Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Miguel Bakun

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 19.05.2023
28.10.1909 Brasil / Paraná / Marechal Mallet
14.02.1963 Brasil / Paraná / Curitiba
Reprodução fotográfica autoria desconhecida

A Porta dos Sonhos
Miguel Bakun
Óleo sobre tela
54,50 cm x 45,00 cm

Miguel Bakun (Marechal Mallet PR 1909 - Curitiba PR 1963). Pintor e desenhista. É considerado um dos pioneiros da arte moderna no Paraná. Filho de imigrantes eslavos, ingressa na Escola de Aprendizes da Marinha, em Paranaguá, em 1926. Transferido para a Escola de Grumetes do Rio de Janeiro em 1928, conhece o marinheiro e artista José Pancetti, q...

Texto

Abrir módulo

Miguel Bakun (Marechal Mallet PR 1909 - Curitiba PR 1963). Pintor e desenhista. É considerado um dos pioneiros da arte moderna no Paraná. Filho de imigrantes eslavos, ingressa na Escola de Aprendizes da Marinha, em Paranaguá, em 1926. Transferido para a Escola de Grumetes do Rio de Janeiro em 1928, conhece o marinheiro e artista José Pancetti, que o estimula a desenhar. Em 1930 é desligado da Marinha e volta para Curitiba, onde trabalha como fotógrafo ambulante e, mesmo sem formação sistemática, dedica-se à pintura. Para manter-se financeiramente, executa anúncios, letreiros e decorações de interiores. Mais tarde, conhece os pintores Guido Viaro e João Baptista Groff. Em busca de um ambiente cultural mais propício, volta ao Rio de Janeiro em 1939, reencontrando o pintor José Pancetti. Mas, diante das dificuldades encontradas em se estabelecer como pintor, retorna em definitivo para Curitiba no início de 1940. Instala ateliê em prédio cedido pela prefeitura a vários artistas, onde convive com os pintores Alcy Xavier, Loio-Pérsio, Marcel Leite e Nilo Previdi. A década de 1950 é a mais produtiva do artista: dedica-se à pintura de retratos, naturezas-mortas, marinhas, e, sobretudo, à pintura de paisagem. A partir de 1960, realiza obras de temática religiosa. Nessa época, há um predomínio do abstracionismo nas poucas exposições da cidade, marginalizando os artistas figurativos. Miguel Bakun sente esse processo e sofre com sua precária situação econômica. Na ocasião, recebe tratamento médico por causa de forte depressão. No início de 1963, aos 54 anos, o artista suicida-se em seu ateliê.

Análise

Com uma pintura de acentos pós-impressionistas e expressionistas, Miguel Bakun é considerado um dos pioneiros da arte moderna no Paraná. Filho de imigrantes eslavos, ingressa na Escola de Aprendizes da Marinha, em Paranaguá, no ano de 1926. É transferido para a Escola de Grumetes do Rio de Janeiro em 1928, onde conhece o jovem marinheiro e artista ainda desconhecido José Pancetti. Estimulado pelo amigo, começa a desenhar, seguindo sua inclinação de infância. Realiza desenhos nos diversos períodos em que precisa ficar de repouso por causa de acidentes. Em 1930 é desligado da Marinha por incapacidade física, em conseqüência de uma queda do mastro do navio. Transfere-se para Curitiba, onde trabalha como fotógrafo ambulante. Logo conhece os pintores Guido Viaro e João Baptista Groff (1897 - 1970), que o incentivam a pintar. Autodidata, dedica-se profissionalmente à pintura até o fim de sua vida.

Em busca de um ambiente cultural mais propício, volta ao Rio de Janeiro em 1939. Reencontra Pancetti e realiza uma série de paisagens da cidade, principalmente no morro Santa Tereza. Mas diante das dificuldades encontradas em se estabelecer como pintor, retorna em definitivo para Curitiba no início de 1940. Instala ateliê em prédio cedido pela prefeitura e passa a conviver com outros artistas avessos ao academismo, como Alcy Xavier, Loio-Pérsio, Marcel Leite e Nilo Previdi (1913 - 1982). Esse contato permite que Bakun conheça os valores plásticos da pintura. A surpreendente emotividade dos quadros que pinta supera as deficiências de sua formação, sendo logo notado pela crítica. Em texto de 1948, o crítico Sérgio Milliet (1898 - 1966), após visita à cidade, aponta para o espírito van-goghiano de Bakun, ressaltando que lhe falta noção da tela como um todo e há excesso de empastamento. Contudo, conclui sua crítica dizendo: "o entusiasmo do pintor, sua participação intensa na obra tornam, entretanto, simpáticos os seus próprios defeitos".

A partir de então a comparação com o artista holandês se torna recorrente, tanto com relação à pintura de Bakun quanto por seu temperamento melancólico e depressivo. O próprio artista a aceita, reconhecendo sua admiração por Vincent van Gogh (1853 - 1890), cujos quadros conhecia em reproduções ou pessoalmente. Outro ponto de semelhança entre ambos é uma certa religiosidade mística em conflito com um sentimento de profunda solidão, que de modo e intensidade diversos manifestam-se em suas obras.

A década de 1950 é a mais produtiva de Bakun, que se dedica à pintura de retratos, naturezas-mortas, marinhas, mas, sobretudo, à pintura de paisagem, cuja temática mais recorrente são os arredores de Curitiba, com suas matas e casas simples e a intimidade dos fundos de quintal. É nesse último gênero que encontra seu melhor desempenho artístico. O desconhecimento das leis canônicas da perspectiva para a construção do espaço pictórico faz com que o artista invente de modo prático e intuitivo suas próprias soluções. A elaboração de um espaço quase sem profundidade e pontos de fuga, construído pela corporeidade da tinta, singulariza suas paisagens.

Apesar de utilizar esboços a lápis na tela ou no papel, o desenho não comparece em suas pinturas. As formas são criadas mediante o manejo da própria matéria pictórica. Sua paleta restringe-se a tons de azul, verde, branco, por vezes laranja e vermelho e, a cor preferida, amarelo. A variação entre áreas densas e outras ralas, chegando às vezes à ausência de tinta, constitui a espacialização rítmica de suas obras. Os ambientes, em geral familiares e cotidianos como árvores no fundo do quintal, cercas, portas de madeira gastas em casas simples, beiras de estrada, bosques, adquirem um ar de mistério.

O misticismo panteísta de Miguel Bakun leva-o a uma profunda vinculação com a natureza. Para ele, Deus está presente em todos os elementos vivos, animais ou vegetais, e as cores podem revelar esse componente sagrado. É nesse sentido que se devem fazer restrições aos críticos que vêem em seus trabalhos um viés puramente expressionista. Se por um lado seu olhar singular manifesta-se com liberdade, por outro o respeito pela natureza não o afasta da vontade de representação do real. O que vemos é um envolvimento entre o artista e a paisagem, no qual homem e natureza são permeáveis um ao outro. Isso se revela na sensação de proximidade espacial proporcionada por suas telas.

Em fins do anos 1950 o artista introduz estranhas criaturas no quadro, numa visão animista da natureza ainda que alguns críticos, equivocadamente, vejam influência do surrealismo em seu trabalho. No início dos anos 1960 realiza obras de temática religiosa. Sente-se marginalizado com a chegada do abstracionismo, que começa a dominar as poucas exposições em Curitiba. Sua situação econômica também se torna cada vez mais precária. Esses fatores contribuem para o agravamento de sua depressão, apegando-se como nunca à religião. Em fevereiro de 1963 suicida-se em seu ateliê.

Obras 3

Abrir módulo
Reprodução fotográfica autoria desconhecida

Floresta Azul

Óleo sobre tela

Exposições 61

Abrir módulo

Fontes de pesquisa 21

Abrir módulo
  • 150 anos de pintura no Brasil: 1820-1970. Rio de Janeiro: Colorama, 1989.
  • AFINIDADES II - Elas! Curitiba: Museu Oscar Niemeyer, 2022. Disponível em: https://www.museuoscarniemeyer.org.br/exposicoes/afinidades2. Exposição realizada no período de 26 out. 2022 a 28 mai. 2023. Acesso em: 19 mai. 2023.
  • ARTE no Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
  • ARTE no Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1982.
  • AYALA, Walmir. Dicionário de pintores brasileiros. Organização André Seffrin. 2. ed. rev. e ampl. Curitiba: Ed. UFPR, 1997.
  • BAKUN, Miguel. Miguel Bakun, 25 anos depois. Curitiba: Sala Miguel Bakun/Secretaria de Estado da Cultura, 1989. 241 p. il. p.b., fot.
  • BAKUN, Miguel. Miguel Bakun. Apresentação Adalice Araújo. Curitiba: Sala Miguel Bakun, 1980. folha dobrada, il. p&b.
  • BAKUN, Miguel. Obras Inéditas. Curitiba: Studio R. Krieger, 1987.
  • BAKUN, Miguel. Retrospectiva Miguel Bakun. Curitiba: Salão de Exposições do BADEP, 1974. il. p.b., fot.
  • BIENAL BRASIL SÉCULO XX, 1994, São Paulo, SP. Bienal Brasil Século XX: catálogo. Curadoria Nelson Aguilar, José Roberto Teixeira Leite, Annateresa Fabris, Tadeu Chiarelli, Maria Alice Milliet, Walter Zanini, Cacilda Teixeira da Costa, Agnaldo Farias. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1994. Disponível em: https://issuu.com/bienal/docs/name049464.
  • BIENAL INTERNACIONAL DE SÃO PAULO, 18., 1985, São Paulo, SP. Expressionismo no Brasil: heranças e afinidades. São Paulo: Fundação Bienal, 1985.
  • CLUBE Coritibano. Tributo a Bakun. Curitiba: Departamento Cultural, II Semana de Arte e Cultura, 1978.
  • JUSTINO, Maria José. 50 anos de salão paranaense de Belas Artes. Curitiba: MAC, 1995.
  • LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
  • LOUZADA, Júlio. Artes plásticas Brasil 1992: seu mercado, seus leilões. São Paulo: Inter / Arte / Brasil, 1992. v. 5.
  • LOUZADA, Maria Alice do Amaral. Artes plásticas Brasil 1996: seu mercado, seus leilões. São Paulo: Júlio Louzada, 1996. v. 8.
  • PROLIK, Eliane. A Natureza do destino: Miguel Bakun. 2000. 59 p., il. color. Especialização - História da Arte, Curitiba/Brasil, 2000. Orientação de: Ronaldo Brito.
  • PROLIK, Eliane. A natureza do destino: Miguel Bakun. 2000. 59p. il. Monografia apresentada no Curso de Especialização em História da Arte - Escola de Música e Belas Artes do Paraná, Curitiba, 2000.
  • TRADIÇÃO / contradição. Curadoria Maria José Justino. Curitiba: MAC/Paraná, 1986.
  • TRADIÇÃO e ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1984.
  • ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: