Acácio Gil Borsoi
Texto
Biografia
Acácio Gil Borsoi (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1924 - São Paulo, São Paulo, 2009). Arquiteto, urbanista, professor. Trabalha desde muito jovem no escritório de marcenaria do pai, Antônio Borsoi, desenhista formado pelo Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo - Laosp e autor de projetos de interiores famosos no Rio de Janeiro, como a Confeitaria Colombo, o Palácio da Guanabara e o Restaurante Assírio do Teatro Municipal. Acácio Gil forma-se arquiteto em 1949 na Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil - FNA. Durante a graduação estagia no escritório de Affonso Eduardo Reidy, onde realiza o projeto do Conjunto Habitacional Pedregulho, em 1946, e as plantas de cálculo do engenheiro Joaquim Cardoso para o Teatro de Salvador, desenvolvido por Reidy e Alcides da Rocha Miranda.
Recém-formado, trabalha como auxiliar de Rocha Miranda no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Sphan, depois atua como consultor do órgão em Pernambuco por 15 anos. É convidado, por indicação de seu professor, Lucas Mayerhofer, para assumir a cadeira de pequenas composições da Escola de Belas Artes de Pernambuco, por isso muda-se para Recife em 1951. Reformula o curso de arquitetura ao lado do arquiteto português Delfim Fernandes Amorim - seu assistente na cadeira de pequenas composições -, do arquiteto Heitor Maia Neto e do representante de alunos Geraldo Gomes da Silva. Assume a cadeira de grandes composições no lugar do arquiteto italiano Mario Russo, e permanece no cargo até 1979, quando pede demissão em repúdio à intervenção militar na escola.
Em 1960 ganha bolsa de estudo do Itamaraty para realizar uma viagem à Europa com o objetivo de formular a seqüência de design no curso de arquitetura, e visita escolas e escritórios arquitetura e design na Dinamarca, Noruega, Finlândia, Inglaterra, Alemanha e Itália. Assume em 1963 a diretoria de engenharia da Liga Social contra o Mocambo, presidida pelo arquiteto Gildo Guerra no governo de Miguel Arraes, em Pernambuco. Como membro do governo, participa do Congresso Internacional de Arquitetura, realizado em Cuba nesse ano, e traz na bagagem novas tecnologias para a habitação popular e documentação sobre construção pré-moldada de uma patente checa.1 Pelo envolvimento com Arraes e por essa viagem, Borsoi é preso por ordem do governo militar em 1964.
A demanda de trabalho, antes restrita a Recife, se expande pelo Nordeste, Rio de Janeiro e São Paulo a partir dos anos 1960, então o arquiteto mantém filiais do escritório nessas duas cidades e em Teresina. Realiza a primeira exposição individual de sua obra na 6ª Bienal de Arquitetura, em que recebe o Colar de Ouro do Instituto de Arquitetos do Brasil - IAB, em 2005. No ano seguinte sua obra é exposta na mostra Acácio Borsoi - Arquitetura como Manifesto, no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães - Mamam, no Recife.
Análise
Acácio Gil Borsoi pertence ao grupo de "arquitetos peregrinos, nômades e migrantes"2 que, ao lado do arquiteto italiano Mario Russo e do arquiteto português Delfim Fernandes Amorim, disseminam os princípios e as formas da arquitetura moderna em Pernambuco a partir dos anos 1950. Vinculado inicialmente à obra de Lucio Costa, Oscar Niemeyer e Affonso Eduardo Reidy, Borsoi desenvolve, a partir dos anos 1960, uma obra original que inspira gerações de arquitetos no Nordeste, especialmente no Recife, onde atua como arquiteto e professor.
O primeiro projeto que realiza na capital pernambucana é a Residência Lisanel de Melo Mota, 1953, cujo partido é recuperado na Residência Luciano Costa, 1954, no Conjunto Residencial da Praça Fleming, 1954/1955, e na Residência João Macedo, 1956, esta em Fortaleza. Nesses projetos o arquiteto divide o programa em três zonas funcionais (social, serviço, íntima), articulando-as em torno de um pátio lateral. Além disso, adota elementos e soluções considerados típicos da arquitetura moderna brasileira do período, como a cobertura "asa de borboleta", os pilotis, as janelas horizontais, as empenas laterais trapezoidais, as treliças de madeira, os elementos vazados, a fluidez dos espaços, o paisagismo tropical inspirado na obra de Burle Marx e a presença de obras de arte integradas à arquitetura, que caracterizam não só esses projetos como todos os que ele realiza nos anos 1950.
Assim, nos edifícios União, 1953, e Banco Hipotecário Lar Brasileiro, 1954 (não construído), Borsoi recupera os cobogós dos edifícios do Parque Guinle, 1944/1952, de Lucio Costa; no Edifício Califórnia, 1953, lança mão da estrutura independente em pilotis, distinguindo o bloco horizontal (destinado ao comércio e aos serviços) da torre vertical (destinada a moradia) e coroando o edifício com abóbadas de concreto na cobertura que remetem ao Conjunto Arquitetônico da Pampulha, 1940/1944, de Niemeyer. No Museu de Arte Moderna de Pernambuco, 1955 (não construído), dialoga com o Colégio Brasil - Paraguai, 1952, de Reidy e com os projetos desenvolvidos por Niemeyer na década de 1950 para o Parque do Ibirapuera e o mercado imobiliário. No Hospital de Pronto Socorro de Pernambuco, 1955, retoma a segunda proposta para o projeto do Ministério da Educação e Saúde - MES, 1936, de Le Corbusier.
A identificação óbvia de sua obra com a arquitetura moderna carioca começa a enfraquecer em meados dos anos 1960, quando, depois de uma viagem de estudo pela Europa, Borsoi passa a atentar para a obra tardia de Le Corbusier e a produção dos arquitetos europeus e americanos do segundo pós-guerra, entre eles Louis Isidore Kahn, Marcel Breuer, Paul Rudolph e James Frazer Stirling. Para a historiadora Guilah Naslavsky, a proximidade com esses arquitetos é revelada na ênfase tectônica dos materiais, na utilização dos materiais em estado bruto e no contraste entre materiais tradicionais (madeira, tijolo e pedra) e modernos (concreto armado, aço, alumínio e fibro-cimento). Se a atenção às condições climáticas, culturais e técnicas locais continua a orientar o trabalho do arquiteto, e algumas das características acima levantadas estão presentes na primeira fase de seu trabalho, não é possível dizer o mesmo em relação à expressão plástica que suas obras adquirem a partir de então.
A mudança indicada nos elementos pré-moldados de concreto aparente do Edifício Santo Antônio, 1960, e na utilização do tijolo de barro como elemento expressivo nos Edifícios Guajiru, 1962, radicaliza-se a partir da Residência José Carlos Penna, 1965, menção honrosa concedida pelo Departamento de Pernambuco do Instituto de Arquitetos do Brasil em 1969. Nesse projeto, como na Residência Antônio Queiroz Galvão, 1968, Borsói explora a expressividade do concreto armado e do tijolo de barro e constrói edifícios de volumetria movimentada marcados por aberturas zenitais, gárgulas, caixilhos que se projetam na fachada e seteiras.
A explosão do prisma de base retangular experimentada na Residência Antônio Queiroz Galvão é explorada nos edifícios residenciais Mirage, 1967, Michelângelo, 1969, e Portinari, 1969. Os edifícios comerciais e administrativos são, por sua vez, mais austeros, a expressividade é definida pela estrutura e pelos brises-soleil de concreto aparente como apontam as sedes do Bancipe, 1963, e do Bandepe, 1969, projeto vencedor de um concurso que desenvolve com sua esposa e sócia, a arquiteta Janete Ferreira Costa, e o arquiteto Gilson Miranda. A monumentalidade alcançada por estruturas de concreto armado desenhadas e grandiosas ganha expressão na obra de Borsoi com o Fórum do Judiciário de Teresina, 1972, recuperada, de certa forma, no Centro Administrativo de Urberlândia, 1990/1993, projeto vencedor do concurso nacional desenvolvido com Janete Ferreira da Costa, Marco Antônio Gil Borsoi, Milton Leite Ribeiro e Rosa Maria Chagas Aroucha.
Entre seus projetos, o mais cultuado é o do Conjunto Habitacional de Cajueiro Seco, 1961/1964, desenvolvido no governo de Miguel Arraes. Nesse projeto, Borsoi aposta, como Lucio Costa no concurso da Vila Operária, 1934, em João Monlevade, Minas Gerais, na racionalização das tecnologias locais, e desenha painéis de madeira pré-fabricados para a taipa de pilão e feixes de sapê para a cobertura. Além disso, defende a construção do conjunto em mutirão e a gestão do empreendimento realizada pela própria população, antecipando, assim, os debates arquitetônicos e os programas habitacionais que marcam os anos 1980 e 1990. A proposta é retomada no concurso municipal no projeto Favela-Bairro no Rio de Janeiro, e premiada no congresso da União Internacional dos Arquitetos - UIA realizado em Bucareste, na Romênia.
Notas
1. NASLAVSKY, Guilah. Arquitetura moderna em Pernambuco, 1951 - 1972. As contribuições de Acácio Gil Borsoi e Delfim Fernandes Amorim. 2004. 270f. Tese (Doutorado em Estruturais Ambientais e Urbanas). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004. p. 216, nota 521.
2. O historiador e crítico da arquitetura Hugo Segawa cunha esta expressão no texto Arquitetos peregrinos, nômades e migrantes. In: Arquiteturas no Brasil/ Anos 1980. São Paulo: Projeto, 1988, p. 9-13.
Exposições 1
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6/9/2024 - 28/1/2023
Fontes de pesquisa 9
- BRUAND, Yves. Arquitetura Contemporânea no Brasil. Tradução Ana M. Goldberger. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 1999. 724.6 B886a 4.ed.
- BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1981.
- BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1981. Não Cadastrado
- CAVALCANTI, Lauro. Quando o Brasil era moderno: Guia de Arquitetura 1928-1960. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2001.
- CAVALCANTI, Lauro. Quando o Brasil era moderno: Guia de Arquitetura 1928-1960. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2001. R720.981 C376q
- MOURA, Éride. Ideal de vida. Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, n. 139, pp. 68 - 71, out. 2005. Não Cadastrado
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- SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil, 1900-1990. 2.ed. São Paulo: Edusp, 1999.
- SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil, 1900-1990. 2.ed. São Paulo: Edusp, 1999. 720.981 S454a
Como citar
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ACÁCIO Gil Borsoi.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa467341/acacio-gil-borsoi. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7