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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Carlos Frederico Ferreira

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 29.10.2023
1906 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
1996 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Carlos Frederico Ferreira (Rio de Janeiro RJ 1906 - idem 1996). Arquiteto. O ano de sua formatura como arquiteto na Escola Nacional de Belas Artes - Enba é controverso, ocorrendo entre 1934 e 19351. É contratado, em 1939, pelo Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários - Iapi, para chefiar o Setor de Engenharia, encarregado do desenv...

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Biografia

Carlos Frederico Ferreira (Rio de Janeiro RJ 1906 - idem 1996). Arquiteto. O ano de sua formatura como arquiteto na Escola Nacional de Belas Artes - Enba é controverso, ocorrendo entre 1934 e 19351. É contratado, em 1939, pelo Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários - Iapi, para chefiar o Setor de Engenharia, encarregado do desenvolvimento de projetos e obras. Permanece no cargo até 1964, quando em virtude da extinção do instituto é transferido para o Instituto Nacional da Previdência Social - INPS, onde se aposenta em 1970. Como representante do Iapi, participa do 7º Congresso Pan-Americano de Arquitetos, em 1950, e do 4º Congresso Brasileiro de Arquitetos, em 1954, realizados em Havana e São Paulo, respectivamente. Em 1959, é nomeado presidente da Comissão de Planejamento e Construção do Conjunto Hospitalar de Belo Horizonte. Nesse período mantém um escritório particular no Rio de Janeiro com o engenheiro Joaquim de Almeida Matos e o desenhista João Lima de Oliveira. Vence o concurso para a Piscina Coberta da Sociedade Esportiva Palmeiras, 1951 (não construído), em São Paulo, e para o Terminal de Passageiros e de Carga do Píer da Praça Mauá, 1952, no Rio de Janeiro, este último desenvolvido com o arquiteto Sérgio Bernardes (1919-2002). Ferreira é premiado na 4ª e 7ª edições do Congresso Pan-Americano de Arquitetos, em 1940 e 1950, respectivamente, primeiro com o Conjunto Residencial do Realengo, 1939/1943 e depois com a sua Casa de Final de Semana, 1949, em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro.

Análise

Carlos Frederico Ferreira participa do programa de habitação social implantado pelo presidente Getúlio Vargas com a instauração do Estado Novo (1937-1945). Preocupado com o problema habitacional, o governo Vargas "passa a interferir no mercado habitacional, regulamentando as relações entre locadores e inquilinos e produzindo ele próprio a habitação através de autárquicas estatais"2, como as carteiras prediais dos Institutos de Aposentadorias e Pensões - IAPs. O Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários - Iapi, cujo Setor de Engenharia chefiado por Ferreira, inaugura esse programa e é responsável pelos primeiros conjuntos habitacionais de grande porte no Brasil, cujo valor arquitetônico é reconhecido na exposição Brazil Builds, em 1942.

Em consonância com os ideais do governo, expressos em documentos como o livro O Problema das Casas Operárias e os Institutos e Caixas de Pensões, de 1938, do arquiteto Rubens Porto, assessor técnico do Conselho Nacional de Trabalho, ao qual estão subordinados os IAPs, Ferreira desenvolve e acompanha conjuntos habitacionais de grande porte, cujos projetos revelam o pleno conhecimento dos debates sobre habitação mínima e urbanismo, travados nas quatro primeiras edições dos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna - Ciam, 1928-1933, da produção alemã e soviética de habitação, das experiências de Le Corbusier e do movimento inglês cidade-jardim, além da preocupação em revê-los e adaptá-los ao contexto local.

O Conjunto Residencial do Realengo, 1939/1943 é a expressão máxima do ideário de Ferreira sobre habitação social, servindo de modelo para os projetos realizados pelos IAPs entre 1937 e 1950. Construído como um organismo urbano autossuficiente, o conjunto de 2.344 unidades aproveita, por economia, o traçado urbano já existente, sendo provido de "serviços de urbanização completos (redes de água, luz e esgoto, galerias de águas pluviais, pavimentação e estação de tratamento de esgoto), vários serviços de caráter coletivo, como escola primária para 1.500 alunos, creche para 100 crianças, ambulatório médico, gabinete dentário, quadras para prática de esportes, templo católico e horto florestal"3, algo que apesar do empenho dos técnicos se torna uma exceção.

Esses equipamentos são implantados em duas grandes áreas com a intenção de potencializar as relações de convívio entre os habitantes, em contrapartida às unidades concebidas como células mínimas cujas dimensões privilegiam "as necessidades básicas, físicas e biológicas"4, e são definidas com base no mobiliário e nas funções desempenhadas em cada um de seus ambientes. Para esse conjunto, Ferreira projeta cinco tipologias habitacionais bastante inovadoras para a época, que contam com o trabalho imprescindível de assistentes sociais que não só ensinam os usuários a morar em suas novas casas como garantem a sua aceitação5.

Se a implantação reforça a in5tenção de valorizar o espaço público, com recuos em relação à rua que são pensados com passeios arborizados, a organização das plantas, o sistema construtivo e os materiais adotados revelam o objetivo de baratear a construção e torná-la mais eficiente e rápida possível. Visando à produção de habitação em série, o arquiteto adota o bloco de concreto por ser mais resistente que os usuais e dispensar revestimento; divisórias duplas de madeira por garantirem maior flexibilidade no arranjo interno das unidades e incorporarem as instalações elétricas e hidráulicas; e as telhas cerâmicas, que apesar de simbolizarem uma construção mais artesanal dispensam o alto investimento em impermeabilização.

Do ponto de vista estético as construções de maior interesse no conjunto são o bloco de apartamentos, conhecido como "coletivo", e a caixa-d'água. Ao contrário das casas, o "coletivo" se afirma por suas dimensões, pela horizontalidade, pelo jogo de volumes das varandas, mas, sobretudo, pelo desenho geométrico, desprovido de qualquer ornamentação, empregado também na caixa-d'água.

É interessante notar que o mesmo raciocínio funcionalista, economicista e geométrico que guia o arquiteto nesse projeto de grande porte é recuperado, ainda que em outros termos, na Casa de Final de Semana, 1949, construída em Nova Friburgo, Rio de Janeiro. Destinada a abrigar apenas a sua família, a casa é construída com os materiais e as técnicas disponíveis no local com o intuito de tornar o seu custo o mais econômico possível. Paredes de pau a pique e pedra sustetam a casa, exceto a sala de estar, onde a base é resolvida com pau roliço de madeira de forma a liberar as paredes de sua função estrutural e possibilitar a utilização de amplos caixilhos de vidro que se abrem para a paisagem. A estrutura da cobertura também é de pau roliço recoberta por sapê, com o tempo substituído por telha cerâmica. A rusticidade desses elementos, contudo, não diminui o caráter inovador da obra, que tem como o maior momento a cobertura do acesso principal da casa.

Nota

1 O arquiteto Henrique Mindlin e a arquiteta e pesquisadora Nilce Cristina Aravecchia afirmam que ela ocorre em 1934, enquanto o historiador da arquitetura Lauro Cavalcanti afirma que ela ocorre em 1935.
2 BONDUKI, Nabil Georges. Habitação social na vanguarda do movimento moderno no Brasil. Óculum, Campinas, n. 7/8, p. 85, 1996.
3 Idem, op. cit., p. 92.
4 ARAVECCHIA, Nilce Cristina. Habitação social no Rio de Janeiro e as contribuições de influências de Carlos Frederico Ferreira e Rubens Porto. Relatório Final de Iniciação Científica. 2000. 166p. Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2000, p. 89.
5 BONDUKI, Nabil Georges. op. cit. Para um aprofundamento sobre a ação das assistentes sociais nesse período ver NASCIMENTO, Flavia Brito do. Entre a estética e o hábito: o departamento de habitação popular (Rio de Janeiro, 1946-1960). Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). 2004. 269p. Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2004.

 

Exposições 3

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Fontes de pesquisa 9

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  • ARAVECCHIA, Nilce Cristina. Habitação social no Rio de Janeiro e as contribuições de influências de Carlos Frederico Ferreira e Rubens Porto. Relatório Final de Iniciação Científica. 2000. 166p. Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2000.
  • BONDUKI, Nabil Georges. Origens da habitação social no Brasil. Arquitetura moderna, lei do inquilinato e difusão da casa própria. São Paulo: Estação Liberdade: FAPESP, 1998. 342p. il. p&b.
  • CAVALCANTI, Lauro. Quando o Brasil era moderno: Guia de Arquitetura 1928-1960. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2001.
  • DICIONÁRIO brasileiro de artistas plásticos. Organização Carlos Cavalcanti e Walmir Ayala. Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1973-1980. 4v. (Dicionários especializados, 5). IC R703.0981 C376d v.2 pt. 1
  • GOODWIN, Phillip Lippincott. Brazil builds: architecture new and old, 1652-1942. New York: The Museum of Modern Art, 1943. Disponível em: https://www.moma.org/documents/moma_catalogue_2304_300061982.pdf.
  • MINDLIN, Henrique. Arquitetura moderna no Brasil. Rio de Janeiro: Aeroplano/IPHAN, 2000.
  • NASCIMENTO, Flavia Brito do. Entre a estética e o hábito: o departamento de habitação popular (Rio de Janeiro, 1946-1960). Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). 2004. 269p. Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2004.
  • SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil, 1900-1990. 2.ed. São Paulo: Edusp, 1999.
  • ________. Habitação social na vanguarda do movimento moderno no Brasil. Óculum, Campinas, n. 7/8, pp. 84 - 93, 1996.

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