Evandro Teixeira
![Evandro Teixeira, 2016 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2020/08/638870_71065.jpg)
Evandro Teixeira, 2016
André Arruda, Evandro Teixeira
Texto
Evandro Teixeira de Almeida (Irajuba, Bahia, 1935 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2024). Fotógrafo. Figura central do fotojornalismo brasileiro na segunda metade do século XX, suas imagens de grande sensibilidade e força expressiva compõem um panorama histórico e cultural de vários temas – sociais, esportivos, políticos – e deixam sua marca sobretudo no registro dos anos de ditadura civil-militar no Brasil.
Nasce em Irajuba, vilarejo no interior da Bahia, e desde a infância acompanha notícias pelo rádio. Seu interesse por fotografia se manifesta na adolescência ao ver ensaios publicados em O Cruzeiro, a revista de maior circulação da América Latina da época.
Realiza curso de fotografia com José Medeiros (1921-1990) e tem como outros mentores so os fotógrafos Teotônio e Nestor Rocha, respectivamente, primo e tio do cineasta Glauber Rocha (1939-1981). No Jornal de Jequié aprende com Valter Lessa (1932), pioneiro do fotojornalismo na Bahia, a fotografar com viés mais jornalístico. Na cidade baiana de Ipiaú trabalha no Jornal Rio Novo até 1954, quando, já em Salvador, passa a atuar nos Diários de Notícias, vinculado aos Diários Associados de Assis Chateaubriand (1892-1968), o maior conglomerado de mídia do Brasil.
Em 1957, muda-se para o Rio de Janeiro e trabalha no Diário da Noite. Atua por quase um ano na revista O Mundo Ilustrado, na cobertura da Copa do Mundo no Chile, em 1962. Seu trabalho se destaca e chama a atenção do Jornal do Brasil, onde inicia como fotojornalista em 1963. Como consequência das reformulações editoriais realizadas no final dos anos 1950, o Jornal do Brasil passa a destacar fotografias na primeira página do periódico. A modernização também acompanha a composição do time de articulistas, que passa a contar com Nelson Pereira dos Santos (1928-2018), Marina Colasanti (1937) e Otto Lara Resende (1922-1992).
Em 1964, flagra o episódio inaugural do golpe militar: na madrugada do dia 1 de abril, consegue burlar a segurança e entrar no Forte de Copacabana, onde testemunha a tomada do local e do quartel adjacente pelo general Humberto Castello Branco (1897-1967). A imagem capturada que compõe a capa do jornal no dia seguinte mostra a silhueta de um soldado solitário de plantão sob chuva torrencial. A legenda aponta que o oficial do Exército controla a situação durante as comemorações da vitória, permanecendo "fiel até debaixo d'água". A foto emblemática é tida como um prenúncio do período sombrio que domina o país nas décadas subsequentes.
Em 1968, registra as manifestações pela liberdade de expressão e os conflitos no centro do Rio de Janeiro. A forte repressão da cavalaria das Forças Armadas contra os estudantes em frente ao edifício do Jornal do Brasil no dia 21 de junho, conhecida como Sexta-Feira Sangrenta, ganha extensa cobertura jornalística. As imagens do fotógrafo registram cenas específicas, como a da perseguição de dois policiais a um estudante, segundos antes da queda fatal, e tomadas gerais, como a que mostra o avanço dos cavaleiros fardados sobre a população na praça da Candelária. Essas imagens são fundamentais tanto para divulgar o recrudescimento do aparato repressivo como para fixar historicamente esse momento.
Seu trabalho no fotojornalismo durante a repressão militar exige táticas para driblar a censura, como entregar aos censores provas de contato com imagens escurecidas e, na rua, fugir dos oficiais que podem destruir negativos e equipamentos e levá-lo preso. No entanto, muitas vezes, as imagens são vetadas, como no caso da foto realizada com uma lente grande angular, que captura a multidão com faixas contra o regime ditatorial na Marcha dos Cem Mil , realizada no Rio de Janeiro, em 26 de junho de 1968.
Durante os 47 anos que trabalha no Jornal do Brasil, cobre diversas pautas, como o início da ditadura no Chile em 1973, o suicídio coletivo no culto de Jim Jones na Guiana em 1978, a visita do Papa João Paulo II a catorze cidades brasileiras, além de diversos eventos esportivos, políticos e sociais.
Entre sua produção autoral, o projeto Canudos 100 anos é um dos mais relevantes. Nos anos 1990, permanece por quatro anos em Canudos, lugar de nascimento de sua avó e palco da guerra em que a comunidade sertaneja liderada por Antônio Conselheiro (1830-1897) é massacrada pelo Exército brasileiro. Lá fotografa os vestígios humanos e materiais do conflito1.
Presente na Enciclopédia Suíça de Fotografia, reunião dos maiores fotógrafos do mundo, Teixeira tem vida e obra retratadas no documentário de Paulo Fontenelle (1970) Instantâneos da realidade. Entre os prêmios, recebe os da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), da Nikon e da Sociedade Interamericana de Imprensa. Seu acervo, composto por 150 mil fotogramas, está sob a guarda do Instituto Moreira Salles.
Em seu incansável trabalho documental na captura visual e informativa do cotidiano, utilizando aguçada sensibilidade para compor a imagem e atenção irrestrita à cena e seu contexto, Evandro Teixeira confere às suas imagens a marca permanente de registro da história do Brasil.
Nota
1. Nesse livro, lançado em 1997, Evandro Teixeira segue a tradição do registro fotográfico de Canudos iniciada por Flávio de Barros em 1897, que captura imagens do conflito, e o trabalho de Pierre Verger(1902-1996) feito cinquenta anos depois para a revista O Cruzeiro.
Obras 11
Canudos 100 Anos - Aguadeira ou Lavadeira, Euclides da Cunha BA
Casamento em Paraty, Parati RJ
Chico, Tom e Vinicius, Rio de Janeiro RJ
Exposições 54
-
0/0/0 - 0/0/0
-
23/11/1972 - 20/12/1972
-
9/1980 - 9/1980
-
5/1982 - 5/1982
-
5/1982 - 5/1982
Fontes de pesquisa 9
- BONI, Paulo César. A Fotografia a Serviço da Luta contra a Ditadura Militar no Brasil. Revista Discursos Fotográficos, Londrina, v.8, n. 12, p.217-252, jan./jun., 2012.
- BRIL, Stefania. O fotojornalismo quando cativa: Evandro Teixeira. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 25 maio 1983. p. 16.
- CARBONCINI, Anna (coord.). Coleção Pirelli / MASP de Fotografias: v. 3. Versão em inglês Kevin M. Benson Mundy. São Paulo: Masp, 1993.
- COSTA MOREIRA, Silvana. Evandro Teixeira: um certo olhar. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2014.
- Evandro Teixeira, um dos maiores nomes do fotojornalismo do Brasil morre no Rio, aos 88 anos. g1, Rio de Janeiro, 04 nov. 2024. Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2024/11/04/evandro-teixeira-um-dos-maiores-nome-do-fotojornalismo-brasileiro-morre-no-rio.ghtml. Acesso em: 04 nov. 2024.
- FÁVARO, Armando. O fotojornalismo durante o regime militar: imagens de Evandro Teixeira. São Paulo, 2009. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Semiótica) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2009. Disponível em: https://tede2.pucsp.br/bitstream/handle/5200/1/Armando%20Favaro%20completo.pdf. Acesso em: 27 maio 2022.
- Site do artista. Disponível em: . Acesso em: 21 mai. 2013.
- TEIXEIRA, Evandro. Evandro Teixeira. [Entrevista cedida a] Patrícia Monte-Mór e Regina Abreu. Cadernos de Antropologia e Imagem, Rio de Janeiro, v.1, p. 187-213, 2006. Disponível em: http://www.reginaabreu.com/site/images/attachments/artigos/entrevusta_evandro.pdf. Acesso em: 27 maio 2022.
- TEIXEIRA, Evandro. Evandro Teixeira: fotojornalismo. 2. ed. Rio de Janeiro: JB, 1982.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
EVANDRO Teixeira.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa7623/evandro-teixeira. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7