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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Henrique Mindlin

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 09.04.2021
01.02.1911 Brasil / São Paulo / São Paulo
1971 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Henrique Ephim Mindlin (São Paulo SP 1911 - Rio de Janeiro RJ 1971). Arquiteto, urbanista, professor, historiador da arquitetura. Forma-se engenheiro-arquiteto, em 1932, na Escola de Engenharia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. Mantém um escritório de arquitetura em São Paulo entre 1933 e 1941. Em 1942, vence o concurso para...

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Biografia
Henrique Ephim Mindlin (São Paulo SP 1911 - Rio de Janeiro RJ 1971). Arquiteto, urbanista, professor, historiador da arquitetura. Forma-se engenheiro-arquiteto, em 1932, na Escola de Engenharia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. Mantém um escritório de arquitetura em São Paulo entre 1933 e 1941. Em 1942, vence o concurso para a nova sede do Ministério das Relações Exteriores (não construído), transfere-se definitivamente para a então capital do Brasil, Rio de Janeiro, e assume o cargo de assistente especial de coordenador mobilização econômica da Secretaria de Mobilização dos Trabalhadores da Amazônica e Relações com Entidades Americanas. O cargo coloca-o em contato com entidades norte-americanas interessadas em estreitar os laços com o Brasil durante a Segunda Guerra Mundial, 1939-1945, como o Inter-American Committee State Department, que o convida, em 1943, para ser consultor do National Housing Agency. Viaja para os Estados Unidos, onde estuda urbanismo e habitação popular, e retorna ao Brasil em 1944. No ano seguinte abre um escritório de arquitetura no Rio de Janeiro.

Em 1955, assume o cargo de relator da Subcomissão de Habitação do Conselho Federal do Comércio Exterior e funda o escritório Henrique E. Mindlin - Giancarlo Palanti Arquitetos Associados, reformulado em 1964, com a incorporação na sociedade dos arquitetos Walmyr Lima Amaral, Marc Demetre Fondoukas e Walter Lawson Morrison. Torna-se consultor da Assembleia Constituinte para a Subcomissão de Estudos do Problema da Habitação, em 1957. Entre 1964 e 1966, instala-se em Portugal para desenvolver o projeto de urbanização e construção da Península de Troia. Desfaz a sociedade com Giancarlo Palanti em 1966.

Simultaneamente às atividades do escritório, colabora com a revista Acrópole, 1938-1971, e publica artigos e livros sobre arquitetura e urbanismo, dos quais se destacam Modern Architecture in Brazil, 1956 - publicado originalmente em inglês e alemão, sendo traduzido para o francês, em 1957, e para o português, em 2000 -, e Brazilian Architecture. Igualmente envolvido com os debates sobre arte moderna, organiza no Ministério da Educação e Saúde - MES, em 1948, a primeira exposição no Brasil do artista norte-americano Alexander Calder, de quem se torna amigo, em 1944, durante a sua estada em Nova York. Essa exposição é remontada no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp, abrindo caminho para a participação de Calder na exposição coletiva inaugural do Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM/SP e nas duas primeiras edições da Bienal Internacional de São Paulo, realizadas em 1951 e 1953. Além disso, Mindlin assume o cargo de diretor secretário do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ, em 1956, e de titular da Academia Brasileira de Arte, em 1968.

Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro - FAU/UFRJ, recebe o título de livre-docente da cadeira de grandes composições de arquitetura, em 1962, com a tese Prumadas de Circulação em Edifícios Altos, e, em 1969, de catedrático da mesma disciplina com a tese O Grande Hotel - Notas sobre a Evolução de um Programa. No Instituto de Arquitetos do Brasil - IAB é membro do conselho diretor, 1944-1946 e 1957, conselheiro da revista Arquitetura, em 1961, e presidente do departamento carioca na década de 1970.

Comentário crítico
Colaborando para a consolidação e regulamentação profissional do arquiteto no Brasil, através do Instituto dos Arquitetos do Brasil - IAB, e de uma série de artigos publicados em revistas e jornais, Henrique Mindlin tem papel destacado na difusão e afirmação da arquitetura moderna brasileira no país e no mundo. É de sua autoria o livro Modern Architecture in Brazil, de 1956, lançado originalmente em inglês e alemão e logo traduzido para o francês. O livro, que se esgota rapidamente, atualiza o catálogo da exposição norte-americana Brazil Builds, realizada entre 1942 e 1943, primeira grande mostra da arquitetura moderna brasileira. Nele, Mindlin faz o inventário da produção arquitetônica nacional entre 1937 - ano em que o projeto do Ministério da Educação e Saúde - MES começa a ser desenvolvido - e 1956. Tanto o prefácio assinado pelo historiador Siegfried Giedion, secretário-geral dos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna - Ciam,  quanto a introdução de Mindlin e a seleção das obras reforçam a leitura realizada pelo arquiteto Philip Lippincott Goodwin, organizador da exposição, inspirado por Lucio Costa. Segundo a leitura de Goodwin, a arquitetura moderna brasileira se define pela síntese entre tradição e modernidade, pela adaptação dos princípios do movimento moderno, notadamente da obra de Le Corbusier, ao meio local e pelo vínculo com o Estado.1 

Curiosamente a obra de Mindlin como arquiteto não se define por nenhum desses aspectos, havendo poucos projetos que podem ser incluídos nessa leitura, entre eles o Ministério das Relações Exteriores, 1942 (não construído), o Hotel Pan-Americano, 1947 (não construído), selecionado por Giedion no livro A Decade of New Architecture de 1951, e a Residência George Hime, 1949, 1º Prêmio de Habitação da 1ª Bienal Internacional de São Paulo, 1951, ao lado de Lucio Costa com os edifícios do Parque Guinle, 1943/1948. Sua produção, no início mais austera e próxima da arquitetura moderna alemã, dialoga, a partir do fim dos anos 1950, com a produção norte-americana, mais especificamente com a de Ludwig Mies van der Rohe. A primeira obra em que Van der Rohe aparece como inspiração é o Edifício Avenida Central, 1958/1961, em que Mindlin adota a ossatura metálica destacada dos panos de vidro de dupla coloração, e um sistema construtivo misto de aço, cimento e amianto revestido com placas de alumínio, que resiste ao fogo. O edifício, contudo, não tem a mesma pureza e o rigor dos edifícios do seu inspirador, seja porque as lajes são ainda de concreto armado, seja porque a torre, além de não ser um prisma perfeito, está implantada sobre uma base horizontal de três andares que ocupa os limites do terreno. Os limites técnicos e econômicos impostos à arquitetura de Van der Rohe no Brasil levam Mindlin, segundo o historiador da arquitetura Yves Bruand, a rever a solução proposta no Edifício Avenida Central, adaptando os panos de vidro contínuos à estrutura independente de concreto armado, tal como realiza no Bank of London and South America, 1959, em São Paulo, e no City Bank, 1957, no Recife. O primeiro se destaca pela elegância da composição, engenhosidade da implantação e pelo apuro das técnicas construtivas empregadas. Nesse projeto, Mindlin, já associado a Giancarlo Palanti, desenvolve uma solução que é retomada em outros projetos de bancos: a concentração da circulação vertical - elevadores e escadas - e das instalações sanitárias num bloco contínuo situado no limite do lote vizinho, de forma a conferir, segundo a historiadora da arquitetura Aline Coelho Sanches, "maior flexibilidade ao espaço remanescente que poderia ser agenciado das mais diversas maneiras de acordo com as necessidades do banco, a partir de elementos de fácil instalação e remoção".2 Vale salientar que este é um dos primeiros bancos em que se emprega a fachada contínua de vidro, material que até o momento não inspira segurança para esse tipo de programa. A referência a Van der Rohe aparece novamente no Banco da Lavoura de Minas Gerais, 1962, em São Paulo, mas desta vez não à produção norte-americana, mas àquela desenvolvida nos anos 1920, ainda na Europa, quando o arquiteto adota para edifícios de escritório faixas contínuas e intercaladas de concreto armado e vidro.

A inspiração norte-americana não é exclusiva do arquiteto paulista, que vive nos Estados Unidos entre 1943 e 1944, nem se restringe ao projeto. Inspirados nos escritórios de arquitetura americana, Rino Levi e Lucjan Korngold em sociedade com Abelardo Gomes de Abreu e Mindlin, reorganizam seus escritórios de arquitetura de forma a torná-los mais eficientes para o desenvolvimento de projetos cada vez mais complexos. Apostando na racionalização e especialização da atividade de projeto e na organização de equipes de trabalho organizadas por técnicos com conhecimentos específicos, Mindlin deixa de assinar individualmente seus projetos em 1964, quando funda o escritório Henrique E. Mindlin, Giancarlo Palanti e Arquitetos Associados S. C. Ltda. e passa a atuar em diversas cidades, como Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Belém, Porto Alegre, e também no exterior, como em Portugal.

 

Notas
1 Sobre essa leitura e o estabelecimento de uma trama recorrente na história da arquitetura moderna brasileira ver: MARTINS, Carlos A. F. Arquitetura e estado no Brasil: elementos para uma investigação sobre a constituição do discurso moderno no Brasil, a obra de Lucio Costa 1924/1952. 1987. 185 f. Dissertação (Mestrado em História) - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo - FFLCH/USP, 1987; TINEM, Nilce. O alvo do olhar estrangeiro: o Brasil na historiografia da arquitetura moderna. João Pessoa: Manufatura, 2002. 237p. il. p&b; WISNIK, Guilherme. Formalismo e tradição: a arquitetura moderna brasileira e sua recepção crítica. 2003. 114 f. Dissertação (Mestrado em História) - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2003.
2 SANCHES, Aline Coelho. A obra e a trajetória do arquiteto Giancarlo Palanti: Itália e Brasil. 2004. 379 f. Dissertação (Mestrado em Tecnologia do Ambiente Construído) - Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, 2004, p. 214.

Exposições 4

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Fontes de pesquisa 11

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  • BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1981.
  • CAVALCANTI, Lauro. Quando o Brasil era moderno: Guia de Arquitetura 1928-1960. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2001.
  • GOODWIN, Phillip Lippincott. Brazil builds: architecture new and old, 1652-1942. New York: The Museum of Modern Art, 1943. Disponível em: https://www.moma.org/documents/moma_catalogue_2304_300061982.pdf.
  • LIERNUR, Jorge Francisco. The South American Way. El milagro brasileño, los Estados Unidos y la Segunda Guerra Mundial (1939 - 1943). In: Escritos de arquitectura del siglo 20 en América Latina. Madrid: Tanais Ediciones, 2002, pp.143-170. 224p. il. p&b.
  • MARTINS, Carlos A. F. Arquitetura e Estado no Brasil: elementos para uma investigação sobre a constituição do discurso moderno no Brasil, a obra de Lucio Costa 1924/1952. Dissertação (Mestrado em História). 1987. 185p. São Paulo. Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, 1987.
  • MINDLIN, Henrique. Arquitetura moderna no Brasil. Rio de Janeiro: Aeroplano/IPHAN, 2000.
  • SANCHES, Aline Coelho. A obra e a trajetória do arquiteto Giancarlo Palanti: Itália e Brasil. Dissertação (Mestrado em Tecnologia do Ambiente Construído). 2004. 379f. São Carlos. Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, 2004.
  • SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil, 1900-1990. 2.ed. São Paulo: Edusp, 1999.
  • TINEM, Nilce. O alvo do olhar estrangeiro: o Brasil na historiografia da arquitetura moderna. João Pessoa: Manufatura, 2002. 237p. il. p&b.
  • WISNIK, Guilherme. Formalismo e tradição: a arquitetura moderna brasileira e sua recepção crítica. Dissertação (Mestrado em História). 2003. 114p. São Paulo. Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, 2003.
  • YOSHIDA, Celia Ballario. Henrique Ephim Mindlin: o homem e o arquiteto. São Paulo: Instituto Roberto Simonsen, 1975. 225 p. il p&b.

Como citar

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