Estúdio Branco & Preto
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O Estúdio Branco & Preto, uma loja de arquitetura e design, é inaugurado no fim de 1952, em São Paulo. Existente até 1970, é um dos precursores da arquitetura de interiores e da mobília de inspiração moderna no Brasil. O estúdio é gerido pelos arquitetos Miguel Forte (1915-2002), Jacob Ruchti (1917-1974), Plínio Croce (1921-1984), Roberto Aflalo (1926-1992), Carlos Millan (1927-1964) e pelo arquiteto chinês Chen Y Hwa. Com exceção deste último, que chega ao Brasil em 1952 e se emprega no escritório de Croce e Aflalo, todo o grupo se forma na faculdade de arquitetura e urbanismo do Mackenzie. O interesse pela arquitetura moderna é denominador comum dos jovens arquitetos que, ao perceberem a lacuna que há no mercado de mobília moderna em São Paulo no início dos anos 1950, criam uma loja que oferece uma alternativa de gosto moderno à elite paulistana.
O curso de arquitetura do Mackenzie ainda é muito conservador nos anos 1930 e 1940. O arquiteto Christiano Stockler das Neves (1889-1982), então professor e diretor, mantém uma visão crítica do modernismo. Com um ideal de estética neoclassicista, o curso forma "arquitetos de fachada",1 como afirma a pesquisadora Marlene Acayaba. O grupo de jovens que funda o Estúdio Branco & Preto, todavia, nutre seu interesse pela arquitetura moderna. Graduados na década de 1930, Jacob Ruchti e Miguel Forte se aproximam, durante o curso, de dois arquitetos da primeira geração modernista no Brasil: o italiano Rino Levi (1901-1965) e o ucraniano Gregori Warchavchik (1896-1972). A convivência na casa de Mina Klabin, esposa de Warchavchik, lhes permite conhecer o arquiteto norte-americano Philip Johnson (1906-2005) e o arquiteto alemão Mies Van der Rohe (1886-1969). Plínio Croce e Roberto Aflalo, que se graduam no final dos anos 1940, e Carlos Millan, formado no início dos anos 1950, também se distanciam da arquitetura ensinada na faculdade, admirando o vienense Richard Neutra (1892-1970) e Marcel Breuer (1902-1981).
O ambiente da São Paulo dos anos 1940 e 1950 traz renovações não só na cidade, que se expande, mas nos campos da arte e da arquitetura. Em 1947, é fundado o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateubriand (Masp), seguido da fundação do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), em 1948. Em 1951, é inaugurada a 1ª Bienal de São Paulo. Mais tarde, o Masp cria o Instituto de Arte Contemporânea (IAC). Essas transformações abrem espaço para a arquitetura moderna e para a ideia de um modernismo brasileiro. Participando desse processo, os jovens passam a trabalhar em escritórios e a projetar residências e edifícios, entre outros. Diante da tarefa de mobiliar uma casa moderna, deparam-se com cópias de desenhos estrangeiros. São poltronas e sofás grandes, com espumas e estofados, que destoam do novo estilo das residências. Além da loja do designer Joaquim Tenreiro (1906-1992), no Rio de Janeiro, que em 1950 abre filial em São Paulo, e da Móveis Z, do designer Zanine Caldas (1919-2001), aberta em 1947 na capital paulista, as opções de mobília moderna ainda são limitadas.
Proposta por Roberto Aflalo aos outros amigos, a loja é inaugurada em dezembro de 1952, no centro da cidade. Para sua abertura, o grupo prepara não apenas móveis, como também cortinas, luminárias, tapetes e afins. Seguindo a ideia de Frank Lloyd Wright (1867-1959), que pensa a casa de dentro para fora, a mobília é entendida como “complemento da arquitetura”. Com preços altos e voltada para a elite paulistana, a loja atende muitas vezes a clientes que têm suas casas assinadas por um dos arquitetos do grupo. O projeto de mobiliário é pensado, frequentemente, com adaptações para cada residência. Madeiras brasileiras, como o jacarandá-da-bahia, a cabreúva e o pau-marfim, são combinadas com vidro, ferro, fórmica e mármore calacata na manufatura dos móveis. Feitos de forma racional e geométrica, eles apresentam leveza e simplicidade. Uma de suas características são os pés palito, uma das marcas do móvel moderno. Dentre os móveis produzidos estão a poltrona MF5, a mesa de ripas e a escrivaninha Millan.
O Estúdio Branco & Preto faz parte, então, do movimento dos anos 1950 no qual arquitetos brasileiros passam a fabricar mobília moderna. Dois anos depois de sua inauguração, é inaugurada a fábrica Unilabor. Um ano mais tarde, o designer francês Michel Arnoult (1922-2005) inaugura a Mobília Contemporânea. Ambas localizadas em São Paulo e que também visam o público com gosto alternativo, mas divergem do Branco & Preto na maneira de produzir suas peças. Enquanto suas poltronas e mesas são fabricadas de forma industrial, os móveis do Branco & Preto são executados artesanalmente e em pequena quantidade. Sem compensados de madeira ou parafusos e tarraxas aparentes, são produtos da alta marcenaria.
O nome Branco & Preto remete aos tecidos, feitos especialmente para a loja pela fábrica Lanifício Fileppo. Cores como o bege e o cinza, de estofamentos e cortinas, são combinadas com listras brancas ou pretas. A sobriedade dos tons e as listras dialogam com o concretismo nas artes e revelam o distanciamento em relação a brilhos, estampas figurativas e excessos de ornamentos presentes em lojas de decoração da época. Ao se lembrar do Branco & Preto, o arquiteto Roberto Carvalho Franco (1926-2001) afirma que a loja causou “um grande impacto” e permitiu “que uma parcela da sociedade percebesse o sentido do design de móveis”.2
Notas
1. ACAYABA, Marlene Milan. Branco & preto: uma história do design brasileiro dos anos 50. São Paulo: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi, 1994. p. 27.
2. Idem p. 69.
Fontes de pesquisa 1
- ACAYABA, Marlene Milan. Branco & Preto: uma história de design brasileiro nos anos 50. Sao Paulo: Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, 1994.
Como citar
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ESTÚDIO Branco & Preto.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/instituicao112825/estudio-branco-preto. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7