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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Sergio Neuenschwander

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 28.10.2022
13.02.1961
Frame do vídeo Domingo (Sunday) de Rivane Neuenschwander/Divulgação

Domingo (Sunday), 2010
Rivane Neuenschwander, Sergio Neuenschwander
Hd digital, dolby digital 5.1
Acervo Fundação Itaú

Sérgio Túlio Neuenschwander Maciel (Belo Horizonte, Minas Gerais, 1961). Videoartista, neurocientista e professor. Seus trabalhos em audiovisual se destacam pela observação, mantendo um olhar ávido e próximo, que parece tocar as pessoas, as coisas e os animais com os quais encontra.

Texto

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Sérgio Túlio Neuenschwander Maciel (Belo Horizonte, Minas Gerais, 1961). Videoartista, neurocientista e professor. Seus trabalhos em audiovisual se destacam pela observação, mantendo um olhar ávido e próximo, que parece tocar as pessoas, as coisas e os animais com os quais encontra.

Sérgio Neuenschwander tem talento para o desenho desde a infância. Em 1979, ingressa na graduação em medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Segue os estudos acadêmicos, e cursa mestrado em ciências biológicas na Universidade Federal do Rio de Janeiro entre 1986 e 1989. Inicia o doutorado em neurociências na Université Pierre et Marie Curie [Universidade Pierre e Marie Curie], na França, finalizando-o em 1993.

Em 1997, conclui o pós-doutorado no Max-Planck Institute for Brain Research, na Alemanha, onde posteriormente passa a trabalhar. Ao longo desse percurso, suas pesquisas se concentram nas questões da percepção visual, nos processos de atenção e expectativa temporal e nas dinâmicas neuronais.

Interessado em artes, aproxima-se do campo do audiovisual. Em 2002, realiza, com a artista Rivane Neuenschwander (1967), sua irmã, o vídeo Love Lettering. Com 6 minutos e 22 segundos, a obra traz um aquário com plantas verdes e peixes vermelhos diante de um fundo azul. Nas caudas dos animais estão fixados pequenos letreiros com palavras impressas, como to, from, sweet, Rio, London, hotel, next, you, I e love. Percebe-se que, ao acaso da passagem, da proximidade e do afastamento dos peixes, é possível formar pequenas narrativas com os excertos de mensagens trocadas entre amantes. Nesse universo colorido, a comunicação é lacunar e depende do espectador para perfazer um sentido ou, talvez, vários, avolumados pelos fragmentos de sons cotidianos que compõem a trilha feita pelo duo de artistas sonoros O Grivo.

A observação dos peixes se dá de maneira muito próxima e atenta, o que é compatível com a necessidade de leitura das palavras. No entanto, em Mor(e)ré (2008), documentário de 15 minutos sobre o desaparecimento do caranguejo-uçá na vila de Moreré, na Bahia, nota-se que Sérgio Neuenschwander está interessado não só nos depoimentos das pessoas, mas também em suas feições e em como elas se movimentam, com o uso de closes bem fechados nos rostos e da proximidade de sua câmera com quem é filmado em ambientes abertos. Nas sequências em que filma o mangue, estabelece um olhar que busca atentamente pelos caranguejos perdidos, procurando-os entre as formas de raízes retorcidas.

Em 2010, Sérgio e Rivane fazem nova parceria no vídeo Domingo (2010), que integra o acervo do Itaú Cultural. Durante 5 minutos e 17 segundos, escuta-se um rádio transmitindo a narração de uma partida de futebol entre Brasil e Alemanha. Enquanto isso, próximo ao aparelho de som, um papagaio, a princípio, parece dublar o locutor esportivo ao mexer o bico. Ele começa a colher do assoalho sementes nas quais estão desenhados símbolos de pontuação, como asterisco, aspas e interrogação. A cada sinal ortográfico destruído, a narração sofre uma alteração, causando estranhamento em quem assiste a obra. Além do cenário simples e restrito, o desfoque é bastante usado, reiterando que o que importa é observar o papagaio em sua ação de descascar as sementes e interferir na linguagem.

Neuenschwander cede imagens para o filme Ex-Isto (2010), do artista visual e diretor de cinema Cao Guimarães (1965). Mais uma vez, um animal está sob seu olhar atento e próximo: uma aranha tecendo sua teia. A forma como Sérgio captura esse momento – de maneira detida, com o animal em seu fazer ocupando todo o quadro – é mais próxima do que o diretor deseja em seu filme de ficção do que outras imagens feitas para esse momento durante a produção.

Em 2011, volta a residir no Brasil, lecionando e dando seguimento a suas pesquisas no Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Ao longo de sua trajetória científica, aves, gatos e, principalmente, macacos estão entre seus objetos de estudo, a partir das questões neuronais da percepção visual. Nota-se que o ver e os animais são elementos importantes tanto para sua prática investigativa em neurociências quanto em sua produção artística em vídeo.

Na obra Enredo (2016), também em coautoria com Rivane Neuenschwander, confetes feitos das páginas de As Mil e Uma Noites (século IX) são jogados sobre teias de aranha. Os fragmentos das palavras pesam sobre as frágeis estruturas, que começam a sofrer alterações em suas formas. Logo, cada aranha chega à cena para lidar com os corpos estranhos que pousam sobre sua criação. Os 10 minutos e 1 segundo exibidos em loop são acompanhados pelo som do tamburello, instrumento típico italiano que remete aos rituais de taranta – uma forma de cura performática para mulheres que apresentam crises e contorções atribuídas à picada da tarântula.

O que importa a Sérgio Neuenschwander, além do que se olha, é como se vê. Ver não se apresenta como algo passivo, mas como uma ação que interfere naquilo que é olhado. Há um encantamento com o processo perceptivo em seus vídeos, sensibilidade tal que figura em seu trabalho analítico como neurocientista e é essencial a sua obra artística.

Obras 1

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Frame do vídeo Domingo (Sunday) de Rivane Neuenschwander/Divulgação

Domingo (Sunday)

Hd digital, dolby digital 5.1

Exposições 4

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Fontes de pesquisa 7

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  • FORTES D’ALOIA & GABRIEL. Rivane Neuenschwander, O Alienista. Exposição realizada de 1 abr. a 1 jun. 2019. Disponível em: https://fdag.com.br/exposicoes/o-alienista/. Acesso em: 11 jun. 2021.
  • MACIEL, Adhemar Ferreira. Memórias de um juiz federal. Belo Horizonte: Del Rey, 2007. Disponível em: https://www.google.com.br/books/edition/Memórias_de_Um_Juiz_Federal/hT5iV0OyKrsC?hl=pt-BR&gbpv=1&dq=memorias+de+um+juiz+federal&printsec=frontcover. Acesso em: 11 jun. 2021.
  • MENDES, Maria Cristina. Enigma e delírio cartesiano na adaptação cinematográfica de Catatau, de Paulo Leminski: ExIsto, de Cao Guimarães. 2014. 264 f. Tese (Doutorado em Comunicação e Linguagens) – Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba, 2014.
  • NEUENSCHWANDER, Rivane. Rivane Neuenschwander. [Entrevista cedida a] Hans Ulrich Obrist. In: OBRIST, Hans Ulrich. Hans Ulrich Obrist: entrevistas brasileiras v. 2. Rio de Janeiro: Cobogó, 2020, p. 159-174.
  • NEUENSCHWANDER, Sérgio. Currículo do sistema currículo Lattes. [Brasília], 12 jan. 2020. Disponível em:http://lattes.cnpq.br/9217956361436464. Acesso em: 11 jun. 2021.
  • SÉRGIO NEUENSCHWANDER. Vimeo de Sérgio Neuenschwander. Disponível em: https://vimeo.com/user2602287. Acesso em: 11 jun. 2021.
  • TEIXEIRA, Liliane Monteiro. A busca do outro na arte: autoria e participação na obra de Rivane Neuenschwander. 2018. 104 f. Dissertação (Mestrado em Estudo de Linguagens) – Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2018.

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