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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

João das Neves

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 28.08.2024
31.01.1934 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
24.08.2018 Brasil / Minas Gerais / Belo Horizonte
Registro fotográfico André Seiti

João das Neves, 2015

João Pereira das Neves Filho (Rio de Janeiro, Brasil, 1934 - Belo Horizonte, Brasil, 2018). Diretor, escritor, ator, iluminador, cenógrafo e produtor cultural. Contribui para a formação intelectual e estética de grupos teatrais de várias partes do Brasil, provocando discussões em torno das múltiplas linguagens e da necessidade de realizar um tea...

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João Pereira das Neves Filho (Rio de Janeiro, Brasil, 1934 - Belo Horizonte, Brasil, 2018). Diretor, escritor, ator, iluminador, cenógrafo e produtor cultural. Contribui para a formação intelectual e estética de grupos teatrais de várias partes do Brasil, provocando discussões em torno das múltiplas linguagens e da necessidade de realizar um teatro político sem perder de vista a dimensão da beleza e da estética.

Na adolescência, tem seu primeiro contato com o teatro no Colégio Mallet Soares. Na década de 1950, forma-se ator e diretor pela Fundação Brasileira de Teatro (FBT). No início dos anos 1960, funda o grupo Os Duendes e assume a direção do Teatro Arthur Azevedo, na periferia carioca de Campo Grande. O grupo é expulso do espaço durante o mandato de Carlos Lacerda (1914-1977), governador do Estado da Guanabara, entre 1960 e 1965, acusado de ser comunista e fazer propaganda subversiva.

Com a dissolução do grupo, João se vincula  ao recém-fundado Centro Popular de Cultura (CPC), onde se torna responsável pela sessão de Teatro de Rua. Depois do golpe militar de 1964, o CPC é colocado na ilegalidade e seus integrantes se rearticulam em torno de um novo projeto: o Grupo Opinião (1964-1984), um dos principais polos de aglutinação da esquerda carioca e o primeiro coletivo a engajar-se na luta contra a ditadura militar brasileira (1964-1985)1.

No grupo, João das Neves exerce diversas funções, mas destaca-se principalmente na direção de importantes peças, como A Saída, Onde Fica a Saída?, encenada no ano de 1967, com texto de Armando Costa (1933-1984), Antônio Carlos Fontoura (1939) e Ferreira Gullar (1930), O Último Carro (1976) e Mural Mulher (1979), ambas escritas por João das Neves.

O crítico teatral Sábato Magaldi (1927) expõe a importância de João das Neves para as artes cênicas no Brasil em sua recepção do espetáculo O Último Carro. Escrita entre 1964 e 1965, e vencedora de prêmio concedido em 1966, durante o Seminário de Dramaturgia Carioca, a montagem é o grande sucesso da temporada de 1976. A metáfora do trem desgovernado perpassada pelas cenas da vida cotidiana de moradores das periferias brasileiras serve para descortinar novos caminhos estéticos e dramatúrgicos na produção teatral dos anos 70.

Em Mural Mulher, João coloca em cena a questão feminina. A peça é construída através de um mosaico de cenas com pautas feministas e encenada apenas por mulheres. A peça torna-se importante pelo fato de já indicar a multiplicidade de lutas sociais que se expandiram nos anos finais da ditadura, tais como o feminismo, a questão LGBTQI+, os movimentos de anistia e outros.

O diretor contribui para a história do teatro brasileiro, atuando em importantes movimentos teatrais do século XX e XXI. Sua produção conjuga engajamento político e refinamento estético, associados a uma visão de mundo particular, que compreende a produção artística como elemento de fundamental importância na transformação da sociedade.

Na segunda metade dos anos 1980, o teatrólogo muda-se para o Acre, onde contribui com a fundação do Grupo Poronga, responsável por montagens engajadas na causa ambiental e social. Tributo a Chico Mendes (1988) pode ser percebida como a síntese dessa preocupação, ao denunciar a morte do seringueiro Chico Mendes (1944-1988), assassinado por fazendeiros acreanos em 1988.

Também no Acre, com financiamento da Fundação Vitae, pesquisa a história da Nação Kaxinawá, o que resulta em Yuraiá – O Rio do Nosso Corpo, peça escrita em 1990 e não encenada.

No começo dos anos 1990, transfere-se para Minas Gerais, inicialmente para Belo Horizonte e, depois, para Lagoa Santa. Nessa fase, inicia a sequência de trabalhos com a cantora Titane (1960), como a direção do show Inseto Raro (1993) e Titane e o Campo das Vertentes (2006). Em Belo Horizonte, dirige e adapta a peça Primeiras Estórias, inspirada na obra homônima de Guimarães Rosa (1908-1967), publicada em 1962. A estreia da peça acontece no Parque Lagoa do Nado e corrobora o desejo do diretor de exibir suas montagens em lugares alternativos que permitam novas apropriações do espaço cênico.

A partir da década de 1990, a temática da negritude torna-se recorrente em sua produção. Tem destaque nesse panorama sua direção de Zumbi (2011). Clássico de Augusto Boal (1931-2009) e Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006), a peça tem uma leitura atualizada, o que proporciona um debate mais sistemático com o momento atual das discussões sobre a questão.

João também tem parte de sua obra destinada ao público infantil, em que há temáticas vinculadas às questões sociais, como na peça O Leiteiro e a Menina Noite (1970), que debate  a questão do racismo e o empoderamento negro, e no texto de A Lenda do Vale da Lua (1975), que discute o problema da violência nas cidades.

Em toda a sua trajetória, João das Neves tem um importante papel no fomento de novas linguagens e temas dramatúrgicos, além de experiências cênicas. Seu trabalho com diferentes grupos contribuem para o debate sobre questões sociais e políticas.

Nota

1. Também denominada de ditadura civil-militar por parte da historiografia com o objetivo de enfatizar a participação e apoio de setores da sociedade civil, como o empresariado e parte da imprensa, no golpe de 1964 e no regime que se instaura até o ano de 1985.

Espetáculos 60

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Exposições 5

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Mídias (5)

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O coletivo é o protagonista – Ocupação João das Neves (2015)
João das Neves fala da importância da coletividade em suas peças. Comenta as produções de O Último Carro e As Polacas, que não tinham personagem principal e sim um contexto social. Também fala da diferença entre seu teatro e os textos clássicos (como Édipo Rei), em que a personagem sofre uma transformação ao longo do arco narrativo.
Depoimento gravado para a Ocupação João das Neves, em julho de 2015, no Teatro Arthur Azevedo em Campo Grande/RJ
Panfleto ou arte? – Ocupação João das Neves (2015)
João das Neves fala sobre a importância da arte, sendo ou não engajada, sob a perspectiva política. Ele também reflete sobre o tempo da obra e do impacto do teatro na comunidade em que é realizado.
Depoimento gravado para a Ocupação João das Neves, em julho de 2015, em Lagoa Santa/MG.

Fontes de pesquisa 19

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  • CARBONE, Roberta. O trabalho crítico de João das Neves no jornal Novos Rumos em 1960: perspectivas sobre a construção de um fazer teatral épico-dialético no Brasil. Dissertação (Mestrado) - Escola de Comunicações e Artes de Universidade de São Paulo. São Paulo, 2014.
  • EICHBAUER, Hélio. [Currículo]. Enviado pelo artista em: 24 abr. 2011.
  • HENRIQUE, Marilia Gomes. O realismo-encantatório de João das Neves. Dissertação (Mestrado) - Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas - IA/Unicamp. Campinas, 2006.
  • Hugo Rodas. Brasilia: Editora ARP, 2010.
  • KÜHNER, Maria Helena. Opinião. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 2001.
  • LUIZ, Macksen. Tributo a Chico Mendes: documentário de uma morte. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 8 jun. 1989. Caderno B.
  • MAGALDI, Sábato. Teatro em foco. São Paulo: Perspectiva, 2008.
  • MARQUES, M. P. S. C. Práticas de um encenador: João das Neves em algumas colocações cênicas. In: GOMES, Andre Luiz; MACIEL, Diógenes André Vieira(orgs.). Penso Teatro: dramaturgia, crítica e encenação. Vinhedo/SP: Horizonte, 2012.
  • MARQUES, M. P. S. C. Ritos e rituais na dramaturgia de João das Neves. In: BRONDONI, Joice Aglae; VILMA, Campos Leite; TELLES, Narciso (orgs.). Teatro-máscara-ritual. Campinas/SP: Alínea, 2012.
  • MARQUES, Maria do P. Socorro Calixto. O outro lado do quintal. In: Anais do XXVII Simpósio Nacional de História. Conhecimento Histórico e diálogo social. Natal: Anpuh, 22 a 26 jul. 2013. Disponível em: < http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1364922438_ARQUIVO_OquintalMariadoSocorro.pdf >.
  • MARQUES, Maria do P. Socorro Calixto. Yuraiá: Um Afluente da Dramaturgia de João das Neves. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Semiótica) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, 1997.
  • MICHALSKI, Yan. João das Neves. In: ______. Pequena enciclopédia do teatro brasileiro contemporâneo. Rio de Janeiro, 1989. Material inédito, elaborado em projeto para o CNPq.
  • MOSTAÇO, Edelcio. Teatro e política: Arena, Oficina e Opinião. São Paulo: Proposta, 1982.
  • NEVES, João das. A Análise do texto teatral. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Europa, 1997.
  • NEVES, João das. Ciclo de palestras sobre teatro brasileiro, 5. Rio de Janeiro: INACEN, 1987.
  • NEVES, João das. João das Neves. Lagoa Santa: [s.n.], 2013. Entrevista concedida a Natália Cristina Batista.
  • PARANHOS, Kátia. (org). História, teatro e política. São Paulo/Belo Horizonte: Boitempo/FAPEMIG, 2012.
  • Programa do Espetáculo - Besouro Cordão de Ouro - 2006.
  • Programa do Espetáculo - O Homem Inesperado - 2008.

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