Grupo Phases
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Definição
Phases é um movimento de caráter internacional constituído inicialmente na França, na década de 1950, cuja origem se deu em reunião de escritores e artistas ligados ao surrealismo e à abstração lírica. Sua origem se encontra no Grupo CoBrA, formado entre 1948 e 1951, por Christian Dotremont (1922-1979), Asger Oluf Jorn (1914-1973), Karel Appel (1921) e Corneille Guillaume Beverloo (1922), entre outros interessados na valorização de expressões artísticas desvinculadas da tradição ocidental, tal como a produção de crianças, psicóticos, povos não ocidentais e artistas populares. Os integrantes do CoBrA divulgam suas ideias por meio de uma revista homônima. Associados a escritores surrealistas e dadaístas como o poeta Edouard Jaguer (1924-2006) e Michel Butor (1926), produzem também a revista Rixes.
O Grupo Phases começa a se estruturar em 1952, quando Edouard Jaguer, o principal organizador do movimento, promove exposições e publicações com o intuito de reunir novamente antigos integrantes do CoBrA. A partir desses eventos, em 1954, é editada a revista Phases, voltada para a difusão de obras que, embora diversificadas do ponto de vista formal, se caracterizam pela ênfase na expressão subjetiva. Além dos membros do CoBrA e de colaboradores da revista Rixes, participam do início do movimento artistas do grupo sueco imagiste e pintores ligados à abstração lírica e ao expressionismo abstrato, como Giuseppe Capogrossi (1900-1972), Hans Hartung (1904-1989), Jackson Pollock (1912-1956) e Pierre Soulages (1919).
A associação adota uma postura crítica em relação às tendências abstrato-geométricas, considerando-as estetizantes. Volta-se ainda para o estudo e o resgate de obras de integrantes pouco conhecidos de vanguardas do início do século XX, como o futurismo russo e o dadaísmo belga.
No início, as exposições do Phases se concentram na Galerie du Ranelagh, em Paris. No decorrer da década de 1950, passam a ocorrer em países como Japão, Uruguai, Peru, Bélgica, Alemanha e Argentina, o que instiga, nesses locais, o surgimento de publicações ligadas ao núcleo francês do movimento.
Na década de 1960, o historiador da arte brasileiro Walter Zanini (1925-2013), então diretor do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP), estabelece contato com o Phases, divulgando o trabalho de seus integrantes no Brasil e estimulando a comunicação com artistas radicados no país. Em suas palavras:
Phases teve um desenvolvimento entre nós a partir do início dos anos de 1960. Associado do grupo em Paris, ao retornar ao Brasil observei a existência de alguns artistas que, certamente ignorando o trabalho de seus colegas europeus, pertenciam ao mesmo espaço comum de ideias universais. Entendemo-nos e, em breve, alguns antes e outros depois, passaram a integrar manifestações locais e internacionais do movimento.1
Em 1964, o historiador articula contatos para a realização de uma exposição itinerante do Phases no MAC/USP, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) e na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A mostra, uma das maiores realizadas pelo grupo, reúne pinturas, esculturas, colagens, assemblages, fotomontagens e desenhos de 43 artistas de várias gerações e países, aos quais se juntaram quatro radicados em São Paulo: Fernando Odriozola, Wesley Duke Lee, Yo Yoshitome e Bin Kondo. No catálogo da exposição, Edouard Jaguer renega a relevância de aspectos formais na arte, afirmando que
[...] a qualidade de uma imagem, seja ela poética, pictórica ou cinematográfica, mede-se unicamente pela duração de sua presença no espírito daquele que a percebeu, uma só vez em sua vida, ao dobrar uma esquina, de um poema, de uma cena ou de uma exposição. [...] é precisamente quando se manifesta sob o aspecto do automatismo mais elementar, que arrasta com ela o máximo de fatos míticos complexos e indiscerníveis para os meios do sentido comum.
Nos anos seguintes, com o incentivo de Zanini, Fernando Odriozola, Yo Yoshitome e Bin Kondo, Sara Ávila e Maria Carmen formam o Grupo Austral, configurando um novo núcleo internacional de artistas ligados ao Phases, no Brasil. Nessa época, o historiador promove a adesão de Jef Golyscheff à associação, pintor alemão que havia participado do movimento dadaísta de Berlim, então vivendo em São Paulo, praticamente desconhecido e isolado do meio artístico. Em 1967, Zanini organiza a mostra Grupo Austral do Movimento Phases, no MAC/USP. Nos dois anos seguintes, Bernardo Cid e Flávio-Shiró são incorporados ao agrupamento.
Apesar da singularidade das pesquisas individuais, alguns aspectos são recorrentes nos trabalhos do Grupo Austral, tais como figurações de teor fantástico, associações formais ou imagéticas de origem inconsciente e, no caso de Sara Ávila e Maria Carmem, referências à natureza e à cultura popular nordestina. Nos anos 1970, o núcleo brasileiro se dissipa, o que ocorre paralelamente ao enfraquecimento do movimento Phases no plano internacional.
Nota
1 ZANINI, Mário. CoBrA e Phases no segmento brasileiro. Jornal da Tarde, São Paulo, 31 maio 1992. In RIBEIRO, Marília Andrés. Neovanguardas. Belo Horizonte. Anos 60. Belo Horizonte: Editora c/ Arte, 1997, p. 38.
Fontes de pesquisa 4
- ALVARADO, Daisy Valle Machado Peccinini de. Figurações Brasil anos 60: neofigurações fantásticas e neo-surrealismo, novo realismo e nova objetividade brasileira. São Paulo: Itaú Cultural / Edusp, 1999.
- MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Exposição Phases. São Paulo, jun. - jul. 1964. Catálogo de exposição.
- MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. PHASES: surrealismo e contemporaneidade. Grupo Austral do Brasil e Cone Sul. São Paulo: Secretaria do Estado da Cultura: MAC/USP, 1997.
- RIBEIRO, Marília Andrés. Neovanguardas. Belo Horizonte. Anos 60. Belo Horizonte: Editora c/ Arte, 1997. 304 p., il. p&b, color.
Como citar
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GRUPO Phases.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/termo3793/grupo-phases. Acesso em: 05 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7