Abelardo Riedy de Souza
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Biografia
Abelardo Riedy de Souza (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1908 - São Paulo, São Paulo, 1981). Arquiteto. Ingressa na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), no Rio de Janeiro, em 1927. Participa da greve de estudantes de 1931 liderada por Luiz Nunes (1909-1937) - em protesto pela demissão de Lucio Costa (1902-1998) como diretor da escola - e do 1º Salão de Arquitetura Tropical (1933). Forma-se em 1932, frequentando o curso de urbanismo da Universidade do Distrito Federal, então Rio de Janeiro, até 1935, quando este é encerrado por determinação do governo. No mesmo período, trabalha por um ano no departamento de engenharia da Prefeitura do Distrito Federal. Em 1936, assume o cargo de encarregado das obras do Banco Hipotecário Lar Brasileiro, criado em 1926 na capital federal. Três anos depois recebe a encomenda de projetar e acompanhar a obra de um depósito para a companhia de gasolina Azteca em São Paulo, para onde se transfere definitivamente em 1939. Além da atuação como arquiteto, trabalha como professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAU/USP, desde a sua fundação em 1948. Leciona como assistente de Vilanova Artigas (1915-1985) e Hélio Duarte (1906-1989) na cadeira de Composição Arquitetônica e Pequenas Composições e na disciplina de Desenho à Mão Livre e na disciplina de Plástica II. Interrompe a atividade docente entre 1956 e 1961 e, em 1971, se aposenta. É autor de obras importantes do processo de verticalização de São Paulo como o Conjunto Ana Rosa, 1950/1954, localizado na Vila Mariana, São Paulo, e o Edifício Nações Unidas, 1952/1959, na Avenida Paulista e do livro Arquitetura no Brasil, 1978, que reúne depoimentos dos pioneiros da arquitetura moderna no país.
Análise
Graduado na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), no período em que Lucio Costa assume a sua direção (1930-1931), Abelardo Riedy de Souza faz parte de uma geração que se forma dentro dos princípios da arquitetura moderna e que contribui para a sua disseminação no Brasil a partir dos anos de 1940. No caso de Abelardo de Souza, essa contribuição se dá tanto através de sua atividade docente na recém-criada Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAU/USP, quanto como arquiteto atuante no mercado imobiliário paulista. Mercado que se expande fortemente nesse período, e investe sobretudo em edifícios residenciais para a classe média, tais como o Conjunto Ana Rosa e os edifícios Nações Unidas, 1952/1959 e Ministro Godói, 1954, de sua autoria. Este último, faz parte de um empreendimento maior que reune os arquitetos Salvador Candia (1924-1991), Plínio Croce e Roberto Aflalo, com o objetivo de propor um novo desenho para a cidade, algo já experimentado pelos mesmos arquitetos no Conjunto Ana Rosa, que conta com a participação de Eduardo Kneese de Mello. No Edifício Ministro Godói, a implantação diagonal dos edifícios em relação ao traçado das ruas, rompe com o sistema de ocupação tradicional da cidade, tensionando os limites do lote e propondo uma maior permeabilidade física e visual entre os espaços públicos e privados.
Essa mesma intenção está presente no Edifício Nações Unidas. O seu interesse maior, contudo, está na adoção e adaptação das propostas de Le Corbusier para o mercado imobiliário paulistano. Em seu projeto, Souza desenha um edifício de uso misto, prevendo uma galeria comercial sob os pilotis no térreo, uma área destinada a serviços e escritórios sobre a marquise da galeria, duas torres residenciais e um terraço-jardim de uso coletivo. Nas plantas se reconhece o esforço de racionalização dos usos e do processo construtivo, embora não faça uso da planta livre. Nas fachadas, por sua vez, a janela corrida comparece ao lado de venezianas de madeira, planos de elementos vazados cerâmicos e superfícies revestidas com pastilhas. Aí predominam os tons pastéis: rosa, amarelo, cinza, azul e marrom -, elementos típicos da arquitetura carioca, porém distantes da estética de Le Corbusier que só usa cores primárias: azul, verde, vermelho. Se essas adaptações parecem responder às necessidades econômicas do investidor e ao gosto médio da clientela, tirando da arquitetura moderna o seu conteúdo vanguardista, por outro lado, elas servem para a ampliação desse gosto e a maior aceitação dos preceitos daquela arquitetura no país.
Exposições 2
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26/10/2001 - 14/1/2000
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30/11/2003 - 2/3/2002
Fontes de pesquisa 9
- BARBARA, Fernanda. Duas tipologias habitacionais: o conjunto Ana Rosa e o edifício Copan. 2004. 332f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo, São Paulo, 2004.
- CONSTANTINO, Regina Adorno. A obra de Abelardo de Souza. 2004. 282f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo, São Paulo, 2004.
- DEPOIMENTO de uma geração: arquitetura moderna brasileira. rev. ampl. Organização Alberto Xavier. São Paulo: Cosac Naify, 2003.
- SAMPAIO, Maria Ruth do Amaral (org.). A promoção privada da habitação econômica e a arquitetura moderna. São Carlos: RiMa, 2002. 316p. il. color.
- SANTOS, Lena Coelho. Arquitetura paulista em torno de 1930-1940. 1985. 130f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo, São Paulo, 1985.
- SANTOS, Luciene Ribeiro dos. Os professores de projeto da FAU-USP (1948-2018): esboços para a construção de um centro de memória. 478f. 2018. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2018. Disponível em: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16134/tde-18092018-163855/publico/MElucieneribeirodossantos_rev.pdf. Acesso em: 21 nov. 2020.
- SEGAWA, Hugo. Arquitetos peregrinos, nômades e migrantes. In: ______. Arquiteturas no Brasil: 1900-1990. 2 ed. São Paulo: Edusp, 1999.
- SOUZA, Abelardo de. Arquitetura no Brasil: depoimentos. São Paulo: Diadorim: Edusp, 1978.
- Vitruvius. Disponível em www.vitruvius.com.br/arquitextos/ arq000/bases/texto067.asp (Site consultado em 23/01/2003).
Como citar
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ABELARDO Riedy de Souza.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa351601/abelardo-riedy-de-souza. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7