Gregori Warchavchik

Gregori Warchavchik dentro de sua casa, 1971
Texto
Gregori Ilych Warchavchik (Odessa, Rússia, 1896 - São Paulo, São Paulo, 1972). Arquiteto. Introdutor da arquitetura moderna no Brasil, por meio de suas obras e textos divulgados na imprensa, é figura de destaque na história da arquitetura brasileira.
Formado em 1920, no Reggio Istituto Superiori di Belle Arti [Real Instituto Superior de Belas Artes], Warchavchik muda-se para o Brasil em 1923, quando é contratado pela Companhia Construtora de Santos como arquiteto. Em 1925, publica o texto Futurismo? no jornal italiano de São Paulo Il Piccolo (traduzido e republicado no Correio da Manhã com o título Acerca da Arquitetura Moderna). Embora não tenha repercussão imediata, é considerado o primeiro manifesto da arquitetura moderna no país, e já contém os elementos da argumentação posterior do arquiteto.
Segundo esse texto, o caráter histórico da noção de beleza, a incompatibilidade entre a racionalidade construtiva dos engenheiros e a ornamentação postiça dos arquitetos (acadêmicos) e as novas imposições da vida moderna gerariam um "estilo do nosso tempo"1: a arquitetura moderna. Nos princípios da nova arquitetura ali defendidos, baseados na racionalidade, no antidecorativismo e na economia da construção, Warchavchik reconhece as exigências impostas pelo desenvolvimento da indústria.
Sua obra é inicialmente "tratada como um esboço individual de renovação, sem importância especial para a compreensão da nova arquitetura brasileira"2. Com alguma exceção, Warchavchik é ignorado pela historiografia especializada na "ação de difusão doutrinária da arquitetura moderna no país nos anos cruciais da segunda metade da década de 1920". É tratado como "autor de um único texto"3.
Os textos posteriores4 do arquiteto, que firmam sua proposta, encontram interessados e geram polêmicas e desdobramentos no meio local. Todavia, a atuação na imprensa, forte nos anos 1920, arrefece nas décadas seguintes, e o arquiteto passa a focar sua ação no projeto e na construção. Warchavchik se naturaliza brasileiro em 1927 e se insere na sociedade paulistana e nos círculos modernistas. Nesse período, abre o próprio escritório. Sua obra inicial, a casa da rua Santa Cruz (1928), é considerada o primeiro exemplar da arquitetura moderna no Brasil.
Indiscutíveis "avanços" são notados na obra, como a não ornamentação, os efeitos de transparência obtidos pelo uso do vidro em amplas superfícies ou o desenho dos acabamentos e mobiliários. Ainda assim, ela é criticada pelas concessões que faz diante do passado e das imposições do meio. Haveria uma discrepância entre obra e discurso. A casa, construída com tijolos, revestida para simular construção de concreto armado e coberta com telhado de telhas de barro, escondido atrás de uma platibanda, trairia os princípios da nova arquitetura. Essa interpretação se altera a partir da década de 1990: por uma revisão crítica, a casa se torna "a obra mais emblemática da virada arquitetônica brasileira", em que "as discrepâncias, as concessões e os desvios patentes [...] falam precisamente das possibilidades do modernismo" no Brasil5.
Depois da casa na rua Santa Cruz, Warchavchik constrói algumas residências modernas, exemplares da nova arquitetura, e dois conjuntos de casas econômicas. Mas é a casa da rua Itápolis (1933), inaugurada com a Exposição de uma casa modernista, que marca a aceitação dessa nova forma de construir. Ela divulga a estética moderna para além do círculo de intelectuais modernistas6. Há inovações em relação ao imóvel da rua Santa Cruz, quanto à disposição da planta e à lógica das aberturas e volumes. A perspectiva de eixo é eliminada: uma estrutura de circulação, em que os quatro acessos do exterior se dão em torno da caixa de escadas central gera uma solução distributiva generosa e eficaz.
O arquiteto suíço Le Corbusier (1887-1965), que visita a casa ainda em construção, convida Warchavchik para ser o delegado da América do Sul nos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna (Ciam's). Em 1931, o arquiteto Lucio Costa (1902-1998) convida-o a dar aulas na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), no Rio de Janeiro. Com isso, torna-se professor da primeira geração de arquitetos modernos.
Warchavchik amplia sua atuação ao Rio de Janeiro. Expõe no Salão de 31 as únicas obras modernas construídas no Brasil até então. Também faz as primeiras obras modernas do Rio, entre elas, a Residência Nordschild (1931), e a reforma de uma cobertura no Edifício Olinda, na avenida Atlântica, em 1932. Ambas são inauguradas com exposições semelhantes à exposição de São Paulo. Em parceria com Lucio Costa, desenvolve trabalhos como o conjunto de casas operárias da Gamboa (1933). Ali, a planta quadrada com circulação central, já adotada nas casas modernistas, resolve o programa mínimo da moradia em pavimento único. O cubo isolado, agora justaposto e escalonado, liga-se por um balcão contínuo sobre as lajes de cobertura dos terraços, formando uma extensa passarela de circulação coletiva, paralela ao limite do terreno, conferindo unidade ao conjunto.
No fim dos anos 1930, Warchavchik obtém o prêmio na categoria “prédios de apartamentos” no concurso promovido por Prestes Maia (1896-1965) na Prefeitura de São Paulo, com o Edifício Barão de Limeira, de 1939. Mantém escritório até a década de 1960, projetando edifícios e casas para o mercado imobiliário, sem grandes inserções no debate arquitetônico nacional, protagonizado pelos arquitetos cariocas.
Com interpretações diversas e conflitantes, a obra e as propostas arquitetônicas de Warchavchik têm sido alvo de revisões que buscam compreender seu papel na história da arquitetura moderna do Brasil.
Notas
1. WARCHAVCHIK, Gregori. Acerca da arquitetura moderna. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 1 nov. 1925. Republicado em WARCHAVCHIK, Gregori. Arquitetura do século XX e outros escritos. Organização Carlos A. Ferreira Martins; tradução Regina Salgado Campos. São Paulo: Cosac & Naify, 2006. (Fontes da Arquitetura Moderna).
2. LIRA, José. Ruptura e construção: a obra de Gregori Warchavchik. Novos Estudos, São Paulo, Cebrap, n. 78, p. 145-168, .jul. 2007.
3. MARTINS, Carlos. Gregori Warchavchik: combates pelo futuro. In: WARCHAVCHIK, Gregori. Arquitetura do século XX e outros escritos. Organização Carlos A. Ferreira Martins; tradução Regina Salgado Campos. São Paulo: Cosac & Naify, 2006. (Fontes da Arquitetura Moderna), p.20.
4. Todos os artigos reunidos em WARCHAVCHIK, Gregori. Arquitetura do século XX e outros escritos. Organização Carlos A. Ferreira Martins; tradução Regina Salgado Campos. São Paulo: Cosac & Naify, 2006. (Fontes da Arquitetura Moderna).
5. LIRA, José, Op. cit., p. 165.
6. São cerca de 20 mil visitantes entre 24 de março e 20 de abril de 1930.
Obras 11
Exposições 23
Mídias (5)
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 5
- AQUINO, Paulo Mauro Mayer de (org.). Gregori Warchavchik – Acervo Fotográfico. v. I e II, São Paulo, edição Família Warchavchik, 2005 e 2007.
- FERRAZ, Geraldo. Warchavchik e a introdução da nova arquitetura no Brasil: 1925 a 1940. Prefácio Pietro Maria Bardi. São Paulo: Masp, 1965. 277 p., il. p&b.
- LIRA, José. Ruptura e construção: a obra de Gregori Warchavchik. Novos Estudos, São Paulo: Cebrap, n.78, jul 2007, pp. 145-68.
- SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil, 1900-1990. 2.ed. São Paulo: Edusp, 1999.
- WARCHAVCHIK, Gregori. Arquitetura do século XX e outros escritos. Organização Carlos A. Ferreira Martins; tradução Regina Salgado Campos. São Paulo: Cosac & Naify, 2006. (Fontes da Arquitetura Moderna).
Como citar
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GREGORI Warchavchik.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa226676/gregori-warchavchik. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
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