Brazil Builds: architecture new and old, 1652-1942
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Brazil Builds: Architecture New and Old 1652-1942 é o título da exposição inaugurada em 1943 no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA). A documentação desse evento dá origem ao livro-catálogo de mesmo nome. Organizada pelo arquiteto americano Phillip L. Goodwin (1885-1958) e pelo fotógrafo também americano G. E. Kidder Smith (1913-1997), depois de uma viagem ao Brasil, Brazil Builds compila projetos de arquitetura brasileiros de 1652 a 1942. A edição da revista é de autoria da então diretora do Departamento de Arquitetura do MoMA, a americana Elizabeth Mock (1911-1998), e o design da capa é do artista Edward McKnight Kauffer (1890-1954).
A exposição dura cerca de um mês em Nova York. Em seguida, desloca-se para cidades como Toronto, no Canadá, e Cidade do México, no México. O MoMA desenvolve também um modelo reduzido da exibição para escolas e galerias. O livro-catálogo, por sua vez, é publicado em dois idiomas, inglês e português. No período de três anos, alcança quatro edições e é divulgado em diversas cidades ao redor do mundo. Exposição e catálogo constituem importante marco do reconhecimento da arquitetura brasileira no cenário do modernismo internacional e representam também uma mudança paradigmática na maneira de retratar a história arquitetônica brasileira.
A partir do “desejo agudo de conhecer melhor a arquitetura brasileira”, conforme descrito no prefácio por Goodwin, e com particular curiosidade pelas “soluções dadas ao problema do combate ao calor e aos efeitos da luz sobre as grandes superfícies de vidro na parte externa das construções”, organiza-se a viagem ao Brasil.1 O próprio Goodwin afirma que os brise-soleil são o motivo de maior força para a realização da exposição: esta qualidade defendida pelo arquiteto francês Le Corbusier (1887-1966) é aplicada no Brasil das mais diversas maneiras (verticais, horizontais, móveis ou fixos); e menciona o Ministério de Educação e Saúde (1936-1943) como um modelo de referência de projeto desse tipo.
A exposição realizada no MoMA apresenta materiais como maquetes, croquis, plantas, projeções de slides, mapas, e ocupa quase completamente o térreo do edifício. O produto final da publicação contém 208 páginas e um acervo de 300 fotografias. No início da publicação, apresenta-se um mapa do território brasileiro com as regiões visitadas e o trajeto realizado pelos autores.
O contato de Goodwin e Smith com a arquitetura brasileira tem intermediação de importantes nomes da cultura e política nacional como os arquitetos Burle-Marx (1909-1994) e Gregori Warchavchik (1896-1972), o fotógrafo Marcel Gautherot (1910-1996) e o ministro da Educação e Saúde da época Gustavo Capanema (1900-1985). Além disso, há a facilitação de documentos por parte de órgãos diretores nacionais, como o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) e o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB).
Brazil Builds divide-se entre as seções de arquitetura antiga e moderna, em que se identificam estilos arquitetônicos e seus autores. São quase três séculos de arquitetura brasileira compilada. Na seção destinada às edificações antigas, dividida por cidades, encontram-se exemplares da arquitetura religiosa, como a igreja barroca de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, Minas Gerais, feita pelo escultor Aleijadinho (1738-1814). Esta seleção concentra-se majoritariamente no período colonial.
A seção dedicada aos edifícios modernos, por sua vez, subdivide-se por tipologia de construção, como escritório e colégios. É possível identificar uma preferência pelos exemplares da escola carioca, cujas influências partem dos princípios de Le Corbusier. Arquitetos como Oscar Niemeyer (1907-2012) e Lúcio Costa (1902-1998) são alguns dos protagonistas desse movimento.
A publicação de Brazil Builds coincide com um momento em que a cultura de preservação do patrimônio começa a se estabelecer no Brasil. Na época, ainda não há uma coletânea da arquitetura nacional elaborada por arquitetos ou críticos brasileiros, fator que corrobora sua importância como referência em publicações posteriores. Em conjunto, no cenário internacional desvela-se um maior interesse pelo desenvolvimento da historiografia da arquitetura, principalmente no que diz respeito ao movimento moderno.
A revista colabora na definição de uma “matriz histórica” e também visual do pensamento da arquitetura brasileira. Sobre este aspecto visual, o pesquisador Eduardo Augusto Costa afirma que o trabalho fotográfico de Smith intensifica a aproximação entre as disciplinas da arquitetura e da fotografia, o que serve de referência para a memória cultural da arquitetura brasileira.
Na conclusão do prefácio do livro-catálogo, Goodwin faz uma ressalva à tarefa arrojada de compilação dos projetos de arquitetura brasileiros, enfatizando os prováveis hiatos de um trabalho realizado em curto período. Alguns críticos, inclusive, destacam a predileção de Goodwin por certos estilos arquitetônicos em detrimento de outros e, por isso, a omissão de importantes momentos da história da arquitetura brasileira, como a arquitetura do século XIX.
Brazil Builds tem papel precursor e serve de modelo para as publicações posteriores sobre arquitetura nacional. Mesmo com lacunas históricas, é unânime sua representatividade entre críticos nacionais e internacionais como instrumento de divulgação da arquitetura brasileira.
Notas:
1. GOODWIN, Philip L. Brazil Builds: architecture new and old, 1952-1942. New York: The museum of Modern Art (MoMA), 1943.
Ficha Técnica
Affonso Eduardo Reidy
Aldari Toledo
Attílio Corrêa Lima
Bernard Rudofsky
Burle Marx
Carlos Frederico Ferreira
Carlos Leão
Gregori Warchavchik
Henrique Mindlin
Jacques Pilon
Jorge Machado Moreira
José Norberto
Lucio Costa
Oscar Niemeyer
Rino Levi
Rodrigo Melo Franco de Andrade
Vital Brazil
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Fontes de pesquisa 4
- BENEVOLO, Leonardo. História da Arquitetura Moderna. São Paulo: Perspectiva, 2001. 3 v.
- COSTA, Eduardo Augusto. Brazil Builds e a construção de um moderno na arquitetura brasileira. Campinas: IFCH – Unicamp, 2009.
- GOODWIN, Phillip Lippincott. Brazil builds: architecture new and old, 1652-1942. New York: The Museum of Modern Art, 1943. Disponível em: https://www.moma.org/documents/moma_catalogue_2304_300061982.pdf. Acesso em: 27 jan. 2020.
- SCOTTÁ, Luciane. Brazil Builds: releitura crítica. Porto: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Porto (Faup), 2017.
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BRAZIL Builds: architecture new and old, 1652-1942.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/evento351248/brazil-builds-architecture-new-and-old-1652-1942. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7