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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Clênio Wanderley

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 25.10.2024
08.05.1929 Brasil / Pernambuco / Águas Belas
04.05.1976 Brasil / Pernambuco / Recife
Clênio da Rocha Wanderley (Águas Belas, Pernambuco, 1929 - Recife, Pernambuco, 1976). Diretor e ator. Primeiro a encenar o Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, e fundador do grupo Teatro Adolescente do Recife, seu trabalho se caracteriza pela iniciação de jovens atores e o lançamento de dramaturgos nordestinos.

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Clênio da Rocha Wanderley (Águas Belas, Pernambuco, 1929 - Recife, Pernambuco, 1976). Diretor e ator. Primeiro a encenar o Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, e fundador do grupo Teatro Adolescente do Recife, seu trabalho se caracteriza pela iniciação de jovens atores e o lançamento de dramaturgos nordestinos.

Na adolescência, muda-se com a família para a capital pernambucana. Formado pela Faculdade de Odontologia da Universidade do Recife, atual Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em 1950, trabalha como dentista e paralelamente dedica-se a atividades na área teatral.

Funda o Teatrinho da Igreja da Penha, no qual monta espetáculos e forma no palco jovens atores. Ingressa no Teatro do Estudante de Pernambuco (TEP), a convite de Hermilo Borba Filho, em 1949, e participa como ator de duas montagens importantes: em maio, Édipo Rei, de Sófocles; e, em novembro, Quando Despertamos de entre os Mortos, de Henrik Ibsen. Em 1951, atua em Otelo, de William Shakespeare, direção de Hermilo Borba Filho.

Nesse mesmo ano, junta-se a Luiz Mendonça e Aldomar Conrado para formar o Grupo Teatral do Clube Atlético de Amadores, no bairro dos Afogados, no Recife, e dirige a peça Terra Queimada, de Aristóteles Soares, lançando esse autor. À frente do Teatro do Estudante Secundário de Pernambuco (TESP), em 1952, volta a encenar uma peça de Aristóteles Soares, Cana Brava.

Atua em Três Cavalheiros a Rigor, escrita por Hermilo Borba Filho e dirigida pelo colombiano Enrique Buenaventura, para o TEP, em 1952. Nesse ano, dirige Se o Guilherme Fosse Vivo, de A. Torrado, para o Teatro do Estudante da Paraíba, em João Pessoa. Em 1953, para o mesmo grupo, encena A Comédia do Coração, de Paulo Gonçalves, e com Luiz Mendonça participa da fundação do Teatro do Funcionário Público (TFP), órgão ligado à Associação Pernambucana dos Servidores do Estado (APSE). Mas, logo depois, ambos se afastam do TFP, por divergirem da estética que os diretores da APSE impõem às montagens do grupo.

Participa pela primeira vez, como ator, dos espetáculos da Paixão de Cristo de Fazenda Nova,  em 1953. No ano seguinte, dirige o Teatro de Amadores de Maceió e encena mais um texto de Aristóteles Soares, A Trovoada, no Recife.

Em abril de 1955, novamente ao lado de Luiz Mendonça, funda o Teatro Adolescente do Recife (TAR), e volta a encenar Terra Queimada. Em julho, na Bahia, dirige Uma Canção Dentro do Pão, de Raimundo Magalhães Júnior, espetáculo que lhe dá o prêmio de melhor diretor do 1º Festival Baiano de Teatro Amador.

Dirige o Auto da Compadecida, produzido pelo TAR, em 1956. O espetáculo estreia em setembro, e é a primeira encenação da peça mais importante do dramaturgo paraibano Ariano Suassuna. A montagem de Clênio Wanderley e o texto de Suassuna provocam muita polêmica na imprensa especializada do Recife. O jovem dramaturgo, resistindo às inúmeras críticas ao seu texto e ao espetáculo do TAR escreve: "[...] O que é positivo é essa integridade que levou um grupo jovem e um jovem diretor a enfrentar essa possibilidade de incompreensão porque acreditavam na peça".1

É premiado no 1º Festival de Amadores Nacionais, no Teatro Dulcina, no Rio de Janeiro, em 1957, por dois espetáculos, montados por duas companhias diferentes, concorrendo com vinte grupos e encenadores de todo o Brasil. Com o primeiro, Auto da Compadecida, montagem do TAR, ganha a medalha de ouro de direção. Pelo segundo, A Grande Estiagem, de Isaac Gondim Filho, autor por ele lançado, em encenação da Federação Baiana de Teatro Amador, recebe a medalha de prata de espetáculo. Referindo-se ao jovem diretor, Paschoal Carlos Magno escreve: "[...] nasceu diretor, como outros nascem santos".2 E prossegue, referindo-se ao espetáculo de Clênio Wanderley e ao Auto da Compadecida: "É uma peça que se interrompe a cada instante com aplausos. É uma peça que se aplaude de pé. Uma peça como poucas do teatro brasileiro de todos os tempos. E quem representa é um punhado de moços de talento, de muitíssimo talento. Há neles dignidade, entusiasmo, honestidade [...] Quem gostar de teatro, quem acreditar em teatro e o deseja prestigiá-lo, deve ir [...] ao Dulcina para se comover, aplaudir, queimar as mãos de palmas diante do espetáculo que é [...] um dos mais belos que já vi no Brasil e nas minhas andanças pelo mundo".3 

Para Accioly Netto, da revista O Cruzeiro, o que mais impressiona é o surgimento de um novo autor e o feito inédito do modesto grupo de amadores dirigido por Clênio Wanderley: "O Rio de Janeiro aplaudiu o aparecimento de um grande comediógrafo - o jovem advogado pernambucano (sic) Ariano Suassuna, autor de A Compadecida, que os amadores do Teatro Adolescente do Recife apresentaram no Teatro Dulcina [...] com um êxito sem precedentes".4

Além de prosseguir dirigindo o TAR em 1958, com O Casamento Suspeitoso, de Suassuna, entre 1958 e 1960, coordena os espetáculos da Paixão de Cristo, em todas as semanas de Páscoa, em Fazenda Nova, e atua como radioator do elenco permanente de radionovelas da Rádio Jornal do Commercio. De Suassuna, ainda leva à cena Auto de João da Cruz, pelo Teatro do Estudante da Paraíba, montagem de 1957, que participa do 1º Festival Nacional de Teatros de Estudantes, no Recife, no ano seguinte. Também participa, como ator, da montagem de A Grade Solene, de Aldomar Conrado, com direção de José Pimentel - único espetáculo do TAR que não tem a direção de Clênio Wanderley.

O trabalho de Wanderley nos anos 1950 motiva Joel Pontes a comentar, em seu livro O Teatro Moderno em Pernambuco, que "[...] o aspecto mais admirável da obra de Clênio Wanderley é continuar, apesar de tudo, a iniciar atores e lançar escritores. Peças de Ariano Suassuna, Aristóteles Soares, Aldomar Conrado e Hermilo Borba Filho chegaram ao palco pela primeira vez por suas mãos e o espetáculo de massas de Fazenda Nova, obra que iniciou quase na solidão como sempre tem feito, é hoje a maior festa de congraçamento e o espetáculo de massas de maior porte, possivelmente do teatro do Brasil".5

Em fevereiro de 1960, outra vez a convite de Hermilo Borba Filho, passa a integrar o elenco do Teatro Popular do Nordeste (TPN), em seu espetáculo inaugural, A Pena e a Lei, de Ariano Suassuna; e na montagem seguinte, A Mandrágora, de Maquiavel, que estreia no mês de março.

Wanderley compõe o elenco do Teatro de Arena do Recife, em 1961, na montagem de A Farsa da Boa Preguiça, de Ariano Suassuna, com direção de Hermilo Borba Filho. Em outubro desse ano, dirige o renovado espetáculo da Paixão de Cristo e volta a atuar pelo TPN, com O Processo do Diabo, composto de três peças sobre o mesmo tema - Em Figura de Gente, de José Carlos Cavalcanti Borges, A Primeira Lição, de José de Moraes Pinho, e A Caseira e a Catarina, de Ariano Suassuna - e entreatos de Hermilo Borba Filho - Marrada na Igreja -, com direção do próprio Hermilo Borba Filho.

Em 1962, comanda mais uma vez o espetáculo da Paixão de Cristo de Fazenda Nova, e como ator participa da montagem pelo TPN de Município de São Silvestre, de Aristóteles Soares, direção de José Pimentel. Como último trabalho do TAR, em 1963, remonta o espetáculo encenado em 1957, A Via Sacra, de Henri Gheón.

No período em que ficam suspensos os espetáculos da Paixão de Cristo para a construção da cidade-teatro de Nova Jerusalém, entre 1963 e 1967, Clênio Wanderley trabalha intensamente na cena recifense. Dirige Terra Queimada, de Aristóteles Soares, em 1964. Em julho de 1966, volta ao elenco do TPN, na montagem que inaugura a nova casa de espetáculos do grupo: O Inspetor, de Nikolai Gogol, com direção de Hermilo Borba Filho. Em setembro de 1967, atua, ainda pelo TPN, na montagem de Antígona, de Sófocles, encenada por Benjamim Santos.

Para o Teatro Universitário de Pernambuco (TUP), dirige Viva o Cordão Encarnado, de Luiz Marinho, em 1968. Com esse espetáculo, obtém o prêmio de direção no 5º Festival Nacional do Teatro de Estudantes, coordenado por Paschoal Carlos Magno, no Rio de Janeiro. O prêmio é  uma viagem à França, para estágio no Théâtre de la Cité, em Lyon, em janeiro de 1969.

Também em 1968, dirige o primeiro espetáculo da Paixão de Cristo na cidade-teatro de Nova Jerusalém. Desde 1970 até 1976, ano de sua morte, Clênio Wanderley volta à Paixão de Cristo, agora apenas como ator, interpretando o personagem Judas Iscariotes, com direção de Pimentel.

Dirige para o Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP) A Incelença, de Luiz Marinho, em 1973; Natal na Praça, de Henri Ghéon, em 1974, e Farsa e Justiça do Corregedor, de Alejandro Casona, em 1975. Neste ano, realiza seu último trabalho de direção: Canção de Fogo, de Jairo Lima, com o grupo Teatro Novo Tempo (TNT). Morre no dia 4 de maio, logo após a temporada da Paixão de Cristo.

Seus espetáculos evidenciam grande arrojo na busca de uma interpretação nativa da região, isto é, uma forma nordestina de atuar, baseada na experiência de vida, no modo de falar e de sentir, na postura de cada um dos seus jovens atores.

Referindo-se a Clênio Wanderley e ao grupo que funda e dirige por vários anos, o ator, autor e diretor teatral José Pimentel comenta: "Qualquer um que resolva contar a história do teatro pernambucano (e brasileiro) não poderá esquecer a contribuição dada pelo Teatro Adolescente do Recife e seu diretor, Clênio Wanderley, às artes cênicas".6

Notas
1. SUASSUNA, Ariano. Diario de Pernambuco, Recife, 12 out. 1956.  Teatro.

2. MAGNO, Paschoal Carlos. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 15 fev. 1957.

3. Idem.

4. ACCIOLY NETTO, A. Teatro no Rio. O Cruzeiro, Rio de Janeiro, 2 mar. 1957.

5. PONTES, Joel. O teatro moderno em Pernambuco. 2. ed. Recife: Fundarpe - Cepe, 1990.

6. PIMENTEL, José. A maturidade do teatro adolescente do Recife. In: FERRAZ, Leidson (org.). Memória da cena pernambucana 03. Recife, 2007.

Espetáculos 46

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Fontes de pesquisa 9

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  • BACCARELLI, Milton J. Trocando a Máscara... - 20 anos de Teatro em Pernambuco. Recife: Fundarpe, 1994.
  • CADENGUE, Antonio Edson. TAP: sua cena & sua sombra (O Teatro de Amadores de Pernambuco: 1948-1991). 1991. 769 f. Tese (Doutorado em Artes-Teatro) - Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo. 3v.
  • EGIPTO, Ednaldo do. Quarenta Anos do Teatro Paraibano: Roteiro Fotográfico. João Pessoa: Governo do Estado da Paraíba/Secretaria de Educação/Secretaria de Cultura, esportes e Turismo, 1988.
  • ESPETÁCULOS Teatrais. [Pesquisa realizada por Luís Reis]. Itaú Cultural, São Paulo, [20--]. 1 planilha de fichas técnicas de espetáculos.
  • MAGNO, Paschoal Carlos. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 15 fev. 1957.
  • PIMENTEL, José. A Maturidade do Teatro Adolescente do Recife. In: FERRAZ, Leidson (Org.). Memória da Cena Pernambucana 03. Recife: L. Ferraz, 2007, p. 13.
  • PONTES, Joel. O Teatro Moderno em Pernambuco. 2. ed. Recife: Fundarpe - CEPE, 1990.
  • SUASSUNA, Ariano. Coluna "Teatro". Diario de Pernambuco, Recife, 12 out. 1956.
  • TEATRO DO ESTUDANTE DA PARAÍBA. Auto de João da Cruz. 1º Festival Nacional de Teatro de Estudantes. Recife, jul. 1958. [Acervo Cedoc/Funarte].

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