Salvador Candia
Texto
Salvador Candia (Campo Grande, Mato Grosso do Sul, 1924 - São Paulo, São Paulo, 1991). Arquiteto e professor. Filho de uma família de origem italiana, muda-se para São Paulo em 1933. Forma-se arquiteto, em 1948, na Faculdade de Arquitetura da Universidade Mackenzie. Durante a graduação, participa do grupo de alunos responsáveis pela criação da revista Pilotis, dentre os quais se encontram Carlos Millan (1927-1964), Jorge Wilheim (1928- ) e Luiz Roberto Carvalho Franco (1926-2001). Em 1947, faz uma viagem de estudos à Europa e Estados Unidos, onde conhece Bernard Rudofsky (1905-1988) e Phillip Johnson (1906-2005), e entra em contato com a obra de Ludwig Mies van der Rohe (1886-1969). Em 1948, integra o grupo de artistas e intelectuais que fundam Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), tendo participado posteriormente na organização das Bienais de arte promovidas pelo museu. Colabora nos escritórios de Rino Levi (1901-1965), Oswaldo Bratke (1907-1997) e Vilanova Artigas (1915-1985), e inicia a sua trajetória profissional conquistando o primeiro prêmio do concurso nacional para a Estação Ferroviária de Pampulha (1950), em co-autoria com Jacob Ruchti (1917-1974) e Plínio Croce (1921-1984). Entre as décadas de 1950 e 1980, realiza diversas parcerias em projetos de edifícios comerciais e habitacionais para o então aquecido mercado imobiliário paulistano, dentre os quais figuram o Edifício João Ramalho (1954-1957), realizado com Plínio Croce (1921-1984) e Roberto Aflalo (1926-1992), e premiado na 4ª Bienal de São Paulo (1957), o Edifício Metropolitano (1960) de escritórios e galerias comerciais realizado em colaboração com Giancarlo Gasperini (1926- ), além de projetos realizados individualmente, dos quais se destacam: Conjunto Ana Rosa (1957) e os edifícios Villares (1961), Santa Cândida e Santa Francisca (1963), Joelma (1968) e Nações - Unibanco (1974). Leciona na Faculdade de Arquitetura da Universidade Mackenzie, nas disciplinas de Composição, Projeto e História da Arte, tendo sido diretor da mesma escola entre 1967 e 1969.
Análise
Salvador Candia inicia a sua vida profissional no auge do processo de metropolização da capital paulista, concentrando a sua atuação no mercado imobiliário local e na produção de edifícios residenciais, comerciais e de serviços. Realizada entre os anos 1950 e 1980, sua obra destaca-se da produção corrente pelo cuidado constante com a inserção dos edifícios no contexto urbano e pela rigorosa coerência formal, associada à clareza do arranjo dos espaços, à coordenação modular e à expressão plástica própria dos elementos construtivos e estruturais do edifício.
A linguagem desenvolvida por Candia o aproxima da arquitetura moderna produzida nos Estados Unidos no segundo pós-guerra, notadamente a realizada por arquitetos imigrantes, como Walter Gropius (1883-1969), Ludwig Mies van der Rohe (1886-1969) e Marcel Breuer (1902-1962), mas mantém um diálogo com a produção de arquitetos modernos que também atuam no mercado imobiliário paulistano naquele período, como Rino Levi (1901-1965), Franz Heep (1902-1978), Oswaldo Bratke (1907-1997) e Vital Brazil (1909-1997).
O caráter marcadamente urbano de seus projetos está presente desde o Conjunto de Edifícios de Apartamentos em Perdizes (1953), realizado com Plínio Croce (1921-1984) e Roberto Aflalo (1926-1992), onde propõe a construção de edifícios residenciais de alta densidade implantados sobre pilotis em uma quadra ajardinada aberta ao acesso público. A orientação diagonal dos edifícios em relação à trama viária existente obedece ao esquema inicial proposto pelo arquiteto Abelardo Riedy de Souza (1908-1981). Este arranjo evita a situação típica de frente e fundos em relação às ruas de acesso, e possibilita a permeabilidade física e visual para o interior da quadra, tal como atesta o único dos edifícios do conjunto construído, o João Ramalho (1954 - 1957), premiado na 4ª Bienal de São Paulo (1957), na categoria Habitações Coletivas. A mesma equipe de arquitetos realiza posteriormente uma revisão do plano de ocupação desta quadra, propondo a implantação dos edifícios Barão de Laguna e Barão de Ladário (1959), cujo arranjo formal em torres compactas de planta quadrada corresponde a um adensamento ainda maior do que o proposto anteriormente. Nos edifícios de apartamento Santa Candia e Santa Francisca (1963), situados em Higienópolis, São Paulo, Candia recupera essa experiência, propondo a implantação de duas torres idênticas, de planta quadrada, dispostas em "L", de forma a constituir um grande espaço vazio junto à esquina, que se reporta à aclamada obra de Mies van der Rohe, a Lake Shore Drive (1947-1950), construída em Chicago.
Em 1960, Candia projeta o Edifício Metrópole (1960) com Giancarlo Gasperini (1926- ), também finalista no concurso fechado de projetos promovido para a sua realização. A resolução de um programa complexo, composto por galeria comercial, cinema, restaurantes, estacionamento e torre de escritórios, articula-se fortemente à trama da cidade existente, estabelecendo no interior do edifício a continuidade dos percursos existentes entre a praça Dom José Gaspar e as ruas circundantes. O miolo da quadra é incorporado pela galeria comercial através da construção de um jardim interno para o qual as lojas estão voltadas. A torre de escritórios de vinte pavimentos assenta-se sobre o embasamento de galerias comerciais, e marca a esquina entre a referida praça e a avenida São Luis.
No projeto para o Edifício Joelma (1968), Candia acomoda de maneira engenhosa um estacionamento vertical para 300 vagas em um embasamento de dez pavimentos constituído por rampas helicoidais contínuas de inclinação suave, sobre o qual está disposta uma torre dupla de escritórios de quinze pavimentos.1 Situada na extremidade do lote, a torre é concebida levando-se em consideração o desenho da quadra, tanto do ponto de vista das ruas circundantes quanto das construções existentes, a sua geometria é definida pelo alinhamento da avenida 9 de julho, dos edifícios na rua Santo Antônio, da esquina e pelo desejo de destacá-la. A mesma preocupação com a inserção urbana que marca este projeto, como os anteriormente descritos, assim como o destaque dado aos elementos estruturais cujo desenho confere unidade às suas obras, está presente também no Conjunto Ana Rosa (1957) e nos edifícios Villares (1961) e Nações - Unibanco (1974).
Nota
1. Em fevereiro de 1974, cerca de três anos após a sua inauguração, ocorreu um trágico incêndio no edifício, marcado pelas quase duas centenas de vítimas fatais. Tendo sido precedido pelo edifício Andraus na mesma cidade em 1972, o desastre do Joelma (provocado pela negligência na instalação de aparelhos de ar condicionado) provocou uma série de debates em torno das normas de segurança das edificações principalmente entre os institutos técnicos de São Paulo e do Rio de Janeiro, resultando em mudanças na legislação pertinente. Em 1979, o edifício foi recuperado e equipado com uma nova escada de segurança, projetada pelo mesmo arquiteto.
Exposições 3
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22/9/1968 - 8/1/1967
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5/10/1973 - 2/12/1973
Fontes de pesquisa 11
- ACAYABA, Marlene Milan. Branco & Preto: uma história de design brasileiro nos anos 50. 1991. 138f. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo. 1991.
- ARQUITETURA E DESENVOLVIMENTO NACIONAL: DEPOIMENTOS DE ARQUITETOS PAULISTAS. São Paulo: Instituto de Arquitetos do Brasil: Pini, 1979.
- CROCE, AFLALO E GASPERINI ARQUITETOS. 25 anos depois uma retrospectiva da obra de Croce, Aflalo & Gasperini Arquitetos. São Paulo: CVS-Artistas Associados: Ed. Pau Brasil. 1986.
- CUNHA JUNIOR, Jaime. Edifício Metrópole: um diálogo entre arquitetura moderna e cidade. 2007. 235 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.
- FERRONI, Eduardo Rocha. Salvador Candia e a arquitetura moderna em São Paulo. 2007. 167 f. Memorial de Qualificação da Dissertação de Mestrado - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.
- KUNNI, Mariana Limeira. Salvador Candia. 2000. Trabalho de Graduação Interdisciplinar - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Mackenzie, São Paulo, 2000.
- LEMOS, Carlos Alberto Cerqueira. Viagem Pela Carne. São Paulo: Edusp, 2005. 256p., il p&b.
- Premiação do XVII Salão Paulista de Belas Artes. Correio Paulistano, São Paulo, 26 ago. 1952. capa. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/090972_10/12452. Acesso em: 03 jun.. 2022.
- SALÃO PAULISTA DE BELAS ARTES, 17., 1952, São Paulo. 17º Salão Paulista de Belas Artes. São Paulo, SP: Salão do Trianon, 1952.
- Salvador Candia. Arquivo Arq. Disponível em: https://arquivo.arq.br/profissionais/salvador-candia. Acesso em: 03 jun. 2022.
- XAVIER, Alberto; CORONA, Eduardo; LEMOS, Carlos (org.). Arquitetura moderna paulistana. São Paulo: Pini, 1983.
Como citar
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SALVADOR Candia.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa861/salvador-candia. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7