Diane Lima

Diane Lima, 2019
Texto
Diane Sousa da Silva Lima (Mundo Novo, Bahia, 1986). Curadora independente, escritora e pesquisadora. É uma das vozes do pensamento feminista negro no debate brasileiro contemporâneo. Questiona os paradigmas do sistema artístico e propõe modos de produção menos hierárquicos e que incluam saberes multiculturais.
Em Salvador, durante a formação em comunicação social (2008) e em meio aos estudos de história da arte, dedica-se ao trabalho curatorial. Em 2014, cria e atua como diretora criativa da plataforma NoBrasil, que reúne pesquisas artísticas e experimentos curatoriais. Em 2015, a plataforma passa a fomentar produções independentes, como o AfroTranscendence (ou Afro-T), programa de imersão formado por processos criativos nascidos da cultura afro-brasileira. Esse projeto procura dialogar com saberes ancestrais, memórias e identidades por meio de vivências artísticas, palestras e oficinas.
Em 2016, NoBrasil passa a colaborar com o Festival de Cinema Africano do Vale do Silício, na Califórnia (Estados Unidos). A curadoria de Diane Lima dá relevo à produção audiovisual de mulheres negras.
Entre 2016 e 2017, participa da idealização de Diálogos Ausentes, fórum promovido pelo Itaú Cultural para debater identidade e representatividade negra na arte contemporânea. O ciclo de debates reúne artistas de diferentes linguagens para discutir a invisibilidade institucional imposta à cultura afro-brasileira. Como resposta a esse silêncio, o fórum articula a exposição Diálogos Ausentes (2016). As curadoras Diane Lima e Rosana Paulino (1967) destacam a ressignificação e a expansão conceitual da identidade negra que perpassa a produção dos artistas que participam da exposição.
No registro audiovisual da performance Unguento (2015), Dalton Paula (1982) resgata memórias da resistência negra durante a escravidão ao falar do uso entorpecente da planta guiné, conhecida como “amansa-senhor”, utilizada por escravizados para acalmar os desejos de seus senhores, especialmente sexuais. No registro fotográfico da performance White Face and Blonde Hair (2012), Renata Felinto (1978) questiona os estereótipos físicos e a gestualidade de mulheres que transitam pela rua Oscar Freire (São Paulo), símbolo de consumo e poder financeiro. Usando peruca loira, maquiagem que embranquece sua pele e joias, a artista denuncia como a aparência é o primeiro elemento da mediação das relações sociais. A problemática racial discutida nos debates também suscita o programa A.Gentes, coordenado por Diane e destinado a pensar a própria estrutura da instituição que o abriga, dirigindo-se aos funcionários do Itaú Cultural.
A partir dessas experiências, Diane estrutura conceitualmente o ponto de vista do sujeito criador sobre o mundo como eixo para o trabalho curatorial. A perspectiva de uma pensadora negra em um país marcado pelo processo de colonização norteia também sua pesquisa de mestrado sobre a produção contemporânea de artistas afro-brasileiros, Fazer sentido para fazer sentir: ressignificações de um corpo negro nas práticas artísticas contemporâneas afro-brasileiras (2017), defendida na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Em 2018, participa do Valongo Festival Internacional da Imagem, projeto que dialoga com as ruínas esquecidas da região portuária de Santos, São Paulo. Para o evento, Diane produz a exposição coletiva Não me aguarde na retina, formada majoritariamente por mulheres.
No mesmo ano, participa do programa de residência em investigação curatorial promovido pela plataforma independente FelipaManuela e pelo centro de criação Matadero Madrid, na Espanha1. Em 2019, atua na curadoria do programa de residência PlusAfrot em Munique, na Alemanha, projeto colaborativo entre a Plataforma Plus, do coreógrafo Mário Lopes (1980), e o AfroTranscendence. Nessa residência, questões como trauma colonial, deslocamento do sujeito, ressignificação identitária e os modos pelos quais esses temas são vivenciados por indivíduos negros são utilizados como propulsores criativos. Os curadores buscam uma atuação descentralizadora ao criarem coletivamente o cronograma e o programa de trabalho, composto por experimentações e vivências baseadas na produção dos artistas participantes.
Compreendendo o trabalho curatorial como espaço de poder e lugar estratégico de mediação entre as hierarquias da produção cultural, Diane reitera a importância de pensá-lo como propositor de dispositivos de aprendizado coletivo. A filosofia africana contemporânea, o feminismo negro brasileiro e estadunidense e os debates latinoamericanos sobre a resistência à estrutura colonial sustentam o que Diane denomina como “prática curatorial em perspectiva decolonial”2. Tal prática procura dar voz um discurso multicultural dentro das estruturas institucionais e, desse modo, subverter o pensamento colonial, historicamente construído e validado pela cultura eurocêntrica. O trabalho de curadoria deve combater a invisibilidade dos saberes oriundos de outras culturas e reconhecer outros lugares de produção de paradigmas. O fio condutor da curadoria passa, portanto, pelas relações socioculturais, no limiar entre curadoria e criação artística e no sentido de uma plástica social, moldada pela direção criativa. O processo sobrepõe-se, dessa forma, ao produto artístico.
Diane Lima questiona a representatividade dos espaços artísticos, tanto expositivos como educativos, e afirma que o sistema de valoração baseado exclusivamente na estética eurocêntrica não dá conta da sensibilidade contemporânea, cuja diversidade deseja participar do sistema de criação de valores simbólicos e estéticos.
Notas
1. Essa residência se dirige a pesquisadores multiculturais, em sua maioria mulheres latino-americanas, que desenvolvem práticas voltadas a transformar vozes das minorias em protagonistas dos discursos estéticos.
2. LIMA, Diane. “Não me aguarde na retina”. Sur – Revista Internacional de Direitos Humanos, São Paulo, v.15, n.28, dez. 2018, p. 246.
Exposições 6
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11/12/2017 - 29/1/2016
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29/10/2020 - 12/12/2020
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21/8/2022 - 30/1/2021
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26/3/2022 - 16/7/2022
Mídias (1)
A Enciclopédia Itaú Cultural produz a série Cada Voz, em que personalidades da arte e cultura brasileiras são entrevistadas pelo fotógrafo Marcus Leoni. A série incorpora aspectos de suas trajetórias profissionais e pessoais, trazendo ao público um olhar próximo e sensível dos artistas.
A Enciclopédia Itaú Cultural produz a série Cada Voz, em que personalidades da arte e cultura brasileiras são entrevistadas pelo fotógrafo Marcus Leoni. A série incorpora aspectos de suas trajetórias profissionais e pessoais, trazendo ao público um olhar próximo e sensível dos artistas.
Créditos
Presidente: Milú Villela
Diretor-superintendente: Eduardo Saron
Superintendente administrativo: Sérgio Miyazaki
Núcleo de Enciclopédia
Gerente: Tânia Rodrigues
Coordenação: Glaucy Tudda
Produção de conteúdo: Camila Nader
Núcleo de Audiovisual e Literatura
Gerente: Claudiney Ferreira
Coordenação: Kety Nassar
Produção audiovisual: Letícia Santos
Edição de conteúdo acessível: Richner Allan
Direção, edição e fotografia: Marcus Leoni
Assistência e montagem: Renata Willig
Assistência de fotografia: Martha Salomão
Fontes de pesquisa 12
- GALERIA MENDES WOOD. Envio de materiais da curadora Diane Lima [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por enciclopedia@itaucultural.org.br em 14 dez. 2021.
- ITAÚ Cultural. Diane Lima – Diálogos Ausentes. Depoimento gravado em abril de 2016. São Paulo: Itaú Cultural, 2016 (10 min). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=sV9F-O6RKf4&t=24s. Acesso em: 12 jul. 2019.
- ITAÚ Cultural. Diálogos ausentes. Texto e curadoria de Diane Lima e Rosana Paulino. São Paulo: Itaú Cultural, 2016.
- LIMA, Diane. Currículo Plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/4643931655783055. Acesso em: 9 jul. 2019.
- LIMA, Diane. Diálogos Ausentes e a curadoria como ferramenta de invisibilização das práticas artísticas contemporâneas afro-brasileiras. São Paulo: Instituto Itaú Cultural, 2016. Disponível em: http://d3nv1jy4u7zmsc.cloudfront.net/wp-content/uploads/2017/01/di%C3%A1logosausentes_dianelima-rev_02.pdf. Acesso em: 9 jul. 2019.
- LIMA, Diane. Fazer sentido para fazer sentir: ressignificações de um corpo negro nas práticas artísticas contemporâneas afro-brasileiras. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Semiótica) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2017.
- LIMA, Diane. “Não me aguarde na retina”. Sur – Revista Internacional de Direitos Humanos, São Paulo, v.15, n.28, pp. 245-256, dez. 2018. Disponível em : http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/bibli_boletim/bibli_bol_2006/sur-28.pdf. Acesso em: 9 jul. 2019.
- LONGMAN, Gabriela. Fotografia fica em segundo plano na terceira edição do Valongo Festival. Folha de S.Paulo, São Paulo, 16 out. 2018. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2018/10/festival-valongo-reve-rumos-e-prioriza-ativismo.shtml. Acesso em: 12 jul. 2019
- PEDROSA, Adriano; TOLETO, Tomás (orgs.). Histórias afro-atlânticas: catálogo. São Paulo: MASP: Instituto Tomie Ohtake, 2018. v. 1, 416 p.
- PLATAFORMA NoBrasil. Disponível em: nobrasil.co. Acesso em: 12 jul 2019
- RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento, 2017.
- TALKS SP-Arte 2019. Novas narrativas curatoriais no Brasil? Debate com Hélio Menezes, Lilia Schwarcz e Diane Lima, 2019 (81 min). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=jKGbD_ULYzA. Acesso em: 9 jul. 2019.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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DIANE Lima.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa637838/diane-lima. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7