Julio Pacello
Texto
Julio Pacello (Buenos Aires, Argentina, 1931 - s/l, 1977). Editor, marchand, antiquário. Em sua editora de livros, publica álbuns de gravuras, projetos editoriais ousados e originais de importantes artistas brasileiros.
Fixa residência no Brasil em 1953, aos 22 anos. Frequentador do ateliê de gravura da Escola de Belas Artes de São Paulo, participa da edição do álbum de gravuras, Bahia, do artista Evandro Carlos Jardim (1935), o que lhe abre espaço para conhecer e editar obras de outros artistas. Seu primeiro trabalho como editor foi um álbum de xilogravuras de Trindade Leal (1927-2013), em 1964.
Rapidamente se integra ao meio da literatura e das artes brasileiras, sendo considerado pelos artistas e escritores um editor rigoroso e acompanha de perto a impressão dos livros realizados em seu ateliê. De acordo com o bibliófilo José Mindlin (1914-2010), o trabalho do editor argentino é de "qualidade incomparavelmente superior a tudo quanto se havia feito no Brasil até então"1.
Durante o tempo que mora no país, edita publicações com textos de Clarice Lispector (1920-1977), Jorge Amado (1912-2001), João Cabral de Melo Neto (1920-1999), Hilda Hilst (1930-2004), que acompanham gravuras de artistas também reconhecidos, como Milton Dacosta (1915-1988), Renina Katz (1925) e Marcelo Grassmann (1925-2013).
Pacello não se limita à edição de apenas álbuns de gravura e da literatura. Em seu ateliê, busca por projetos que visam abrir caminhos a novas formas de expressão no meio artístico e editorial. Um exemplo é Objetos, de Julio Plaza (1938-2003). O livro-objeto, lançado em 1969, é composto por 13 objetos. O projeto audacioso do artista consiste em um conjunto de páginas serigrafadas com estruturas pop-ups, que, quando abertas, saltam do plano formas tridimensionais abstrato-geométricas em cores primárias – amarelo, vermelho e azul.
Cada página, chamada de objeto, ganha tridimensionalidade a partir de um conjunto de cortes e dobras simétricas que o artista calculou e idealizou em pequenos protótipos brancos. Em seu ateliê, Pacello reproduz com ajuda de Plaza, o projeto em escala maior e seriado – a única edição de Objetos tem 100 exemplares. Acompanha a obra um poema feito pelo poeta Augusto de Campos (1931), que é serigrafado sobre um dos objetos, do qual salta a forma de um losango em tiras. Esse poema sobre essa estrutura é considerado o primeiro "poemóbile", projeto que Plaza e Campos desenvolvem em 1975.
Em 1969, Pacello ganha uma sala especial na X Bienal Internacional de São Paulo. Seu objetivo, ao selecionar os trabalhos apresentados, é mostrar ao público a produção da sua editora e abrir possibilidades criativas para os artistas, tendo o livro como meio. Pacello vê nas publicações uma maneira da classe artística expor o pensamento criativo de forma completa e com originalidade. Visto que pela sua editora passam trabalhos de artistas consagrados e jovens com futuro promissor, o editor compreende como sua missão a documentação das artes gráficas e edita três volumes da História de Gravura Brasil – sendo o último deixado incompleto.
Paralelo ao seu trabalho de editor e impressor, devido aos seus profundos conhecimentos de arte colonial e sacra, Pacello atua como marchand e antiquário, vendendo móveis e imagens religiosas a colecionadores.
Editor responsável por álbuns de gravuras de importantes artistas brasileiros, o trabalho de Pacello se destaca pelo rigor e qualidade gráfica. As edições de História da Gravura Brasileira é forma que encontrou de documentar a produção feita em seu ateliê e também de parte da produção artística nacional.
Notas
1. MINDLIN, José. Julio Pacello e sua obra editorial. São Paulo: Museu de Arte de São Paulo, 1979.
Exposições 2
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6/8/1996 - 7/9/1996
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10/7/2002 - 6/10/2002
Fontes de pesquisa 9
- ANDRADE, Marco Antonio Pasqualini de. Álbuns de gravura editados por Julio Pacello na coleção do Museu Universitário de Arte Da UFU. Revista do programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Universidade de Brasília. Museologia & Interdisciplinaridade, Vol. 5, no 10, Jul. / Dez. de 2016. P.p. 187-195.
- ANDRADE, Marco Antonio Pasqualini de. Álbuns de gravura editados por Julio Pacello na coleção do Museu Universitário de Arte Da UFU. Revista do programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Universidade de Brasília. Museologia & Interdisciplinaridade, Vol. 5, no 10, Jul. / Dez. de 2016. P.p. 187-195.
- BIENAL INTERNACIONAL DE SÃO PAULO, X., 1969, São Paulo. X Bienal Internacional de São Paulo. São Paulo: Fundação Bienal, 1969. 490 p. Exposição realizada no período de 27 de set. a 14 de dez. de 1969.
- BIENAL INTERNACIONAL DE SÃO PAULO, X., 1969, São Paulo. X Bienal Internacional de São Paulo. São Paulo: Fundação Bienal, 1969. 490 p. Exposição realizada no período de 27 de set. a 14 de dez. de 1969.
- CAMPOS, Augusto de. Poesia “entre”: de Poemóbiles a Reduchamp. In: FUNDAÇÃO VERA CHAVES BARCELLOS. Julio Plaza: poética. Porto Alegre: Fundação Vera Chaves Barcellos, 2013, p. 80-87.
- MINDLIN, José. Julio Pacello e sua obra editorial. São Paulo: Museu de Arte de São Paulo, 1979.
- PLAZA, Julio. Cuatro Artistas y Brasil. Revista de Cultura Brasileña. n. 29, dez.1969.
- PLAZA, Julio. El Libro-Objeto, Revista de Arte. n 03, dez. 1969.
- SÉRGIO GOMES, Karina. Julio Plaza - um artista na contramão. 2020. 207 f. Dissertação (Mestrado em Artes Visuais) – Instituto de Artes - Universidade Estadual Paulista, São Paulo, 2020.
Como citar
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JULIO Pacello.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa9350/julio-pacello. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7