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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Thaíde

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 06.04.2021
1967 Brasil / São Paulo / São Paulo
Registro fotográfico Marcus Leoni

Thaíde, 2019

Altair Gonçalves (São Paulo, São Paulo, 1967). Compositor, rapper, dançarino, produtor, ator e apresentador. Os caminhos trilhados pelo artista contribuem para o nascimento e para as transformações do movimento hip-hop no Brasil, que surge na cidade de São Paulo em fins dos anos 1980.

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Altair Gonçalves (São Paulo, São Paulo, 1967). Compositor, rapper, dançarino, produtor, ator e apresentador. Os caminhos trilhados pelo artista contribuem para o nascimento e para as transformações do movimento hip-hop no Brasil, que surge na cidade de São Paulo em fins dos anos 1980.

Proveniente da Vila Missionária, região periférica da Zona Sul da capital paulista, Thaíde encontra inspiração e interesse pela nascente cultura hip-hop ao entrar em contato com a dança de Nelson Triunfo (1954) e com os b-boys que se apresentavam na rua 24 de maio, no centro de São Paulo.

Influenciado por essa percepção e identificação com a cultura hip-hop, forma nos anos 1980 a equipe de dança Black Panthers, de curta duração, substituída pela Dragon Breakers e, posteriormente, Back Spin Crew, em parceria com seu amigo Marcelinho Backspin. As apresentações ocorriam, entre outros lugares, na rua 24 de maio e na estação São Bento do metrô – local dos primórdios do movimento hip-hop.  Nessa época, conhece Humberto – o Dj Hum.

O pioneirismo de Thaíde na cena do movimento, primeiro como b-boy e depois como MC,  está registrado na primeira coletânea de hip-hop do país, Hip-Hop Cultura de Rua (1988). Nela, lança com o DJ Hum duas músicas: “Homens de Lei” e “Corpo Fechado”. Esta última, considerada um clássico do rap nacional, é a responsável pelo despontar da dupla. Na longa narrativa, Thaíde se apresenta ao público e demonstra a que veio; com seu nome como refrão, a letra expressa a relação do artista com a cultura de rua e, especialmente, a personalidade resiliente de um sujeito periférico:  "Meu nome é Thaíde/Meu corpo é fechado e não aceita revide, Thaíde/Na 43 eu escrevi o meu nome numa cela/Queimei um camburão/Que desceu na favela/[...] Não há nada nesta vida que eu já não fiz/ [...] Vivo nas ruas com minha liberdade/Fugi da escola com 10 anos de idade/As ruas da cidade foram minha educação/A minha lei sempre foi a lei do cão [...]”.

A divulgação da coletânea e, sobretudo, o sucesso da canção “Corpo Fechado” possibilitam à dupla gravar o primeiro disco: Pergunte a quem conhece (1989). Após esse lançamento, Thaíde e DJ Hum lançam mais sete trabalhos. Vistos em conjunto, eles delineiam parte da história do hip-hop no Brasil.

O terceiro disco da dupla, Humildade e Coragem são as nossas Armas para lutar (1992), é um trabalho produzido de maneira independente. Lançado num contexto em que o hip-hop começava a se estruturar e a arregimentar novos grupos, o disco divulga canções como “A Noite”, “Nada pode me parar”, “Algo vai mudar” e “Quem é marginal, quem é lei”. Segundo Thaíde, várias músicas se tornaram hits por causa desse disco.

Em 1995, Thaíde e DJ Hum gravam o single “Afro-brasileiro” – o primeiro gravado pelo selo da própria dupla, o Brava Gente. Como afirma Thaíde, essa música os colocou de volta em cena e, por isso, foi registrada no trabalho posterior – Preste atenção (1996). “Afro-brasileiro” é relevante para a relação do rap com a afirmação da cultura e da ancestralidade africana. Embora esta seja uma temática comum em canções de rappers da chamada “nova escola”, como Emicida (1985) e Rincon Sapiência (1985), os primórdios dessa referência nas letras de rap se encontram na citada canção de Thaíde e DJ Hum. O refrão “sabe quem eu sou? Afro-brasileiro” registra o orgulho de ser descendente de negros africanos, reiterando a identidade afro-brasileira de Thaíde.

Apesar das dificuldades enfrentadas pelo rapper no período anterior à divulgação do disco Preste Atenção, o sucesso da música “Senhor Tempo Bom” contribui para a retomada de sua carreira no circuito comercial de shows, além de sinalizar maior profissionalização. Em alusão aos anos 1970, a música faz uma ode ao "black power": "Essa é nossa homenagem a todos aqueles que fizeram parte ou curtiram Black Power. Luiz Carlos, Africa São Paulo, Ademir Fórmula 1, Kaskata's, Circuit Power, Bossa 1, Super Som 2000, Transa Funk, Princesa Negra, Cash Box, Musicália, Galote, Black Music, Alcir Black Power, e a tantos outros. Obrigado pela inspiração".

Divulgada também na forma de videoclipe, “Senhor Tempo Bom” se torna um hit e é apresentada várias vezes na MTV, emissora na qual o rapper substituiu KL Jay, do Racionais MC’s, no programa YO!MTV, nos anos 2000. Nesse ano, Thaíde e DJ Hum lançam seu último trabalho em parceria, Assim Caminha a Humanidade (Trama).

A experiência de Thaíde como apresentador não se restringe à MTV. De 2009 a 2010, ele também apresenta o Programa Manos & Minas, da TV Cultura, além de apresentar o Metro Black, da rádio Metropolitana. O caráter multifacetado do artista faz com que ele interprete personagens em novelas, séries e longa-metragens. 

Com a TV Bandeirantes, Thaíde assina um contrato para apresentar o programa A Liga. Realiza uma participação no filme e no seriado Antônia, da Rede Globo, interpretando o personagem Marcelo Diamante. Pela interpretação, recebe em 2007 o prêmio Qualidade Brasil, como ator revelação. Também participa dos filmes Caixa Dois (2007) e Homem Cordial (2019).

Ao revelar o cotidiano periférico brasileiro, tanto em suas mazelas quanto em suas formas de sociabilidade, Thaíde é reconhecido nacional e internacionalmente na cena do hip-hop. Por explorar as mudanças e as raízes do movimento, contribui para sua constituição e  torna-se uma das primeiras referências para gerações posteriores.

Notas

1. B-boy (abreviação de break boying) é o nome de quem pratica o break, dança que representa um dos elementos do hip hop

Mídias (1)

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Thaíde – Série Cada Voz (2019)
O rapper Thaíde nasce em Cidade Ademar, município de São Paulo, cenário presente em suas composições. Ele conta sobre a iniciação na música a partir da dança, mais especificamente, com o break. Cita este último como exemplo da presença da arte em todos os lugares: nos semáforos, nas calçadas e não apenas dentro de galerias.

Relembra o medo de não voltar para casa, a falta de confiança na ação policial e a perspectiva de que a mudança e organização política no presente pode proporcionar um novo cenário futuro.

A Enciclopédia Itaú Cultural produz a série Cada Voz, em que personalidades da arte e cultura brasileiras são entrevistadas pelo fotógrafo Marcus Leoni. A série incorpora aspectos de suas trajetórias profissionais e pessoais, trazendo ao público um olhar próximo e sensível dos artistas.

Créditos
Presidente: Milú Villela
Diretor-superintendente: Eduardo Saron
Superintendente administrativo: Sérgio Miyazaki
Núcleo de Enciclopédia
Gerente: Tânia Rodrigues
Coordenação: Glaucy Tudda
Produção de conteúdo: Camila Nader
Núcleo de Audiovisual e Literatura
Gerente: Claudiney Ferreira
Coordenação: Kety Nassar
Produção audiovisual: Letícia Santos
Edição de conteúdo acessível: Richner Allan
Direção, edição e fotografia: Marcus Leoni
Assistência e montagem: Renata Willig
Assistência de fotografia: Martha Salomão

Fontes de pesquisa 7

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  • Alves, César. Pergunte a quem conhece: Thaíde. São Paulo: Labortexto Editorial, 2004.
  • BOTELHO, Guilherme. Nos Tempos da São Bento. São Paulo: Suatitude, 2010. DVD.
  • BYONE, Yvonne. Encyclopedia of Rap and Hip-Hop Culture. Westport, Conn.: Greenwood Press, 2006.
  • GUIMARÃES, Maria Eduarda. Do samba ao rap: a música negra no Brasil. Tese .277 f. Universidade Estadual Campinas, Campinas: São Paulo, 1998.
  • MACEDO, Márcio. "Hip-Hop em S.P: transformações entre uma cultura de rua, negra e periférica (1983-2013)".In: KOWARICK, Lúcio; JÚNIOR, Heitor Frúgoli. (Orgs.). Pluralidade Urbana em São Paulo. Vulnerabilidade, marginalidade, ativismos. São Paulo: Editora 34, 2016. p. 23-53.
  • SILVA, José Carlos Gomes da. Rap na cidade de São Paulo: música, etnicidade e experiência urbana. Tese. 286f. Universidade Estadual de Campinas, São Paulo: Campinas, 1998.
  • YOSHINAGA, Gilberto. (org.). Thaíde: 30 anos mandando a letra. Barueri, SP: Novo Século Editora, 2016.

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