Janaina Barros
Texto
Janaina Barros Silva Viana (São Paulo, São Paulo, 1979). Artista visual, performer, pesquisadora e educadora. Atravessa múltiplas linguagens artísticas para comunicar suas inquietações, questionando as construções de gênero sob uma perspectiva étnica e racial.
Gradua-se no curso de licenciatura em educação artística com habilitação em artes visuais pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (IA/Unesp), em 2000. No ano seguinte, na mesma instituição, inicia a habilitação em artes cênicas, interrompida em 2002, e, no mesmo ano, faz aulas de pintura com a artista visual Regina Carmona (1954), no Centro Universitário Maria Antônia, da Universidade de São Paulo (USP).
Em 2003, estuda dança e teatro com o intérprete e coreógrafo Umberto da Silva (1951-2008), e, no ano seguinte, dança contemporânea, contato e improvisação, com as intérpretes-criadoras Lívia Seixas e Gisele Calazans, da Cia Nova Dança.
Sob orientação da artista visual e educadora Rosana Paulino (1967), tem aulas de desenho de modelo vivo no Sesc Pinheiros, em 2005. No mesmo ano, conclui especialização em linguagens visuais na Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo, e, em 2008, obtém o título de mestra em artes pelo IA/Unesp.
Estuda pintura com orientação do artista Paulo Pasta (1952) no Instituto Tomie Ohtake, em 2010, ano em que se filia à Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN). Participa da residência AfroTranscendence, em 2016, no espaço Red Bull Station, em São Paulo, idealizado pela curadora Diane Lima (1986).
No mesmo ano, organiza sua primeira exposição individual, Sobre Remendos, Afetos e Territórios, no espaço cultural Aparelha Luzia, na cidade de São Paulo, onde tem parceria artística e desenvolve ações performáticas. Nessa exposição, apresenta obras e séries produzidas ao longo de sua vida. Uma delas é a série Sou Todo Seu (2010), em que luvas costuradas com renda e tecidos de estampas variadas trazem frases com pedidos de afeto bordadas com miçangas e fios de costura. A obra é a recriação de objetos de proteção utilizados em cozinhas e evidencia o interesse pela afetividade negra construída no âmbito doméstico. Essa aprendizagem é herdada de sua mãe e demarca a relação consistente acerca de sua história e vivência com a ancestralidade feminina, parte dos ensinamentos de produções têxteis encontrados com frequência em suas criações plásticas.
Expandindo seu pensamento acerca da domesticidade, do feminino, do afeto e da violência, Janaina apresenta na mesma exposição obras da série Bonecas de Bitita (2013), cujo título faz referência à obra literária Diário de Bitita, da escritora Carolina Maria de Jesus (1914-1977), objeto de pesquisa da artista para essa construção. Parte da série Psicanálise do Cafuné (2016) também integra a exposição. A obra é composta de colagens de desenhos sobre construções de afetos, utilizando a delicadeza para abordar violências cotidianas que ultrajam pessoas negras, com base na experiência colonial e na cordialidade geradora das relações de poder no Brasil.
Esse trabalho disserta sobre a falta de afeto a que as mulheres negras são submetidas cotidianamente na sociedade, assim como sobre a figura não humanizada na maioria das obras propagadas pela história da arte, contada sob uma perspectiva eurocêntrica. Janaina afirma que “O amor também é uma forma de estratégia de luta quando reafirmamos a todo momento algo que nos é negado”.1
Em 2018, participa das exposições coletivas Histórias Afro-Atlânticas, com a série de desenhos Psicanálise do Cafuné, realizada pelo Museu de Arte de São Paulo (Masp) em parceria com o Instituto Tomie Ohtake, e PretAtitude – Emergência, Insurgência e Afirmações na Arte Contemporânea Afro-brasileira, realizada pelo Sesc Ribeirão Preto e Sesc São Carlos.
Em parceria com o artista visual Wagner Leite Viana realiza a exposição Processo Mau Olhado, como parte da 1ª Mostra do Programa de Exposições 2018, do Centro Cultural São Paulo (CCSP). Neste trabalho, uma obra ou ação pode se desdobrar em outra, resultando em performances, fotografias, objetos e panfletos, como um roteiro disponibilizado para o público, que passa a compor a obra e intervir no processo final, se desejar. Janaina desenvolve ações baseadas em uma série de pesquisas artísticas, educativas e acadêmicas que se entrecruzam com os lugares de libertação de linguagem, desdobradas em investigação, sistematização e formalização poéticas. Essa exposição traz a reflexão sobre as camadas de violência que atingem os diferentes corpos negros, demonstrando a necessidade de reescrita das histórias oficializadas, identificando os modos como são vistos os corpos negros partindo de lugares que não abarcam suas subjetividades quando referidos.
Os processos de formação advindos das aprendizagens no espaço familiar e no acadêmico demarcam a produção de Janaina Barros, que se utiliza da afetividade como fio condutor. A artista converge linguagens e técnicas a sua pesquisa e produção em arte, por meio das quais faz transitar corpo e intelecto.
Notas
1. SANTOS, Renata Aparecida Felinto dos. Arte sabor vida: as visualidades negras das obras de Janaina Barros e de Michelle Mattiuzzi. (No prelo)
Exposições 5
-
26/6/2017 - 25/7/2017
-
3/8/2017 - 6/9/2017
-
9/2018 - 9/12/2018
-
16/5/2019 - 18/8/2019
-
Fontes de pesquisa 6
- APARELHA Luzia. Abertura da exposição de Janaina Barros "Sobre Remendos, Afetos e Territórios". 2016. Post do Facebook. Disponível em: https://www.facebook.com/aparelhaluzia/posts/2008s%C3%A1bado19habertura-da-exposi%C3%A7%C3%A3o-de-janaina-barrossobre-remendos-afetos-eterr/1829580470605325/. Acesso em: 17 dez. 2018.
- CENTRO CULTURAL DE SÃO PAULO. Programa de Exposições 2018: Janaina Barros e Wagner Leite Viana. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 2018. Entrevista concedida a Danilo Satou, Marcia Dutra e Vinícius Máximo. Disponível em: http://centrocultural.sp.gov.br/site/programa-de-exposicoes-2018-janaina-barros-e-wagner-leite-viana. Acesso em: 20 jan. 2019.
- SANTOS, Renata Aparecida Felinto dos. Arte sabor vida: as visualidades negras das obras de Janaina Barros e de Michelle Mattiuzzi. (No prelo).
- SANTOS, Renata Aparecida Felinto dos. Dimensões do feminino negro na arte de Janaina Barros: abordagens da arte contemporânea afrodescendente. Revista Gama, Estudos Artísticos, 2013. v. 1|2|, p. 88-93. Disponível em: https://issuu.com/fbaul/docs/gama2/88. Acesso em: 9 abr. 2019.
- VIANA, Janaina Barros Silva. Janaina Barros Silva Viana. Ceará: [s.n.], 2018. Entrevista cedida a Eliana Amorim, artista/professora/pesquisadora.
- VIANA, Janaina Barros Silva. Janaina Barros Silva Viana. Ceará: [s.n.], 2018. Entrevista cedida a Fernanda Veloso, pesquisadora do Projeto Yabarte: Processos gestacionais na arte contemporânea a partir dos pensares e fazeres negros femininos, Urca.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
JANAINA Barros.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa641413/janaina-barros. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7