Escola Guignard
Texto
Histórico
"Nunca acreditei ser professor", afirma Guignard (1896-1962), "nasceu sem querer, e vai indo bem, de dia a dia." O tom modesto das palavras do pintor não dá a medida exata de sua importância como professor, responsável por uma das mais bem-sucedidas experiências na área da educação artística no Brasil: a Escola Guignard, criada em Belo Horizonte, Minas Gerais, na década de 1940. A escola forma gerações de artistas plásticos de renome, como Amilcar de Castro (1920-2002), Farnese de Andrade (1926-1996), Franz Weissmann (1911-2005), Mary Vieira (1927-2001), Maria Helena Andrés (1922), Mário Silésio (1913-1990), entre muitos outros. Sua marca característica é a falta de ortodoxia, tanto no plano institucional quanto no educacional. Trata-se de um espaço que se mantém livre das amarras burocrático-administrativas que caracterizam as instituições escolares de modo geral - mostrando-se, portanto, avessa a currículos fixos e diplomas, funcionando com base em cursos livres e no trabalho partilhado entre professor e aluno. O método de ensino consiste em levar os estudantes para áreas livres de modo que exercitem a observação da natureza, combinando-a à imaginação criadora, considerada um valor maior da aprendizagem. Aos exercícios de adestramento da mão e de observação da paisagem soma-se a busca da expressão subjetiva e de uma dicção própria.
A origem da Escola Guignard remete ao convite feito pelo prefeito Juscelino Kubitschek (1902-1976), em 1943, para o artista dirigir a Escola de Belas Artes. Aceita a tarefa, Guignard muda-se para a capital mineira, Belo Horizonte. Um ano depois, a escola seria fundida à Escola de Arquitetura no então batizado Instituto de Belas Artes de Belo Horizonte. A resistência de Guignard à integração da escola ao Sistema Nacional de Educação é um dos fatores responsáveis pelo malogro do instituto, que, em 1947, se transforma em Curso de Belas Artes, com três professores contratados: José Martins Kascher, Alberto Guignard e Edith Behring (1916-1996). Em 1948, o prefeito Otacílio Negrão de Lima investe contra a escola, revogando os atos anteriores que asseguram seu funcionamento. Guignard e sua equipe passam a trabalhar num espaço cedido pelo Instituto de Educação, por curto período, transferindo-se, em seguida, para o edifício Goitacazes, com uma subvenção temporária. Em 1950, o fim da subvenção obriga que os cursos sejam dados no prédio inacabado do Palácio das Artes. A despeito das dificuldades financeiras e da falta de uma sede adequada, a escola mantém-se em atividade, com ateliês, aulas e exposições coletivas. Nesse ano, um regulamento designa o perfil jurídico da instituição, agora Escola de Belas Artes de Belo Horizonte, de ensino especializado em pintura, desenho, escultura, artes decorativas e aplicadas. Guignard é o responsável pela elaboração do estatuto da escola, e esboça a idéia de um curso superior de belas-artes que funcione de modo livre e autônomo em relação ao Sistema Nacional de Educação e às demais escolas de arte. A partir de 1951, as funções administrativas da escola são delegadas ao seu Diretório Acadêmico, que se torna uma espécie de fundação mantenedora. O falecimento de Guignard, em 1962, encerra uma etapa importante da instituição, cuja história orienta-se então para a formalização do ensino, a despeito de tentativas feitas para manter o caráter livre da escola. No ano de 1973 é criada a Fundação Escola Guignard, que coroa o processo de institucionalização da escola, com o fim dos cursos livres, a desativação do Diretório Acadêmico e a subordinação do corpo docente à burocracia universitária. Em 1979, Maria Nazareth e Amilcar de Castro empreendem mais um esforço para manter o espírito original da escola com a criação de um Núcleo Experimental, ligado ao Museu de Arte Moderna, mas que tem vida curta.
A história disponível sobre a Escola Guignard focaliza os anos compreendidos entre 1943 e 1962 como o período áureo da instituição, momento em que Guignard está à frente da escola, conseguindo mantê-la relativamente longe dos constrangimentos político-administrativos. A fase coincide com um momento de modernização de Belo Horizonte e com a renovação do panorama artístico local. A criação do conjunto da Pampulha, projetado por Oscar Niemeyer (1907-2012), entre 1942 e 1944, e os projetos de Eduardo Mendes Gusmão e Sylvio Vasconcellos, além das revistas Edifício e Arquitetura e Engenharia, dinamizam os debates sobre urbanismo, arte e arquitetura. A renovação do teatro com João Ceschiatti, João Etienne Filho e Pontes de Paula Lima, a criação do Centro de Estudos Cinematográficos e da Revista de Cinema são outras iniciativas que permitem aferir a temperatura artística na cidade nas décadas de 1940 e 1950. No que diz respeito às artes plásticas, a 1ª Exposição de Arte Moderna, em 1944, com a participação de artistas de diferentes regiões do país, confere visibilidade à produção local e à própria Escola Guignard. Em artigo para o Diário de Notícias, de 29 de outubro de 1944, Mário de Andrade (1893-1945) aclama o empreendimento, dando uma medida da repercussão do trabalho realizado, no calor da hora: "Tudo induz a crer que em Belo Horizonte vai se formar dentro de dois ou três anos mais um núcleo forte de artes plásticas no Brasil".
Exposições 5
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6/11/2000 - 7/12/2000
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8/11/2012 - 2/12/2012
Fontes de pesquisa 4
- FROTA, Lélia Coelho. Guignard: arte, vida. Rio de Janeiro: Campos Gerais, 1997. 340 p.
- GUIGNARD, Alberto da V. Guignard. Exposição em homenagem ao centenário de seu nascimento. São Paulo: Arte do Brasil, outubro/ novembro de 1996. 30 pp.il. p&b. color.
- MORAES, Frederico. Guignard. São Paulo: Edições Centro de Artes Novo Mundo, 1974.
- MOURA, Antonio de Paiva. Memória Histórica da Escola Guignard. Belo Horizonte: Usina de Livros, 1993.
Como citar
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ESCOLA Guignard.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/instituicao114269/escola-guignard. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7