Cia. Sonho & Drama
Texto
1979 - Belo Horizonte MG - Cia. Sonho & Drama Fulias Banana
2002 - Belo Horizonte MG - ZAP 18
Histórico
Fundada em 1979, a Cia. Sonho & Drama Fulias Banana constrói uma sólida trajetória teatral que tem como pilares o trabalho em grupo, a pesquisa continuada e a transposição da linguagem literária para o espaço cênico. Em 2002 ganha nova formação e transforma-se em companhia ZAP 18, sigla para Zona de Arte da Periferia, que designa o trabalho de forte conteúdo social e político que passa a ser desenvolvido em sua sede.
A fundação da Cia. Sonho & Drama se dá por iniciativa dos artistas Carlos Rocha, Adyr Assumpção, Luís Maia e Hélio Zollini, em um momento fértil do teatro mineiro, no qual se estabelecem coletivos que compartilham o objetivo de sobreviver de sua atividade teatral e realizar um trabalho contínuo de investigação e criação centrado no ator e na dramaturgia. Nesse cenário, a companhia tem como pares os grupos Oficcina Multimédia, Galpão e Encena.
O primeiro espetáculo da companhia estreia em 1981, após dois anos de estudo sobre a obra de Franz Kafka. A montagem de O Processo ganha o Troféu João Ceschiatti e recebe elogios do crítico Luís Carlos Bernardes: "Abrindo-se ao experimentalismo, o 'Sonho & Drama' não se deixou levar pela euforia da forma, da mera pesquisa de linguagem, como é comum acontecer - e também saudável, por que não? -, mas aplicou forma/pesquisa a um conteúdo, numa proposta politizada, mas não didática ou panfletária. Lúdica, como é bom ao teatro, à arte".1
Com o apoio do Instituto Goethe, a companhia prossegue com a pesquisa sobre a obra kafkiana, montando A Metamorfose, em 1984, e retomando O Processo, cuja temporada inaugura a Sala João Ceschiatti, espaço alternativo para apresentações teatrais no Palácio das Artes. Com esses dois espetáculos, a Sonho & Drama apresenta-se também em Salvador, no teatro do Instituto Cultural Brasil-Alemanha (ICBA).
Em 1985, o grupo investiga o universo de Guimarães Rosa e monta Grande Sertão: Veredas. O espetáculo projeta nacionalmente a companhia, que faz temporadas em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Brasília e em cidades do interior mineiro. Sobre a montagem, Alberto Guzik escreve: "Seguindo uma das mais sólidas tendências contemporâneas, que coloca o ator no centro do fenômeno teatral, [o diretor] encarregou seu elenco de criar aos olhos do público o espaço dos gerais, seus animais, sua flora e seus cheiros".2
No ano seguinte, a companhia estreia, em São Paulo, Antígona, montagem que radicaliza os elementos trabalhados no espetáculo anterior e participa do evento promovido pelo Instituto Goethe em homenagem aos 30 anos da morte de Bertolt Brecht. A atriz Elisa Santana passa a integrar o grupo e ganha o Prêmio Inacen de melhor atriz coadjuvante pela atuação nessa montagem, que recebe também o prêmio nas categorias de melhor iluminação para Carlos Rocha e melhor ator coadjuvante para Helvécio Izabel.
O primeiro espetáculo da companhia para o público infantil é Vida de Cachorro, montagem de texto da artista plástica Ivana Andrés, que estreia em 1988, fica cinco anos em repertório e participa do Festival Internacional de Teatro de Caracas, em 1992.
Com a saída do diretor Carlos Rocha e do ator Paulo Lisboa, em 1989, o grupo se reestrutura com a coordenação de Cida Falabella, Elisa Santana e Simone Ordones. A pesquisa artística é redefinida e passa a focalizar a produção de espetáculos que têm como referência a cultura mineira e brasileira. Um ano depois, a companhia estreia A Casa do Girassol Vermelho, adaptação da obra de Murilo Rubião, que circula pelas regionais de Belo Horizonte por meio do projeto Memória Viva, da Secretaria Municipal de Cultura. Com esse espetáculo, a Sonho & Drama participa do Festival Internacional de Teatro de Países Bolivarianos e do Caribe, em Puerto La Cruz, Venezuela. Na época a companhia colabora com o surgimento do Movimento Teatro de Grupo de Minas Gerais.
Em 1992, o grupo monta Caminho da Roça, baseado nas tradições culturais do interior mineiro. Sobre a montagem, o diretor João das Neves comenta: "O espetáculo que se oferecia aos meus sentidos era simples, direto, mas inovador. Vanguarda sem se proclamar. Vanguarda sendo: sem sotaques e sem fechamento. Do trabalho dos atores à exploração do espaço cênico, da música à direção, do texto à encenação, tudo me dizia do caminho percorrido ao longo dos anos; um caminho que só se constrói com talento, alegria e perseverança".3 No ano seguinte, a atriz Simone Ordones dirige o espetáculo de rua O Pastelão e a Torta, inspirado em texto de domínio público do teatro medieval. Os dois espetáculos são selecionados para a primeira edição do Festival Internacional de Teatro Palco & Rua de Belo Horizonte (FIT/BH), realizada em 1994.
A próxima montagem, Aníbal Machado, Quatro, Oito, Sete, é produzida em comemoração dos 100 anos de nascimento do escritor. Estreia em 1994, utilizando como espaço cênico a sede da Academia Mineira de Letras e é apresentada também na Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro e em cidades do interior de Minas Gerais.
Entre 1996 e 1998, a Cia. Sonho & Drama migra para a cidade de Santa Luzia, Minas Gerais, ocupando a antiga estação de trem, onde desenvolve o projeto Estação Santa Luzia. Entre outras atividades, promove a retomada do Festival de Inverno local, a reativação do Teatro Municipal e realiza um intenso trabalho de formação de público, além de oficinas de teatro com a comunidade. Nesse período, monta para o público infantil a peça A Bonequinha Preta, adaptação de Sérgio Abritta do livro homônimo de Alaíde Lisboa, comemorando 50 anos de publicação da obra. Com o fim das apresentações, em 1998, o grupo entra em uma fase de transição, em que perde parte de seu elenco fixo: os atores Carlos Henrique, Glicério Rosário e Epaminondas Reis, que montam sua própria companhia, o Grupo Trama de Teatro.
Em parceria com a Cia. Acaso, a Cia. Sonho & Drama estreia, em 2001, O Sonho de uma Noite de Verão, de William Shakespeare. O espetáculo é apresentado em escolas da rede pública, fortalecendo a vertente das ações socioculturais desenvolvidas pelo grupo, aprofundada com a conquista da sede própria. Inaugurada em 2002, a sede é batizada com o nome de Zona de Arte da Periferia 18 (ZAP 18), denominação também adotada pelo grupo. Nesse momento, ganha centralidade o projeto ZAP Teatro Escola & Afins, que oferece oficinas de teatro para crianças e adolescentes, oficina de capacitação para atores e apresentações abertas à comunidade local. O foco se amplia e passa a englobar a formação cultural e a inserção social do teatro.
Em sua nova fase, encena A Menina e o Vento, de Maria Clara Machado, com direção de Francisco Aníbal e Cida Falabella. Essa montagem estreia em 2003, recebe os principais prêmios do teatro infantil de Belo Horizonte e integra vários projetos culturais e sociais, é apresentada em 12 cidades do interior de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Nesse mesmo ano, Carlos Rocha é convidado a dirigir os participantes da primeira Oficina de Capacitação da ZAP Teatro Escola & Afins, com os quais monta Uma Balada, uma Parábola, com base em textos de Brecht e Nietzsche. A parceria se repete em 2005 na produção do espetáculo para crianças Superzéroi, com base no qual se constitui o elenco da nova geração da companhia: Gustavo Falabella Rocha, Renato Hermeto, Wesley Rios e Ludmilla Ramalho.
Em 2006, a companhia recebe o Prêmio Myriam Muniz, da Fundação Nacional de Arte (Funarte), que viabiliza a montagem de Esta Noite Mãe Coragem, baseada no texto Mãe Coragem e Seus Filhos, de Brecht. O processo de montagem, cuja pesquisa tem como referência os elementos do teatro épico, estabelece o vínculo do grupo com o curso de teatro da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), por meio da parceria com os professores Antonio Hildebrando, na dramaturgia, e Maurílio Rocha, na composição musical, além de alunos bolsistas-pesquisadores. O espetáculo propõe um olhar sobre a realidade brasileira e inclui no elenco atores do grupo, alunos das oficinas e integrantes da comunidade. A jornalista Soraya Belusi comenta a iniciativa: "Além da experiência teatral em si, o grupo promove o encontro de pessoas de diferentes origens sociais - algo presente não só no público, como na própria formação do elenco".4 Com o espetáculo Esta Noite Mãe Coragem, a companhia participa de várias mostras alternativas de Belo Horizonte e apresenta-se no Festival de Inverno de Ouro Branco, na 9ª edição do FIT/BH e no projeto Rede Teia Experimentação e Investigação em Artes Cênicas.
A ZAP 18 realiza intercâmbios e colaborações artísticas com outros grupos, como os também mineiros Olho de Gato, de Montes Claros, e Avesso Cia., de Contagem, recebidos para um período de formação e pesquisa por meio do Projeto Teatro Imediato: Teatro x Realidade.
Notas
1. BERNARDES, Luís Carlos. Quando o teatro se abre ao desconhecido. Estado de Minas, Belo Horizonte, 7 jun. 1981. Pano Aberto, p.2.
2. GUZIK, Alberto. Uma feliz inspiração. Um belo espetáculo. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 3 ago. 1985. Caderno 2, p. 5.
3. Sonho & Drama, 15 anos em cartaz: apresentação, fotos, depoimentos. Santa Luzia: Cia. Sonho & Drama, 1996. 1 folder comemorativo.
4. BELUSI, Soraya. Para derrubar o muro. O Tempo, Belo Horizonte, 2 mar. 2007. Magazine, p. C 9.
Espetáculos 16
Fontes de pesquisa 2
- ROCHA, Maria Aparecida Vilhena Falabella. De Sonho & Drama a ZAP 18: a construção de uma identidade. Dissertação de mestrado. Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG, Belo Horizonte, 2006.
- ZAP 18 - Site do grupo. Disponível em: http://www.zap18.com.br. Acesso em: 20 fev. 2009.
Como citar
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CIA. Sonho & Drama.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/grupo241322/cia-sonho-drama. Acesso em: 05 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7