Clube de Esquina 2
Texto
Clube da Esquina 2 é lançado em 1978 pela Emi-ODeon, retomando o projeto de 1972, que dá expressão e consolida o movimento musical de jovens músicos mineiros. O caráter coletivo da criação, a diversificação das canções e o experimentalismo do primeiro trabalho são preservados, incluindo a divisão em dois LPs, desta vez com 23 canções. Conduzido novamente por Milton Nascimento (1942), o álbum consolida um trabalho conjunto entre amigos. Reúne um número maior de parceiros, desta vez para além das fronteiras de Minas Gerais.
A canção “Credo” abre o álbum. Sua letra enaltece princípios de esperança e liberdade. A ambiência andina no arranjo e a participação do grupo Tacuabé evidenciam a identidade latino-americana – como em “San Vicente”, canção do primeiro álbum. Essa conexão revela-se em outras faixas, como “Casamiento de Negros” e “Canción por la Unidad de Latino America”. Compromissos com questões sociais e políticas estão presentes, nem sempre de modo explícito, em canções como “O que Foi Deverá/O que Foi Feito de Vera” e “Pão e Água”, bem como alusões à causa indígena, como em “Ruas da Cidade”, “Canoa-Canoa” e “Testamento”.
Outras canções apresentam temas recorrentes na obra de Milton Nascimento e do Clube da Esquina: vida cotidiana e religião (“Paixão e Fé”), personagens (“Dona Olympia”, “Leo”, “Toshiro, Meu Menino”), amizade (“Canção Amiga”, “Que Bom Amigo”), cultura popular (“Reis e Rainhas do Maracatu”) e amor (“Mistérios”, “Tanto”). Embora as parcerias com antigos colegas e com Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) em “Canção Amiga” apontem para Minas Gerais, a cultura mineira aparece difusa. Seus temas são, de certa forma, esgotados em dois discos anteriores, Minas (1975) e Geraes (1976).
Do ponto de vista musical, a diversidade também marca o trabalho. Além da estética latino-americana, há sambas, canções de amor e algumas experimentações, com encadeamentos harmônicos e dissonâncias pouco usuais na música popular da época, como em “Olho d’Água”, “Tanto”, “Canção Amiga”, “E daí?”. Em outras canções, arranjos orquestrais valorizam a voz de Milton, que surge como um instrumento, como em “Toshiro”, “Léo”, “Meu Menino”, “E daí?”. A voz alcança outra dimensão com o coral, presente em grande parte das canções, fortalecendo a ideia de ação coletiva. Destacam-se as participações de Elis Regina (1945-1982), em “O Que Foi Feito Deverá/O Que Foi Feito de Vera”, e de Chico Buarque (1944), em “Canción por la Unidad de Latino America”.
O álbum produz duas canções de sucesso, regravadas várias vezes por outros artistas: “Nascente”, de Flávio Venturini (1949) e Murilo Antunes (1950), e “Maria Maria”, antiga melodia que ganha letra de Fernando Brant (1946-2015). Diversos intérpretes, como Nana Caymmi (1941), Simone (1949), Fafá de Belém (1956), Monica Salmaso (1971), também regravam canções deste álbum. A cantora Vânia Bastos (1956), em Vânia Bastos Canta Clube da Esquina (2002), e o pianista André Mehmari (1977), com MPBaby - Clube da Esquina (2008), reinterpretam um conjunto de canções de Clube da Esquina 1 e 2. Duas coletâneas reúnem intérpretes variados para registro de faixas que gravitam em torno do repertório do grupo: Clube Moderno – Esquina do Mundo (2005), lançada pelo selo Dubas Música, e Flores do Clube da Esquina (2008), lançada pela EMI.
Embora as colaborações entre os artistas se mantenham, Clube da Esquina 2 é considerado o último trabalho de concepção e produção coletivas do grupo mineiro presente desde o início da carreira de Milton Nascimento.
Fontes de pesquisa 6
- BORGES, Márcio. Os sonhos não envelhecem: histórias do Clube da Esquina. São Paulo: Geração Editorial, 1996.
- CLUBE da Esquina. Museu Clube da Esquina. Disponível em: http://www.museuclubedaesquina.org.br/o-movimento/clube-da-esquina/. Acesso em: 12 maio 2014.
- DOLORES, Maria. Travessia. A vida de Milton Nascimento. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2007.
- GARCIA, Luiz Henrique. Coisas que ficaram muito tempo por dizer: o Clube da Esquina como formação cultural. 160 f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, 2000.
- NASCIMENTO, Milton. Nova história da música popular brasileira, São Paulo, Abril,1976.
- OLIVEIRA, Rodrigo Francisco de. Mil tons de Minas – Milton Nascimento e o Clube da Esquina: cultura, resistência e mineiridade na música popular brasileira. 136 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Humanas) – Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia, 2006.
Como citar
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CLUBE de Esquina 2.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/obra69193/clube-de-esquina-2. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7