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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Affonso Ávila

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 29.10.2023
19.06.1928 Brasil / Minas Gerais / Belo Horizonte
26.09.2012 Brasil / Minas Gerais / Belo Horizonte
Affonso Celso Ávila (Belo Horizonte, Minas Gerais, 1928 – Idem, 2012). Poeta, ensaísta e pesquisador. Nascido em Belo Horizonte, interessa-se pela literatura na infância, chegando a publicar poemas em pequenos jornais estudantis. Aos 22 anos, torna-se colaborador do Diário de Minas, dividindo com o amigo Fábio Lucas (1931) uma seção intitulada “...

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Biografia

Affonso Celso Ávila (Belo Horizonte, Minas Gerais, 1928 – Idem, 2012). Poeta, ensaísta e pesquisador. Nascido em Belo Horizonte, interessa-se pela literatura na infância, chegando a publicar poemas em pequenos jornais estudantis. Aos 22 anos, torna-se colaborador do Diário de Minas, dividindo com o amigo Fábio Lucas (1931) uma seção intitulada “Tribuna das Letras”. Em 1951, junta-se a um grupo de intelectuais mineiros, que inclui Rui Mourão (1929) e Fábio Lucas, e funda a revista Vocação. Dois anos depois, publica O Açude e Sonetos da Descoberta (1953). Até 1956, trabalha como assessor na campanha de Juscelino Kubitschek (1902-1976) e acompanha, com outros escritores mineiros, o novo presidente ao Rio de Janeiro.

Volta para Minas Gerais em 1957, e passa a publicar, a convite de Antonio Candido (1918-2017) e Décio de Almeida Prado (1917-2000), no suplemento literário de O Estado de Minas, na seção “Crônica de Belo Horizonte”. No mesmo ano, integra a revista Tendência, de repercussão nacional.

Em 1961, conhece os poetas Augusto de Campos (1931), Décio Pignatari (1927-2012) e Haroldo de Campos (1929-2003), no 2º Congresso Brasileiro de Crítica e História Literária, que o convidam a colaborar para a revista concretista do grupo de São Paulo, Invenção. Dois anos depois, organiza a Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, que reúne nomes como Paulo Leminski (1944-1989), Benedito Nunes (1929-2011) e Luiz Costa Lima (1937).

Após publicar o livro Frases-Feitas (1963) e ser demitido do jornal O Estado de Minas, dá início a pesquisas sobre o barroco. O primeiro resultado é um ensaio sobre o tema: Resíduos Seiscentistas em Minas, publicado em 1967. Sob influência dos estudos seiscentistas, escreve Código de Minas (1969), publicando-o com sua obra poética anterior, em um mesmo volume.

Outro trabalho literário, lançado depois de mais um volume resultante de suas pesquisas – O Lúdico e as Projeções do Mundo Barro (1971) – não consegue driblar a censura do governo militar. Mesmo assim, consegue imprimir, em edição limitada, o livro Código Nacional de Trânsito (1972), seu conjunto mais político de poemas.

Nas décadas de 1970 e 1980, divide-se entre a pesquisa e a literatura: ao mesmo tempo em que lança Cantoria Barroca (1975) e Barrocolagens (1981), preside e organiza, em Ouro Preto, um congresso sobre barroco e arquitetura. Nos anos 1990, publica O Visto e o Imaginado (1991), livro com o qual é agraciado pelo Prêmio Jabuti. Em 2003, recebe o prêmio Apca, com a Lógica do Erro (2002).

Análise

Affonso Ávila começa o trabalho literário em momento marcado pela Geração de 1945, cuja estética caracteriza-se pelo retorno às formas clássicas, como o soneto, e temas transcendentais. Assim como João Cabral de Melo Neto (1920-1999) e Haroldo de Campos (1929-2003), consegue desvencilhar-se do academicismo dos poetas desse grupo. Seu primeiro livro é constituído por sonetos sem respeitar as leis formais que regem o gênero e faz experimentações que valorizam a espacialidade do poema.

A postura de vanguarda, e o contato com os poetas concretos, define novos vetores para tentativas poéticas: como no livro Carta do solo (1961), no qual se mesclam a experimentação e o engajamento político. Destaca-se, em particular, o poema “Os Híbridos”, que, similar a “Um lance de dados”, do poeta francês Stéphane Mallarmé (1842-1898), pode ser lido de diferentes modos, por conta da distribuição dos versos no branco da página.

Outro fator a influenciar sua literatura é a pesquisa sobre a estética barroca. A leitura dos procedimentos dos poetas seiscentistas, somada à repressão em que o país vive, faz sua poesia valorizar mais os recursos visuais, ao mesmo tempo em que assume importante postura crítica. Por meio de paronomásias, por exemplo, o poeta esfacela frases feitas do discurso conservador mineiro, revelando, nelas, marcas de preconceitos e violência. É o que faz, por exemplo, no poema “Frases-feitas”, publicado em Código de Minas..

[...] o senso grave da ordem
o censo grávido da ordem  
o incenso e o gáudio da ordem  
a infensa greve da ordem 
a imensa grade DA ORDEM [...]

A postura engajada repercute em sua ação como atesta o depoimento dado à coleção “Encontro com Escritores Mineiros”. Nele, relata a dificuldade de publicar Código Nacional de Trânsito, livro que recorre a paronomásias para fazer críticas contundentes à situação política do país, e recusado em diversas editoras, devido à censura. 

Como observa Nogueira Martinho, as pesquisas do período seiscentista são marcadas, sobretudo, por uma erudição que mescla observações estéticas e sociológicas, apresentando ao leitor “todo o homem inserido no estágio cultural do barroquismo”. Seus estudos são importantes para os que buscam informações sobre a literatura do período, e subsidiam pesquisadores de arquitetura e artes plásticas. Essa imersão no universo barroco é tão intensa que o autor elege como livro favorito o volume Cantoria Barroca. Nele, predomina a escrita caligramática e poemas compostos por dísticos, formas que remetem ao emblema e ao epigrama.

O recurso à poesia curta,  que também remete às experimentações de modernistas como Oswald de Andrade (1890-1954), torna-se marca registrada de outros trabalhos do autor. Valoriza, também, o uso do trocadilho, que busca, mediante aproximações sonoras, estabelecer contatos semânticos entre os vocábulos. É o que faz, por exemplo, no pequeno poema “Senilidade/Semilidade”, que faz parte de Delírio dos Cinquent’Anos (1984), obra artesanal em que seus epigramas dividem espaço com gravuras, esboços e desenhos, compondo uma arte que não se restringe à leitura literária. Essa também é característica de outros livros, como Masturbações (1981) e O Visto e o Imaginado, obras que atestam a preocupação em conciliar o experimentalismo de vanguarda e a tradição, provenientes de suas pesquisas históricas e estéticas.

Exposições 1

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Fontes de pesquisa 4

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  • AGUIAR, Melânia Silva de (org.). Fortuna crítica de Affonso Ávila. Belo Horizonte: Secretaria de Estado de Cultura/Arquivo Público Mineiro, 2006.
  • BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 32. ed. rev. e aum. São Paulo: Cultrix, 1994.
  • BUENO, Antonio Sérgio (org.). Affonso Ávila. Belo Horizonte: Centro de Estudos Literários da UFMG, 1993. (Coleção Encontro com Escritores Mineiros, vol. 1).
  • MOISÉS, Massaud. História da literatura brasileira: modernismo. São Paulo: Cultrix, 1989. v.5.

Como citar

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