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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Diane Lima

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 30.12.2023
1986 Brasil / Bahia / Mundo Novo
Registro fotográfico Marcus Leoni

Diane Lima, 2019

Diane Sousa da Silva Lima (Mundo Novo, Bahia, 1986). Curadora independente, escritora e pesquisadora. É uma das vozes do pensamento feminista negro no debate brasileiro contemporâneo. Questiona os paradigmas do sistema artístico e propõe modos de produção menos hierárquicos e que incluam saberes multiculturais.

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Diane Sousa da Silva Lima (Mundo Novo, Bahia, 1986). Curadora independente, escritora e pesquisadora. É uma das vozes do pensamento feminista negro no debate brasileiro contemporâneo. Questiona os paradigmas do sistema artístico e propõe modos de produção menos hierárquicos e que incluam saberes multiculturais.

Em Salvador, durante a formação em comunicação social (2008) e em meio aos estudos de história da arte, dedica-se ao trabalho curatorial. Em 2014, cria e atua como diretora criativa da plataforma NoBrasil, que reúne pesquisas artísticas e experimentos curatoriais. Em 2015, a plataforma passa a fomentar produções independentes, como o AfroTranscendence (ou Afro-T), programa de imersão formado por processos criativos nascidos da cultura afro-brasileira. Esse projeto procura dialogar com saberes ancestrais, memórias e identidades por meio de vivências artísticas, palestras e oficinas. 

Em 2016, NoBrasil passa a colaborar com o Festival de Cinema Africano do Vale do Silício, na Califórnia (Estados Unidos). A curadoria de Diane Lima dá relevo à produção audiovisual de mulheres negras.

Entre 2016 e 2017, participa da idealização de Diálogos Ausentes, fórum promovido pelo Itaú Cultural para debater identidade e representatividade negra na arte contemporânea. O ciclo de debates reúne artistas de diferentes linguagens para discutir a invisibilidade institucional imposta à cultura afro-brasileira. Como resposta a esse silêncio, o fórum articula a exposição Diálogos Ausentes (2016). As curadoras Diane Lima e Rosana Paulino (1967) destacam a ressignificação e a expansão conceitual da identidade negra que perpassa a produção dos artistas que participam da exposição. 

No registro audiovisual da performance Unguento (2015), Dalton Paula (1982) resgata memórias da resistência negra durante a escravidão ao falar do uso entorpecente da planta guiné, conhecida como “amansa-senhor”, utilizada por escravizados para acalmar os desejos de seus senhores, especialmente sexuais. No registro fotográfico da performance White Face and Blonde Hair (2012), Renata Felinto (1978) questiona os estereótipos físicos e a gestualidade de mulheres que transitam pela rua Oscar Freire (São Paulo), símbolo de consumo e poder financeiro. Usando peruca loira, maquiagem que embranquece sua pele e joias, a artista denuncia como a aparência é o primeiro elemento da mediação das relações sociais. A problemática racial discutida nos debates também suscita o programa A.Gentes, coordenado por Diane e destinado a pensar a própria estrutura da instituição que o abriga, dirigindo-se aos funcionários do Itaú Cultural.

A partir dessas experiências, Diane estrutura conceitualmente o ponto de vista do sujeito criador sobre o mundo como eixo para o trabalho curatorial. A perspectiva de uma pensadora negra em um país marcado pelo processo de colonização norteia também sua pesquisa de mestrado sobre a produção contemporânea de artistas afro-brasileiros, Fazer sentido para fazer sentir: ressignificações de um corpo negro nas práticas artísticas contemporâneas afro-brasileiras (2017), defendida na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). 

Em 2018, participa do Valongo Festival Internacional da Imagem, projeto que dialoga com as ruínas esquecidas da região portuária de Santos, São Paulo. Para o evento, Diane produz a exposição coletiva Não me aguarde na retina, formada majoritariamente por mulheres. 

No mesmo ano, participa do programa de residência em investigação curatorial promovido pela plataforma independente FelipaManuela e pelo centro de criação Matadero Madrid, na Espanha1. Em 2019, atua na curadoria do programa de residência PlusAfrot em Munique, na Alemanha, projeto colaborativo entre a Plataforma Plus, do coreógrafo Mário Lopes (1980), e o AfroTranscendence. Nessa residência, questões como trauma colonial, deslocamento do sujeito, ressignificação identitária e os modos pelos quais esses temas são vivenciados por indivíduos negros são utilizados como propulsores criativos. Os curadores buscam uma atuação descentralizadora ao criarem coletivamente o cronograma e o programa de trabalho, composto por experimentações e vivências baseadas na produção dos artistas participantes.

Compreendendo o trabalho curatorial como espaço de poder e lugar estratégico de mediação entre as hierarquias da produção cultural, Diane reitera a importância de pensá-lo como propositor de dispositivos de aprendizado coletivo. A filosofia africana contemporânea, o feminismo negro brasileiro e estadunidense e os debates latinoamericanos sobre a resistência à estrutura colonial sustentam o que Diane denomina como “prática curatorial em perspectiva decolonial”2. Tal prática procura dar voz um discurso multicultural dentro das estruturas institucionais e, desse modo, subverter o pensamento colonial, historicamente construído e validado pela cultura eurocêntrica. O trabalho de curadoria deve combater a invisibilidade dos saberes oriundos de outras culturas e reconhecer outros lugares de produção de paradigmas. O fio condutor da curadoria passa, portanto, pelas relações socioculturais, no limiar entre curadoria e criação artística e no sentido de uma plástica social, moldada pela direção criativa. O processo sobrepõe-se, dessa forma, ao produto artístico. 

Diane Lima questiona a representatividade dos espaços artísticos, tanto expositivos como educativos, e afirma que o sistema de valoração baseado exclusivamente na estética eurocêntrica não dá conta da sensibilidade contemporânea, cuja diversidade deseja participar do sistema de criação de valores simbólicos e estéticos.

Notas

1. Essa residência se dirige a pesquisadores multiculturais, em sua maioria mulheres latino-americanas, que desenvolvem práticas voltadas a transformar vozes das minorias em protagonistas dos discursos estéticos.

2. LIMA, Diane. “Não me aguarde na retina”. Sur – Revista Internacional de Direitos Humanos, São Paulo, v.15, n.28, dez. 2018, p. 246.

Exposições 6

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Mídias (1)

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Diane Lima – Série Cada Voz (2019)
A curadora e pesquisadora Diane Lima fala sobre sua trajetória, as mulheres da família e as ações e criações no meio artístico como atos políticos coletivos e de fortalecimento individual. Também fala sobre a resiliência – ensinamento da avó –, compreendida como a capacidade de não se afetar diante das violências comunicadas e transmitidas cotidianamente às mulheres negras.

A Enciclopédia Itaú Cultural produz a série Cada Voz, em que personalidades da arte e cultura brasileiras são entrevistadas pelo fotógrafo Marcus Leoni. A série incorpora aspectos de suas trajetórias profissionais e pessoais, trazendo ao público um olhar próximo e sensível dos artistas.

A Enciclopédia Itaú Cultural produz a série Cada Voz, em que personalidades da arte e cultura brasileiras são entrevistadas pelo fotógrafo Marcus Leoni. A série incorpora aspectos de suas trajetórias profissionais e pessoais, trazendo ao público um olhar próximo e sensível dos artistas.

Créditos
Presidente: Milú Villela
Diretor-superintendente: Eduardo Saron
Superintendente administrativo: Sérgio Miyazaki
Núcleo de Enciclopédia
Gerente: Tânia Rodrigues
Coordenação: Glaucy Tudda
Produção de conteúdo: Camila Nader
Núcleo de Audiovisual e Literatura
Gerente: Claudiney Ferreira
Coordenação: Kety Nassar
Produção audiovisual: Letícia Santos
Edição de conteúdo acessível: Richner Allan
Direção, edição e fotografia: Marcus Leoni
Assistência e montagem: Renata Willig
Assistência de fotografia: Martha Salomão

Fontes de pesquisa 12

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