Rino Levi

Cine Universo, 1939
Rino Levi
Texto
Rino Levi (São Paulo, São Paulo, 1901 - Lençóis, Bahia, 1965). Arquiteto e urbanista. Destaca-se por ter realizado projetos que conjugam inovações técnicas e soluções originais. Com participação intensa em órgãos de classe e na imprensa, contribui para a regulamentação do trabalho arquitetônico e para a consolidação da arquitetura moderna brasileira.
Filho de imigrantes italianos, ingressa, em 1921, na Escola Preparatória e de Aplicação para os Arquitetos Civis, em Milão, Itália. Transfere-se, em 1924, para a Escola Superior de Arquitetura de Roma. Ainda estudante, publica no jornal O Estado de S. Paulo, em 1925, uma carta com o título Arquitetura e Estética das Cidades, considerada uma das primeiras manifestações por uma arquitetura moderna no Brasil. Ali surge uma característica presente ao longo de sua carreira: a vontade de construir um campo de atuação em que seja possível reconhecer a especificidade da arquitetura moderna brasileira.
Retorna ao Brasil em 1926. Inicia uma carreira independente em 1927, construindo pequenas residências e conjuntos de casas de aluguel para membros da comunidade italiana paulista. Sua primeira obra moderna construída é o Pavilhão da L. Queiroz (1931), na Feira de Amostras do Parque da Água Branca, mas é de 1934 um de seus projetos mais emblemáticos, o Edifício Columbus. Como condomínio de apartamentos para a cidade de São Paulo, o projeto inova ao dar tratamento a todas as fachadas (e não só à fachada frontal) e ao desenvolver a relação interior/exterior. Levi projeta uma série de edifícios residenciais, sempre levando em conta a construção do espaço urbano, a integração com a paisagem e a setorização da planta por função.
Em 1936, é construído o Cine Ufa-Palácio, projeto que contempla necessidades técnicas, como a acústica. O sucesso alcançado por essa inovação lhe abre portas para um novo programa. Seus projetos são divulgados em publicações como a Revista Politécnica, de São Paulo, a italiana Architettura e a francesa Architecture d´Aujourd´hui. A partir de 1936, seu escritório conta com a colaboração de outros dois arquitetos-sócios: Roberto Cerqueira César (1917-2003) e Luiz Roberto Carvalho Franco (1926-2001).
De 1940 a 1942, Levi projeta o Instituto de Educação Sedes Sapientiae, atual Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), onde os volumes construídos se estruturam em função de um pátio interno. A circulação ocorre ao redor desse espaço, protegida por marquises que remetem às loggias e aos pátios italianos. O arquiteto, no entanto, reelabora os elementos, de modo a criar uma arquitetura própria: inverte a forma das arcadas nas marquises onduladas, preenche o pátio com vegetação tropical e constrói seu primeiro "teto-jardim".
Retomando a relação entre blocos construídos, projeta uma série de "residências introvertidas", buscando integrar a paisagem à arquitetura pelo uso de vegetação tropical nos pátios. O primeiro projeto é sua própria residência em São Paulo, de 1944. Num terreno irregular de esquina, divide as funções da casa em blocos separados pelos pátios, que garantem a convivência cotidiana do morador com a natureza (ainda que construída). Outro projeto é a residência Olivo Gomes (1949/1951), na qual realiza o maior exemplo de "síntese das artes", buscada em suas obras. Integrando arquitetura, paisagismo, mobiliário, afrescos e murais, a casa se abre como um mirante para a paisagem, e a estrutura linear dispõe todos os ambientes em função da vista. Um grande painel de Burle Marx (1909-1994) torna-se "o fulcro de toda a forma", como "uma obra que condensa o significado da casa"1.
Também de 1944 é o Edifício Prudência. Um único volume, com planta ortogonal em U, isolado dos limites do lote, é acessado por duas rampas, que acentuam a continuidade entre a rua e o jardim. No térreo livre, sobre pilotis, mais uma vez um painel de Burle Marx recebe os visitantes. Essa busca pela integração com as artes não envolve apenas os murais: alguns edifícios tomam toda a fachada como um grande painel, como o Banco Sul-Americano (1960), na avenida Paulista. Nesse edifício, atual Banco Itaú, as fachadas paralelas à avenida recebem um tratamento gráfico por meio de placas de mármore, compondo um imenso painel de padrão geométrico.
Ainda em 1944, Rino Levi projeta a Maternidade Universitária da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Embora não tenha sido concretizado, o projeto obtém reconhecimento entre os pares, rendendo o Prêmio para Projeto de Edifício de Uso Público na 1ª Bienal Internacional de São Paulo (1951). Após detalhado estudo das necessidades do programa, e com a colaboração de profissionais de outras áreas, Levi rompe com as tipologias hospitalares preexistentes, ao propor três blocos separados, reunindo usos afins, circulação hierarquizada e flexibilidade das plantas. O resultado são dois volumes especializados conectados por um longo volume horizontal. Esse trabalho lhe garante o reconhecimento público como uma autoridade na área de projetos hospitalares. A partir de então, desenvolve inúmeras obras desse tipo, além de realizar cursos e conferências sobre o tema. A convite da Venezuela, coordena o planejamento e o projeto de uma rede hospitalar nesse país.
Sua trajetória segue com projetos inovadores e participações em espaços de discussão sobre arquitetura. Integra o 1º Congresso Brasileiro de Arquitetos, realizado em São Paulo em 1945, ano em que se torna membro do Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (Ciam). Em 1946, vence, com outras duas equipes, o concurso promovido para a sede do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), em São Paulo, com projeto desenvolvido em seu escritório. Participa da criação do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), em 1948, e torna-se diretor-executivo da instituição. Em 1952, chefia a delegação brasileira no 8º Congresso Pan-Americano de Arquitetos, no México, e é eleito diretor do IAB/SP, onde permanece até 1955.
Levi participa do concurso de Brasília (1956), e seu projeto é classificado em 3º lugar. O partido adotado, oposto à proposta vencedora de Lucio Costa (1902-1998), explicita as preocupações do arquiteto em relação à cidade contemporânea. O foco da proposta recai sobre as unidades habitacionais, superblocos de 300 metros de altura cortados por ruas elevadas que reúnem serviços e comércio, potencializando os princípios de habitação intensiva das unités d´habitacion, de Le Corbusier (1887-1965). Adepto do modelo de cidade polinuclear, propõe núcleos com base nos edifícios de habitação, reservando o extremo leste da cidade para as funções administrativas, sem nenhum tratamento especial. Para o historiador da arquitetura Renato Anelli, era "a experimentação da escala de desafios colocados pela cidade de São Paulo num projeto de cidade"2.
Em seu último projeto, o Centro Cívico de Santo André (1965), vencedor do concurso que propunha o deslocamento do centro político-administrativo para uma área limítrofe ao centro antigo, Levi retoma a concepção de cidade polinuclear, pretendendo que o novo núcleo assuma a função do core existente no centro urbano contíguo. São três níveis escalonados e relacionados pela torre administrativa, com três praças de caráter e uso diversos, hierarquizadas em função desses usos: a Praça Cívica na cota superior, a Praça Cultural na intermediária e uma praça inferior para serviços, que articula as esferas política, cultural e cotidiana da vida pública da cidade.
O interesse de Rino Levi pelo paisagismo, em especial por plantas ornamentais, leva a artista botânica inglesa Margaret Mee (1909-1988) a homenageá-lo: depois de registrar pela primeira vez, em pintura, uma bromélia coletada no rio Cauboris, Amazonas, ela solicita que a nova espécie seja dedicada à memória do arquiteto. A planta recebe, então, a denominação Neoregelia Leviana.
Rino Levi deixa um legado não só para a área de projeto arquitetônico, com suas soluções inovadoras que integram arte e técnica, mas também para o modo de pensar a arquitetura no Brasil, na sua constante luta por consolidar esse campo profissional e por criar um modo próprio, e brasileiro, de projetar.
Notas
1. ANELLI, Renato; GUERRA, Abilio; KON, Nelson. Rino Levi: arquitetura e cidade. São Paulo: Romano Guerra Editora, 2001. 144-145.
2. Idem, ibidem. p. 223.
Obras 4
Exposições 7
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13/1/1943 - 28/2/1943
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20/10/1951 - 23/12/1951
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6/10/1983 - 11/12/1983
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26/10/2001 - 14/1/2000
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 5
- ANELLI, Renato. 1925 - Warchavchik e Levi: dois manifestos pela Arquitetura Moderna no Brasil. Revista de Urbanismo e Arquitetura, v. 5, n. 1, p. 7-11, 1999.
- ANELLI, Renato; GUERRA, Abilio; KON, Nelson. Rino Levi: arquitetura e cidade. São Paulo: Romano Guerra Editora, 2001.
- DEPOIMENTO de uma geração: arquitetura moderna brasileira. rev. ampl. Organização Alberto Xavier. São Paulo: Cosac Naify, 2003.
- MINDLIN, Henrique. Arquitetura moderna no Brasil. Rio de Janeiro: Aeroplano, 1999.
- SMITH, Lyman B. Notes on bromeliaceae: XXVIII. Phytologia, Plainfield, v. 16, n. 6, p.459-462, 1968. Disponível em: https://www.biodiversitylibrary.org/page/12944289#page/478/mode/1up. Acesso em: 15 jan. 2020.
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RINO Levi.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa351575/rino-levi. Acesso em: 03 de maio de 2025.
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