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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Mostra Diálogos Ausentes

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 26.02.2024
11.12.2016 - 29.01.2017 Brasil / São Paulo / São Paulo – Itaú Cultural
Foto de reprodução Itaú Cultural

Mostra Diálogos Ausentes, 2016

A mostra Diálogos Ausentes com curadoria de Diane Lima (1986) e Rosana Paulino (1967), reúne trabalhos realizados por 15 artistas e coletivos negros ligados aos campos das artes visuais, do teatro e do cinema brasileiros, retratando as múltiplas faces das vivências negras no Brasil. A mostra integra um conjunto de ações implementadas pelo Itaú C...

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A mostra Diálogos Ausentes com curadoria de Diane Lima (1986) e Rosana Paulino (1967), reúne trabalhos realizados por 15 artistas e coletivos negros ligados aos campos das artes visuais, do teatro e do cinema brasileiros, retratando as múltiplas faces das vivências negras no Brasil. A mostra integra um conjunto de ações implementadas pelo Itaú Cultural com o intuito de refletir sobre o racismo estrutural na sociedade brasileira. 

É apresentada pelo Itaú Cultural entre 10 de dezembro de 2016 e 29 de janeiro de 2017 na sede do instituto, em São Paulo, com itinerância para o Galpão Bela Maré, no Rio de Janeiro, entre 30 de setembro e 10 de dezembro de 2017, com parceria do Observatório de Favelas. O projeto foi motivado pelos protestos ocorridos na instituição em 2015 em decorrência do uso da blackface1 na peça teatral A Mulher do Trem, da companhia paulista Os Fofos Encenam. Diante da questão, a exibição do espetáculo foi substituída por um debate sobre a representação do negro na arte, e na sequência criou-se no instituto um Comitê de Questões Raciais, sendo a exposição uma das iniciativas do Comitê.

Com pinturas, instalações, ensaios fotográficos, curtas-metragens, registros de performances e espetáculos teatrais, a mostra opera como uma contranarrativa às representações estereotipadas da população afrodescendente. Segundo as curadoras, estereótipos são criados ou reforçados por imagens que corporificam preconceitos, de modo que a exposição busca repensar através das obras as imagens que fundaram simbolicamente o país.

A exposição não está centrada nas artes visuais, mas na interlocução entre diversas formas de criação que abordam as questões dos negrodescendentes, buscando no espaço expositivo um diálogo entre o cinema, o teatro e as artes visuais. A seleção de artistas, que contou com uma chamada aberta para democratizar a participação, reuniu alguns dos integrantes que participaram das falas realizadas na série homônima em 2016, no Itaú Cultural, onde artistas negros foram convidados para debater a arte nacional nas mais diversas áreas de expressão.

Na mostra, os trabalhos de Sidney Amaral (1973-2017), refletem sobre os resquícios da escravidão no corpo social brasileiro e sobre os afetos negados às pessoas negras. Como em suas peças de bronze, ou na pintura O Sonho do Garoto ou Atleta de Kichute, que propõem uma reflexão sobre o que seria a escravidão contemporânea. Dalton Paula (1982), na performance Unguento, aborda a memória da resistência negra durante a escravidão no Brasil ao falar da planta popularmente conhecida como amansa-senhor, usada para acalmar senhores perversos. Já Aline Motta (1974-),na publicação/instalação Escravos de Jó, analisa o que está por trás da narrativa aparentemente ingênua da cantiga homônima, embalada por termos que revelam o violento processo de escravidão brasileiro.

A questão feminina negra destaca-se entre diversas obras da exposição. No filme Kbela, dirigido por Yasmin Thayná (1993-), uma sequência não linear de imagens recria metonímias sobre ser uma mulher negra. O experimento poético videográfico A Cama, o Carma e o Querer, da Capulanas Cia. de Arte Negra, discute a ancestralidade e padrões estéticos investidos no corpo da mulher negra. Na mesma direção, na performance White Face and Blonde Hair, Renata Felinto (1978) provoca reflexões ao desfilar seu corpo negro pela Oscar Freire, local frequentado pela elite branca de São Paulo. E em Capina, espetáculo cênico musical composto por canções e textos, o NEGR.A – Coletivo Negras Autoras, aborda a objetificação do corpo da mulher negra e processos de silenciamento social.

No filme Cores e Botas, a diretora e roteirista Juliana Vicente, questiona a construção de estereótipos pela mídia. A questão da identidade negra também é debatida no filme Lápis de Cor, de Larissa Fulana de Tal (1989), em que crianças respondem questões relacionadas à sua identidade. Em Sortilégio II – Mistério Negro de Zumbi Redivivo, a Cia. Teatral Abdias Nascimento remonta o espetáculo homônimo escrito pelo próprio Abdias. A peça trata da negação das raízes africanas e da propagação de um discurso que inferioriza o negro.

As fotos de Sérgio Adriano refletem sobre o trauma colonial, como em Diligência, Preto de Alma Branca e Branco de Alma Preta, em que questiona as inversões dos papéis raciais. Já o espetáculo Exú – A Boca do Universo, do Núcleo Afrobrasileiro de Teatro de Alagoinhas (Nata), dirigido pela dramaturga Fernanda Júlia (1979), reflete sobre religião e o uso dos símbolos e dos saberes do candomblé.

A itinerância da mostra no Rio de Janeiro integrou ainda obras de mais três artistas: Eustáquio Neves (1955), Gessica Justino e Heberth Sobral (1984). Fotografias da série Estandarte, de Sobral, trazem releituras das obras de Jean-Baptiste Debret (1768-1848) sobre os costumes de africanos escravizados no Rio de Janeiro. Já a série A Boa Aparência de Eustáquio Neves, reflete a partir de textos periódicos o hábito cotidiano de se julgar os negros pela aparência.

Diálogos Ausentes colabora através da cultura e da arte com reflexões políticas e sociais brasileiras fundamentais, como o racismo estrutural. A exposição, além de promover o diálogo interdisciplinar entre o teatro, o cinema e as artes plásticas, colabora com a pesquisa e o trabalho de artistas e coletivos que refletem sobre o lugar do negro, promovendo em nível institucional e coletivo ações educativas e de combate ao preconceito.

Notas

1. Maquiagem utilizada por atores brancos para interpretar, de forma caricata, personagens afrodescendentes.

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