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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Carlos Rocha

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 13.04.2017
1953 Brasil / Minas Gerais / Belo Horizonte
Carlos Rocha (Belo Horizonte, Minas Gerais, 1953). Diretor, produtor, iluminador e preparador corporal. Participa de montagens que são marcos da produção teatral da capital mineira desde a década de 1980. Envolve-se na discussão e elaboração de políticas públicas para a arte e ocupa diversos cargos administrativos na prefeitura de Belo Horizonte...

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Biografia

Carlos Rocha (Belo Horizonte, Minas Gerais, 1953). Diretor, produtor, iluminador e preparador corporal. Participa de montagens que são marcos da produção teatral da capital mineira desde a década de 1980. Envolve-se na discussão e elaboração de políticas públicas para a arte e ocupa diversos cargos administrativos na prefeitura de Belo Horizonte e no estado de Minas Gerais. É um dos idealizadores do Festival Internacional de Teatro de Palco & Rua de Belo Horizonte e produtor desse festival em oito edições.

Autodidata, sua formação no teatro fundamenta-se em trabalhos de pesquisa, leitura e experimentação realizados na Cia. Sonho & Drama Fulias Banana, de 1979 a 1989. O diretor relembra o início de sua atividade, no fim década de 1970: "O teatro era muito ligado às universidades na época. Eu não fiz universidade formalmente, mas todo o meu período de formação se deu na FAFICH (Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG). Nós tínhamos invadido uma sala no segundo andar e transformado no nosso estúdio de teatro. O início da Sonho & Drama foi assim, nos internávamos dez horas por dia para pesquisar".1

Fundador da Cia. Sonho & Drama, com Adyr Assumpção, Luís Maia e Hélio Zollini, Carlos Rocha dirige todos os espetáculos da companhia até 1989. Contribui para a retomada do teatro de grupo na cidade como opção estética e ideológica, colaborando, em 1992, na organização do Movimento de Teatro de Grupo, entidade representativa dos coletivos teatrais. Sobre o cenário artístico da cidade na época da criação da Cia. Sonho & Drama, afirma Cida Falabella, componente da companhia, diretora e pesquisadora teatral: "O 'Fulias Banana' como era conhecido no meio artístico nasce e se consolida em um cenário teatral em transformação, tendo como pares grupos como Oficcina Multimédia, Encena, Patati & Patatá e Cia. Absurda, entre outros. [...] Pretendendo ser uma opção pelo teatro de pesquisa, a Cia. Sonho & Drama tinha como objetivo central se dedicar ao estudo das técnicas corporais e interpretativas. Os dois primeiros anos foram ocupados com esta pesquisa, sem resultar em nenhum trabalho aberto ao público".2

Carlos Rocha considera sua estreia no teatro profissional a montagem de O Processo, de Franz Kafka, em 1981. Encenada no Palácio das Artes, representa um marco na qualidade da realização teatral mineira da época. Sobre o espetáculo, afirma Luis Carlos Bernardes, em crítica publicada no jornal Estado de Minas: "Acho o trabalho muito importante por vários motivos. Inicialmente porque o jovem grupo não esperou as senhas do Rio ou de São Paulo, neste novo momento, para fazer uma montagem nova, criativa. Depois, porque, abrindo-se ao experimentalismo, o 'Sonho & Drama' não se deixou levar pela euforia da forma, da mera pesquisa de linguagem, como é comum acontecer - e também saudável, por que não? - mas, aplicou forma/pesquisa a um conteúdo, numa proposta politizada, mas não didática ou panfletária. Lúdica, como é bom ao teatro, à arte".3 O espetáculo recebe o Troféu João Ceschiatti na categoria melhor texto mineiro montado. O Processo é apresentado pelo diretor em outras duas ocasiões: em 1984, a convite do Instituto Goethe, e, em 1996, como espetáculo de formatura do Centro de Formação Artística (Cefar), da Fundação Clóvis Salgado.

Em 1985, Carlos Rocha assina a direção e adaptação do texto de Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas. O espetáculo faz temporada no Centro Cultural São Paulo (CCSP), com excelente aceitação da crítica e do público. Segundo o crítico Alberto Guzik, o diretor, "seguindo uma das mais sólidas tendências contemporâneas, que coloca o ator no centro do fenômeno teatral, encarregou seu elenco de criar aos olhos do público o espaço dos gerais, seus animais, sua flora, seus cheiros".4

Depois do sucesso de Grande Sertão: Veredas, encena, com grande aprofundamento técnico e estético, Antígona, que estreia em 1986 no CCSP. Carlos Rocha observa: "Quando eu comecei a dirigir, uma coisa que era muito clara era que meu grande interesse era o trabalho do ator e isso é marcante em todas as minhas montagens. [...] Antígona é o desaguador de dez anos de pesquisas na companhia, a gente estava quase que puxando a ponta de um novelo sem fim. Trabalhávamos exaustivamente uma partitura física para cada personagem. Foram oito meses de um trabalho insano".5

Paralelamente ao trabalho na Cia. Sonho & Drama, Carlos Rocha realiza a direção teatral do grupo de dança Transforma, nos espetáculos Evoluções, 1982, e A Casa da Infância, 1984. O diretor também assina a preparação corporal de vários de seus espetáculos. "Na Sonho & Drama nós criamos um método pessoal de trabalho, exercícios próprios que eram fruto de laboratórios internos. Tenho um método de trabalho que eu quero um dia sistematizar e deixar registrado. [...] Dentro disso, uma coisa que me era muito próxima era o trabalho físico corporal do ator. Eu realizei vários trabalhos de preparação corporal; quando não era eu quem fazia, eu trabalhava diretamente com o preparador e montávamos os exercícios juntos".6

Em 1989, já desligado da Cia. Sonho & Drama, dirige o espetáculo Josefina - a Cantora / A Toca, que tem importante trajetória nacional e internacional. Nesse espetáculo, assim como em O Processo e Grande Sertão: Veredas, atua como diretor e adaptador.
 
Inicia, em 1990, uma série de espetáculos em colaboração com a Cia. Elétrica, composta de egressos do Cefar. Dirige o espetáculo de formatura Instituto Primavera, em 1990; Bicho de Pé, Pé de Moleque, texto de Eid Ribeiro para o público infantil, em 1991; e Decameron, de Boccaccio, em 1993, um dos grandes sucessos de público de sua carreira. É diretor do Teatro Francisco Nunes de 1992 a 2004, preocupando-se sempre em abrir a pauta para os grupos teatrais.

Dirige para a Fundação Clóvis Salgado, em 2001, em parceria com Carmem Paternostro, Sertão, Sertões, uma cantada cênica para Orquestra e Corais de Rufo Herrera, baseada em Grande Sertão: Veredas, com apresentações no Grande Teatro do Palácio das Artes. Em 2004, dirige Till Eulenspiegel, de Luís Alberto de Abreu, com o Grupo Espontâneo de Teatro, e assina a direção e a dramaturgia de Uma Balada, uma Parábola, da Cia. ZAP 18, nome adotado pela Cia. Sonho & Drama em nova fase. É diretor e dramaturgo do espetáculo para o público infantil Superzéroi, também da Cia. ZAP 18, em 2005, e, no ano seguinte, encena O Esquisito, de Marcos Tafuri, no Teatro Marília.

O trabalho artístico de Carlos Rocha é pautado por uma preocupação ética e política. Por isso, sua atuação no teatro não se restringe à criação de espetáculos, mas inclui a discussão e a colaboração na criação de políticas públicas, que, a partir da década de 1990, contribuem para a profissionalização dos grupos de teatro de Belo Horizonte. À frente do Festival Internacional de Teatro de Palco & Rua de Belo Horizonte (FIT/BH), sua coordenação procura defender a presença de grupos mineiros, nacionais e internacionais, ampliando a perspectiva teatral de artistas e público.

Notas

1. ROCHA, Carlos. A trajetória de Carlos Rocha. Belo Horizonte, 10 dez. 2008. Entrevista concedida a Mariana Muniz.

2. FALABELLA, Maria Aparecida. De Sonho e Drama a Zap 18: a construção de uma identidade. Belo Horizonte: Escola de Belas Artes da UFMG, 2006. (Dissertação de Mestrado). p. 16.

3. BERNARDES, Luis Carlos. Quando o teatro se abre ao desconhecido. Estado de Minas, Belo Horizonte, 7 jun. 1981. Pano Aberto, p. 2.

4. GUZIK, Alberto. Uma feliz inspiração. Um belo espetáculo. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 3 ago. 1985. Caderno 2, p. 2.

5. ROCHA, Carlos. A trajetória de Carlos Rocha. Belo Horizonte, 10 dez. 2008. Entrevista concedida a Mariana Muniz.

6. Idem.

Espetáculos 109

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Fontes de pesquisa 4

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  • BERNARDES, Luis Carlos. Quando o teatro se abre ao desconhecido. Estado de Minas, Belo Horizonte, 7 jun. 1981. Pano Aberto.
  • FALABELLA, Maria Aparecida. De Sonho e Drama a Zap 18: a construção de uma identidade. Dissertação de Mestrado. Escola de Belas Artes da UFMG. Belo Horizonte, 2006.
  • GUZIK, Alberto. Uma feliz inspiração. Um belo espetáculo. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 3 ago. 1985. 2° Caderno.
  • ROCHA, Carlos. A Trajetória de Carlos Rocha. Belo Horizonte, 10 dez. 2008. Entrevista concedida à Mariana Muniz.

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