Delfim Fernandes Amorim
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Biografia
Delfim Fernandes Amorim (Póvoa de Varzim, Portugal,1917 - Recife, Pernambuco, 1972). Arquiteto e professor. Forma-se arquiteto, em 1947, na Escola de Belas Artes do Porto, Portugal. É professor de grandes composições de arquitetura na mesma instituição entre 1950 e 1951. Desenvolve com o sócio Oliveira Martins projetos residenciais, comerciais e públicos de 1947 a 1951. Milita em favor da arquitetura moderna através de artigos publicados na revista Vértice, de Coimbra, de palestras como a Arquitetura de Hoje, 1951, proferida no Ateneu Comercial do Porto, e da participação, como membro-fundador, na Organização em Defesa da Arquitetura Moderna - Odam. Emigra para o Brasil, em 1951, por causa das condições socioeconômicas de seu país e da presença de um irmão no Recife, onde se instala definitivamente.1 Os primeiros projetos ali desenvolvidos são assinados por engenheiros construtores ou por Acácio Gil Borsoi - com quem trabalha inicialmente -, já que Amorim só consegue validar o seu diploma depois que, em 1956, se naturaliza brasileiro. Desenvolve projetos residenciais, comerciais, de serviço, educacionais e industriais em parceria com os arquitetos Lúcio Estelita, Armindo Leal e Heitor Maia Neto, seu sócio, entre 1963 e 1972, e assistente no curso de arquitetura desde 1958. Ao mesmo tempo realiza pareceres para o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Sphan.
Até 1959, quando é criada a Faculdade de Arquitetura da Universidade do Recife, é professor da cadeira de pequenas composições do curso de arquitetura da Escola de Belas Artes, primeiro como assistente de Borsoi, depois como responsável pela disciplina. Assume a cadeira de composição de arquitetura em 1959 e a cadeira de plástica em 1962. Participa da Comissão de Reorganização do Currículo da Faculdade de Arquitetura de 1961 a 1963. Publica artigos sobre arquitetura no Jornal do Commercio, entre 1957 e 1958 e no Jornal Pequeno, em 1963, além de proferir palestras na Faculdade de Filosofia do Recife, na Galeria de Arte da Casa de Holanda e nas instituições em que é professor. Seu projeto para o Edifício Barão do Rio Branco, 1966/1969, é premiado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento de Pernambuco - IAB/PE.
Análise
Delfim Fernandes Amorim é o responsável, ao lado do arquiteto italiano Mario Russo e do arquiteto carioca Acácio Gil Borsoi, pela consolidação da arquitetura moderna no Recife. Como Daniele Calabi, Amorim emigra ainda jovem para o Brasil e sua obra amadurece somente depois da experiência como arquiteto no Recife, nas décadas de 1950 e 1970.
Formado no segundo pós-guerra num momento marcado nacionalmente pela afirmação do movimento moderno e internacionalmente por sua revisão, Amorim apoia a vertente funcionalista do movimento, ao mesmo tempo em que respeita as especificidades ambientais e culturais de Portugal, seu país de origem. Tal como ocorrera com os arquitetos modernos brasileiros, cuja produção é admirada pelos membros da Organização em Defesa da Arquitetura Moderna - Odam, procura conciliar o estilo internacional, e mais especificamente o ideário de Le Corbusier, com a arquitetura tradicional portuguesa, adaptando-o ao meio local. Obras como as residências Josué Silva, ca.1947, Antônio Rocha, 1947 e Dimas, 1949, são marcadas por essa intenção e pelo exemplo brasileiro, na referência aos cinco pontos da arquitetura - pilotis, planta livre, fachada livre, janela corrida e terraço-jardim -, e na adoção de brises-soleil, do telhado borboleta - cobertura em duas águas com inclinação invertida - e de materiais típicos da arquitetura portuguesa, como o azulejo e a pedra.
A referência à arquitetura moderna brasileira, sobretudo a desenvolvida no Rio de Janeiro por arquitetos então renomados como Lucio Costa, Oscar Niemeyer e Affonso Eduardo Reidy, mantém-se e se aprimora no Recife nos 1950, em projetos como o Conjunto Habitacional da Fábrica Tacaruna, 1952/1953, os edifícios Oscar Amorim, 1953, e Acaiaca, 1957/1958.
Entre 1958 e 1966, o arquiteto desenvolve as conhecidas "casas de Amorim", das quais se destacam as residências Amaro Alves, 1958, e Serafim Amorim, 1960. Consideradas um modelo de residência unifamiliar, que é definido por blocos funcionais separados por diferentes níveis ou pátios, por lajes planas levemente inclinadas cobertas por telhas cerâmicas, e pelo uso de azulejos, pedra, tijolo, elementos vazados e esquadrias em madeira com venezianas, as "casas de Amorim" sintetizam a original proposta do arquiteto em adequar o edifício às condições climáticas da região através da adoção de materiais e soluções tradicionais e da incorporação de novos materiais e técnicas industriais, segundo um raciocínio construtivo que o mantém vinculado ao movimento moderno.2
A partir da sociedade com o arquiteto pernambucano Heitor Maia Neto, Amorim desenvolve dois grupos de projetos. O primeiro, definido por pesado blocos compactos, o aproxima da "escola paulista" e tem como exemplares os supermercados Bompreço, 1966/1969, a Residência Miguel Doherty, 1970 e a Faculdade de Arquitetura, 1970. O segundo sobressai pela volumentria movimentada, definida nos edifícios residenciais, por balcões e armários que se destacam da fachada e, nas residências unifamiliares, pelos telhados e blocos funcionais, tal como se observa nos edifícios Barão de Rio Branco, 1966/1969 e nas residências Alfredo Pereira Corrêa, 1969 e Leão Masur, 1970. A volumentria movimentada desses projetos, além da expressividade dos elementos estruturais e construtivos de concreto armado, comuns aos dois grupos de projetos, retomam o diálogo com Borsoi, interrompido no período das "casas de Amorim". Nesse momento também é visível a recuperação de experiências pontuais, como a Residência Antônio Lajes, 1953/1954, o Edifício Santa Rita, 1961/1962 e o Seminário Regional do Nordeste, 1962 e a persistência de elementos e soluções que marcam a sua produção, como os azulejos e a organização do programa residencial em três zonas funcionais independentes - social, de serviço e íntima. Dono de uma obra variada que dificulta sua classificação e revela disposição para a experimentação e atenção ao debate arquitetônico em curso, Amorim deixa marcas não só na cidade como na formação dos arquitetos modernos do Recife.
Notas
1 Informação dada pela historiadora da arquitetura Guilah Naslavsky, que em nota afirma que a escolha pelo Brasil no período era inusual, a maioria dos arquitetos portugueses sendo atraídos pelas colônias africanas.
2 NASLAVSKY, Guilah. Arquitetura moderna em Pernambuco, 1951 - 1972. As contribuições de Acácio Gil Borsoi e Delfim Fernandes Amorim. 2004. 270f. Tese (Doutorado em estruturais ambientais e urbanas). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004.
Fontes de pesquisa 7
- BRUAND, Yves. Arquitetura Contemporânea no Brasil. Tradução Ana M. Goldberger. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 1999. 724.6 B886a 4.ed.
- BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1981.
- DELFIM AMORIM, ARQUITETO. Recife: Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento de Pernambuco, 1981.
- DELFIM AMORIM, ARQUITETO. Recife: Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento de Pernambuco, 1981. Não Catalogado
- NASLAVSKY, Guilah. Arquitetura moderna em Pernambuco, 1951 - 1972. As contribuições de Acácio Gil Borsoi e Delfim Fernandes Amorim. 2004. 270f. Tese (Doutorado em Estruturais Ambientais e Urbanas). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004. Não catalogado
- SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil, 1900-1990. 2.ed. São Paulo: Edusp, 1999.
- SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil, 1900-1990. 2.ed. São Paulo: Edusp, 1999. 720.981 S454a
Como citar
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DELFIM Fernandes Amorim.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa480544/delfim-fernandes-amorim. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7