das normas judiciais.

Person filma Panca de Valente (1968), definido por ele como uma “chanchada campestre”, uma espécie de paródia ao faroeste italiano. O fracasso desse filme o conduz à direção de campanhas publicitárias, em que emprega sua habilidade técnica. Nas campanhas que produz há certo psicodelismo visual e um grande número de referências a alguns filmes, revelando a incorporação da linguagem do cinema ao filme publicitário.

A tentativa de retomar o diálogo do cinema brasileiro com o espectador de massa, que a chanchada perde para a televisão, se concretiza em Cassy Jones, o Magnífico Sedutor (1972)2, adesão voluntária às comédias eróticas que o mercado cinematográfico acolhe no fim da década de 1960.

Person retoma sua carreira no teatro na década de 1970, com a abertura do Auditório Augusta, onde dirige com grande sucesso: El Grande de Coca Cola (1973), Orquestra de Senhoritas (1974) e Lição de Anatomia (1975). 

Figura importante para o cinema brasileiro, Luiz Sergio Person explora diferentes linguagens e temáticas, sem, contudo, perder de vista a aproximação com seu público-alvo, o espectador de massa. 

 

Notas

1. Todas as declarações de Person foram retiradas de sua entrevista para Luzes e Câmeras, programa da TV Cultura: Fundação Padre Anchieta. São Paulo, dez. 1975.

2. De acordo com a Cinemateca Brasileira, o filme foi registrado como Cassi Jones, o Magnífico Sedutor, no entanto, todos os materiais relativos ao filme grafam Cassy Jones, o Magnífico Sedutor.

Obras 3

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Espetáculos 11

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Exposições 2

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Fontes de pesquisa 13

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  • BIN, Marco. Person & Person. Socine: Estudos de Cinema, São Paulo, n. 2, 1999. p. 153-168.
  • CARVALHO, Tania. Ney Latorraca: uma celebração. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2004. (Aplauso Especial).
  • CINEASTAS: Luiz Sérgio Person. Disponível em: http://filmescopiobr.amplarede.com.br/cineastas/lsperson. Acesso em: 4 fev. 2013.
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  • FESTIVAL BRASILEIRO DE CINEMA UNIVERSITÁRIO, 11. 2006. Rio de Janeiro. Mostra homenagem a Luiz Sérgio Person. Rio de Janeiro: Universidade Federal Fluminense. 2006. 218 p. Mostra realizada no período de 29 maio a 11 jun. 2006. p. 129-148.
  • GUERINI, Elaine. Nicette Bruno & Paulo Goulart: tudo em família. São Paulo: Cultura - Fundação Padre Anchieta: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2004. 256 p. (Aplauso Perfil).
  • LABAKI, Amir (Org). Person por Person. São Paulo: Centro Cultural Banco do Brasil, 2002. [Transcrição do programa LUZES E CÂMERAS. Depoimento a Joana Fomm. São Paulo: TV Cultura, dez. 1975.].
  • MACHADO, Ney. ‘Quando as paredes falam’ no Teatro da Maison de France. Jornal A Noite. [S.l.], 30 ago. 1956. 2º Caderno. p. 3. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional Digital, s/d. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=348970_05&pagfis=38086&pesq=&url=http://memoria.bn.br/docreader. Acesso em: 10 fev. 2016.
  • MERTEN, Luiz Carlos. Cinema: um zapping de Lumière a Tarantino. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1995. p. 96-103.
  • MIS/EMBRAFILME. Depoimentos sobre Luiz Sérgio Person. 5 pastas. [Transcrição datilografada em D 155, acervo da Cinemateca Brasileira.].
  • Programa do Espetáculo - Entre Quatro Paredes - 1974.
  • Programa do Espetáculo - Orquestra de Senhoritas - 1974.
  • SGANZERLA, Rogério. Textos críticos 1. São Paulo: Itaú Cultural; Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2010. p. 101-111.

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