Franz Heep
Texto
Adolf Franz Heep (Fachbach, Alemanha, 1902 – Paris, França, 1978). Arquiteto. Forjado nas ideias racionalistas da escola Bauhaus, exerce um trabalho autoral e tem atuação importante na construção civil da São Paulo dos anos 1950, época de efervescente modernização da capital paulista. Projeta prédios icônicos, sendo o Edifício Itália sua obra mais conhecida.
Heep se forma em Frankfurt e pouco depois se transfere para Paris, onde vive por quase duas décadas. Com a escassez de trabalho no contexto europeu após a Segunda Guerra Mundial, migra para o Brasil em 1947, trazendo na bagagem a experiência do trabalho em obras públicas com Adolf Meyer (1881-1929), em Frankfurt, e a influência francesa de Mallet-Stevens (1886-1945), Auguste Perret (1874-1954) e Le Corbusier (1887-1965), com quem colabora em sua temporada parisiense.
Formado no modelo da Bauhaus, Heep concebe a arquitetura como instrumento de racionalização da produção, dando ênfase aos processos de industrialização, padronização de componentes e detalhamento do projeto. Parte do pressuposto de que a cidade é um organismo autorregulável, isento de contradições econômicas e sociais, e coloca-se como um técnico aparelhado para atender às suas demandas.
Trabalhando para o mercado imobiliário de São Paulo, ajuda a consolidar um padrão de excelência arquitetônica, particularmente expressivo na região central e no bairro de Higienópolis, encontrando um efervescente mercado de construção civil, alimentado pelo processo de modernização e crescimento da cidade. Empregado no escritório de Jacques Pilon (1905-1962), imprime sua marca ao introduzir o brise-soleil1 como proteção nas fachadas ensolaradas, dando-lhes modulação, movimento, escala e ritmo. São exemplos dessa fase os edifícios do jornal O Estado de S. Paulo (1943), na região central de São Paulo, o R. Monteiro (1950), o Vicente Filizola (1943), em São Paulo, e a Casa da França (1950), no Rio de Janeiro.
Mas é a partir de 1952, quando abre seu próprio escritório, que sua produção se afirma. A cidade vive um intenso crescimento imobiliário, substituindo os antigos prédios feitos para renda ou aplicação, financiados pela aristocracia cafeeira e pelos industriais, por edifícios comercializáveis de escritório ou habitação econômica (as chamadas quitinetes), feitas por sociedades incorporadoras. A sofisticação e a eficiência dos projetos de Heep são fundamentais para o êxito dos empreendimentos.
Entre os seus projetos de quitinetes, destacam-se os edifícios Marajó (1952), Normandie (1953), Iporanga (1956) e Arlinda (1959). Segundo o pesquisador Marcelo Consiglio Barbosa, esses projetos têm elementos que constituem a marca registrada do arquiteto, como caixilharia com ventilação cruzada nas partes superior e inferior, floreira e lâmina de concreto separando as unidades habitacionais e terraços que protegem da insolação excessiva. Estes edifícios apresentam características similares de planta, geralmente com unidades dispostas lado a lado, com acesso por corredor único e circulação vertical destacada do corpo da edificação2.
Entre os edifícios de alto padrão projetados por Heep, destaca-se o Ouro Preto (1954), que atravessa longitudinalmente todo o quarteirão, com planta em H e acesso por duas ruas. Os dormitórios têm veneziana de correr com lâminas móveis, alternadamente entre os andares pares e ímpares, formando um grafismo geométrico. A sala tem uma loggia3 que avança no alinhamento da calçada e a varanda se descola do prédio vizinho por meio de uma veneziana fixa.
Seus projetos de prédios de escritórios também são referências, como o Edifício Itália (1954) e o Edifício São Marcos (1959). O primeiro é um arranha-céu de 46 andares que ocupa toda a área do terreno, preserva a escala da rua e os espaços públicos de circulação, fazendo do imóvel uma passagem de pedestres entre as avenidas São Luís e Ipiranga, no centro de São Paulo. É composto também por dois prédios menores, com oito pavimentos cada, implantados nas empenas das edificações vizinhas, servindo de anteparo e contraponto visual para a torre4.
Também projeta a igreja São Domingos (1953), no bairro de Perdizes, e o importante conjunto residencial Mapi, no Paraná, com a colaboração do discípulo Elgson Ribeiro Gomes (1922-2014).
Dá aulas de projeto na Universidade Presbiteriana Mackenzie entre 1958 e 1965. Em seguida, trabalha como membro do Conselho de Arquitetura das Nações Unidas para os países latino-americanos, período em que concebe um projeto urbanístico no Peru, com 1.500 habitações, usando formas metálicas deslizantes. Em 1968, projeta uma cidade-satélite em Assunção, Paraguai.
Seu afastamento do mercado imobiliário paulistano, a partir dos anos 1960, se deve sobretudo a uma transformação de sua lógica econômica. Dada a enorme procura por imóveis, a qualidade de projeto e execução deixa de ser um fator relevante para as vendas. As decisões de projeto passam a ser tomadas pelos incorporadores imobiliários.
O alemão Franz Heep projeta alguns dos edifícios mais icônicos de São Paulo, em uma época em que os projetos autorais têm grande importância na construção civil. De sua prancheta, saem prédios comerciais e residenciais, luxuosos e populares, alicerçados sobre os princípios racionalistas consagrados pela escola Bauhaus.
Notas
1. Brise soleil, também conhecido como brise, é um dispositivo que evita a incidência direta de raios solares no interior do imóvel.
2. BARBOSA, Marcelo Consiglio. Do público ao privado: a habitação coletiva na obra de Franz Heep. Projetodesign, set. 2002. Disponível em: http://www.arcoweb.com.br/debate/debate40.asp. Acesso em: dez. 2006.
3. Loggia é um elemento arquitetônico, aberto pelo menos de um lado como uma galeria ou varanda, coberto e geralmente apoiado por colunas e arcos.
4. BARBOSA, Marcelo Consiglio. A obra de Adolf Franz Heep no Brasil. 2002. 187 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002. p.108-116.
Fontes de pesquisa 2
- BARBOSA, Marcelo Consiglio Barbosa. A obra de Adolf Franz Heep no Brasil. 2002. Dissertação Mestrado - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAU/USP, São Paulo, 2002.
- BARBOSA, Marcelo Consiglio. Do público ao privado: a habitação coletiva na obra de Franz Heep, Projetodesign 272, set. 2002. Disponível em: [http://www.arcoweb.com.br/debate/debate40.asp]. Acesso em: dez. 2006.
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FRANZ Heep.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa444379/franz-heep. Acesso em: 04 de maio de 2025.
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