Nelson Triunfo

Nelson Triunfo, 2020
Texto
Nelson Gonçalves Campos Filho (Triunfo, Pernambuco, 1954). Dançarino, arte-educador, compositor, cantor, instrumentista e ator. Nelson Triunfo é figura-chave na cena da música negra brasileira ligada à soul music e ao hip-hop. É um dos pioneiros do breaking no Brasil.
Desde cedo, aprende sanfona como autodidata, observando os movimentos do pai, Nelson Gonçalves Campos, ao tocar o instrumento. Amigo de Luiz Gonzaga (1912 – 1989), o pai toca sanfona eventualmente em festas e reuniões. É ele também quem constrói um instrumento de percussão, improvisado com latas e galhos, para o filho batucar e se divertir.
Com a chegada de um aparelho de rádio à casa da família, em 1964, Nelson Triunfo desenvolve admiração por artistas da Jovem Guarda. Frequentador das festas populares da cidade, também se interessa pelas apresentações de frevo, samba, coco, maracatu, forró e embolada, sempre atento aos passos de dança. Ingressa na banda escolar como percussionista.
Muda-se em 1970 para a cidade de Paulo Afonso, Bahia, à procura de emprego em topografia de construção civil. Começa a frequentar bailes black, apaixona-se pela música do cantor e compositor estadunidense James Brown (1933-2006) e começa a desenvolver um estilo de dança com referências das festas populares que frequentava em Triunfo, dos filmes de sapateado assistidos na adolescência e do próprio Brown. Em 1972, forma o primeiro grupo de dança black do Nordeste, Os Invertebrados, que se apresenta com regularidade em um show de calouros da cidade. Deixa o cabelo crescer e fica décadas sem cortá-lo.
No final de 1974, muda-se para Brasília, a fim de aproximar-se mais do Sudeste, sobretudo do Rio de Janeiro e de São Paulo, onde a cena de bailes black é mais intensa. Logo se torna conhecido nas festas da cidade e é convidado a frequentá-las de forma gratuita, pois os organizadores percebem que suas performances na pista sempre agitam o ambiente. Na época, ainda trabalha com topografia.
Em 1976, muda de cidade mais uma vez para morar com dois irmãos em São Paulo. Na capital paulista, decide se dedicar exclusivamente à dança e à música. Seu estilo garante presença nos principais bailes black da cidade. Participa de shows do cantor e compositor Miguel de Deus, como dançarino do grupo Black Soul Brothers. Miguel de Deus grava seu primeiro LP, Black Soul Brother, em 1977, em parceria com Nelson Triunfo, na faixa "Mister Funk". É a primeira composição do dançarino registrada em disco.
Forma outro grupo de dança, o Funk e Cia, que se apresenta em shows de artistas como Tim Maia (1942-1998), Banda Black Rio, Gilberto Gil (1942), Sandra de Sá (1955) e Jorge Ben Jor (1942). Além de passos coreografados de forma sincronizada com todos os integrantes, Nelson Triunfo se destaca em solos nos quais surgem algumas marcas do seu estilo: o espacate, o rodopio no chão apoiado apenas pelas nádegas e uma das mãos e um movimento de cabeça para trás que faz balançar seu cabelo black power.
Em 1978, conhece James Brown, que se apresenta em São Paulo no Ginásio do Palmeiras. Nelson Triunfo o recepciona no aeroporto e o visita no camarim. É presenteado com uma capa do ídolo. Durante a apresentação, o dançarino é erguido em meio à multidão, e a imagem dele pairando sobre o público com a capa e de braços abertos, registrada em fotografia de Penna Prearo (1949), torna-se uma das mais emblemáticas imagens dos bailes black brasileiros nos anos 1970.
Inspirado pelas referências da cultura hip-hop dos Estados Unidos e pelo surgimento da dança breaking, percebe no começo dos anos 1980 que é o momento de sua arte ocupar o espaço urbano. Organiza, então, rodas de dança na região central de São Paulo. Torna-se referência do breaking brasileiro, com um estilo de dança que renova as características dos anos 1970. As coreografias simulam movimentos mecânicos dos robôs, incluem o deslize com os pés para trás ⎼ conhecido como moonwalk e popularizado por Michael Jackson (1958-2009) ⎼, além de rodopios rápidos com o corpo no chão.
Embora tenha mais de cem composições, Nelson Triunfo lança um único disco, Se Liga Meu (1990), com a Funk Cia. Seu estilo de cantar combina referências do canto falado da embolada nordestina, que ele absorve na infância e na adolescência, com a fluência dos raps de alguns de seus parceiros de hip-hop, como o pioneiro Thaíde (1967).
Nos anos de 1991 e 1992, o dançarino participa como arte-educador do projeto Rapensando a Educação, da Secretaria Municipal de Educação. O carisma e a facilidade de comunicar-se com a população carente despertam no artista um novo interesse, que o leva a criar, em 1999, a Casa do Hip Hop Diadema. O espaço é referência na recuperação, conscientização e educação de jovens por intermédio da arte.
Triunfo torna-se um artista fundamental na difusão da dança de rua e da cultura hip-hop. O estilo original influencia várias gerações e estimula jovens talentos a seguir carreira como dançarinos. A contribuição de Nelson para o breaking passa a ser reconhecida como seminal, tanto por ele ser o criador de um estilo próprio quanto por contribuir para a expansão da cena no Brasil.
Mídias (1)
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Edição de conteúdo acessível: Richner Allan
Direção, edição e fotografia: Marcus Leoni
Montagem: Renata Willig
Intérprete de Libras: Florio & Fomin (terceirizada)
Fontes de pesquisa 8
- ALVES, César. Pergunte a Quem Conhece: Thaíde. São Paulo: Labortexto Editorial, 2004.
- BARROS, Carlos Juliano. Ícone perdido da cultura black brasileira, Nelson Triunfo enfim celebra o merecido reconhecimento. RollingStone, Edição 82, jul. 2013. Disponível em: < http://rollingstone.uol.com.br/edicao/edicao-82/nelson-triunfo-dono-do-suingue#imagem0 >. Acesso em: 24 ago. 2018.
- JUNKES, Guilherme. TRIUNFO: quando a história de um homem se confunde com a de um movimento. Vai Ser Rimando. 14 abr. 2015. Disponível em: < https://vaiserrimando.com.br/2015/04/14/triunfo-historia-nelson-triunfo-hip-hop/ >. Acesso em: 24 ago. 2018.
- PEIXOTO, Luiz Felipe de Lima; SABADELHE, Zé Octávio. 1976: Movimento Black Rio. Rio de Janeiro: José Olympio, 2016.
- SANCHES, Pedro Alexandre. O último black power. Folha de São Paulo, 29 jun. 2001. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2906200106.htm. Acesso em: 15 abr. 2020.
- YOSHINAGA, Gilberto. A história de Nelson Triunfo, um dos pais do hip-hop no Brasil. Buala. 22 ago. 2014. Disponível em: < http://www.buala.org/pt/cara-a-cara/a-historia-de-nelson-triunfo-um-dos-pais-do-hip-hop-no-brasil >. Acesso em: 24 ago. 2018.
- YOSHINAGA, Gilberto. Exclusivo / Nelson Triunfo, 63 anos: 'Nada foi fácil'. Bocada Forte, 28 out. 2017. Disponível em: < https://www.bocadaforte.com.br/informacao/entrevistas/exclusivo-nelson-triunfo-60-anos-nada-foi-facil >. Acesso em: 24 ago. 2018.
- YOSHINAGA, Gilberto. Nelson Triunfo: do Sertão ao Hip Hop. São Paulo: Shuriken Produções; LiteraRUA, 2014.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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NELSON Triunfo.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa443896/nelson-triunfo. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7